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Sentidos e sujeitos: elementos que dão consistência à história 3
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Camila Alves de Cremo
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Amanda Kelly da Costa Veiga
Os autores
João Henrique Lúcio de Souza
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
S478
Sentidos e sujeitos: elementos que dão consistência à
história 3 / Organizador João Henrique Lúcio de Souza.
– Ponta Grossa - PR: Atena, 2023.
Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-258-0978-6
DOI: https://doi.org/10.22533/at.ed.786230901
1. História. I. Souza, João Henrique Lúcio de
(Organizador). II. Título.
CDD 901
Elaborado por Bibliotecária Janaina Ramos – CRB-8/9166
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dos mesmos, para qualquer finalidade que não o escopo da divulgação desta obra.
A produção coletiva “Sentidos e Sujeitos: Elementos que dão Consistência
a História” em seu terceiro volume guarda expressiva relação com o contexto social
em que foi produzida. Em seu ofício, os pesquisadores das humanidades dialogam
com o tempo em que vivem marcados por desafios, problemas e esperanças.
A partir de suas vivências e experiências (do ponto de vista benjaminiano),
desvendam os labirintos das explicações científicas, edificando conhecimento
por meio da interação dialógica entre as demandas do presente e as tradições
teóricas dos vários campos das humanidades. Essa obra traz pesquisas que
dão sentidos a sujeitos que são objetos de investigação e que estão ‘sujeitos’
a novos sentidos e olhares a partir da representação do leitor. Nossos colegas
pesquisadores que fazem essa obra se debruçaram sobre as vivências humanas
(sobre suas próprias experiências) em diversos tempos e lugares, se empenhando
em analisar, entender e decifrar as atribuições dos sujeitos como produtores de
sentidos, representações, pontes, frisuras, transformações, encontros e conflitos,
APRESENTAÇÃO
que caracterizam a convivência humana.
Pegando emprestada uma citação do famoso historiador francês Roger
Chartier, quando o mesmo conceitua a palavra “representação” e enfoca sua
importância para a história cultural, podemos dizer que essa obra “tem por principal
objeto identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma realidade
social é construída, pensada, dada a ler” (CHARTIER, 1990, pp. 16-17). Chartier
(1990) nos leva a refletir sobre representações que podem edificar discursos que,
envolvidos com os sujeitos, geram entendimentos das realidades e produzem
sentidos. Ao mesmo tempo em que, ao edificar sentidos, as representações
descortinam concepções de mundo e “falam” tanto de quem as representa quanto
daquilo que é representado. Isso se aplica a todos os discursos, incluindo o
discurso aqui apresentados.
Dessa forma, no primeiro capítulo “CONSTRUÇÕES, CAMINHOS E
REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO HUMANA E A ESCOLA”, o pesquisador da
Universidade Federal Rural de Pernambuco, João Henrique Lúcio de Souza, a partir
do seu testemunho de vida, faz uma contextualização, um relato autobiográfico,
a partir de teóricos que caracterizam cada fase de sua vida escolar. No segundo
capítulo ““A ESCOLA QUE EU ESTUDEI NÃO É A MESMA QUE MEUS FILHOS
ESTUDAM”: A ESCOLA PÚBLICA BÁSICA ATRAVÉS DAS RECORDAÇÕES E
IMPRESSÕES DE PAIS E MÃES”, as pesquisadoras da Universidade Estadual
do Vale do Acaraú (UVA) Maria Antônia Veiga Adrião e Gizele Lima dos Santos
resgatam as recordações e impressões de pais, mães e avós (1980-2010) a fim
de entender a razão do distanciamento entre escola e progenitores em escolas
públicas situadas na zona noroeste do Ceará.
Já no artigo “CRIANÇAS DESCONFINADAS: PROCESSOS, CONTEXTOS
E NARRATIVAS”, Sandra Alves Moura de Jesus e Vanessa Ribeiro Simon
Cavalcanti, pesquisadoras da Universidade Católica do Salvador, se propõem
a entender o processo de desconfinamento e retorno ao ensino presencial das
crianças da educação infantil e do ensino fundamental/anos iniciais em escolas
públicas e privadas de Salvador/BA, bem como o que ficou de aprendizagem
dessa experiência do ensino remoto e/ou híbrido na percepção da família e da
escola. A pesquisadora Natália Martins Besagio, pesquisadora da Universidade
Estadual de Maringá, com o artigo “A “MÚSICA DO DIABO”: O BLUES COMO
EXPRESSÃO DA CULTURA FEMININA AFRO-AMERICANA”, evidencia a música
como viés de luta para as mulheres negras, que deixaram um amplo legado à
cultura norte-americana, quebraram os tabus da desigualdade de gênero a partir
do famoso gênero musical norte-americano blues.
No quinto capítulo, o artigo a “LOUCURA DO PODER OU O ABSURDO
DA VIOLÊNCIA NO ESTADO? UM ENSAIO SOBRE TEMPO PRESENTE”, o
APRESENTAÇÃO
pesquisador Antonio Carlos da Silva da Universidade Católica de Salvador faz
uma reconstituição histórica, tomando o Brasil como exemplo, com uma larga
discussão teórica para mostrar que nosso país, apesar de gigante, se encontra
adormecida no estado de presente contínuo. No sexto capítulo intitulado
“DEFUNTOS PERFUMADOS: RAÍZES DO EMBALSAMAMENTO NA IDADE
MÉDIA EUROPEIA” de coautoria dos pesquisadores Eduardo Mangolim Brandani
da Silva, Eloara dos Santos Cotrim e Christian Fausto Moraes dos Santos da
Universidade Estadual de Maringá, vemos desdobramentos das possíveis origens
da prática do embalsamento como herança cultural da Civilização romana, do
cristianismo primitivo e dos povos bárbaros. Para os autores o embalsamamento
medieval é uma espécie de continuidade da metodologia cristã.
