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Elienai Cabral - PARÁBOLAS DE JESUS

2020, PARÁBOLAS DE JESUS

teologia

Todos os direitos reservados. C o p y rig h t © 2005 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembléias de Deus. Aprovado pelo C onselho de D outrina. Preparação dos originais: D aniele Pereira Revisão: Gleyce D uque Editoração: Leonardo M arinho C apa e projeto gráfico: E duardo Souza C D D : 248 -V id a Cristã ISBN: 85-263-06 80-4 As citações bíblicas foram extraídas da versão A lm eida R evista e C orrigida, edição de 1995 da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário. Para maiores inform ações sobre livros, revistas, periódicos e os últim os lança­ m entos da CPAD, visite nosso site: h ttp :https://w w w .c p a d .c o m .b r SAC — Serviço de A tendim ento ao C liente: 0800 701-7373 Casa Publicadora das Assembléias de D eus Caixa Postal 331 20001-970, R io de Janeiro, RJ, Brasil I “ edição: 2005 Su m á r io In tro d u çã o .......................................................................................7 ( '.ipítulo 1 Clo m preen den do a M ensagem do R e in o de D e u s ...............15 ( '.apítulo 2 A 1)iferença entre o Justo e o Injusto ..................................... 29 ( lapítulo 3 A Expansão do R e in o dos C é u s ............................................... 43 ( '.apítulo 4 ( a isto, o Tesouro In c o m p a rá v e l.................................................55 ( apítulo 5 I ançai a R e d e ............................................................................... 63 ( apítulo 6 I i<lelidade e D iligência na O b ra de D eus .............................. 73 ( .ipítulo 7 ( ) ( iracioso Perdão de D e u s ....................................................... 81 ( ‘.ipítulo 8 ( i isto, a R ocha Inabalável ........................................................101 As P a r á b o l a s d e J e s u s C apítulo 9 A Justiça e a G raça de D eus .................................................... 115 C apítulo 10 R ealizan d o a V ontade do P a i ................................................... 127 C apítulo 11 Vigiai, pois não Sabeis Q u a n d o V irá o S e n h o r .................. 137 C apítulo 12 As Bodas do Filho de D e u s ..................................................... 151 C apítulo 13 A Parábola da Pérola de G rande V alor................................... 161 C apítulo 14 A Parábola das Coisas N ovas e V elhas....................................169 C apítulo 15 A Parábola das O velhas e dos B o d e s ..................................... 179 In t r o d u ç ã o A Bíblia Sagrada é, sem dúvida, o livro mais lido n o m u n ­ do, ainda que outras religiões, fora o ju d aísm o e o cristianism o, ten h am seus livros sagrados. E n tretan to , a Bíblia é a Palavra de D eus revelada e escrita em linguagem hum ana. Esta se diversi­ fica em tipos distintos de figuras representativas que devem ser interpretadas de acordo co m o c o n tex to de cada u m a delas. São várias as figuras de linguagem utilizadas na Bíblia, es­ pecialm ente n o O rie n te M édio. E m v irtu d e da diversidade de linguagem — com o sím bolos, parábolas, m etáforas, alegorias, símiles e tipos, e outras mais — , req uer-se um a interpretação correta que respeite o pensam ento inserido em cada texto. A esse estudo d enom inam os H e rm e n ê u tic a B íblica. P or se tratar de literatura sacra, a herm en êu tica é definida com o um a ciência de in te rpretação dc^te x to s o u palavras, cujas regras procuram co n siderar o texto de acordo co m o seu sentido original. D en tre todas as figuras existentes na B íblia/as parábolas ganham u m espaço m aio r e especial, prin cip alm en te as criadas As P a r á b o l a s ,d e J e su s pelo S en h o r Jesus C risto. Ele foi o M estre p o r excelência na utilização de parábolas. D e f in iç ã o d o t e r m o p a r á b o la A palavra parábola é com posta de dois vocábulos gregos: o prefixo p a ra e o sufixo ballein (ou bailo), que significa “lançar ou colocar ao lado d e” . P ortanto , p od em os e n ten d er que parábola é algo que se coloca ao lado de outra coisa para fins de com pa­ ração, o u para dem o nstrar a sem elhança entre dois elem entos. Jesus utilizava u m m éto d o to d o especial quand o falava p o r pa­ rábolas. Ele aproveitava algum evento do cotidiano de sua é p o ­ ca e explorava aspectos especiais daquele aco n tecim en to para ensinar algum a verdade espiritual. A parábola podia ser tirada de um a história real o u algum a outra criada a p artir de fatos possíveis do dia-a-dia das pessoas. U m a parábola era, na verda­ de, um a espécie de ilustração da vida. Podia ser u m relato de coisas terrenas, às vezes, histórico — geralm ente fiel à e x p eri­ ência h u m an a — narrado de m o d o a com u nicar um a verdade m oral o u algum ensino espiritual. A c la s s if ic a ç ã o d a s p a r á b o la s p o r g r u p o s A o estudar as parábolas de C risto, po d em o s agrupá-las em certa o rd em de assunto p o rq u e Jesus p reocu pou-se em o rdenálas de acordo co m a situação do m o m e n to e do propó sito da apresentação das mesmas. O s estudiosos, n o deco rrer dos anos, v ê m sugerindo várias classificações, mas H e rb e rt L ockyer as dividiu da seguinte form a: “ 1) Parábolas teocráticas ou didáticas (as proferidas p o r Jesus na qualidade de R a b i o u M e stre aos discípulos), co m o propó sito de in struir e treinar. E ntre elas estão as de M ateus 13, além de algumas outras. 2) Parábolas evangélicas o u da graça (as p ro ferid as p o r Jesus em caráter H In t r o d u ç ã o evangelístico), que visam a alcançar os pobres. E n tre elas estão sobretudo as registradas p o r Lucas. 