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MÍNIMA MAXIMALIANA

2022, Literatura e Sociedade – n. 36

A Revolução Russa de 1917 produziu um discurso de energias renovadas em muitos países da América latina. Uma palestra do sociólogo argentino José Ingenieros imediatamente traduzida pela Revista do Brasil ajuda-nos a compreender o debate brasileiro sobre a ideia de uma sociedade em busca de uma nova identidade coletiva, ou seja, uma revolução proletária mundial.

Revista do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada Antecedentes do Modernismo de 22 02 / 2022 DTLLC | FFLCH | USP 36 Universidade de São Paulo Reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior Vice-Reitora Maria Arminda do Nascimento Arruda Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Diretor Paulo Martins Vice-Diretora Ana Paula Torres Megiani Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada Chefe Ariovaldo Vidal Vice-chefe Ana Paula de Souza e Sá Pacheco Apoio: Edital 2022 do Programa de Apoio às Publicações Científicas Periódicas da USP Literatura e Sociedade – n. 36 (2022.2) – Semestral São Paulo: USP /FFLCH /DTLLC Av. Prof. Luciano Gualberto, 403, sl. 35, 05508-900 ISSN 1413-2982 (do n.1 ao n.14) eISSN: 2237-1184 (a partir do n.15) CDD 801.3 Licença: 1. Literatura e sociedade. 2. Teoria literária. 3. Literatura comparada. I. Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada Projeto gráfico original de Carlito Carvalhosa (n. 1 a 4). Projeto de capa e miolo para os números 5 e 6 de Cláudio Weber Abramo. Projeto de capa e adaptação de miolo ( de n. 7 a 12) de Maria Augusta Fonseca. A adaptação de miolo padronizada (n. 7 a 36) Imagem da capa: FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL (BRASIL). BNDIGITAL: O Pirralho. São Paulo: 1911-1918. FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL (BRASIL). BNDIGITAL: O Pirralho. São Paulo: 19 jul. 1913. Disponível em https://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=213101&pesq=&pagfis=2343 Uso da capa autorizado por Marília de Andrade: Na qualidade de curadora da obra de meu pai, Oswald de Andrade, autorizo a reprodução do desenho de O Pirralho na capa do número 36 da Revista Literatura e Sociedade, considerando a seriedade dos professores envolvidos nesse projeto, a importância dessa revista para divulgação da obra do Oswald e considerando que não existem quaisquer fins lucrativos no uso dessa imagem. Fontes: Famílias Book Antiqua, Cinzel, Futura e ITC Berkeley A revista segue as diretrizes do Committee on Publications Ethics e garante aos autores dos artigos os direitos autorais e os direitos de publicação sem restrições. MÍNIMA MAXIMALIANA https://dx.doi.org/10.11606/issn.2237-1184.v0i36p22-38 Raul Antelo RESUMO PALAVRAS-CHAVE: A Revolução Russa de 1917 produziu um discurso de energias renovadas em muitos países da América latina. Uma palestra do sociólogo argentino José Ingenieros imediatamente traduzida pela Revista do Brasil ajuda-nos a compreender o debate brasileiro sobre a ideia de uma sociedade em busca de uma nova identidade coletiva, ou seja, uma revolução proletária mundial. Democracia; ABSTRACT KEYWORDS The Bolshevik Revolution of 1917 produced a discourse of renewed energies in most countries from Latin America. A lecture by Argentine sociologist José Ingenieros inmediately translated by Revista do Brasil helps us to understand the Brazilian debate on the idea of a society in search of a new collective identity, i.e., a worldwide workers Revolution. Democracy; nacionalismo; modernismo. nationalism; modernism. O século começa com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), guerra que inclui a Revolução de Outubro de 1917, e termina com o desmoronamento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (U.R.S.S.) e o fim da Guerra Fria. É o pequeno século (65 anos) vigorosamente unificado. O século soviético, em suma. Alain Badiou – O século. Na filosofia russa do período simbolista, o impulso dionisíaco de Nietzsche se fundiu com a ideia de uma história da salvação eslavófila, que deveria concretizar a unidade da humanidade na liberdade (sobornost), e, com isso, trazer a sabedoria (sophia). O dionisíaco transformou-se em um código que expressava um ideal, uma esperança. Associava-se a essa concepção a ideia de uma Rússia futura, que superaria a cultura ocidental e realizaria a reconstrução de todo o mundo. Boris Groys – Introdução à Antifilosofia. Toda revolução, imersa no processo histórico, solicita uma estratégia a longo prazo, ao passo que uma rebelião é apenas um repentino estouro de insurreição e desacato, uma autêntica suspensão do tempo histórico, embora seja precisamente na suspensão quando se libera a verdadeira experiência coletiva. O instante da insurreição determina a fulminante autorrealização e objetivação de si, como parte de uma comunidade. A luta entre o bem e o mal, entre a sobrevivência e a morte, identifica-se, portanto, com a luta de toda a comunidade: todos possuem as mesmas armas, todos enfrentam os mesmos obstáculos e lutam contra o mesmo inimigo. “Todos experimentam a epifania dos mesmos símbolos”1. Um desses símbolos, em 1917, foi o maximalismo, tradução portuguesa do termo bolchevismo, maioria em russo, devido aos maximalistas terem se tornado a fração majoritária do Congresso do Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR), em 1903. Como ala mais radical do marxismo russo, os maximalistas contrapunham-se aos mencheviques, a minoria. A saga maximalista logo atraiu as atenções na América latina 2. O médico e JESI, Furio - Spartakus. Simbología de la revuelta. Ed. Andrea Cavalletti. Trad. María Teresa D ’Meza. Buenos Aires, Adriana Hidalgo, 2014, p. 70-1. 