Por fim, no sétimo e último capítulo, “A ALMA PENADA DE ANTÔNIO DE
SOUZA NETTO: UM SENHOR DA GUERRA NA LITERATURA E NA HISTÓRIA
(1835-1865)” do pesquisador da Universidade Federal do Rio grande do Sul, Cesar
Augusto Barcellos Guazzelli, que, a partir do romance “Netto Perde Sua Alma” de
Tabajara Ruas, procura os significados sobre as fronteiras do caudilhismo e as
guerras, especialmente a Guerra dos Farrapos.
Bem, esperamos que as leituras destes capítulos possam ampliar seus
conhecimentos e instigar novas reflexões, e, que essa produção, com seus objetos
e objetivos, seja também um objeto a ser estudado, analisado e criticado.
Boa leitura e reflexões!
João Henrique Lúcio de Souza
REFERÊNCIAS
CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel; Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1990.
CAPÍTULO 1 ............................................................................. 1
CONSTRUÇÕES, CAMINHOS E REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO HUMANA
E A ESCOLA
João Henrique Lúcio de Souza
https://doi.org/10.22533/at.ed.7862309011
CAPÍTULO 2 ........................................................................... 12
“A ESCOLA QUE EU ESTUDEI NÃO É A MESMA QUE MEUS FILHOS
ESTUDAM”: A ESCOLA PÚBLICA BÁSICA ATRAVÉS DAS RECORDAÇÕES E
IMPRESSÕES DE PAIS E MÃES
Maria Antonia Veiga Adrião
Gizele Lima Dos Santos
https://doi.org/10.22533/at.ed.7862309012
CAPÍTULO 3 ...........................................................................24
CRIANÇAS DESCONFINADAS: PROCESSOS, CONTEXTOS E NARRATIVAS
Sandra Alves Moura de Jesus
Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti
SUMÁRIO
https://doi.org/10.22533/at.ed.7862309013
CAPÍTULO 4 ...........................................................................38
A “MÚSICA DO DIABO”: O BLUES COMO EXPRESSÃO DA CULTURA
FEMININA AFRO-AMERICANA
Natália Martins Besagio
https://doi.org/10.22533/at.ed.7862309014
CAPÍTULO 5 ...........................................................................46
LOUCURA DO PODER OU O ABSURDO DA VIOLÊNCIA NO ESTADO? UM
ENSAIO SOBRE TEMPO PRESENTE
Antonio Carlos da Silva
https://doi.org/10.22533/at.ed.7862309015
CAPÍTULO 6 ...........................................................................62
DEFUNTOS PERFUMADOS: RAÍZES DO EMBALSAMAMENTO NA IDADE
MÉDIA EUROPEIA
Eduardo Mangolim Brandani da Silva
Christian Fausto Moraes dos Santos
Eloara dos Santos Cotrim
https://doi.org/10.22533/at.ed.7862309016
CAPÍTULO 7 ...........................................................................76
A ALMA PENADA DE ANTÔNIO DE SOUZA NETTO: UM SENHOR DA GUERRA
NA LITERATURA E NA HISTÓRIA (1835-1865)
Cesar Augusto Barcellos Guazzelli
https://doi.org/10.22533/at.ed.7862309017
SOBRE O ORGANIZADOR .........................................................87
SUMÁRIO
ÍNDICE REMISSIVO ..................................................................88
CAPÍTULO 3
CRIANÇAS DESCONFINADAS: PROCESSOS,
CONTEXTOS E NARRATIVAS
Data de aceite: 02/01/2023
Sandra Alves Moura de Jesus
Mestra em Família na Sociedade
Contemporânea pela Universidade
Católica de Salvador. Bolsista pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (PROSUCCAPES). Historiadora e Professora.
Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti
Pós-doutora pela Universidade de
Coimbra, Portugal. Doutora em História
pela Universidade de León. Professora
e investigadora do Programa de PósGraduação em Estudos Interdisciplinares
sobre Mulheres, Gênero e Feminismo –
Universidade Federal da Bahia.
RESUMO: Este estudo foi realizado com o
objetivo de entender como está se delineando
esse processo de desconfinamento e
retorno ao ensino presencial das crianças da
educação infantil e do ensino fundamental/
anos iniciais em escolas públicas e privadas
da Capital Baiana, bem como o que ficou
de aprendizagem dessa experiência do
ensino remoto e/ou híbrido na percepção
da família e da escola. Nos resultados são
evidenciados dois polos de discussões
entre as realidades do ensino público e
privado, de aproximações e também de
distanciamentos. Tempos de incertezas
e paradoxos em que muitos desafios são
descortinados e nos convida à reflexão
sobre um vírus invisível aos olhos humanos,
mas capaz de virar o mundo às avessas e
que forçosamente nos fez refletir sobre
tantas outras invisibilidades sociais.
PALAVRAS-CHAVE: Pandemia.
Desconfinamento. Ensino. Escola.
ABSTRACT: This study was carried out with
the aim of understanding how this process
of deconfinement and return to classroom
teaching of children in kindergarten and
elementary school/early years in public
and private schools in the capital of Bahia
is taking shape, as well as what was left of
learning of this experience of remote and/
or hybrid teaching in the perception of the
family and the school. The results show
two poles of discussions between the
realities of public and private education, of
approximation and also of distances. Times
of uncertainty and paradox in which many
challenges are unveiled and invites us to
reflect on a virus invisible to human eyes,
but capable of turning the world upside
down and forcibly made us reflect on so
many other social invisibilities.