3) Parábolas proféticas o u de j u í z o (as proferidas p o r Jesus co m o pro feta ), que proclam am as grandes verdades de governo e do ju íz o m oral de D eus. E ntre elas estão as parábolas co m o a dos L avradores M a u s (M t 2 1 .3 3 41) e a da F igueira E sté ril (Lc 1 3 .6 -9 )” .1 U m o u tro estudioso, Siegfried G oebel, preferiu fazer um a classificação p o r ordem do p erío d o do m inistério de C risto, da seguinte m aneira: “ 1) a prim eira série de parábolas em C afarnaum ; 2) as últim as pará­ bolas de acordo co m Lucas; 3) as parábolas do ú ltim o p e río ­ d o ” . P orém , p o r m elh o r que seja cada classificação apresentada, n e m sem pre satisfaz p lenam ente os estudiosos. O que im porta, de fato, é descobrir a verdade central (ou principal) dessas pas­ sagens e colocá-las em prática. Tem os de fugir das form as lite­ rárias que in ib em a m ensagem de cada parábola e in terp retálas de m o d o a aplicá-las ao nosso p ró p rio coração. A e s tr u tu r a d e u m a p a r á b o la D e m o d o objetivo e específico, precisam os saber que um a parábola se c o m p õ e de três partes: ocasião, n arração e aplicação espiritua l. Q u a n to à prim eira parte,Jesus explorava algum evento especial na ocasião em que estava falando ao povo, o u a grupos distintos do judaísm o, co m o os escribas e fariseus, para ensinar algum a lição espiritual. G eralm ente, o objetivo da lição relacionava-se co m a m ensagem do R e in o dos céus que anunciava e pregava. Para que a parábola tivesse aceitação dos seus ouvintes, Jesus a apresentava em form a de narração. Essa parte envolvia o m o d o co m o Ele tecia o enredo da parábola, dando beleza, es­ tética e atração. A o final de sua narrativa só lhe restava fazer a aplicação esp iritua l d a essência do seu ensino. A parábola era um m éto d o eficiente através do qual era com unicada a verdade que Ele queria ensinar. Jesus sabia tirar proveito do m o m e n to 9 As P a r á b o l a s d e J e s u s que se lhe dispunha para despertar a consciência dos seus o u ­ vintes. Algum as parábolas não aparecem com o tais, mas com o símiles — figura de linguagem m u ito pró x im a da parábola. E m geral, o c o rre m co m a idéia básica de ilustrar o pensam ento do autor. O sím ile “ consiste em um a com paração form al entre dois objetos ou ações, que não estão m aterialm en te relaciona­ dos entre si, n o rm alm en te precedid o p o r um a conjugação de com paração, co m vista a im pressionar a m en te co m algo c o n ­ creto, parecido o u sem elh an te” .2 A lguns estudiosos en ten d em a pa rá bola com o u m sím ile a m p lia d o , p orqu e a com paração vem expressa, e o sujeito e a coisa com parada m antêm -se separados. A in t e r p r e t a ç ã o d e p a r á b o la s A lguns pregadores se p reo cu p am tanto co m os detalhes irrelevantes de um a parábola que acabam p ro d u zin d o in te r­ pretações fora do co n tex to do ensino que Jesus queria, de fato, transm itir. U m a parábola é co m o um a roda de bicicleta co m os seus raios devidam ente dispostos para dar segurança e eq u i­ líbrio ao ciclista. N ão são os raios os elem entos mais im p o rta n ­ tes, mas sim, a verdade central, a lição principal da parábola. Os raios representam apenas os detalhes secundários, p o ré m é o eixo central que im p o rta em p rim eiro lugar. A parábola n o r­ m alm ente ensina um a só verdade central. P o r exem plo: na do Filho Pródigo, o eixo central é o am o r do pai que recebe e espera pela volta do filho rebelde. H á pregadores que ficam tão preocupados em in terp retar “as bolotas que os porcos co m i­ am ” que acabam esquecendo o ensino principal da parábola. Jesus sabia co m inteligência explorar a linguagem parabó­ lica sem cair n o sim plism o de apenas filosofar sem revelar al­ gum a verdade profunda. J. Mackay, em seu livro E u , p o ré m , vos I 'figo, afirm ou que “há dois pó rtico s no form oso edifício do pensam ento de Jesus pelos quais o cristão pod e penetrar: o 10 In t r o d u ç ã o serm ão da m o n tan h a e as parábolas” . M ateus o rg an izo u seu relato n o E vangelho dando ao m esm o um a certa cronologia aos assuntos relatados, b e m com o aos discursos de Jesus, espe­ cialm ente as parábolas. Essa fo rm a de organização escriturai facilita a com preensão dos leitores com uns co m o tam b ém da­ queles que se dedicam ao estudo da Palavra de D eus. Sua interpretação deve ser feita ressaltando o seu caráter específico, p o rq u e as parábolas, em b o ra se pareçam c o m outros gêneros literários (figuras de linguagem ), se distinguem pela form a co m o se relacionam co m a vida real. A preocupação básica de Jesus ao co n tar u m a parábola era a de ensinar algum a lição de cu n h o m oral o u espiritual. E para to rn á-la fascinante e atrativa, Ele a ornava co m detalhes de beleza histórica que en ­ riqueciam o enredo da m esm a. E ntretanto , ao in terp retar um a parábola, deve-se evitar a p re o cu p aç ã o exag erada c o m as m inúcias, p o rq u e isso p o d e desvirtuar o ensino p rincip al da parábola. N atu ralm en te, Jesus desafiava a inteligência dos seus críticos ao criar situações d entro de u m a parábola c o m verda­ des m isteriosas só com preendidas p o r aquelas pessoas que al­ cançaram u m nível espiritual elevado. A p ró p ria Bíblia declara que as coisas espirituais som ente são entendidas pelos espiritu­ ais (M t 11.25; 1 C o 2.12-14). P r in c íp io s d e in t e r p r e t a ç ã o d e p a r á b o la s O p rin cíp io do contexto. O bservar o co n tex to de um a escri­ tura é u m prin cíp io im portantíssim o para in terpretá-la. Todas as parábolas foram precedidas de situações históricas que in d u ­ ziram Jesus a usar esse m é to d o para aclarar verdades m orais e espirituais. U m a das leis que regem a in terpretação de u m tex­ to, seja ele sagrado o u secular, é o seu contexto. O co n tex to cultural e histórico p o d e facilitar a com preensão do ensino principal da parábola. N esta, o seu c o n tex to p o d e ser aquela 11 As P a r á b o l a s d e J e s u s situação histórica que o b rig o u o M estre