Stonewall Lésbico Brasileiro
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Stonewall Lésbico Brasileiro | |
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Participantes | Manifestantes Lésbicas |
Localização | Ferro's Bar, São Paulo-SP |
Data | 19 de agosto de 1983 |
Resultado | criação do Dia Nacional do Orgulho Lésbico |
Stonewall Lésbico Brasileiro[1][2] foi como ficou conhecida a manifestação contra o preconceito e a discriminação, ocorrida no Ferro’s Bar, que deu origem ao Dia do Orgulho Lésbico. Ganhou esse nome em referência à famosa Rebelião de Stonewall.
História
[editar | editar código-fonte]O dia 19 de agosto de 1983 marca a data da primeira manifestação lésbica contra a discriminação no Brasil, ocorrida no Ferro’s Bar, ponto de encontro das lésbicas de São Paulo até setembro de 2000. A manifestação foi posteriormente lançada, em 11 de junho de 2003, como Dia do Orgulho Lésbico[3], pelas ativistas Luiza Granado e Neusa Maria de Jesus,[4] então respectivamente da Rede de Informação Um Outro Olhar e da Coordenadoria Especial de Lésbicas (CEL) da Associação da Parada do Orgulho GLBT. E, em 19 de junho de 2008, a Assembleia Legislativa Paulista aprovou projeto que instituiu o Dia do Orgulho Lésbico no Estado de São Paulo.[5] Desde então, a data passou a ser lembrada anualmente de forma presencial ou virtual. Na noite do dia 19 de agosto de 1983, as então integrantes do Grupo Ação Lésbica Feminista (GALF),[6] Célia Miliauskas, Elisete Ribeiro Neres, Luiza Granado, Míriam Martinho, Rosely Roth e Vanda Frias, “invadiram” o Ferro’s Bar, no centro de São Paulo, para poder voltar a vender seu boletim Chanacomchana[7] que fora proibido no local em 23 de julho de 1983.
Situado na rua Martinho Prado n.º 119, em frente à Sinagoga Beth-El, atual Museu Judaico de São Paulo, o Ferro’s Bar, desde sua inauguração em 1961, sempre fora reduto da boemia paulistana, frequentado por atores, atrizes, jornalistas, escritores, gays e prostitutas. Na década de 1970, porém, se consagrou como ponto de encontro das lésbicas de São Paulo, apesar das relações entre os donos do bar e as clientes nem sempre terem sido cordiais. No caso das integrantes do GALF, os donos do bar implicaram com a venda do boletim Chanacomchana, por seu nome muito explícito, acusando as ativistas do grupo de estarem fazendo arruaça no recinto, embora, de religiosos a camelôs, todos pudessem vender de tudo lá dentro. A manifestação para reverter a proibição do Chanacomchana no Ferro’s contou com o apoio de ativistas do então Movimento Homossexual, como o grupo Outra Coisa de Ação Homossexualista e o grupo Somos, feministas e parlamentares como a vereadora Irede Cardoso[8] (PT), além da cobertura da Folha de S.Paulo que registrou o evento em texto e fotos. Contou também com um lance cômico para seu sucesso: alguém, já dentro do bar, tirou o boné do porteiro que mantinha a porta fechada para as manifestantes e o atirou no meio das mesas. Enquanto ele saiu atrás do boné, um rapaz abriu a porta do bar e as integrantes do GALF consumaram a “invasão”. Figura de destaque do que os jornalistas, Carlos Brickmann[9] e Vanda Frias, chamaram de happening político[10], a ativista Rosely Roth subiu em algumas cadeiras e discursou pelo direito do GALF poder vender seu boletim num bar sustentado pelas lésbicas. A manifestação terminou com a vereadora Irede Cardoso mediando, junto aos donos do bar, a promessa de que não mais impediriam a venda do Chanacomchana no Ferro’s. E Rosely arrematou a conversa afirmando apropriadamente: “Ele só voltou atrás por causa de nossa força, de nossa união. A democracia neste bar só depende de nós!"
O bem-sucedido happening político do Ferro’s Bar[11] garantiu não só que o GALF pudesse voltar a vender seu boletim sem problemas como até conseguir anúncios do estabelecimento para o Chanacomchana. Entrou para a História[12], resgatada 20 anos depois, em 2003, como Dia Nacional do Orgulho Lésbico, igualmente homenageando Rosely Roth[13], falecida em 28 de agosto de 1990.
Referências
- ↑ Adriano Dias (19 de agosto de 2022). «Dia do Orgulho Lésbico» (html). Portal C3. Consultado em 1 de outubro de 2022
- ↑ Rafaela Bonila (8 de março de 2021). «10 mulheres lésbicas, bissexuais e trans da história que você deveria conhecer» (html). Portal IG (Coluna “iG Queer”). Consultado em 20 de outubro de 2022
- ↑ Míriam Martinho (25 de junho de 2022). «Orgulho Lésbico: o happening político do Ferro's Bar (edição 2022)» (html). Revista Um Outro Olhar. Consultado em 25 de outubro de 2022
- ↑ Aureliano Biancarelli (9 de junho de 2003). «ONGs lançam "dia do orgulho lésbico" em São Paulo» (html). Folha de S.Paulo. Consultado em 10 de outubro de 2022
- ↑ «Assembléia aprova Dia do Orgulho Lésbico» (html). ALESP. 19 de junho de 2008. Consultado em 15 de outubro de 2022
- ↑ Míriam Martinho (28 de outubro de 2021). «Memória Lesbiana: 41 anos do Grupo Ação Lésbica Feminista (GALF) entre fato e ficção» (html). Revista Um Outro Olhar. Consultado em 5 de outubro de 2022
- ↑ Míriam Martinho (17 de agosto de 2021). «Memória Lesbiana: Míriam Martinho e o processo de produção dos boletins ChanacomChana e Um Outro Olhar» (html). Revista Um Outro Olhar. Consultado em 5 de outubro de 2022
- ↑ Redação do jornal Folha de S.Paulo (8 de dezembro de 2000). «Morre em SP a ex-vereadora Irede Cardoso» (html). Folha de S.Paulo. Consultado em 1 de outubro de 2022
- ↑ «Carlos Brickman» (html). Portal dos Jornalistas. 11 de junho de 2017. Consultado em 1 de outubro de 2022
- ↑ Carlos Brickman (21 de agosto de 1983). «A Noite em que as lésbicas invadiram seu próprio bar.» (JPG). Folha de S.Paulo. Consultado em 1 de outubro de 2022
- ↑ «Lésbicas X Ferro's» (Acervo digital – tecnologia docpro). Jornal Mulherio, Ano 1983\Edição 00015. 1983. Consultado em 28 de outubro de 2022
- ↑ Gilberto Dimenstein (25 de junho de 2003). «Bar das lésbicas entra na história» (html). Folha de S.Paulo. Consultado em 28 de outubro de 2022
- ↑ mulher500.org.br/ Rosely Roth (1959-1990)