Sentidos e sujeitos: Elementos que dão consistência à história 3
Capítulo 3
24
KEYWORDS: Pandemic. Disconfinement. Teaching. School.
“É preciso ter atenção quando definimos o que é a natureza. A natureza não
existe fora de nós. Não mora apenas onde há árvore e passarinho. Nós, com
as nossas cidades, somos também a natureza. O vírus que nos atinge é parte
dessa natureza. Aliás, uma das razões que levaram a desvalorizar o estudo
dos vírus foi a nossa visão antropocêntrica do que é importante no mundo
natural. Muito pouco sabemos dessa criatura invisível que virou o mundo do
avesso.”
Mia Couto, 2020.
“[...]não se pode saber sem sentir e na prática do sentir há também um
conhecimento. Se separarmos as dimensões e acharmos que a aprendizagem
é sobretudo ou é apenas saber, ela pode ser feita na tela de computador?
Pode. Mas fica sempre amputada de outra dimensão.
Antonio Nóvoa, 2020.
Sujeitos a tantos seres imprevisíveis e todo-poderosos, o ser humano e toda
a vida não-humana de que depende não podem deixar de ser iminentemente
frágeis. Se todos estes seres invisíveis continuarem activos, a vida humana
será em breve (se o não é já) uma espécie em extinção.
Boaventura Souza Santos, 2020.
INTRODUÇÃO: TEMPOS INTENSOS E TENSOS
Com tamanhas transformações sociais, o último biênio revelou fragilidades,
instabilidades e pontos relevantes para convívios e relações. Olhar atento e vivenciado em
concomitância, a partir de observação e participação como mulheres, mães e professoras,
a experiência relatada nesse texto traz um ponto de vista multireferenciado e de identidades
que se cruzam e conectam, alcançando especialmente a Sociologia da Educação (DUBET,
2008; VALLE, 2014) e das Emoções (SOGHMAN, 2022), além das ambiências e as
cumplicidades entre esferas familiares e educacionais, agências sociais e relacionais.
Se estudos sobre famílias e processos educativos já tinham dimensão interdisciplinar
(MESSEDER, CASTRO & MOUTINHO, 2016), a crise sanitária e as mudanças recorrentes
nas esferas educativas indicaram fatores e processos intensificados e de tensões. Momento
histórico do Tempo Presente que revelou desigualdades, não concretização de políticas e
que a ideia de que as conexões entre as duas esferas é bastante implicada e interligada
(VIEIRA, 2022) poderia ser invertida ou, alegoricamente, colocada na ampulheta.
Tomando esse panorama, de intensas transformações e urgências advindas da crise
estrutural que se matizou a partir do âmbito sanitário Covid-19, a captação da experiências
de famílias - hiperconvivência e sobreposição de atividades para mulheres, em destaque
(CAVALCANTI & SILVA, 2018; CAVALCANTI, 2022) e escolas objetivou compreender a
dinâmica do ensino remoto e/ou híbrido em tempos de pandemia, bem como o processo
Sentidos e sujeitos: Elementos que dão consistência à história 3
Capítulo 3
25
de desconfinamento e o retorno para o ensino presencial de crianças da Educação Infantil
e/ou Ensino Fundamental/Anos Iniciais, atingindo faixas etárias entre 3 e 10 anos como
prevalência.
Nesse contexto, há que se destacar dois relevantes cenários que figuram como
principais ambientes nesse processo: a família e a escola, como o coração do sistema
social. Contudo, é preciso considerar ainda questões de classes, etnia, idade como variáveis
sociais que indicam ou não espaços de exclusões e impactam no desenvolvimento da
pessoa, para além de toda crise de direitos humanos em tempos pandêmicos. Discussão
ampla e que emerge da necessidade de transformação de uma sociedade excludente que
sucateia a educação, onde se tem fome não apenas de comida, mas também de saberes
e de justiça social.
Por esta razão, o lócus de observação foi em uma escola privada na capital baiana,
frequentada em sua maioria por crianças das classes média e alta, que se encontravam
em processo de transição do ensino híbrido e/ou remoto para o presencial. A instituição
possui excelente estrutura física e operacional, além de profissionais que incansavelmente
buscam cumprir todas as medidas e protocolos de segurança, aliando o fazer pedagógico
dentro dos limites e possibilidades que o biênio 2020 e 2021 revelou a partir da crise
sanitária mundial (COVID-19). Utilizando consentimento e assentimento de sujeitos
envolvidos, tal investigação foi possível pelo uso de instrumentos validados e resguardando
a confidencialidade e sigilo para preservação de identidades.
Apesar de todos os recursos existentes na referida escola, se descortinam nas
crianças sofrimentos e dificuldades no processo de ensino e aprendizagem, num universo
desconhecido que um vírus conseguiu trazer à tona, mas que de certa forma em alguns
aspectos sempre estiveram ali presentes. Assim, a inquietação para esta observação se
torna relevante (como atividade integrada ao estágio docente e observação em contexto
escolar), em função de já ser um desafio o retorno à modalidade de ensino presencial numa
escola privada e com recursos adequados à essa nova realidade, o que dizer do nosso
sucateado ensino público?
A educação é um direito fundamental, que precisa ser preservado para todas
as crianças e todos os adolescentes por igual. Mas, em casa, sem os recursos
adequados para aprender – como um computador e acesso à internet de boa
qualidade –, meninas e meninos em situação de pobreza e vulnerabilidade
estão sendo deixados para trás. Muitos deles podem depender apenas de um
celular para ter contato com professores e receber as atividades escolares.