a co n tar u m a parábola para esclarecer um a verdade discutida. O c o n tex to im ediato, antes e depois, oferece ao in térp rete a luz sobre o que se queria ensinar. O princípio teológico. As parábolas não tê m a finalidade de es­ tabelecer doutrina ou teologia, mas visam a confirm ar algum elem ento teológico contido num a parábola. U m certo autor declarou que “as parábolas não são fontes prim árias de d o u tri­ na” . O princípio teológico que rege qualquer parábola bíblica é aquele que se insere nos conceitos e verdades espirituais ensina­ das. Por exem plo, nelas encontram os as expressões “R e in o de D eus” e “R e in o dos céus” . N a realidade, essas duas expressões estão relacionadas com a linguagem de cada autor, mas p o d em ser sinônimas, na m aioria das vezes que as encontram os nas pa­ rábolas. Existem as de cun h o escatológico, que visam a m ostrar o futuro da Igreja o u de Israel. A um a parábola co m algum ensi­ no escatológico a interpretação deve seguir a linha teológica do pensam ento de Jesus sobre assuntos escatológicos. U m a das re­ gras simples de herm enêutica é “ o ensino geral da Bíblia” sobre d eterm inado assunto ou doutrina. Por isso, os ensinos com teor escatológico nas parábolas de C risto devem ser interpretados sob o princípio do “ ensino geral das Escrituras” . O utrossim , os autores dos Evangelhos objetivaram alcan­ çar leitores específicos. M ateus d irecio n o u seu Evangelho a seu p ró p rio povo, os israelitas. M arcos d ireciono u seus escritos aos gregos, um a vez que, a despeito de estarem no p erío d o do Im p ério R o m a n o , a cultura grega ainda exercia forte in flu ên ­ cia. Lucas foi u m au to r ex trem am ente didático, até p o rq u e era m édico e tinha u m nível elevado de cultura. Ele escreveu aos rom anos, que eram os governantes da época. F inalm ente,João parece ter se dedicado a destacar m uito mais o sentido espiritu.il dos ensinos de Jesus e fortalecer a crença na sua divindade. In t r o d u ç ã o O objetivo principal deste livro não é ensinar regras de interpretação, mas oferecer alguns elem entos básicos de in te r­ pretação, para facilitar aos leitores a com preensão das parábolas apresentadas. Esta obra tem p o r objetivo ajudar os que m inis­ tram a Palavra de D eus, oferecendo esclarecim entos sobre as parábolas de Jesus no E vangelho de M ateus. P a s to r E l í e n a i C a b r a l I le rb e rt Lockyer, Todas as Parábolas da B íb lia ,V id a , 1999, pp. 146,147. Eadras B entho, H erm en êu tica F ácil e D escom plica da, CPA D , 20 0 3 , p. 308. 13 C a p ít u l o 1 C o m pr e e n d e n d o a M en sa g em d o R e in o d e D eu s M a t e u s 1 3 .1 - 9 A se m e a d u r a n ã o é a v a lia d a e m te rm o s de q u a n tid a d e e proporção, m a s p e la q u a lid a d e da terra q u e recebe a se m e n te . O capítulo 13 de M ateus registrou sete parábolas de C risto proferidas nas cercanias de C afarn au m ,ju n to ao m ar da Galiléia. G eralm ente, Jesus subia na p o p a de algum b arq u in h o ; outras vezes, em terra, colocava-se em algum p o n to mais alto, tendo diante de si a planície de G enesaré, e então m inistrava ao povo que afluía para ouvi-lo. Form a de com unicação típica do povo do O rie n te M édio, em especial na Palestina, o M estre usava m uitas figuras de linguagem para transm itir seus ensinos. P o ­ rém , o m éto d o mais utilizado foi a linguagem p o r parábolas. Jesus foi especialista em usar linguagem figurada. P or esse m éto d o de com unicação, Ele conseguia ilustrar as verdades es­ pirituais e morais que desejava ensinar. Para cada parábola, C risto tinha um a lição especial. E na Parábola do S em eador d eix o u nos um a das mais extraordinárias lições sobre os tipos distintos de corações (solos, terren o s), os quais receb em a sem eadura. O versículo 3 diz que Jesus “falou-lhe de m uitas coisas p o r parábolas” . O te rm o parábola vem da língua grega, e significa, As P a r á b o l a s d e J e s u s literalm ente, “ colocar coisas lado a lado, para que se perceba as sem elhanças” , ou p o d e ser definido com o “u m a com paração ilustrativa na form a de narrativa” . Jesus, p o rtan to , contava suas parábolas a partir de fatos da vida cotidiana. N esta parábola, C risto se volta para a vida agrícola da Palestina a fim de ilustrar a receptividade do R e in o de D eus n o coração das pessoas. O SEM EA DO R A ntes de qualq uer interpretação especulativa e secundária devem os considerar o sentido original do ensino que Jesus queria transm itir àquele povo.V isto que Ele estava contrastan­ do os inim igos do R e in o co m os verdadeiros discípulos, c o n ­ fo rm e está retratado no capítulo 12, M ateus organiza seus re­ gistros de to rm a especial e conecta co m o capítulo 13, no qual Jesus ensina p o r parábolas (M t 13.1-3). O que aprendem os e interpretam os inicialm ente nesta pa­ rábola? O contexto da parábola indica o próprio C risto com o “o sem eador” . N o texto está escrito que: “o sem eador saiu a sem ear” (v. 3). P or quê? A o analisar as circunstâncias anteriores no capítulo 12, vemos que Jesus havia se deparado com m uita oposição e dureza de coração daqueles ouvintes. Sua m ensagem não havia sido b em aceita, especialm ente pelos escribas e fariseus que sem pre buscavam algo para acusá-lo. M uitas pessoas foram até Ele, e já era o fim da tarde quando C risto entrou n u m p e­ queno barco e dali passou a falar à m ultidão desejosa (por m eio de parábolas) pelos seus ensinos. O p o n to de partida da in terpre­ tação acerca de q uem era o sem eador tem u m caráter particular, porque indica subjetivam ente o próprio C risto com o “o_seuie^ador” .Todavia, essa característica particular da interpretação não im pede que se dê u m sentido genérico aos cristãos_como “se^ meadores” .N ão acrescenta n em fere os princípios herm enêuticos que regem a interpretação dessa parábola. |( ) C o m