2 Em dezembro de 1918, a Revista Americana estampa um “Elogio de Lenine” de Carlos Malheiro Dias em que o ensaísta afirma que “é quase absolutamente impraticável julgarmos equitativamente a Revolução Russa, obsidiados pelas nossas tradicionais e arcaicas concepções da sociedade e do estado. Tanto valeria submeter ao critério fanático e intolerante de um tribunal de inquisição, do tempo do cardeal Ximenes, um delito por abuso de liberdade de imprensa. Estou convencido de que as tenebrosas massas do proletariado russo, embriagadas de utopias e também de sangue, entontecidas pela liberdade e também pela fome, devem cuspir com desprezo sobre a logomaquia da imprensa universal, para elas ininteligível. A civilização ocidental deixou de entender a Rússia. Mesmo a Rússia maximalista não existe mais no mapa político da Europa. É uma sociedade tão dessemelhante das suas vizinhas que antes parece localizada em outro planeta” (DIAS, Carlos Malheiros – “Elogio de Lenine”. Revista Americana. Rio de Janeiro, ano VIII, nº. 3, dez. 1918, p. 180-1). Um mês depois, a mesma revista divulga (a.8, nº 4), em tradução de Araújo Jorge, a Constituição da República Soviética dos Soviets Russos. Ver, ainda, SAMPERIO, José Maria – Maximalismo. La novela del día, a. 1, nº 13. Buenos Aires, 21 fev. 1919; ZALONSKY, Pierre – Maximalismo. Buenos Aires, Monreal y Merédiz, 1918; BARRANTES MOLINA, Luis- El maximalismo em marcha. La novela del día, a. 1, nº 28, Buenos Aires, 13 jun. 1919. Ingenieros considerava a insurreição de 1917 um dos acontecimentos que se produzem uma vez em cada século, determinando uma atitude favorável a toda iniciativa renovadora. “O maximalismo é a aspiração de realizar o máximo de reformas possíveis dentro de cada sociedade tendo em conta suas condições particulares. Não pode concretizar-se em uma fórmula única, sendo antes uma atitude que um programa. Não é legitimo pensar que as nações civilizadas quererão ensaiar as inovações discutidas desde há meio século? Muitas delas não têm já experimentado nestes anos de guerra sem que ninguém pense em voltar atrás? Que melhor oportunidade para efetuar tão generosa experiência? Longe de nos inspirar o menor receio, o maximalismo deve considerar-se como um desenvolvimento integral do minimalismo democrático enunciado por Wilson”. INGENIEROS, José – “Significação 1 sociólogo argentino José Ingenieros (nascido Giuseppe Ingegnieros, em Palermo, Sicília, em 1877, e falecido em Buenos Aires, em 1925), fundador, com Juan B. Justo, do Partido Socialista daquele país, associou, em seus escritos, a empatia com a experiência soviética, com a reforma universitária, em curso na Argentina, a partir de 1918, e um difuso antiimperialismo latino-americano. Como apontado por Oscar Terán, elitismo e darwinismo social, claros sintomas da crise do liberalismo, marcaram a imaginação política de Ingenieros, com irresistível confiança no porvir. Quanto à situação russa, especificamente, ela era, a seu ver, menos um acontecimento revolucionário do que um processo muito mais amplo de substituição do antigo regime por uma sociedade secularizada e progressista, em que a transformação pouco tinha de específica, uma vez que demonstrava, mais uma vez, que só as elites ilustradas conseguem realizar as mudanças históricas3. No processo de secularização social, a histórica do maximalismo”. Revista do Brasil, a. 3, n 36, vol IX. São Paulo, dez 1918, p. 489. A conferência teve uma edição uruguaia: Significación histórica del maximalismo. La Constitución de la República Socialista de los soviets rusos comentada por Celestino Mibelli y Mariano de Vedia y Mitre. Montevideo, M. Garcia, 1918. No Brasil, Astrojildo Pereira cobre os sucessos em seu jornal O Debate. Ainda em 1918, sob o pseudônimo de Alex Pavel, Astrojildo lança um panfleto, A Revolução Russa e a Imprensa, e passa a dirigir os jornais Spartacus e Voz do Povo, participando também em A Vanguarda, O Internacional e, posteriormente, na revista Movimento Comunista. Um dos colaboradores de Astrojildo em O Debate era Lima Barreto, quem leu o artigo de Ingenieros na Revista do Brasil. Em colaboração para a Revista Contemporânea, Lima admite que “o Senhor Ingenieros, muito mais sábio nessas coisas do que eu, e muito e muito mais experimentado nelas, assim definiu o maximalismo: ‘a aspiração de realizar o máximo de reformas possíveis dentro de cada sociedade, tendo em conta as suas condições particulares’” (“Sobre o maximalismo”, 1 mar. 1919). 3 “Na Rússia tudo era inseguro. O grupo militarista, que havia enganado o próprio czar e, contribuindo para acender a mecha da guerra, conservava sua liberdade de ação e manejava milhões; seu influxo era suficiente para intentar a restauração do regime caído, e procurava descaradamente a cumplicidade dos governos aliados para afogar em seu berço a democracia nascente. Kerensky começou a comprometer a revolução com suas vacilações; esqueceu que em certos momentos críticos todo aquele que contemporiza serve a causa de seus inimigos e não a própria; receou empregar os meios enérgicos que as circunstâncias impunham assumindo com inteireza as responsabilidades da grande hora histórica. Está derrubado o despotismo enquanto vivem os déspotas, e seus partidários conspiram para os restaurar? Não condenamos por isso a Kerensky; foi útil para a revolução no primeiro momento, mas teria sido funesta a sua permanência no formação da unidade nacional devia neutralizar, assim, a desagregação feudal, obedecendo ao conflito entre progresso e reação, elite e massa, ativismo e indolência. O objetivo era consolidar um Estado-nação capitalista e liberal, cuja meta fosse historizar a busca de uma governo. Não esquecemos que vacilações análogas tinha mostrado com a sua dinastia a revolução francesa; e então, como agora, foi necessário que ela se desligasse de seus elementos indecisos, para que o antigo regime fosse mortalmente ferido na pessoa de seus simbólicos representantes. O arranque decisivo ocorreu na Rússia em princípios de 1918. A facção radical dos partidos revolucionários compreendeu que era perigoso seguir caminhos oblíquos; desalojou do governo o partido que já estorvava, sacrificou a vã ilusão de combater contra os exércitos teutônicos e se cingiu a reorganizar democraticamente as diversas populações avassaladas pelo czarismo. Wilson e Kerensky tinham dado à democracia um programa ‘minimalista’ mais parecido com uma concessão que com um reclamo: Lenin e Trotsky acreditaram que a oportunidade impunha formular suas aspirações máximas, o que fez dar-se ao movimento o nome de "maximalismo". A atitude que diante dele assumiram os governos beligerantes foi lógica. Os aliados se inclinaram a encará-lo como uma pura e simples defecção militar; os germanos militarmente beneficiados pelo sucesso, viram-no com discutível agrado, suspeitando que o espírito revolucionário poderia contagiar-se a suas próprias populações. Desde esse momento, dia a dia, as agencias telegráficas começaram a injuriar a revolução que tinha destruído o despotismo dos czares e procurava dificultosamente um novo estado de equilíbrio, não muito fácil de encontrar em poucos dias, após brusca sacudida. O cabo se inchava e cada hora com notícias terríficas que os governos interessados difundiam pelo mundo, apresentando os maximalistas como um bando de malvados insensatos. Falou-se do terror. Que terror? O dos czares que haviam assassinado nos cárceres e na Sibéria milhões de cidadãos que amavam a liberdade, ou o dos maximalistas que fuzilaram umas quantas centenas de cortesãos que conspiravam para devolvê-los