(Manifesto assinado por UNICEF, UNESCO e OPAS/OMS. Julho, 2021).
Tempos de incertezas, negacionismos, medos, lutos e lutas, de presenças ausentes,
de tantos retrocessos sociais que não abrangem apensas o campo educacional, mas que
acabam refletindo no ambiente escolar realidades e dificuldades relacionais inerentes a um
processo de ressocialização e adaptação a este novo momento imposto pela crise sanitária
em escala mundial. Quando se soma a tudo isto, as vulnerabilidades sociais como a fome
Sentidos e sujeitos: Elementos que dão consistência à história 3
Capítulo 3
26
e a falta de acesso digital, aliada à problemas estruturais na escola pública que antecede
à pandemia, as violências se sobrepõem e os abismos sociais se acentuam ainda mais.
Tempos de máscaras que ocultam sorrisos, mas que também salvam vidas. Tempos
estranhos, de paradoxos e de muitas urgências estruturais. Tempo de lições importantes
para a humanidade, mas sobretudo, tempo de alinhar o papel da família e da escola no
sentido de potencializar e reconhecer a educação como forma de resistência na luta por
uma sociedade mais justa e igualitária.
A partir dessas indagações, surgiu a ideia de realizar uma pesquisa com familiares e
docentes/corpo pedagógico, objetivando entender como está se delineando esse processo
de desconfinamento e retorno ao ensino presencial das crianças da educação infantil e do
ensino fundamental/anos iniciais em escolas públicas e privadas da Capital Baiana, bem
como o que ficou de aprendizagem dessa experiência do ensino remoto e/ou híbrido na
percepção de agentes que integram esferas familiares e escolares.
APROXIMAÇÕES METODOLÓGICAS E RETRATOS DE SUJEITOS
PARTICIPANTES
Para essa pesquisa, foi elaborado um questionário digital (Google Formulários)
com quatros perguntas fechadas e três abertas, para conhecer a percepção de familiares,
docentes e corpo pedagógico diante da problemática que motivou a realização desse
estudo e descrição de situação-problema que envolveu campos de socialização (famílias e
escola). Tratou-se de uma pesquisa qualitativa, através de amostra privilegiada/indicativa e
ensaística, a partir de contatos relacionados à prática profissional das pesquisadoras, tendo
sido utilizado como recurso grupos de WhatsApp que participavam docentes e familiares
das crianças, em sua maioria, intitulados de ‘grupos de mães’.
Foram obtidas 60 respostas no total, sendo representada por 66,7% (sessenta e
seis vírgula sete pontos percentuais) da escola da privada e 33,3% (trinta e três vírgula
três pontos percentuais) da escola pública, conforme demonstrado em gráfico a seguir
(GRÁFICO 1 – Captação de realidades pública e privada).
Na sequência, os dados são desmembrados em quadro detalhando os percentuais
por familiares e docentes/corpo pedagógico de ambas as instituições (pública e privada).
Sentidos e sujeitos: Elementos que dão consistência à história 3
Capítulo 3
27
Fonte: Elaboração das autoras para análise dos dados/2021
Escola Pública
Escola Privada
22 Familiares
55%
8 Familiares
40%
18 Docentes/Corpo pedagógico
45%
12 Docentes e Corpo pedagógico
60%
Fonte: Elaboração das autoras/2021.
No quadro demonstrado foi possível identificar que na escola privada a participação
de familiares foi maior que a de docentes/corpo pedagógico, enquanto na escola pública
ocorreu o inverso; tendo havido uma maior participação do corpo funcional, do que da
família. Sendo uma possível explicação para essa constatação, a dificuldade de acesso
às ferramentas eletrônicas de um modo geral pelos familiares da escola pública, seja por
falta de habilidade no manuseio ou mesmo por não ter condições de manter o custo para o
pagamento de uma rede de conexão com a internet.
Em relação ao papel de cada um dos respondentes na vida do/a estudante
pesquisado, 50,8% (cinquenta vírgula oito pontos percentuais) são representados por
familiares e 42,4% (quarenta vírgula quatro pontos percentuais) por docentes. Referente ao
corpo pedagógico (psicólogos/as escolares e coordenadores/as) foram duas repostas para
cada profissão respectivamente; em percentual, ambas representaram 3,4% (três vírgula
quatro pontos percentuais).
Sentidos e sujeitos: Elementos que dão consistência à história 3
Capítulo 3
28
Fonte: Elaboração das autoras para análise dos dados/2021
No questionário digital, não foi solicitado nenhum tipo de identificação do participante.
Mas para uma melhor compreensão dos resultados, foram estabelecidos blocos de
respostas considerando o papel do respondente na vida da criança (familiar ou docente/
corpo pedagógico) e a que tipo de ensino se referia (público ou privado).
Ao serem questionados para que sinalizassem como estava sendo o ensino remoto
e/ou híbrido e o que ficou dessa experiência, abaixo destacam-se alguns posicionamentos
que revelam realidades entre os espaços de ensino público e privado a partir das seguintes
questões norteadoras: Como foi ou está sendo a experiência com o ensino remoto e/ou
ensino híbrido? O que ficou ou ficará dessa vivência? Como descreveria os principais
desafios do processo de desconfinamento e retorno presencial das crianças ao ambiente
escolar, considerando os seguintes aspectos: Processo de ensino/aprendizagem e
questões comportamentais?
Muitas foram as reflexões que se tornaram possíveis a partir das respostas obtidas,
como poderemos identificar nas narrativas e contextos descritos ao longo desse breve
estudo.