pr e e n d e n d o a M e n s a g e m d o R e in o d e D e u s N esta parábola Jesus teve com o objetivo principal m o strar a diferença d os corações quanto à recepção da Palavra de Deus. Era o p ró p rio C risto revelando a rejeição ao seu m inistério por parte dos judeus. N a parábola seguinte, a do Joio e do T rigo (M t 13.36-43), Jesus se identifica (v. 37) com o aquele que “sem eia a b oa sem ente” . Antes dEle, outros haviam atuado co m o semea­ dores da Palavra, especialm ente no A ntigo Testamento. Porém , foi Jesus, que a si m esm o se referiu com o o “ Filho do H o m e m ” , para distinguir-se dos demais em singularidade, q u em podia e sabia com o sem ear em quaisquer terrenos. A expressão “ Filho do H o m e m ” revelava, de m odo especial, a hum anidade de Jesus, com o ser gerado no ventre de um a m ulher, sendo, porém , sua geração operada pelo Espírito Santo. Ele é o “sem eador” que veio para fazer diferença dos demais “sem eadores” 0o 1.11,12). Q E sp írito S a n to tam b ém é u m sem eador da boa sem ente. Ele é o que inspira os sem eadores ao serviço da sem eadura e q u em rega a sem ente lançada. C risto declarou acerca do Espí­ rito e o seu trabalho na vida do pecador: “ O v ento assopra o n d e quer, e ouves a sua voz, mas não sabes d o n d e vem , n em para ond e vai; assim é to d o aquele que é nascido do E sp írito ” (Jo 3.8). E n ten d em o s que essa passagem im plica, m etaforica­ m ente, n um a ação do E spírito sem eando a Palavra de D eus. N ã o significa que o E spírito faça o nosso papel de “ sem eado­ res” , o u seja, evangelizadores. mas é E le qu e m toca o nosso espirito e som os d espertados p ara espalhar a sem e n te ., C o m o C risto ascendeu ao P ai, Ele ainda m inistra através do E spírito SajTtxyo-Seu Paracleto , e este m in istra através dos crentes, nos quais op era p elo seu Espírito (Jo 14.26). O s cristãos autênticos são os sem eadores na dispensação da graça^ A m issão evangelizadora dos discípulos de C risto é identificada em dois textos dos Evangelhos (M t 28.19,20 e M c 16.20). A missão de C risto foi a de u m sem eador e Ele a passou ! 17 As P a r á b o l a s d e J e s u s aos seus discípulos, os quais sem eiam em toda a terra desde então. O que Jesus c o m eço u a ensinar, seus discípulos deram co n tin u id ad e (At 1.1). N a história inicial d a igreja, surgiram outros g randes sem eadores, entre os quais Paulo, que se decla­ rava rep resentante de C risto co m o sem eador, e dizia que: “vis­ to que buscais_uma p rova d e C risto q u e fala em m im , o qual não é fraco para convosco; antes, é poderoso entre vós” (2 C o 13.3). Paulo considerava seu m inistério com o um a sem eadura de coisas espirituais (1 C o 9.11). A.o dar testem u nho de sua conversão, o apóstolo usa a m etáfora do vaso para ilustrar sua utilidade na expansão do n o m e de Jesus (At 9.15). Paulo, p o r­ tanto, to rn o u -se u m au tên tico sem eador da “boa sem en te” do evangelho de C risto . T odo crente em Jesus é u m sem eador da sua Palavra e, indubitavelm ente, enco ntrará os mais variados tipos de solos para receber a boa sem ente. Fom os salvos para s e r v ir e sem ear a boa sem ente e devem os servir co m am o r e espírito sacrificial (SI 126.6). N a ótica de C risto não há um a m era preocupação com expansão e quantidade. N ão era apenas a propo rção da q u an ti­ dade de sem entes que lançam os sobre a terra, de qualq uer m aneira, sem critério. Para J esus, não deveria haver inibição quanto ao ato de sem ear a b o a sem ente, p o rq u e o que interes­ sava m esm o era que a sem ente fosse sem eada, a tem p o e fora de tem po, em q u alquer solo que estivesse disponível para se lançar a sem ente. N ã o se trata de u m ato de sem ear aleatoriaen co n trar algum a terra capaz de recebê-la e ro m p er co m as dificuldadérH eT ualrutíficação. P óT õú tro lado, a falta de c rité ­ rio para a sem eadura refere-se ao trabalho cuidadoso do sem e­ ador. T udo o que o sem eador te m de fazer é sem ear^Fazer que^ cresça a sem ente é algo que vai além de sua capacidade. E trabalho m isterioso, sem a intervenção hum ana. 18 C o m pr e e n d e n d o a M e n s a g e m d o R e in o d e D e u s A SEM ENTE O s Evangelhos Sinóticos tratam , às vezes, das mesmas narra­ tivas históricas, porém com a visão do autor do Evangelho. Mateus, M arcos e Lucas narraram a m esm a parábola e destacaram nuanças percebidas particularm ente p o r cada u m dos autores. M ateus descreve a “sem ente ” com o “a palavra do reino ” (M t 13.19); Lucas a descreve com o “a palavra de D e u s” (Lc 8.11); M arcos, simplesmente, com o “ a palavra” (Mc 4.15). N a ótica de M ateus, “a palavra do rein o ” referia-se à natureza e exigências do R e in o messiânico desejado e esperado pelos judeus, mas incom preendido e, de certo m odo, rejeitado p o r eles. Tesus m esm o in terpretou sua parábola e desta c o u algunssolos nos quais as sem entes lan cadas não germ inaram. E le interpretou esses ^terrenos” (solos) com o aqueles que não “com preendem ” a sua m ensagem ou com o aque­ les que a rejeitam (M t 13.13). Jesus tam b ém quis m ostrar aos seus discípulos que a sem e­ adura d a “boa sem en te ” não p o d ia ficar restrita a u m solo espe­ cífico, o u seja, a u m g ru p o étnico, n o caso, os judeus, mas teria um a dim ensão glóbãl, co m o está esc rito :“P o rta n to , ide, ensinai todas as n açõ es, batizando-as em n o m e do Pai, e do Filho, e do E spírito S an to” (M t 28 .1 9 ).A lição básica dessa parábola é que é preciso sem ear toda a sem ente. Toda a sem ente refere-se, es­ sencialm ente, à plen itu d e da m ensagem do evangelho da graça de D eus que é Jesus C risto (At 20.24,25). O evangelho é a sem en te viva, p oderosa, que ultrapassa qualq uer elem en to físi­ co p o rq u e “ é p o d er d e D eus para salvação de. todo aquele que c rê ” (R m 1.16). A B íblia diz que esta “ sem entg ” é “v iva