à escravidão? Tivemos em nossas mãos periódicos russos de oposição ao movimento maximalista, pois são esses os únicos que deixam circular a censura aliada; só neles nos surpreende a liberdade com que o criticam, realmente inexplicável se reinasse o terror mentirosos dos cabos. Há uma verdade que é preciso afirmar, porque calá-la equivaleria a mentir: comparando a revolução russa com suas congêneres, ela se caracteriza até agora pela doçura de seu procedimento, quase angelical diante da gloriosa Revolução Francesa, cujos benefícios desfrutamos sem recordar o muito sangue que custou. Não pretendemos sugerir que a crise maximalista se efetuou com perucas polvilhadas como uma tertúlia de cortesãos; seria indubitavelmente exagerado; seria, todavia, surpreendente que suas únicas vítimas, segundo os diários russos que levantaram a grita ao céu, tenham sido uma família de autocratas, dez ou vinte bispos, quatro dúzias de chefes militares e vários centos de burocratas, espias e cossacos, em cifras apenas apreciáveis em um império de tantos milhões de habitantes. São mais vítimas sem dúvida, do que as dessa incruenta revolução estudantina que acaba de triunfar em Córdoba; porém convenhamos que não é o mesmo desalojar uma dúzia de sábios solenes e demolir uma sinistra tirania secular...”. INGENIEROS, José – “Significação histórica do maximalismo”, op.cit., p. 486-7. Cf. PORTANTIERO, Juan Carlos - Estudiantes y política en América Latina. El proceso de la reforma universitaria (19181938). México, FCE, 1978. fundamentação metafísica da ética, sem por isso perseguir uma dialética da sociedade, mas antes a intervenção ativa dos ideais. As minorias eram as mais indicadas para tanto por serem espiritualmente jovens, uma vez que inconformistas, conforme o paradigma do modernismo arielista, que correlacionava juventude, progressismo, moralidade e cultura 4. Ingenieros, contudo, antropólogo criminalista5, nem se colocava a possibilidade de analisar a história como simples testemunha6. Sua posição era inequivocamente meritocrática7, longe, além do mais, da improdutividade celibatária dos contemporâneos dadá 8. Assim, no início da Grande Guerra, Ingenieros lança uma sorte de manifesto, “O suicídio dos bárbaros”, em que sustenta que “la civilización feudal, imperante en las naciones bárbaras de Europa, se prepara a suicidarse, arrojándose al abismo de la guerra”. Trata-se, a seu ver, da agonia de um passado carregado de violência e de superstição, conceito Sérgio Buarque de Holanda resenha o Ariel de Rodó, em 1920, na Revista do Brasil. A guerra coincide com o fim da hegemonia europeia na América latina, cf. COMPAGNON, Olivier - O adeus à Europa: a América Latina e a Grande Guerra. Rio de Janeiro, Rocco, 2014. 5 Ingenieros divulgou essas ideias numa publicação próxima do Itamaraty, a Revista Americana, cfr. INGENIEROS, José – “Evolución de la antropología criminal”. Revista Americana., a.3, nº1, Rio de Janeiro, jan. 1912, p. 8-16.; IDEM – “Premisas para una sociologia argentina, ibidem, a.3, nº5-6. Rio de Janeiro, maio-jun. 1912, p.512-32; IDEM – “Formación económica de la nacionalidad argentina”, ibidem, a.4, nº5-6. Rio de Janeiro, maio-jun. 1913, p.250-269. 6 SUX, Alejandro- Lo que se ignora de la guerra: crónicas escritas en los campos de batalla de Francia y Bélgica. Barcelona/Buenos Aires, Maucci, 1915; IDEM - Curiosidades de la guerra. Paris, Ediciones Literarias, 2017; IDEM - Los voluntarios de la libertad: contribuciones de los latino-americanos a la causa de los aliados. Paris, Ediciones Literarias, 1918; SOIZA RELLY, Juan José - La escuela de los pillos. Buenos Aires, Vicente Matera, 1920. 7 INGENIEROS, José – “Servidumbre moral”. La Nota, a.1, nº 1. Buenos Aires, 14 ago.1915, p.7. 8 Cf. LAZZARATO, Maurizio - Marcel Duchamp et le refus du travail. Paris, Les Prairies ordinaires, 2014; D´ALVIM, Guy [pseud. Alphonsus de Guimarães] - “Club dos solteirões”. Revista do Brasil, nº 55. São Paulo, jul. 1920, p.277-8; JUDOVITZ, Dalila – “Duchamp’s Temporal Machinations and Postmodern Returns”. Dada/Surrealism, 23(1), 2020, p.1-24; BURENINA-PETROVA, Olga – “El anarquismo y la vanguardia artística rusa” in TUPITSYN, Margarita – Dadá ruso. 1914-1924. Madrid, Centro de arte Reina Sofía, 2018, p.226-257. 4 central de sua filosofia9. Contrapondo-se a ele, o escritor opta por um estilo nervoso e telegráfico. “Tuvo sus glorias; las admiramos. Tuvo sus héroes; quedan en la historia. Tuvo sus ideales; se cumplieron”. O diagnóstico era o de início de uma outra era humana. “Dos grandes orientaciones pugnaron desde el Renacimiento. Durante cuatro siglos la casta feudal, sobreviviente en la Europa política, siguió levantando ejércitos y carcomiendo naciones”, ao passo que “el alma cultural, a duras penas respetada, sembró escuelas y fundó universidades, esparciendo cimientos de solidaridad humana. Por cuatro centurias venció la primera. Príncipes, teólogos, cortesanos, han pesado más que filósofos, sabios y trabajadores. Las huestes inhumanas domeñaron a las fuerzas humanitarias”. O insensato oprimiu o sábio; o parasita ao produtor; o funcionário ao homem livre. O horizonte, portanto, apresentava-se muito auspicioso. “Hasta hoy fue la Violencia el cartabón de las hegemonías políticas; sobre la carroña del feudalismo suicida (que, em versão posterior, substituirá por um conceito mais preciso: imperialismo) se impondrá otra moral y los valores nacionales se medirán por la Cultura”, pelo simples motivo de que “las patrias feudales las hicieron soldados y las bautizaron con sangre; las patrias culturales las harán los maestrescuelas sin más arma que el abecedario”10. Nesse sentido, só cabia exortar ao mundo americano: “Saludad el suicidio del mundo feudal, con votos fervientes de que sea A superstição, que etimologicamente significa testemunho ou sobrevivência, era para Ingenieros o medo paralisador, que se refugia no passado e acata as crenças pessimistas, ao passo que renuncia e teme ao desconhecido. Os supersticiosos entram a cada crepúsculo no mesmo cemitério, dizia, atraídos não pelo vivo, mas pela cinza. Identificava a superstição ao imaginário autóctone. No entanto, os ideais, modernos, provinham da Europa. 10 Mariátegui resgata o último capítulo de um livro póstumo, As forças morais, porém, ao estampá-lo na revista Amauta, torce a orientação de Ingenieros, fazendo ele evoluir da terrinha ao universal. Cf. INGENIEROS, José – “Terruño, pátria, humanidad”. Amauta, nº 2. Lima, out. 1926, p.17-9. 