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Palácios Reais de Abomei

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Palácios Reais do Abomei 

O complexo real em Abomei.

Tipo Cultural
Critérios (iii)(iv)
Referência 323 en fr es
Região África
País  Benim
Coordenadas 7° 11' 8" N 1° 59' 17" E
Histórico de inscrição
Inscrição 1985
Em perigo 1985-2007

Nome usado na lista do Património Mundial

  Região segundo a classificação pela UNESCO

Os Palácios Reais do Abomei são um conjunto de 12 estruturas construídas em argila pelos fons entre meados do século XVII e finais do XIX, distribuídos por uma área de 40 hectares no centro da cidade de Abomei, no Benim, capital do antigo Reino do Daomé [1][2][3]. O reino foi fundado em 1625 pelos fons que desenvolveu um poderoso império militar e comercial, que dominou o comércio de negros com traficantes europeus (a quem vendiam seus prisioneiros de guerra) Costa dos Escravos até o final do século XIX. No seu apogeu, os palácios podiam acomodar até 8.000 pessoas [4]. O palácio incluía um prédio de dois andares conhecido como a "Casa Búzios" ou akuehue [5].

Um dos locais tradicionais mais famosos e historicamente mais significativos na África ocidental, os palácios constituem um dos sítios considerados pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade e também como Patrimônio Mundial em perigo, devido aos estragos provocados por um ciclone em 15 de março de 1984, quando o recinto real e museus, particularmente o "Pórtico de Guezô", a "Sala Assins", o túmulo do arroçu e a "Sala das Joias" foram danificados. No entanto, com o apoio de vários organismos internacionais, o trabalho de restauro e renovação foi concluído. Baseada em avaliações posteriores e dos relatórios recebidos, a UNESCO decidiu remover o conjunto arquitetônico da Lista de Patrimônio Mundial em Perigo em julho de 2007 [6]. Desde 1993, 50 dos 56 baixos-relevos que decoravam as paredes do palácio de Glelê (r. 1858–1889) (denominado agora Salle des Bijoux ou "Sala das Jóias") foram removidos e substituídos na estrutura reconstruída. Os baixos-relevos trazem um código iconográfico que expressa a história e o poder dos fons.

Estátua de Beanzim em Abomei

Quando a UNESCO designou o complexo de Abomei como Patrimônio da Humanidade em 1985, registou que os opulentos palácios foram construídos pelos 12 arroçus que governaram o poderoso reino do Daomé entre 1695 e 1900, tornando aquele local isolado no centro cultural do império. Uebajá (r. 1645–1685), segundo arroçu do Daomé e fundador de Abomei, foi quem iniciou a construção dos palácios [7].

Segundo a lenda, a família real responsável pela construção dos 12 palácios era descendente da mítica princesa Alibonom de Tadô e de uma pantera [8]. A história documentada, no entanto, remonta ao século XVII a dois de seus descendentes, os reis Ganerreçu e Dacodonu. Uebajá (r. 1645–1685) foi o arroçu que estabeleceu a sede do reino no planalto de Abomei, definindo os alicerces legais para o funcionamento do reino, os cargos políticos e as regras de sucessão [8].

Agajá (r. 1708–1740) derrotou os reinos de Aladá (1724) e Huedá (1727) [9][10], resultando na morte de vários prisioneiros. Muitos sobreviventes foram vendidos como escravos em Gleué (atual Uidá). Estas guerras marcaram o início do predomínio do comércio de escravos no Daomé (que era realizado através do porto de Uidá, capital de Savi) com os europeus [8][11].

No século XIX, porém, com o fortalecimento do movimento antiescravidão, Guezô (r. 1818–1858) iniciou o desenvolvimento da agricultura no país, resultando em maior prosperidade econômica para o reino, com a exportação de produtos agrícolas como o milho e derivados de palma [8]. Em 1894, a França invadiu o Daomé. Inicialmente, os exércitos daomeanos venceram muitas batalhas (numa delas, o próprio comandante do exército francês foi morto), mas terminaram por sucumbir à superioridade das forças invasoras e o poderoso reino do Daomé tornou-se uma colônia francesa. Beanzim, último arroçu independente do Daomé, ateou fogo a Abomei após ser derrotado pelas forças coloniais francesas, sendo deportado pouco depois para a Martinica. Seu sucessor, Agoli-Agbo, governou até a sua deportação para o Gabão, em 1900. Em 1961, quando o atual Benim alcançou sua independência da França, o esplendor do Daomé ressurgiu com vigor [11].

Todos os eventos do reino foram registrados e acompanhados através de uma série de baixos-relevos de argila policromada [12].

Celebração de chefes fons em Abomei (1908)
Ahosi, Amazonas Veteranas de Beanzim (1908)

Na cultura daomeana a intensa reverência aos reis, com grande significado religioso, estava profundamente arraigada. Cerimônias faziam parte da cultura, com o sacrifício humano como uma das práticas [11].

Arquitetura tradicional

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A cidade era circundada por uma muralha de lama com uma circunferência estimada em seis milhas (Enciclopédia Britânica, 1911), atravessada por seis portões, e protegida por uma vala de 1,5 m de profundidade, preenchida com uma sebe densa de acácia espinhosa, a defesa usual das fortalezas africanas ocidentais. Dentro das paredes, estavam as vilas separadas por campos, por diversos palácios reais, por uma praça de mercado e por um campo grande que continha as choças. A espessura média das paredes, em torno de 45 cm, mantinha as temperaturas mais baixas no interior do palácio [13].