e incorm ptÍY Êl” (1 Pe 22-25); te m p o d e r e p rodu z fé (R m 1.16; 10.17); é celestial e divina (Is 55.10,11); im utável e e terna (Is 40.8); p o d e ser enxertada e salvar_(T g 1.18,21). O u tro aspecto im p o rtan te que se percebe é que n o cam po das sim ilitudes tanto o sem eador q u an to a sem ente significam 19 As P a r á b o l a s d e J e s u s o m esm o elem ento, que é “ a palavra de D e u s” . O ra, a Bíblia é a Palavra de D eus tanto q u a n to C risto é ajp ró p ria. Palavra d ivina. Se a Bíblia é a Palavra viva de D eus, p o rtan to , está cheia de C risto, que é o Verbo de D eus enviado para salvar o m u n d o (Jo 1 .1 ).Jesus é o logos de D e u s ,“ o V erbo divino que estava com D eus... se fez carne e h ab ito u entre nós, e vim os a sua glória” 0o 1 .1 4 ).Ele m esm o é a sem ente.A Palavra escrita dá testem u­ n h o de que veio com o a Palavra v iva 0o 5.39). O s que receb e m “a sem e n te ” (a Palavra, C risto), recebem a vida, p o rq u e tê m vida em seu n o m e 0 o 20.30,31). P ortanto , a sem ente que sem eam os na terra dos corações hum anos n ão só é a “sem en te de C risto ” , com o tam b ém é o p ró p rio C risto. A sem ente do^ R e in o dos céus é E le m esm o, o R e i . . A TERREN O PARA O PLANTIO (M t 13.4-8) Jesus apresentou sua parábola co m m uita criatividade, pois destaco u quatro tipos distintos de terrenos nos quais a sem ente podia ser semeada. Figurativam ente, o te rren o o n d e cai a se­ m en te é o coração das pessoas e a receptividade à sem ente se apresenta de m aneiras diversas. O que aprendem os nesta parábola é que o coração h u m an o é com o u m te rreno que p o d e receber um a sem ente e pro d u zir fruto, com o tam b ém poderá desenvolver dureza e re je iç ã o a qualq uer tipo de sem ente. N o plano espiritual, o terren o do coração das pessoas é tam b ém espiritual, todavia p od e desenvolver disposições favoráveis ou contrárias à recepção das coisas espirituais. P or causa da n a tu ­ reza pecam inosa e reb elde adquirida p elo h o m em ,ji d isposição do_seu coração to rn o u-se rebelde e endurecida. O que Jesus nos m ostra na Parábola do S em eador é que a sem ente é lançada em quatro tipos de terrenos, mas n e m todos serão receptivos à “boa sem en te” . í ’() C o m pr e e n d e n d o a M e n s a g e m d o R e in o d e D e u s O t e r r e n o “ a o p é d o c a m i n h o ” ( w . 4 ,1 9 ) N aquela época, Jesus p ro cu ro u co n d u zir a m en te dos seus ouvintes aos cam inhos feitos p o r entre os cam pos, co m o p o ­ dem os exem plificar co m o texto de M ateus 12.1, q u e diz:“N a quele tem po, passou Jesus pelas searas, em u m sábado; e os seus discípulos, ten d o fom e, com eçaram a colher espigas e a co ­ m e r” . E m suas viagens, Jesus passava p o r m uitos lugares, nas m o n ta n h as, nos deserto s, às m argens d o m ar da Galiléia, ju n to aos r ios e, especialm ente, nos cam inhos p o eirentos entre as plantagões-de trigo, cevada, aveia e outros grãos. O povo israelita aproveitava to d o o espaço de terra cultivável, p o rq u e era p o u ­ co para cultivá-lo. D a experiência vivida p o r aquelas terras, Ele sabia tirar proveito para ensinar verdades profundas c o m ilus­ trações da vida cotidiana. P o r isso. C risto tirava lições d a v ida pesqueira, da agricu ltu ra e até da pecuária. N esta parábola, e m especial, suas andanças pelas terras agricultáveis lhe deram jim a^visão dos vários tipos de terras que p o d em receber sem entes e frutificarem ou não. N a sua percep­ ção, Ele n o to u u m tipo d e terrcno que não era acessível à se­ m ente: era a terra “ao p é do cam inh o” . As sem entes lançadas objetivam e n te o u as que caíam naquela terra batida “p o r acaso” não p en etravam a terra., então o s pássaros as com iam , porque estavam expostas sobre aquela terra dura ao pé do cam inho. / Q u e classe d e ouvintes é com parada a esse tipo de te rre no? S eg undo o p ró p rio C risto definiu n o versículo 19, é aquela classe de pessoas que ouve a Palavra de D eus e não a entende, n e m se esforça para entendê-la. E a classe de o u vin te s-te rra -d u m . N a realidade, nos parece que são pessoas displicentes co m as coisas de D eus e acham que não precisam se p reo cu p ar com isso. O te rre n o “ ao pé do cam in h o ” é batido e pisado pelos transeuntes da vida. E, p o rtan to , te rre n o duro, im penetrável e 21 As P a r á b o l a s d e J e s u s inacessível. São m uitas as influências exteriores que alcançam o coração h u m a n o e in fluenciam sua vida. As “aves” que v êm e c o m em as sem entes expostas naquela terra dura representam o quê? Jesus m esm o dá a resposta, quando diz:“ O u v in d o alguém a palavra d o R e in o e não a entendendo , vem o m aligno e arrebata o que foi sem eado no seu coração; este é o que foi sem eado ao pé do cam in h o ” (M t 13.19). O M estre in te rp re ta essas aves com o sendo “ o m alig n o ” . E quem é o tal? E m toda a Bíblia a p alavra “m alig n o ” refere-se aoJD iabo e aos d e m ô nios sob seu dom ínio. Segundo o dicionário A urélio, “m alig n o ” deriva do latim e significa “ser propenso para o mal, ser m aléfico, m au, nocivo, pernicioso, danoso” . Es­ ses elem entos identificam a pessoa do D iabo. E m M arcos 4.15, o p ró p rio Tesus denuncia Satanás co m o o ladrão da sem ente da t Palavra de D eus para que o pecad o r n ão a receba (To 10.1,10). A saves do céu que arrebatam a sem ente lançada no coração precisam ser enxotadas. As “aves d o x é u ” p o d e m representar os agentes espirituais da m aldade que são acionados p a ra im p e d irem o progresso do “reino de D eus na te rra ” (E f 6.10-13). Esses dem ônios atuam de várias m aneiras, com as mais dife­ rentes características para enganar e seduzir os incautos. Essas “ aves” p o d e m representar ho m en s o u m ulheres usados p o r Satanás para pisarem a terra do coração das pessoas, influenci­ ando