9 definitiva la catástrofe”11, porque “frente a los escombros del continente suicida levantaremos ideales nuevos que nos habiliten para ser una gran patria, fuerte para las nuevas luchas humanas, en el Trabajo y en la Cultura, propicios a toda fecunda emulación creadora”12. Em resposta a uma enquete que lhe foi encaminhada por Henri Bergson, Ingenieros opinava que a única saída era esperar a morte da geração que protagonizou a guerra de 1914-8, fundamentando sua decisão no argumento de que “la guerra ha producido una regresión del espíritu científico en todo el mundo, con la explicable excepción de ruidosos progresos en las ciencias aplicables por los estados beligerantes a las industrias de la guerra, como la química, la aviación o la cirugía. En todo lo que antes era investigación desinteresada se advierte la escasez de producción científica y filosófica, sin que prueben mucho en contra ciertos casos aislados, como el de Einstein, cuyas doctrinas son un resultado natural y legítimo de estudios e investigaciones iniciados antes de la guerra. No es solamente regresión del espíritu científico lo que se advierte en todas partes, sino perturbación de la moral científica por la filtración en los dominios del saber de un malsano particularismo localista. El fenómeno, aunque anterior a la guerra, ha sido concomitante con su período preparatorio. Alemania y Francia fueron las primeras culpables de la corrupción del espíritu científico por el patrioterismo; desde principios del siglo los alemanes y los franceses creían que su intelectualidad respectiva era superior a la de todo el resto del mundo, y no parecía buen alemán ni buen francés el que no ponía por encima de todas las verdades la preeminencia de sus genios connacionales. Esta mentalidad absurda fue desenvolviéndose paralelamente a la política europea en vísperas de la guerra, haciendo crisis durante la misma, a tiempo que en los demás países del mundo se perturbaba en igual sentido el juicio de los valores intelectuales. Cada minúsculo Estado se apresuró a buscar sus ‘genios domésticos’, en el pasado y en el presente, olvidando que la investigación de la verdad y la creación de la belleza no suelen ser asuntos de familia. La posguerra ha acentuado esa beligerancia de los intelectuales que tuvieron la desgracia de vivir y tomar partido durante la guerra. Los problemas sociales y políticos engendrados por la guerra misma han agravado la crisis del espíritu científico y filosófico, especialmente en los dominios de las llamadas ciencias morales; cada "hombre de ciencia", cada "filósofo", cada economista, jurista o político, se ocupa de buscar argumentos contra los que fueron sus enemigos durante la guerra, no preocupándose mucho de la verdad cuando necesite torcerla para servir a sus pasiones’. INGENIEROS, José – “Encuesta sobre cooperación intelectual”. Nosotros, a. 17, nº 170, jul. 1923, p.421. 12 INGENIEROS, José – “El suicídio de los bárbaros”. Caras y caretas, nº 829. Buenos Aires, 22 ago. 1914; IDEM – “Los sillares de la raza”. Caras y Caretas, nº 837, 17 out. 1914; IDEM – “La religión de la raza”. Caras y Caretas, nº 839, 31 out.1914; IDEM – “Patria y cultura”. Caras y Caretas, nº 840 7 nov. 1914; IDEM –“El nuevo nacionalismo argentino”. Caras y Caretas, nº 841, 14 nov. 1914; IDEM – “Filosofía de la argentinidad”. Caras y Caretas, nº 842, 21 nov. 1914; “Cultura y energía”. Caras y Caretas, nº 843, 28 nov.1914; IDEM – “La justicia de la raza”. Caras y Caretas, nº 849, 9 jan. 1915; IDEM – “La tradición argentina”. Caras y Caretas, nº 856, 27 fev. 1915; IDEM – “O que é o socialismo?” In Echo Operario. Rio Grande, a. 2, nº 76, 13 fev. 1898, p. 1-2; IDEM - O patriotismo. São Paulo, Typ. Internacional, 1898; AGOSTI, Héctor - José Ingenieros: cidadão da juventude. São Paulo, Brasiliense, 1947(o IEB-USP conserva a correspondência, 1944-5, em que Agosti, impossibilitado de editar o livro no Uruguai, solicita a publicação a Caio Prado Jr.); 11 Em um comentário a “Nuvem de Calças”, o poema de Maiacóvski, Vitor Chklóvski, sob idêntica perspectiva humanística, também falava, em 1917, de um suicídio da cultura europeia, cujo objetivo era dar a sensação das coisas, enquanto visão, e não como reconhecimento, ideia que podemos encontrar também em Georg Simmel, quando, em “A crise na cultura” (1917), menciona, em função da guerra, o retardo no aperfeiçoamento das pessoas em relação ao das coisas; mas também em Paul Valéry, e seu desafio de que “nous autres, civilisations, nous savons maintenant que nous sommes mortelles”, de La Crise de l’Esprit (1919), ou mesmo na diferença entre cultura e civilização de Monteiro Lobato 13. A conclusão era instigantemente paradoxal: as nações conflagradas e, notadamente, os impérios hegemônicos eram responsáveis pela persistência do feudalismo. Mas, considerando que todos os países implicados eram claramente capitalistas, Ingenieros era incapaz, contudo, de concluir que a autêntica barbárie residisse no próprio capitalismo, razão pela qual preferia atribui-la a uma exterioridade de atraso. Sob o ponto de vista da civilização como progresso, era impossível, à maneira de Walter Benjamin, ver a barbárie no cerne da cultura. Coincidentemente, a partir de sua permanência na Europa, entre 1911 e 1914, Ingenieros estava entregue a duas grandes tarefas para organizar a cultura nacional, a criação da Revista de Filosofía, Cultura, Ciencias y Educación (1915-1929) e a edição de uma biblioteca, “La Cultura Argentina”, projeto que deveria ter PONCE, Aníbal - José Ingenieros: su vida y su obra. Buenos Aires, Matera, 1957; TERÁN, Oscar - José Ingenieros: antimperialismo y nación. Buenos Aires, Siglo Veintiuno, 1979; IDEM - José Ingenieros: pensar la nación. Buenos Aires, Alianza, 1986; IDEM - En busca de una ideología argentina. Buenos Aires, Catálogos, 1986; IDEM - Positivismo y nación en la Argentina. Buenos Aires, Puntosur, 1987; DEGIOVANNI, Fernando – “Nacionalismo de mercado y disidencia cultural: La cultura argentina de Ingenieros”. Los textos de la patria. Nacionalismo, políticas culturales y canon en Argentina. Rosario, Beatriz Viterbo, 2007, p.215-320. 13 LOBATO, J. Monteiro - “Cultura e civilização”. Revista do Brasil, a.4, nº 48. São Paulo, dez. 1919, p.289-290; MESQUITA, Júlio - A Guerra. São Paulo, Terceiro Nome, 2002. 