Cada palácio tinha um design diferenciado para atender aos caprichos dos reis. O Podoji, atravessado pelo Honua, formava o primeiro pátio interno do palácio, enquanto o segundo pátio interno, Jalalahènnou, era atravessado pelo Logodo. O Ajalala, um edifício único com vários tipos de aberturas, ficava no segundo pátio e as paredes continham decorações em baixo-relevo com imagens sugestivas. Os palácios de Glelê e Guezô, que sobreviveram ao incêndio intencional de 1894 provocado por Beanzim, foram restaurados e agora fazem parte do museu [13].

O material utilizado na construção consistiu em terra para as fundações, pisos e estruturas elevadas. O trabalho de marcenaria e carpintaria era feito com madeira de palmeira, bambu, Iroco e variedades de mogno. Os telhados eram feitos com palha e chapas de metal [13].

Baixos-relevos

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Os baixos-relevos funcionavam como livros de registro (na ausência de documentos escritos) para gravar os eventos significativos na evolução do império, relatando as vitórias militares, o poder de cada rei e os mitos, costumes e rituais dos fons. No entanto, em 1892, em desafio à ocupação francesa, Beanzim (r. 1889–1894) ordenou que a cidade e os palácios fossem queimados. Providencialmente, a maioria dos monumentos sobreviveram ao incêndio, e muitos palácios já foram restaurados. Placas de cobre e latão adornavam as paredes [14].

Os baixos-relevos foram embutidos em paredes e pilares. Eles eram feitos de terra de cupinzeiros misturada com óleo de palma e tingidas com pigmentos vegetais e minerais. Eles representam um dos mais impressionantes destaques dos palácios, que estão agora em exposição no museu [13].

Muitos dos objetos expostos no museu, que faziam parte das cerimônias religiosas realizadas pelos reis no passado, são usados ​​até hoje pela família real do Daomé em seus ritos religiosos [15].

Reconhecimento da UNESCO

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Em reconhecimento à importância cultural única destes monumentos, a UNESCO inscreveu os palácios reais de Abomei, no âmbito da Lista de Patrimônio Mundial em 1985, sob o critério IV [1]. O local inscrito consiste em duas zonas, a saber: os palácios que compõem o zona principal e a zona do Palácio de Acabá, na parte nor-noroeste do complexo; ambas as zonas estão incluídas entre aquelas com paredes parcialmente preservadas. A inscrição UNESCO afirma: "entre 1625 e 1900, doze reis sucederam um ao outro à frente do poderoso reino de Abomei Com a exceção de Acabá (r. 1685–1708), que usou um local separado, cada um tinha seus palácios construídos contiguamente, mantendo o espaço e os materiais utilizados nos palácios anteriores. Os palácios reais de Abomei são a única lembrança deste reino desaparecido."[1][2]. Os palácios reais de Abomei foram retirados da lista de Patrimônio Mundial em Perigo em julho de 2007 [12].

Museu Histórico de Abomei

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O Museu Histórico de Abomei foi criado em 1943 pela administração colonial francesa, e ocupa um edifício construído sobre uma área de 2 hectares. Sua cobertura inclui todos os palácios dentro de uma área de 40 hectares, em especial os palácios doe Guezô e Glelê. O museu tem 1.050 peças, a maioria pertenceu aos arroçus que governaram Daomé [15][16]. O museu abriga diversas exposições que representam a cultura do Reino do Daomé em sua totalidade. Algumas das exposições mais significativas são: os mantos reais bordados, tambores tradicionais e pinturas representando cerimônias e a guerra entre a França e o Daomé [11].

Referências

  1. a b c Royal Palaces of Abomey UNESCO
  2. a b Evaluation report on Royal Palaces of Abomey UNESCO
  3. Swadling, Mark: Masterworks of man & nature: preserving our world heritage. Harper-MacRae (1992). ISBN 9780646053769
  4. Baker, Jonathan: Rural-urban dynamics in francophone Africa. Nordic Africa Institute (1997). p. 85. ISBN 9789171064011
  5. Stiansen, Endre; Guyer, Jane I.: Credit, currencies, and culture: African financial institutions in historical perspective. Nordic Africa Institute (1999). p. 30. ISBN 9789171064424
  6. Decision - 31COM 8C.3 - Update of the list of the World Heritage in danger - removal - Royal Palaces of Abomey, Río Plátano Biosphere Reserve, Kathmandu Valley, Everglades National Park UNESCO
  7. Piqué, Francesca; Rainer, Leslie H. Palace sculptures of Abomey: history told on walls. Getty Conservation Institute and the J. Paul Getty Museum (1999). p. 33. ISBN 9780892365692.
  8. a b c d Historical Museum of Abomey
  9. Ross, David. "Robert Norris, Agaja, and the Dahomean Conquest of Allada and Whydah". in History in Africa. 16 (1989), 311-324.
  10. History of the Xwéda The Ouidah Museum of History
  11. a b c d Dahomey The Ouidah Museum of History
  12. a b Rainer, Leslie; Rivera, Angelyn Bass; Gandreau, David (14 June 2011). Terra 2008: The 10th International Conference on the Study and Conservation of Earthen Architectural Heritage. Getty Publications. p. 91. ISBN 9781606060438.
  13. a b c d Architecture Historical Museum of Abomey
  14. Coquet, Michèle. African royal court art. University of Chicago Press. p. 70. ISBN 9780226115757.
  15. a b Collections Historical Museum of Abomey
  16. Abomey Historical Museum

Ligações externas

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