DAS EXPERIÊNCIAS, EXTRAIR ANÁLISES E ELABORAR SUGESTÕES
Nos resultados foram evidenciados dois polos de discussões entre as realidades do
ensino público e privado, de aproximações e de distanciamentos. Se aproximam quando
se referem, a importância da interação social para as crianças no espaço escolar e da
participação da família para o êxito no processo de ensino/aprendizagem; assim como,
nos relatos da exaustão que envolve a prática de ensino remoto/híbrido e a percepção da
dificuldade de aprendizagem. Mas se distanciam, quando o acesso à escola como “direito”
é negado, diante de contexto de vulnerabilidades sociais, como a falta de acesso digital,
para citar um exemplo (CAVALCANTI & DIAS, 2022).
Entre tantas realidades que se entrecruzam ou se afastam, muitos relatos de
Sentidos e sujeitos: Elementos que dão consistência à história 3
Capítulo 3
29
familiares indicam a dificuldade no acompanhamento escolar pela falta de didática e
compreensão dos conteúdos, o que de certa forma favoreceu para o reconhecimento e
valorização do fazer pedagógico e dos/as profissionais da área de educação; importância
esta, invisibilizada principalmente pelos poderes públicos. Foi mencionado também, um
processo de exaustão física e emocional, como relatado anteriormente, que envolve a
família, a escola e as crianças que tiveram de ressignificar a forma de ensinar, de aprender
e reaprender.
Embora diversos familiares estivessem fisicamente presentes em casa no período
mais agudo da pandemia (2020), muitas ausências se revelaram. As famílias estavam
sobrecarregadas e com dificuldades para conciliar as atividades domésticas e profissionais
(home office), além do necessário assessoramento das crianças no ensino remoto e/ou
híbrido.
Suscitando também reflexões acerca de outros retrocessos sociais – para além do
contexto educacional, afinal as instabilidades da crise sanitária (COVID - 19), envolvem
todas as dimensões sociais - exemplo disso, são medidas transitórias que tendem a se
perpetuar, como teletrabalho que tem negligenciado o direito à desconexão; aumentando
significativamente a jornada diária do trabalhador, acentuando os problemas de saúde
ocupacional (BARBAGIANI, 2021). Sem mencionar a crise econômica, o desemprego e
tantas outras mazelas sociais, num cenário político de extrema direita e que vem reduzindo
de forma exponencial os investimentos na esfera educacional.
No momento de incerteza que estamos vivendo em função das consequências
pandêmicas, a sociedade, a escola e as famílias precisam reinventar-se diariamente.
“Nunca foi tão necessário estarmos afinados e alinhados no processo formativo e emocional
de todos os envolvidos” (BORSTEL, FIORENTINI E MAYER, 2020, p. 42). A ausência do
ensino no momento pandêmico, especialmente na esfera pública por falta de recursos, a
escola foi negligenciada como agenciadora de consciências, pois ela alimenta a esperança
de um futuro possível, sobretudo para os mais vulneráveis.
Para elucidar algumas dessas observações, a seguir foram destacadas algumas
falas dos/as respondentes:
“É uma readaptação para eles em todos os sentidos. Estão reaprendendo a
conviver em grupo, a respeitar combinados extrafamiliares, a ouvir o outro,
a ter empatia e a lidar com a mediação do professor presencialmente. Uma
das consequências do ensino remoto foi a “liberdade” de se esconder atrás
das telas e muitas vezes, camuflar as dificuldades, dificuldades estas que
estão sendo expostas agora, presencialmente, o que para as crianças é um
desafio.” (Docente escola privada).
“No início foram momentos tensos por ser tudo novo e sem experiência,
criança sem paciência e pais sem saber ensinar de forma que a criança
compreendesse, porém ao passar do tempo foi se tornando um pouco melhor
com o auxílio dos professores, que começaram a perceber e passaram a se
dedicar de forma quase que particular com cada um aluno.” (Familiar escola
Sentidos e sujeitos: Elementos que dão consistência à história 3
Capítulo 3
30
privada).
“Exaustivo não só para as crianças, mas para as mães que acompanham
a rotina de muitas horas de seu filho a frente de uma tela de computador.”
(Psicóloga escola privada)
“Período um pouco complicado para o desenvolvimento das crianças,
inclusive consegui mantê-los em frente ao computador exatamente para os
estudos e não para diversão, mas teve um lado bom que foi a participação
mais ativa dos pais na aprendizagem deles.” (Docente escola pública)
“Uma experiência desgastante porque a família termina tendo que fazer os
afazeres domésticos e também ensinar as crianças que tem. Dificuldade para
acompanhar a aula em alguns momentos ou demonstra falta de interesse”.
(Familiar escola privada).”
A partir das falas de familiares e docentes de ambos os ambientes de produção
de conhecimento (público e privado), ficaram também latentes os distanciamentos que
emerge das diversas dificuldades da escola pública, como a precariedade de uma internet
de qualidade para que os/as estudantes pudessem acompanhar as aulas online.
Tendo ficado constatado que, as crianças que conseguiram ter acesso a algum
tipo de acompanhamento pedagógico durante o ensino remoto e/ou híbrido, foi possível
minimizar a defasagem no processo de aprendizagem.
Pontos abissais que separam as duas realidades de ensino e que diferentemente de
outros países como a França, em que na escola pública não há divisão de classes e ainda
assim há discussões sobre a arbitrariedade do currículo e favorecimento dos conteúdos
para uma elite. O que nos leva a refletir a quão perversa é a escola pública brasileira
– realidade que se acentua ainda mais diante da conjuntura de crise sanitária - pois a
educação é um ‘capital social’ que tem potencial para gerar outros ‘capitais’ (BOURDIEU,
1993).