4volumes. cristalizado em 1904, como “Biblioteca Argentina de Ciencias y Letras”, sob a direção de Ramos Mejía, tendo o jovem Ingenieros como secretário. Não custa associar esse empreendimento a certo cosmopolitismo para além da imaginação liberal14, ou mesmo ao conteúdo enciclopedicamente nacional da Revista do Brasil, fase Monteiro Lobato, e nem mesmo dissociálo, em sua vertente paródica, da “Bibliotequinha antropofágica”15. Ora, durante a crise de 1917, a Revista de Filosofía de Ingenieros teve uma posição aliadófila, chegando a reproduzir, em maio, um célebre artigo de Leopoldo Lugones, “Neutralidad imposible”16. A 8 de maio de 1918, porém, em sua conferencia “Ideales viejos e ideales nuevos”, em Rosário, Ingenieros afirma que a revolução maximalista era uma das diversas formas que tomaria o programa democrático com que Thomas Woodrow Wilson havia enobrecido a causa dos aliados. Referindo-se à luta secular entre ideais velhos e novos ideais, julgou a guerra "um momento crítico de luta entre o mundo moral que nasce e o mundo moral que chega ao seu ocaso". Ver TIHANOV, Galin - Narrativas do exílio: cosmopolitismo além da imaginação liberal. Trad. Camila Caracelli Scherma; Marina Haber de Figueiredo; Mateus Yuri Passos; Michele Viana Trevisan; Nanci Moreira Branco; Rômulo Augusto Orlandini e Tatiana Aparecida Moreira. São Carlos, Pedro e João Editores, 2013; RENFREW, Alastair & TIHANOV, Galin - Critical Theory in Russia and the West. London, Routledge, 2010. 15 Em um artigo na Revista de Filosofia de Ingenieros, “La divertida estética de Freud” (1923), texto assinado por Luis Campos Aguirre, pseudônimo que muitos, dentre eles Hugo Vezzetti, atribuem a Aníbal Ponce, mas que a redação de Nosotros identifica como sendo de Ingenieros, o autor admite que, assim como sua primeira leitura foi o Gargântua, recebido do pai, ele pretende que seus filhos se iniciem no letramento através da Introdução à psicanálise de Freud. Curiosa sintonia com Bakhtin, quem começa a refletir sobre Rabelais a partir de 1919, através das categorias de carnavalização e as imagens do corpo grotesco. 16 Anteriormente publicado na imprensa (La Nación, 7 abr. 1917), o artigo ainda revela o momento de sintonia entre ambos os escritores que, em 1897, editaram a revista La montaña. Ver INGENIEROS, José; LUGONES, Leopoldo - La montaña, periódico socialista revolucionario. Buenos Aires, Universidad Nacional de Quilmes, 1996, ed. facsimilar. Mais adiante, nos anos 20, os vanguardistas de Martín Fierro denunciariam que Ingenieros estava por trás das campanhas de difamação a Lugones, escritor-guia do grupo. 14 Considero um dever de lealdade — acrescentava então — repetir que minhas simpatias na grande contenda não podem ser pelo Kaiser que toda hora fala em nome do direito divino e invoca para seus exércitos a proteção de Deus, como na Idade Média; minhas simpatias acompanham a esse presidente yankee que interveio na guerra em nome da democracia e do direito, não para estender ao mundo o domínio de seu povo, mas para semear a todos os povos do mundo os ideais que têm cimentado a felicidade dele próprio. Minhas simpatias não podem ser pelo governo da Áustria, símbolo consagrado do obscurantismo e do espírito feudal; não podem ser pelo governo da Turquia, que por séculos e séculos tem sido a mancha negra da civilização europeia. Nem podem ser, enfim, por esse monarca fictício que do Vaticano tece incessantemente sua teia de aranha sutil ao serviço dos imperadores de direito divino, sem ter encontrado, todavia, a palavra de excomunhão definitiva contra todos aqueles que semeiam no mundo a consternação e o extermínio. ‘Minhas simpatias são pela França, pela Bélgica, pela Itália, pelos Estados Unidos, porque essas nacionalidades estão mais próximas dos ideais novos e mais divorciadas dos ideais velhos. Minhas simpatias, enfim, estão com a revolução russa, com a de Kerensky, com a de Lenin, com a de Trotsky; com eles, apesar de seus erros; com eles, ainda que suas consequências tenham sido por um momento favoráveis à causa dos ideais velhos: e creio que a palavra mais nobre e mais leal, pronunciada desde o princípio da presente guerra, é a palavra de solidariedade com que o presidente Wilson saudou o triunfo dos revolucionários russos, vendo em seus atos uma expressão inequívoca dos ideais que foram a bandeira da humanidade no século XIX e que esperam uma realização crescente no mundo em que vivemos”17. A conferência foi, inicialmente, publicada, em Buenos Aires, pela Biblioteca Popular de la Universidad Libre Israel e, a seguir, incluída em INGENIEROS, José - Ideales viejos e ideales nuevos: Significación histórica del movimiento maximalista. Dos conferencias editadas por la revista "Nosotros". Buenos Aires, Luis. J. Rosso, 1918, p.34-5. Em 1920, 17 Já em “A significação histórica do maximalismo”, a conferência proferida, a 22 de novembro de 1918, em um teatro da avenida Corrientes, o Nuevo (1912-1933), Ingenieros repisa que esse não era o ponto de vista dos que encaravam a guerra como um simples problema político ou militar: dissemos que eles não pensavam em vencer o passado e favorecer o futuro; dissemos que a outra guerra, a de princípios, a de ideais, seria independente do resultado a que se chegara nos campos de batalha; dissemos que em todas as nações, nas vencidas antes, mas depois vencedoras, assistiríamos ao florescimento de novos ideais democráticos; dissemos que ou os governos concediam aos povos todas as liberdades e franquias que estes haviam pago com seu sangue, ou os povos se decidiriam a varrer os últimos restos do imperialismo e do privilégio; criamos, enfim, e também o dissemos que ao terminar a guerra feudal dos governos, começará a guerra civilizadora dos povos! Pronunciamos essas palavras nos momentos em que parecia mais formidável a capacidade ofensiva dos Menotti del Picchia publica no Correio Paulistano, e a Revista do Brasil recolhe em seu número 55 (jul.1920), um artigo sobre “Arte nova”, que utiliza uma oposição usada por Ingenieros em A simulação da loucura, isto é, a dos filoneístas ou neófilos, que adoram o novo, e a dos misoneístas, que o abominam. O misoneísmo é rerum novarum odium, ao passo que o filoneísmo, no entanto, é rerum novarum studium. O conceito de studium é extremamente relevante para Ingenieros. Nas crônicas de sua viagem à Itália, Ingenieros diferencia o viajante ingênuo, arquetipicamente representado pelo burguês pacato, sem outros interesses do que o de um simples turista, do observador estudioso, impregnado dos valores modernos, capaz de realizar uma arqueologia dos múltiplos sentidos e temporalidades inscritos nos objetos e espaços visitados, para deles extrapolar futuros anteriores. “Los países nuevos (…) tienen el privilegio de no estar amarrados por rutinas y tradiciones seculares; pueden ponerse a la cabeza de la civilización y demostrar que es posible realizar progresivamente los programas socialistas. (…) Los hombres estudiosos, cuya imparcialidad de criterio estriba en su alejamiento de la política militante, no necesitan adular a los electores ni aplaudir a los gobernantes. Por eso pueden advertir a éstos