suas m entes co m artifícios intelectuais e ateístas, ou com idolatria, para lhes fechar e en d u recer o coração. O o u v in te representado pelo te rren o ao pé do cam inho na verdade, o de coração fechado. E um a classe de pessoas que recebem a sem ente co m o ouvido, mas não p e rm ite m descer ao coração. A sem ente fica exposta na flor da terra, na cam ada e x te ­ rior, e não entra para o interior. L am entavelm ente, tem os esse tipo de crentes no seio da igreja que, a despeito de participa­ rem de atividades sociais e religiosas, são pessoas sem p ercep - C o m pr e e n d e n d o a M e n s a g e m d o R e in o d e D e u s I ção espiritual. N ada do que acon tece n o te rren o espiritual as I sensibiliza p o rq u e são desprovidas de um a experiên cia in te rio r I profunda. A sem ente não pod e p e n etrar n e m germ inar, e então '(fica exposta para que “as aves do c é u ” , que representam os agentes do mal, a arrebatem . A Palavra não surte efeito. O t e r r e n o c h e io d e “ p e d r e g a is ” ( w . 5 ,6 ,2 0 ,2 1 ) Z ' Esse é o tipo de ouvinte que recebe inicialm ente bem a Palavra de D eus, mas tem pouca duração, porque onde há p e­ dregulhos o jsolo_é m ovediço e não perm ite criar raízes. N a rea­ lidade, esse tipo é aquele q u e facilm ente se em ocio na co m o q ue ouve, p o rém os obstáculos da vida im pedem que a Palavra ger­ m ine n o seu coração. E o tipo de pessoa que chora quando ouve a Palavra, faz confissões de necessidade, mas não consegue se desvencilhar das pedras de sua vida pessoal. A sem ente é recebi­ da, co n tu d o não cria raízes. Essas pessoas recebem a sem ente na cam ada de cima da terra, isto é, na camada em ocional do cora^_ ção, todavia não deixam p enetrar a terra. São pessoas entusiastas que se com ovem co m facilidade e gostam de ouvir a m ensagem do evangelho. N o entanto, são pessoas superficiais, cuja fé é tem Iporal e frágil, incapazes de superar dificuldades. - As pedras neste te rren o p o d em representar problem as de o rd em m oral, v ícios, m aus h ábitos de caráter e p e c a d o s recoiv rentes. N o ta-se um a diferença na form a de receber a sem ente nos dois prim eiros tipos de terrenos (ou solos). O te rre n o “ao pé do c am in h o ” é o endurecido, fechado, com pacto, que não dá espaço para mais nada. São as pessoas que não e n te n d e m a Palavra. Porém , o segundo tipo de te rre n o é cheio de pedras. Esse te rre n o é o coração daqueles que, im ediatam ente, e n ten d em a Palavra, mas de m o d o superficial. São pessoas que têm d ificuldadfis em adm inistrar seus sen tim en tos e e m o ç õ es, p o r isso, são volúveis e m ed rosas. Estão sem pre resvalando em algum a difir. 23 As P a r á b o l a s de J e su s culdade que não sabem resolver. M uito s cristãos vivem na su­ perficialidade espiritual, pois im aginam que pojc se em o cio n a­ rem n u m culto com um a m ensagem o u u m cântico não precisam de mais nada, po&jsso n ão se esforçam para tirar as pedras. d e -suas vidas. E les receb em a sem ente naquele m o m e n to (v. 20) e ela até chega a brotar de im ediato (v. 4), mas não desen­ volve suas raízes. E típico do “ cristão-pedregulh o ” . que está sem pre buscando novidades e não se firm a na fé. A hipocrisia acaba sendo um a característica desse tipo. de_ cren te, sem pre propenso a grandes e m o ç õ e s, m anifestando- as co m freqüência n o s cultos da igreja. A o calor de u m culto de adoração de lo u ­ vor, ele m anifesta fervor e faz d em o nstraçõ es de profissão de fé, mas passando aquele m o m en to , volta a ser o m esm o cristão inseguro de sem pre, facilm ente “levado p o r v e n tos de d o u trin a e vãs filosofias” . A inda que deseje frutificar, ele não consegue, p o rq u e não possui raízes profundas em si m esm o. São pessoas de convicções d u v id o sas, inseguras e frágeis. N ã o su p o rtam tribulações e provas, e co m facilidade tropeçam e caem. (w . 7 , 2 2 ) D iz o texto literalm en te:“E_outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram -na” . N a língua grega, a pala­ vra “ esp in h o ” é a k a n th a , que se refere a “planta espinhosa” , típica das terras do O rie n te M édio. P or exem plo, a coroa de espinhos que os rom anos fizeram para Jesus era, de fato, um a “ coroa de [ a k a n th o n ]” (M t 27.29). Esse tipo de planta espin ho­ sa se espalha e se dim ensiona sobre a terra de tal form a, que outras plantas não subsistem naquele terreno. G eralm ente, esse tipo de solo é constituído de rochedos elevados cobertos de p ouca terra. Sobre ele é fácil e n co n tra r essa planta de a k a n th o n (de espinhos) e lançar sem entes frutíferas. As vezes, u m a p o n ta de terra que entra pelo m ar e é cercada de águas p o r todos os O te r r e n o c h e io d e “ e s p in h o s ” C o m pr e e n d e n d o a M e n s a g e m d o R e in o d e D e u s lados. N aquela p o n ta de terra rochosa crescia m uita planta de espinhos. O a u to r da C arta aos H eb reu s escreveu o seguinte: “ P orque a terra que em bebe a chuva que m uitas vezes cai so­ bre ela e p rodu z erva proveitosa para aqueles p o r q u em é lavra­ da recebe a bênção de D eus; mas a que p rodu z espinhos e abrolhos é reprovada e p e rto está da m aldição; o seu fim é ser queim ada” (H b 6.7,8). E ntend e-se, p o rtan to , que esse tipo de te rren o to rn a in útil o trabalho do sem eador. E interessante n o tar que a sem ente lançada ali en co n tro u possibilidade de germ inar, mas logo foi sufocada pelos espinhos. A sem elhança dos problem as típicos do terreno pedregoso, esse terceiro tam b ém é cheio de obstáculos e estorvos. Jesus quis de fato dar u m destaque especial a esse te rre n o porq u e esses espinhos sufocaram a sem ente (v. 22). Q u e tipos de espinhos p o d em sufocar a “boa sem e n te ”? O tex to de M ateus 13.22 apresenta dois tipos de espinhos e Lucas 8.14, três. M ateus indica “ os cuidados deste m u n d o ” e “ a sedu­ ção das riquezas” , e Lucas considera três: “ cuidados, riquezas e deleites da vida” . Todos esses espinhos estão, na verdade, na m esm a dimensão. N a p rim eira expressão — “ cu id ad o s deste m u n d o ” — , M ateus coloca em destaque duas palavras: “ cuidados” e “ m u n ­ d o ” . A_jDrimeira_ delas fala de preocupações secundárias que acabam d o m in an d o a m en te e o coração das pessoas, sem dei­ xar espaço para a p rio rid ad e m aior que é .o .