No caso da escola brasileira, além de não permitir convivência entre as classes, ela
se mostra promotora e reprodutora das desigualdades sociais e consequentemente étnicoraciais, considerando especificamente a realidade capital baiana que é o objeto desse
estudo, onde reside a maior população de pessoas negras fora do continente africano
(IBGE, 2017).
“Para as crianças das escolas públicas foi muito deficitária, pois nem todas
têm Internet e quando tem, a qualidade é péssima.” (Familiar escola pública)
“São duas vias. Primeiro que a quantidade de alunos que a escola
pública municipal de Salvador conseguiu alcançar foi muito pouca, visto
as dificuldades em acesso aos meios tecnológicos necessários para o
desenvolvimento de aulas remotas. Alguns alunos ficaram apenas pegando
tarefas xerografadas na escola, por outro lado, as famílias que conseguiram
acessar os grupos de WhatsApp mostraram interesse, participação por parte
dos alunos e valorização do trabalho do professor.” (Docente escola pública)
“Quanto ao ensino, acredito que só tem a agregar o retorno presencial. A escola
se fez muito presente nesse processo online, porém a atenção dispensada ao
Sentidos e sujeitos: Elementos que dão consistência à história 3
Capítulo 3
31
aluno presencial é melhor. Sobre as questões comportamentais, foi exatamente
esse o motivo que me fez decidir pelo retorno dela ao presencial. Estava
achando-a retraída nas aulas e se queixando do online, comportamento que
mudou totalmente quando do retorno ao presencial.” (Familiar escola privada)
“O processo de ensino ainda está lento, acredito que faltou mais planejamento
e organização para esse retorno, quanto a aprendizagem, investimos em
orientação pedagógica (para nossa filha) durante o período remoto, por
consequência não há dificuldade por parte dela no acompanhamento das
aulas e atividades escolares!” (Familiar escola pública).
Os principais desafios estão sendo no processo de ensino e aprendizagem.
As crianças estão chegando com defasagem de conteúdo, falta de estímulo
e cansadas. Percebe- se o quanto essa pandemia afetou a educação e o
aumento da desigualdade social.” (Docente escola pública)
Outro ponto de relevância que se evidencia na pesquisa é a sinalização de como a
falta de recursos públicos impactou para que os/as docentes da escola pública conseguissem
desenvolver uma prática que pudesse atingir sua clientela e garantir o seguimento dos
protocolos de segurança, minimizando assim os riscos de contaminação pelo COVID-19
tantos para os/as docentes/corpo pedagógico, como para os/as estudantes.
Para melhor demonstrar esses distanciamentos revelados, destaca-se algumas falas
de docentes/corpo pedagógico e familiares da escola privada, quando sinalizam que esse
momento oportunizou a rever práticas pedagógicas e favoreceu a utilização de conteúdos
digitais em sala de aula, discursos tão contrários ao visto na escola pública.
Mencionam, ademais, uma certa tranquilidade no retorno para o ensino presencial,
face a estruturação elaborada pela maioria das escolas privadas no seguimento dos
protocolos sanitários para garantir a segurança das crianças e do seu corpo funcional.
Acentua-se, deste modo, os abismos sociais já existentes antes da pandemia,
relativos às duas esferas de ensino: público e privado, em tempos diferentes, em condições
também desiguais e com intervalos e acessibilidades também em contornos distintos.
“A readaptação ao processo ensino/aprendizagem esbarra na falta de acesso/
comunidade ao conhecimento que, por falta de recursos, lhe foi podado
enquanto remoto. E, a partir do retorno, deparamos com o medo das partes, a
dificuldade no cumprimento das demandas de segurança e o ‘retorno’ a uma
liberdade ainda limitada” (Docente escola pública)
“Considero uma proposta desafiadora, mas aberta a experiências agregadoras
ao processo de ensino e aprendizagem, tendo em vista as múltiplas
possibilidades que o professor tem de ampliar sua metodologia e atingir seus
objetivos. Haja vista compreender que a sala de aula é um espaço singular,
portanto quanto mais recurso dispuser, melhor será a garantia de êxitos para
suas metas. Considero uma possibilidade fantástica de aprendizagem é
preciso desacomodar e visitar novas janelas de conhecimento, o universo é
infinito e nos convida a desafiá-lo todos os dias.” (Docente escola privada)
Em termos de unidade pública, a experiência foi adoecedora tanto para o
profissional quanto para clientela. Comunidade sem recursos para suprir
a ausência do presencial e governo sem nenhum investimento plausível
Sentidos e sujeitos: Elementos que dão consistência à história 3
Capítulo 3
32
para professor /aluno. No ensino remoto a dificuldade é conseguir prender
a atenção das crianças, para que se minimize o impacto na defasagem de
aprendizagem. Foi necessário reinventar a prática pedagógica e utilizar
os recursos digitais como jogos, quiz para tornar o processo de ensino/
aprendizagem mais atraente. Outro aspecto é que as crianças que tiverem
apoio dos pais tiveram melhor desenvolvimento. (Docente escola privada)
Por aqui o retorno foi bem tranquilo, me sentir confiante por conta de a
escola seguir todos os protocolos exigidos. Após o retorno eu percebi a
extrema importância que foi o retorno presencial em vários sentidos sobre o
crescimento no desenvolvimento comportamental, no processo de linguagem,
na rotina semanal e na aprendizagem entre outros. (Familiar escola privada).
Embora não tenha sido foco e nem a intenção da pesquisa em identificar o gênero
do/a respondente, em algumas respostas tantos de familiares e docentes/corpo pedagógico
se revela que a maioria das respostam foram dadas por mulheres, sejam familiares ou
docentes que além de acumular funções com os afazeres domésticos e a vida profissional,
a elas são atribuídas as funções do cuidar, em casa e no ambiente escolar.