que el socialismo no se evita con leyes de resistencia o con persecuciones policiales, y recordar a aquéllos que su advenimiento no se apresura con discursos incendiarios o con huelgas inopinadas”. INGENIEROS, José – “El socialismo en Italia”. La Nación. Buenos Aires, 19 jul. 1905, p. 3. “El estudioso no saciará su curiosidad limitándose a analizar introspectivamente las propias impresiones; y no le faltarán, por cierto, fuentes en que abrevar sus ansiedades. Encontrará grandes fruiciones de espíritu indagando cómo se reflejaban esas mismas cosas en otros cerebros observadores y hará una fecunda crítica comparativa de las emociones estéticas”. IDEM – “Sobre las ruínas II”. La Nación, 2, ago. 1905. exércitos alemães: porém, ganhassem ou perdessem, o que viria depois seria o mesmo em toda parte ‘primeiro nas nações vencidas, depois também nas vencedoras’. Era lógico pensar assim e os fatos parecem justificar essa opinião. Constava-nos que uma das grandes tarefas dos revolucionários russos tinha sido provocar movimentos análogos em toda a Europa; ainda que os impérios centrais o ocultassem, tinham-se notícia de agitações graves na Alemanha, Áustria, Polonia e Hungria; ainda que o calasse o cabo aliado, sabia-se que fatos semelhantes tinham ocorrido na França, na Inglaterra e na Itália. E não se ignorava, enfim, que o movimento florescia em países neutros, como a Holanda, a Suécia e a Dinamarca, e que na Suíça se tinha dado nas ruas de Zurich uma verdadeira batalha de artilharia, com centenas de mortos e feridos, entre o soviete maximalista e as tropas federais... Não se tratava pois de meras hipóteses, mas de informações exatas em seu conjunto, ainda que não pudessem precisar-se em seus pormenores. Entretanto, de 5 a 10 de julho de 1918, se reunia em Moscou o V congresso pan-russo dos sovietes e dava aos povos emancipados um Estatuto Constitucional; toda a pessoa culta que o tenha lido reconhece que ele, com toda a sua acidez de fruto primeiriço, abre um capítulo na filosofia do direito político; imprime caracteres novos ao sistema republicano federal e põe diretamente em mãos do povo a soberania do estado; nacionaliza os feudos territoriais e as grandes fontes da produção; suprime a divisão da sociedade em classes e converte em produtoras as ociosas; e, além disso, para sintetizar, consagra quase todas as reformas que desde há meio século constituíam a aspiração dos partidos radicais e socialistas. Este regime dura desde há um ano e a imprensa russa oposicionista não faz críticas mais graves que as usuais contra qualquer dos governos precedentes. Quanto à constituição, devemos encará-la como um primeiro tatear inseguro rumo ao porvir, experiência que não é lícito julgar em conjunto sem levar em conta as condições particulares do meio social a que está destinada18. Recém nomeado, sob efeito da Reforma, como vice-diretor da faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires, Ingenieros leciona, em setembro de 1918, o primeiro curso de Psicologia 18 INGENIEROS, José – “Significação histórica do maximalismo”, op.cit., p.487-8. daquela casa de estudos e é lógico que, sem filiação partidária à época, considerasse o acontecimento revolucionário russo como um dado central na batalha cultural da secularização modernizadora, abstraindo, sem mais, as consequências colonialistas desse enfoque: Que interesse têm estas reflexões para os habitantes da América? Se aqui não houve guerra — dir-se-á — não há razão para desejar ou temer que nos alcance a revolução social que é sua consequência. Quem tal diz ignora a história, carece de consciência histórica, esquece que todos os movimentos políticos e sociais europeus têm repercutido na América, em proporção exata desse grau de europeização que soe chamar-se civilização. É indubitável que os índios residentes entre os Andes e as nascentes do Amazonas, não sentirão os resultados da guerra; provavelmente ignoram que existiu uma guerra europeia, na improvável suposição de que conheçam a existência da Europa. Mas em todos os países que nasceram de colonização europeia, desde o Alaska até o estreito magalhânico, o que na Europa aconteça terá um eco tanto maior quanto maior for seu nível de civilização. Nosso destino, iniludível, como dizia Sarmiento, é ‘nivelar-nos com a Europa’, e a experiência do último século demonstra que lá não tem aparecido um invento mecânico, uma lei política, uma doutrina filosófica, sem que tenha tido aplicação ou ressonância neste continente. Enquanto na Europa se desenvolve a atual revolução social já iniciada, aqui participaremos de suas inquietações primeiro e de seus benefícios depois. Inquietações enquanto se subvertem as instituições existentes para provar outras novas; benefícios quando por simples seleção natural se enraízem os úteis e desapareçam os nocivos. A experiência social não pede conselho aos conservadores espantadiços, nem presta ouvidos aos otimistas iludidos; em cada lugar e tempo se realiza todo o necessário e fracassa todo o impossível. Não seria absurdo cortar as asas, antecipadamente, aos idealistas que pedem o mais? Se só conseguirão o menos, não seria em bem de todos os que anelam um aumento de justiça na humanidade? Os resultados benéficos desta grande crise histórica dependerão, em cada povo, da intensidade com que se definam em sua consciência coletiva as aspirações maximalistas. E essa consciência só pode formar-se em uma parte da sociedade, nos jovens, nos inovadores, nos oprimidos, pois são eles a minoria pensante e atualmente de toda a sociedade, os únicos capazes de compreender e amar o porvir. Exagerarão os seus ideais ou suas aspirações? Seguramente; não é indispensável que as exagerem para compensar o peso morto que representam os velhos, os rotineiros e os satisfeitos?19 A saída, longe de ser simples, também não seria imediata. Uma revolução social é um largo processo histórico, composto de preparativos, resistências, crises, reações, depois das quais se chega a um estado de equilíbrio distinto do precedente. A revolução a que assistimos começou há muitos anos; a guerra a fez entrar no período crítico; seguirse-ão muitos impulsos e restaurações: de tudo isso, dentro de um ou vinte anos, segundo os países, resultará um novo regime democrático que oscilará entre os ideais minimalistas enunciados por Wilson e os ideais maximalistas formulados pelos revolucionários russos. Se os homens fossem ilustrados e razoáveis, seria muito bonito que se pusessem de acordo para navegar juntos em favor da corrente, com boa vontade e coração otimistas, decididos a ir tão longe quanto se pudesse, em bem de todos. Essa hipótese, com ser tão