“reino de D eu s” . Essas preocupações sufocam a floração e a frutificação da Pala­ vra de D eus, que é a fonte de toda a vida e de toda fecundidade. M u ito s cristãos não frutificam na vida cristã p o rq u e vivem su­ focados pelas preocupações da vida. N ã o tê m tem p o para as coisas de D eus. A segunda p alavra significa u m sistema espiri­ tual invisível que oferece às criaturas to da sorte de coisas que roubam o espaço da relação e co m u n h ão co m D eus. 25 As P a r á b o l a s d e J e s u s A segunda expressão — “ a sedução das riquezas” — refe­ re-se ã possessão de riquezas que tê m sufocado a vida espiritu­ al de m uitos irm ãos que n ão tem , tem po. para a oração, m ed itação e c o m u n hão com D eus. A participação nas atividades da igreja to rn a-se nula p o rq u e “ a sedução das riquezas” tom a o prim eiro lugar em suas vidas. Paulo e x o rto u sobre o p erigo que co rre m os “ que q u erem ficar rico s” (1 T m 6.9). A terceira expressão — “ os deleites da vida” — en co n trase em Lucas, com o já m en cio n ad o a n terio rm en te. Sem dúvi­ da, os deleites propiciados pela prosperidade m aterial in d u zem as pessoas à arrogância e à presunção. A busca desm edida p o r prosperidade m aterial facilita o cam inho das tentações e, in e ­ vitavelm ente, o lugar da Palavra de D eus.é sufocado n o cora­ ção dessas pessoas. N os tem pos m od ern o s, q uand o a equivoca­ da teologia da prosperidade é pregada e ensinada co m o desco­ b e rta de se ficar rico, a verdadeira teologia é abandonada. A prosperidade m aterial deveria ser u m m o d o de servir m elh o r a D eus e não para p ro d u zir sentim entos presunçosos no coração daqueles que se im aginam mais abençoados que os outros. O t e r r e n o d a “ b o a t e r r a ” ( w . 8 ,2 3 ) A quarta classe destacada p o r Jesus é o que cham aria de ou vin tes-b o a -terra p orqu e são aqueles que ouv em e co m p re e n ­ dem a Palavra de D eus e dão frutos. A “boa te rra ” recebe a sem ente p o rq u e é macia, profunda, sem pedras e limpa. E a terra fértil e fofa que recebe a sem ente e é propícia à sua ger­ m inação e desenvolvim ento. Pelo m enos três características^são m anifestadas nesse tip o .de te rre n a . P rim eiro, as pessoas ouv em e en te n d e m a Palavra. G eralm ente, tais pessoas são sensíveis às coisas espirituais. São desejosas de c o n h ecer e aprend er p orqu e suas raízes são profundas. Segundo, as pessoas to rn am -se fru tí­ feras. Essa atividade frutífera é dem onstrada p o r um a dinâm ica C o m p r e e n d e n d o a M e n s a g e m d o R e in o d e D e u s in te rio r da sem ente plantada e pela qualidade da terra. Jesus destaca essa dinâm ica quand o d iz :“ ... e deu fruto: u m , a cem , outro, a sessenta, e outro, a trin ta ” (M t 13.8). Q uando a Palavra (a sem ente) p e n etra fu n d o a terra d o coração, ela p ro duz bons fru tos, que é o resultado das convic­ ções firm es n o p o d er da Palavra (Jo 15.8'). E m terceiro lugar, as pessoas to rn a m -se frutíferas in d ep en d en te da quantidade ou proporção. N ã o im p o rta q u em p ro d u z mais ou m enos. O que im p o rta é que p ro d u zamos o suficiente para alcançar m uitas pessoas (SI 1.3). P orém , há um detalhe que indica q u e certos grãos ren d em mais que outros. Isto não significa q u alq u er p ri­ vilégio propiciado ou discrim inativo. N o m u n do em que vi­ vem o s, algu m as pessoas p ro d u zem mais que as outras, e no R eino d e D eus é a m esm a coisa. O im p o rtan te é q u e todos produzam , in d ep en d en tem e n te da quantidade. A p ro p o rç ão é equivalente à capacidade individual de cada “ g rã o ” (semente) produ zir o u não. O s estudiosos tê m procurad o en te n d e r o texto de M ateus 13.8, que destaca as proporções de produtividade das sem entes semeadas. O fam oso teólogo Fausset in terpreta esse texto da seguinte form a: “ trin ta p o r u m ” designa o nível m e n o r de fru tificação; “ sessenta p o r u m ” , o nível in te rm e d iá rio de frutificação; “ cem p o r u m ” , o mais elevado nível. U m outro teólogo co m en to u esse texto da seguinte m aneira:“Assim com o os níveis dos ouvintes sem fru to eram três, tam b ém é tríplice a abundância de frutos. A queles que tinham , foi-lhes d a d o ” .1 A sem ente plantada em nossos corações germ inará e frutificará m ediante a nossa disposição para produzir.Todavia, a lição m aior desta parábola não é sim plesm ente frutificar, o que está relaci­ onado co m a disposição para querer aprend er e e n te n d e r a Palavra de D eus. E o en te n d im e n to intelectual e espiritual da Palavra que produzirá algum fruto. Essa parábola te m a ver 27 As P a r á b o l a s d e J e s u s co m a nossa capacidade de ouvir, e n te n d e r e o b e d e c e r . N o s ­ sa receptiv idade à Palavra “ descortin ará a verdade na ju sta p ro p o rç ã o do e n te n d im e n to dos h o m e n s ” . Só e n ten d erem o s as verdades profund as d o R e in o de D eu s m ed ian te nossa receptividade. Jesus falou e m “m istérios do re in o ” , in d ican d o que n e m todos c o n h e c eria m esses m istérios, mas aqueles para os quais fossem revelados. A uns o e n te n d im e n to é m e n o r e mais len to ; a outros, é m ais am plo e claro, tal c o m o a palavra declara: “ trin ta p o r u m , sessenta p o r u m e cem p o r u m ” . N a igreja, os crentes são distintos m em bros do C o rp o de C risto (1 C o 12.12,27) e, naturalm