Apenas em escolas privadas que possuem professores especialistas, como por
exemplo, das disciplinas de inglês, educação física e artes, é que foram identificados
respondentes do sexo masculino. Mas em geral a profissão de professor/a da educação
infantil e do ensino fundamental anos iniciais é um espaço quase que exclusivamente
feminino.
Se a escola e a família são bases importantes para a formação da sociedade, em
que as mulheres aparecem como protagonistas nos papeis de cuidar e educar, qual a razão
de continuarmos a reproduzir tantas ideologias machistas? Esta provocação fica como um
convite à reflexão, especialmente para as educadoras, já que a discussão sobre gênero
não é o objeto dessa investigação.
As mulheres. A quarentena será particularmente difícil para as mulheres e,
nalguns casos, pode mesmo ser perigosa. As mulheres são consideradas «as
cuidadoras do mundo», dominam na prestação de cuidados dentro e fora das
famílias. (SANTOS, 2020, p. 15).
A utilização dos manuais didáticos, foi outro ponto que chamou atenção na
referida pesquisa, tendo sido identificado que 86,5% (oitenta e seis vírgula cinco pontos
percentuais) do total de respondentes do ensino público e privado quanto ao uso de livros
didáticos durante o ensino remoto e/ou híbrido. Ficou ainda constatado que, apesar de todo
processo de inserção dos recursos digitais e através de ambientes escolares em razão
do contexto pandêmico, o recurso didático continuou centrado nos livros, considerados
materiais frequentes no fazer pedagógico.
Surpreendentemente com maior ênfase nas escolas privadas, esse instrumento de
mediação do conhecimento, foi elencado por 95% (noventa e cinco pontos percentuais)
das respostas positivas acerca da sua utilização de recursos. Enquanto na escola pública
o total de utilização representa 55% (cinquenta e cinco pontos percentuais), o que requer
Sentidos e sujeitos: Elementos que dão consistência à história 3
Capítulo 3
33
uma investigação direcionada para melhor entender essa discrepância, principalmente por
considerar que no ensino privado há uma maior acessibilidade aos recursos digitais para
utilização em salada de aula, como demonstrado neste estudo.
Fonte: Elaboração das autoras para análise dos dados/2021
Ao questionar sobre a sua frequência de utilização, 86,5% (oitenta e seis vírgula
cinco pontos percentuais) responderam que o seu uso é frequente. Desse modo, os livros
básicos vinculados ao PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) aparecem como
principais veiculadores e difusores de conhecimentos científicos, o que evidencia o livro
didático ainda como o principal recurso de ensino e aprendizagem, mesmo em tempos
pandêmicos, quando houve uma necessidade emergente de se lançar mão dos recursos
digitais.
Tal constatação tão paradoxal, supõe que o uso do livro físico pode estar atrelado
a uma necessidade dessa aproximação com o palpável, tendo em vista todo esse
movimento que impeliu uma velocidade no uso de ferramentas eletrônicas para dar conta
do ensino remoto e/ou híbrido. Embora não podemos desconsiderar nesse contexto, a
visão mercadológica atrelada aos livros didáticos, como “produtos” que são comprados
por responsáveis em contexto escolar privado e que, portanto, precisa ser “consumidos”.
Enquanto que, na realidade da escola pública, apesar da gratuidade do material didático,
se observa uma problemática em relação à conscientização dos alunos/as que os utilizam
e não os devolvem para que outros possam utilizá-los em anos subsequentes, o que
compromete significativamente a sua disponibilização e o seu acesso para todos/as, além
de consideração a questão de erário público, sustentabilidade e economia circular.
CONSIDERAÇÕES QUE MERECEM ATENÇÃO
Dentro deste cenário de crise sanitária mundial (SARS COVID-19), a pandemia traz
Sentidos e sujeitos: Elementos que dão consistência à história 3
Capítulo 3
34
entre outras consequências, a importância relacional em todas as dimensões sociais e
especialmente nos ambientes de produção de conhecimento (CAVALCANTI & DIAS, 2022).
Apesar disso, neste processo de transição do ensino remoto e/ou híbrido para o ensino
presencial, desnudam-se de forma latente as marcas de tantas ausências. Ausências que
antecedem à pandemia, mas que se potencializam e se revelam em tantos antagonismos.
Se na escola pública falta recursos e planejamento para minimizar os impactos
causados pela crise sanitária, sobra vontade e esforço de uma boa parte de docentes/
corpo pedagógico e familiares para diminuir as fronteiras entre o ‘impossível’ e o ‘factível’.
São muitas fomes, dores e violências sobrepostas para a maioria das crianças do ensino
público, o que representa um fosso na desigualdade social brasileira. Apesar disso, a
escola pública desponta como possibilidade de superação de um ciclo intergeracional de
pobreza, da oportunidade de se pensar num futuro possível, de se ter esperança.
Enquanto que, num movimento inverso, na maior parte das escolas privadas que não
possuem tantos problemas estruturais, muitas crianças em sua ingenuidade, descortinam
tantas ‘pobrezas simbólicas’ que é preciso uma riqueza de saberes dos profissionais da área
de educação, para minimizar os impactos das carências emocionais, das incapacidades
de ouvir um não, das dificuldades de lidar com frustrações e conflitos tão necessárias
ao desenvolvimento humano, das sobrecargas de atividades e as cobranças para que se
tornem melhores e mais competitivos, os excessos de presentes em contraponto a falta de
afetividade e de presenças.