agradável, parece-nos a mais absurda. Não o é tanto pensar que alguns governos inteligentes, entre os muitos que se revezarão com frequência em cada país, poderão dar salutares golpes de timão e meter proa rumo do porto feliz das aspirações legitimais, pensando mais em construir o futuro que em defender o passado. Onde tal não aconteça, a transformação se fará irregularmente, por comoções, como produto de choques, com violências inevitáveis e repressões cruéis; os excessos dos revolucionários e dos restauradores determinarão uma resultante final, que realizará, aproximadamente, o máximo possível das aspirações que tenha cada povo ao começar a fase crítica de seu ciclo 19 IDEM – ibidem, p.490. revolucionário. Que fazer, pois, ante as aspirações maximalistas? Depende. Os que tenham anelos de mais justiça, para si ou para seus filhos, podem saudá-los com simpatia; os que não creem que podem beneficiá-los, devem recebê-las sem medo. Isso é essencial: serem otimistas e não temer o inevitável. Quando chegar, na medida que deva chegar, só causará danos graves aos que pretenderem torcer o curso da história e aos espantadiços; a rotina fará vítimas, porque é causa de medo, e o medo tem engendrado os maiores males de que tem memória a humanidade. O desenvolvimento desta revolução não incomodará a quem a espere como a coisa mais natural, antecipando-se-lhe, preparando-a, como atilados navegantes que ajustam as velas ao ritmo do vento, recordando as palavras de Maximo Gorky: ‘Só são homens os que se atrevem a encarar de frente o Sol...’ 20. Após a repressão aos grevistas metalúrgicos, em janeiro de 1919, e às vésperas do 1º de maio, Ingenieros é convidado a uma reunião reservada (finalmente não realizada) com o presidente radical Hipólito Yrigoyen. O escritor propôs então a criação de um conselho formado por dirigentes sindicais, socialistas e intelectuais para prestarem subsídios ao governo, quanto à questão operária. Houve, mesmo sem o encontro presidencial, duas reuniões preparatórias e elaborou-se um plano de reformas sociais. Em janeiro de 1920, Ingenieros apoia a corrente juvenil que postulava, no Partido Socialista, a adesão à Terceira Internacional e chega a financiar seu órgão de imprensa, a revista Claridad!, da qual será frequente colaborador21. Em março, adere, na Revista de Filosofia, ao apelo de Anatole IDEM – ibidem, p.490-1. Cf. VERMEREN, Patrice e VILLAVICENCIO, Susana – “Positivismo y ciudadanía: José Ingenieros y la constitución de la ciudadanía por la ciencia y la educación en la Argentina” in Cuyo. Anuario de Filosofía Argentina y Americana, nº 15. Mendoza, Universidad Nacional de Cuyo, 1998. 21 Claridad!. Revista quincenal socialista de crítica, literatura y arte. Buenos Aires, n° 1: 19 jan. 1920 – n° 9: 15 ago. 1920. Nela se transcreveram textos de Karl Liebknecht, Rosa Luxemburgo, Bernard Shaw, Vladimir Lenin, Maximo Gorki, Juan B. Justo, Anatole 20 France e Henri Barbusse, do Grupo Clarté, para formar a Internacional do pensamento e, nesse mesmo veículo, em seu número 32, estampa um ensaio, “Democracia funcional en Rusia”, acolhido, em maio daquele ano, pela Revista do Brasil. Entremeado com fotografias do projeto de Nicola Rollo para o Monumento de Ipiranga, em homenagem ao centenário da independência, o escrito, que discriminava a democracia funcional da democracia liberal, concluia argumentando que “as nações civilizadas caminham para uma Democracia Funcional. Educar os espíritos nessa orientação é obra inteligente de Paz; obstruir o curso da história é obra louca de Guerra”22. Em outras palavras, Ingenieros renunciava ao radicalismo em nome do evolucionismo cultural que lhe era tão característico, já que a intervenção das elites ilustradas, na política bolchevique, era, sob todos os aspectos, superior a qualquer experiência das massas sublevadas. Em novembro de 1919, um estudioso de filosofia e lógica, além de língua e literatura alemãs, autor de Temperamento e carácter sob o ponto de vista educativo, o professor Henrique Geenen, estampa um ensaio sobre a filosofia de Ingenieros, de certo modo restritivo, pela margem por ele France, Andreas Latzko, Henri Barbusse, Boris Sokoloff, Georges Sorel, León Trotsky, Karl Marx, George Duhamel e Bertrand Russell, entre outros. O poeta boliviano Ricardo Jaimes Freyre, que formava com Darío e Lugones a tríade modernista, estampa, no primeiro número, o poema “Rusia”, que conclui: “¡Enorme y santa Rusia! De tu dolor sagrado/como de un nuevo Gólgota, fe y esperanza llueve.../La hoguera que consuma los restos del pasado/saldrá de las entrañas del país de la nieve. / El pueblo con la planta del déspota en la nuca, /muerde la tierra esclava con sus rabiosos dientes / ¡y tíñese entretanto la sociedad caduca/con el sangriento rojo de todos los ponientes!” 22 INGENIEROS, José – “A democracia funcional na Rússia”. Revista do Brasil, a. 5, nº 53. São Paulo, maio 1920, p. 27. Estampado na revista Claridad! (a. 1, n° 4, Buenos Aires, 19 mar. 1920) e publicado, a seguir, como folheto pela editora Adelante!, da Agencia Sudamericana de Libros (Buenos Aires, 1920), teria também uma edição chilena (Santiago, Ediciones Juventud. Federación de Estudiantes de Chile, 1921) até ser recolhido em Los tiempos nuevos. Reflexiones optimistas sobre la guerra y la revolución. Buenos Aires, Talleres Gráficos Cúneo, 2021. concedida ao irracionalismo nietzscheano23. Contudo, é fácil constatar que a luta de Ingenieros contra o kantismo encontrava ecos em outros pontos da América. Em 1922, acolhe o ministro da Educação Pública mexicana José Vasconcelos, quem, após as comemorações do centenário, quando entrega uma estátua do último imperador asteca, Cuauhtémoc, ao povo do Rio de Janeiro, percorrendo, a seguir, Bahia, Minas e São Paulo (cujos políticos, observa em suas Memórias, “son impetuosamente progresistas, como la industria que les da el sustento”), assistiu, na sequência, em outubro, à cerimônia de transmissão do poder do presidente argentino Yrigoyen a seu sucessor Marcelo T. de Alvear. Nessa ocasião, Ingenieros detecta que Una profunda palingenesia espiritual ha acompañado a esa regeneración política, que fue obra de dos generaciones y necesitará el concurso de la que vendrá. Durante el siglo pasado imperaban en México las orientaciones del escolasticismo tradicional, heredadas del coloniaje, apenas interrumpidas por esporádicos influjos de la escuela fisiocrática, de la ideología y del Kantismo. Alcanzaron a sufrir un vigoroso sacudimiento por la penetración del positivismo, que tuvo representantes muy distinguidos en las ciencias y en las letras; desplazando al escolasticismo, ya minado por filtraciones eclécticas, influyó benéficamente sobre la cultura mexicana, emancipando las conciencias y preparando el terreno para la nueva ideología de la generación que llega actualmente a la madurez. Comprendiendo que las fuerzas morales son palancas “Fogo-fátuo, frio e fugaz a bruxulear de vez em vez sobre os elementos que se agregam para formar os seres ínfimos na escala dos viventes, — em nós, luz alternativamente acesa e apagada, qual a lâmpada de um farol e após a nossa existência terreal, para uns, braseiro indefinidamente ardente, quer isolado, quer confundindo suas chamas com o braseiro que constitui a consciência universal, — para outros, destinada a se apagar tristemente sem deixar rastro, é e será talvez para sempre a nossa consciência individual o Enigma dos Enigmas”. GEENEN, Henrique – “A philosophia de Ingenieros”. Revista do Brasil, a.4, nº 47. São Paulo, nov. 1919, p. 255. Ver, do mesmo autor, Compêndio de Lógica. São Paulo, Typ. do Globo, 1913; IDEM – Compêndio de Psychologia, São Paulo, Monteiro Lobato, 1925; Compêndio de Filosofia. São Paulo, Teixeira, 1934; IDEM - Aventuras tragicômicas de uma família de São Paulo durante a revolta de julho de 1924. São Paulo, Seção de Obras de O Estado de S.Paulo, 1925; IDEM - Palestras philológicas. 1ª série. São Paulo, Irmãos Ferraz, 1931. 23 poderosas en el devenir social, esa generación ha tenido ideales y los ha sobrepuesto a los apetitos de la generación anterior, afirmando un idealismo social al que convergen, un tanto confusamente, varias corrientes filosóficas y literarias. Ese noble idealismo, felizmente impreciso, como toda ideología de transición, compensa con su mucha unidad militante contra lo que no quiere ser, la aún incompleta unidad filosófica de sus aspectos afirmativos. No quiere ser una vuelta al pasado lejano y por eso huye del neoescolasticismo; pero tampoco quiere atarse al pasado inmediato y por eso desea superar el ciclo del positivismo. Movido por ideales de acción, todos comprendemos sus aspiraciones comunes. Es, en efecto, idealismo político, en cuanto tiende a perfeccionar radicalmente las instituciones más avanzadas de la democracia; es idealismo filosófico, en cuanto niega su complicidad al viejo escolasticismo y anhela satisfacer necesidades morales que descuidó el positivismo; es idealismo social, en cuanto aspira a remover los cimientos inmorales del parasitismo y del privilegio, difundiendo y experimentando los más generosos principios de justicia social. De esas corrientes idealistas, no unificadas en cuerpo de doctrina, pero sin duda convergentes en el terreno de la acción, es José Vasconcelos un exponente integral; por eso acudimos a reunirnos en torno suyo, viva encarnación de esta generación mexicana que merece la simpatía de nuestra América Latina”24. Mário de Andrade desconfiava de um certo bolshevismo, como escreve em carta a Câmara Cascudo, que tocava os admiradores de Ingenieros, figura por ele associada a Rui Barbosa25. Mesmo assim, Andrade aproveitou a leitura de uma tese de Joseph Ingegnieros (sic) sobre a linguagem musical, Le langage musical et ses troubles hystériques (1907), da qual retirou elementos para uma teoria do gesto e do movimento. Seriam os pósteros os cabais herdeiros do resgate heterodoxo de filósofo socialista, aqueles capazes de ver, nos russos pós-revolucionários, como Alexandre INGENIEROS, José – “Por la unión latinoamericana”. Nosotros, a.16, nº 161. Buenos Aires, out.1922, p. 146-7. 25 “Rui Barbosa e Ingenieros são mentalidades grandes porém não sei o que é admiração grata e mística”. ANDRADE, Mário de – Cartas de Mário de Andrade a Luis da Câmara Cascudo. Belo Horizonte-Rio de Janeiro, Villa Rica, 1991, p.52. 24 Gorski, Alexei Boulgakov, Ekaterina Helzer ou Margarita Kandourova, os agentes de transformação de um trabalho subalterno, como a dança, prenhe, porém, de humanidade e vigor26. É a bailarina Cecília, a filha mais nova de Ingenieros, quem assim se exprime, a mesma Cecília Ingenieros que por sinal oferece a Borges a história de uma vingança, deslocada e histérica, isto é, moderna, a de Emma Zunz. A mesma Cecília a quem Borges dedica “O imortal” (1947), essa alegoria construída a partir de um livro que um antiquário, de nome Joseph, oferece a uma princesa, de um mundo sem memória, sem tempo, porém, com a possibilidade de uma linguagem que ignorasse os substantivos, uma linguagem de verbos impessoais ou de epítetos indeclináveis, uma revolucionária anacronização do tempo, ou uma momentânea suspensão do seu fluxo, em diferido eco maximalista. Referências Bibliográficas BURENINA-PETROVA, Olga. El anarquismo y la vanguardia artística rusa. In TUPITSYN, Margarita – Dadá ruso. 1914-1924. Madrid, Centro de arte Reina Sofía, 2018, p.226-257. DIAS, Carlos Malheiros – “Elogio de Lenine”. Revista Americana. 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Revista do Brasil, nº 55. São Paulo, jul. 1920, p.277-8 LOBATO, J. Monteiro - “Cultura e civilização”. Revista do Brasil, a.4, nº 48. São Paulo, dez. 1919, p.289-290; MESQUITA, Júlio - A Guerra. São Paulo, Terceiro Nome, 2002. 4volumes. SUX, Alejandro. Curiosidades de la guerra. Paris, Ediciones Literarias, 2017; IDEM - Los voluntarios de la libertad: contribuciones de los latino-americanos a la causa de los aliados. Paris, Ediciones Literarias, 1918; SOIZA RELLY, Juan José - La escuela de los pillos. Buenos Aires, Vicente Matera, 1920. SUX, Alejandro. Lo que se ignora de la guerra: crónicas escritas en los campos de batalla de Francia y Bélgica. Barcelona/Buenos Aires, Maucci, 1915 TIHANOV, Galin - Critical Theory in Russia and the West. London, Routledge, 2010. TIHANOV, Galin - Narrativas do exílio: cosmopolitismo além da imaginação liberal. Trad. Camila Caracelli Scherma; Marina Haber de Figueiredo; Mateus Yuri Passos; Michele Viana Trevisan; Nanci Moreira Branco; Rômulo Augusto Orlandini e Tatiana Aparecida Moreira. São Carlos, Pedro e João Editores, 2013. Raúl Antelo lecionou na Universidade Federal de Santa Catarina. Foi pequisador do CNPq, Guggenheim Fellow e professor visitante em Universidades norte-americanas e europeias. Presidiu a Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC) e recebeu o doutorado honoris causa pela Universidad Nacional de Cuyo. É autor de vários livros, dentre eles, Maria com Marcel. Duchamp nos trópicos; Archifilologías latinoamericanas; A máquina afilológica; En muerte: miniaturas urbanas; Azulejos. Lo transvisual y la arqueología de lo moderno. Editor de Mário de Andrade, Jorge Amado e João do Rio, preparou, em colaboração, Lirismo+Crítica+Arte=Poesia. Um século de Pauliceia Desvairada. ORCID: 0000-0001-9799-6550