São realidades distintas entre o ensino público e privado, mas em ambos, são
necessárias habilidades que os cursos de formação no campo educacional não há o
preparo para o/a profissional lidar com tantos desafios. Como forma de resistência a um
sistema opressor e desigual, cabe ao educador/a, além de todos os papeis inerentes
ao fazer pedagógico, a função de semear gente, de semear sonhos e colaborar para a
formação de uma sociedade mais justa, que se valorize a igualdade e diminua os abismos
sociais entre ricos e pobres.
Se estamos a viver tempos estranhos e de incertezas, intensos e tensos, é preciso
lembrar que as escolas são e estão vivas, como espaços de sociabilidade, de convivências
e de reproduções sociais! Espaço de dúvidas, de curiosidades, de aprender com o lúdico,
de bens relacionais imensuráveis.
Ademais, a educação é direito inalienável garantido pela Constituição Brasileira
(1988) e celebrada como importante exercício da cidadania. Mas ao contrário de pensarmos
em alternativas práticas para garantir esse direito seguindo os protocolos de segurança,
após toda temeridade inicial instaurada pelo risco da contaminação, a escola foi esvaziada
de pessoas e de sentidos.
O reflexo disso? Só o tempo dirá... No entanto, a percepção no retorno ao modelo
presencial é de uma defasagem cognitiva e motora gritante, de individualismos ainda mais
exacerbados, de tantas violências sobrepostas, de vulnerabilidades e abismos sociais
Sentidos e sujeitos: Elementos que dão consistência à história 3
Capítulo 3
35
ainda mais acentuados, de questões socioemocionais preocupantes e que emergem a
necessidade um olhar atento. Apesar disso, é preciso “esperançar” como dizia Paulo Freire
(2014), que este momento de distanciamento tenha servido para que a família e escola
se reconheçam como complemento uma da outra, sem esquecer cada qual o seu papel e
caminhem juntas, para a promoção de uma educação libertadora e formadora de pessoas
pensantes e conscientes dos seus direitos, da sua cidadania. Afinal, para dentro do portão
de uma escola, cabe toda uma sociedade e suas mazelas. E o mais importante, contém
crianças e seus sonhos.
REFERÊNCIAS
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nacionais e estrangeiros. Revista eletrônica de História Social, n. 21. São Paulo: PUC-SP, 2018.
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Capítulo 3
36
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Capítulo 3
37
A
Afro-Americana 38, 39, 42, 44
Antiguidade 62, 65, 72
Antiguidade tardia 62, 65
B
Blues 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45
Bourdieu 8, 31, 36
Brasil 5, 8, 22, 36, 46, 47, 49, 50, 51, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 74, 77,
78, 79, 80, 82, 83, 86, 87
C
Caudilhos 76, 83, 84, 86
ÍNDICE REMISSIVO
Civilização romana 62, 66
Continuidade 49, 62, 63, 66, 69, 72, 73
Cristianismo 62, 65, 69, 70, 72, 73
Cultura escolar 12
Cultura feminina 38
D
Desconfinamento 24, 26, 27, 29
Desigualdade de gênero 38, 39
Distanciamento 12, 13, 36
Durkheim 5, 6, 7, 11
E
Educação 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 13, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 24,
25, 26, 27, 30, 31, 32, 33, 35, 36, 37, 50, 61, 87
Educação infantil 3, 6, 24, 26, 27, 33
Embalsamento 71
Ensino 1, 2, 3, 4, 5, 6, 8, 9, 10, 11, 13, 14, 16, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 29, 30,
31, 32, 33, 34, 35, 87
Ensino remoto 24, 25, 27, 29, 30, 31, 33, 34, 35
Escola privada 26, 28, 30, 31, 32, 33
Escola pública 3, 6, 8, 12, 13, 16, 17, 21, 27, 28, 31, 32, 33, 34, 35
Estado 3, 8, 13, 18, 21, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60,
61, 65, 70, 77, 78, 79, 80
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Índice Remissivo
88
F
Farrapos 76, 77, 78, 79, 81, 83, 85
Ficção 76, 77, 80
Formação 1, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 12, 13, 18, 19, 20, 33, 35, 38, 39, 46, 49, 51, 52, 56,
57, 58, 65, 70, 76, 77, 87
Formação escolar 12, 19
Fronteira 76, 79, 84, 85, 86
G
Guerra 58, 61, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 83, 84, 85, 86
H
Habitus 1, 2, 8
ÍNDICE REMISSIVO
História 1, 2, 3, 4, 5, 6, 9, 12, 13, 15, 20, 21, 22, 23, 24, 36, 46, 49, 53, 54, 55,
57, 59, 60, 61, 74, 75, 76, 77, 85, 87
Historiografia 5, 85
I
Idade Média 6, 62, 65, 69, 72, 73
L
Loucura 46, 47
M
Memória social 12
Música 4, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44
N
Nação 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 60, 61, 86
Narrativa 1, 52, 55, 56, 58, 71, 77, 80
O
Osmologia 62, 69, 70
P
Pandemia 13, 24, 25, 27, 30, 32, 34, 35, 36, 37, 57
Paulo Freire 1, 2, 4, 7, 10, 22, 36
Povo 5, 40, 41, 43, 49, 78
Povos Bárbaros 62
Progenitores 12, 13, 14, 15, 16, 17
Sentidos e sujeitos: Elementos que dão consistência à história 3
Índice Remissivo
89
R
Racismo 12, 18, 19, 21, 39, 44, 58
Raízes 41, 47, 49, 50, 52, 56, 57, 58, 61, 62, 65
T
Tempo presente 25, 46, 56, 57
ÍNDICE REMISSIVO
Testemunho de vida 1, 2
Sentidos e sujeitos: Elementos que dão consistência à história 3
Índice Remissivo
90