ente, cada m em b ro deve c u m p rir o seu papel dentro do C o rp o . P o r isso, po d em o s e n ten d er que cada pessoa produzirá “ a boa sem en te” na m edida da sua capa­ cidade de frutificar. N ã o h á espaço para,ciúm es o u invejas, des­ de que j:ad a u m produza à propo rção de seu, e n ten d im en to dos “m istérios da P alavra de D e u s” . C O N C LU SÃ O Aprendemos com esta parábola do semeador que existem três tipos de solos que representam obstáculos para germinar, crescer e desenvolver. Em termos de desenvolvimento cristão, no primeiro solo o cristão não se desenvolve; no segundo, a semente é frustrada quanto à germinação; no terceiro, encontra um pouco de terra, mas é sufocada pelos espinhos; e no quarto, ela encontra terra capaz de germiná-la e fazê-la crescer e frutificar. C a p ít u l o 2 A D if e r e n ç a e n t r e o Ju s t o e o In j u s t o M a te u s 1 3 .2 4 -3 0 A existência do joio no meio do trigo não impede que vivamos com graça e inteligência, sem nos deix ar afetar pelo veneno do joio. A Parábola do Jo io e do T rigo não aparece nos demais Evangelhos Sinóticos, ainda que alguns estudiosos a v êem com o um a versão revisada de M arcos. E ntretanto , é um a afirm ação im provável, um a vez que os detalhes dos dois textos (M t 13.2430 e M c 4.26-38) ten h am nuanças distintas. D eix an d o de lado o aspecto crítico dos textos, mais um a vez Jesus se volta para a vida agrícola, b e m típica daqueles tem pos, e utiliza as mesmas figuras do cam po; p o rém , com sentidos diferentes. A verdade ensinada é a m esm a que a anterior, mas as figuras recebem u m sentido diferente. N a Parábola do Sem eador, “ a sem e n te ” é a Palavra de D eus (Lc 8.11); todavia, nesta p aráb o L fd o Jo io e do trigo, as sem entes representam as pessoas. As sem entes do trigo são “ o s ü lh o s do R e in o ” e as do jo io são “ os filhos dx) M alig­ no ^ (M t 13.38). N a p rim eira parábola, a boa sem ente é a Pala­ vra do R e in o que regenera a vida do h o m em : p orém , nesta, “ os filhos do R e in o ” , co m suas vidas transform adas pela Pala­ vra, são os elem entos que fazem diferença. O nefasto trabalho As P a r á b o l a s d e J e su s de sem ear o jo io é atividade do D iabo (M t 13.39). O jo io é figura m etafórica de algo m al, e sem eá-lo significa infiltrar coi­ sas ruins. T ais coisas p o d em significar os erros, as heresias e d esvios d o u trin á rios que o Inim igo semeia. Jesus declara que o jo io rep resen ta os “ filhos do M alig ­ n o ” (M t 13.38). Q u e m são eles? As pessoas más que rejeita m a verdad e d e C risto e passam _a sem ear ervas danin has (joio) ju n to das sem en tes boas (trigo ). O s “ filhos do M alig ­ n o ” l i a os m u n d a n o s q u e estão sob o d o m ín io de Satanás e qu£_lhe o b e d e c e m c eg am en te, fazen d o a sua v o n ta d e (Jo 8.44; 1 Jo 3.8 ,1 0 ; 5.19). São a g e n te s do D ia b o para p ro m o ­ v e r a d e so rd e m e a m istu ra do c e rto c o m o errad o , da ju sti­ ça c o m a inju stiça, da luz c o m as trevas n o m e io , do povo, de D eu s. O s “ filhos do R e i n o ” p recisam estar aten to s e v ig i­ lantes para im p e d ir a invasão so rra te ira dos “ filhos do M a ­ lig n o ” . Eles te n ta m nos c o n v e n c e r de aceitar o e sp írito do m u n d o n o estilo de—vida cristã q u e a d o ta m o s; in flu en ciar nossas decisões espirituais n o sen tid o de faz e r-n o s buscar so lu ç ões m e ra m e n te h u m anas; e m in a r nossa m e n te cristã para a d o ta rm o s u n ia m e n ta lid a d e q u e c o n tra ria a Palavra d e D eu s. Essa m istu ra sem d istin ção e n tre trevas e luz é p e r n i­ ciosa para o R e in o de D eus. O CA M PO DE PLA N TIO (v. 24) E n q u an to na Parábola do.S cin cad o r a sem ente é a Palavra de D e u s, nesta, similar à anterior, a sem en te representa “ os fi­ lhos d o R e in o ” . O s exegetas bíblicos apresentam duas in te r­ pretações acerca do “ cam po de p lan tio ” . Vamos p a rtir da se­ guinte q u estão: qu_e_“ ca m p o ” é este que p roduz “trigo e jo io ” a o jn e s m o tem po? O que representa esse “ c am p o ” ? A lguns mestres en te n d e m que se trata da “igreja” com o u m todo, isto 6, toda a cristandade, que tem n o seu seio essa m istura de “trig o A D if e r e n ç a e n t r e o J u s t o e o In ju s t o e jo io ” . N u m sentido restrito e m ístico, alguns desses estudio­ sos vêem a Igreja co m o “ o c o rp o m ístico de C risto ” . N o en ­ tanto, a in terp retaç ão que deve m erecer nossa apreciação com o m elh o r e indiscutível é a que Tesus apresentou q u an d o disse aos discípulos que “ o cam po é o m u n d o ” (M t 13.38). Portanto, o “m u n d o ” é o lugar ond e a Igreja foi plantada e, co m o tal, deve frutificar neste m u n d o e do seu b o m fru to deve m itigar a fom e das pessoas. |esus foi incisivo quan d o d eclarou q u e “ o cam po é o in u n ­ d o ” . O ra, se a Igreja é a expressão da sem ente m anifesta no m undo, ela não p o d e fu g ir ao seu papel de revelar essa verda­ de pelo te stem u n h o pessoal de cada cristão e pregação dessa verdade a todas as pessoas. C ada cristão c o m p ro m e tid o co m C risto é u m a expressão dessa sem ente. O m u n d o precisa ver «pi_nós._ojpoder dessa sem en te p ositiva se n d o sem eada em toda a terra, a to d a s as civilizações, e tn ias, raças e nações. P au Iprescreveu a T im ó te o, d iz e n d o -lh e que D eus “ q u e r q u e to r_ dos o s h o m e n s se_s.alvem g v e n h a m ao co n h e c im e n to da.ver­ da d e ” / ! T m 2.4). A Igreja está no m u n d o para produzir bons frutos Qo 15.5,8). Ela é cõnlStuícia p elo s “filhos do R e in o ” , e com o tal som os identificados co m o as sementgs genuínas de trigo. O ra, sabe­ mos que existem sem entes que im itam o trigo, mas não o são. P °r isso a nossa verdade p recisa prevalecer sobre a m entira do joio. D eus é S en h o r desse “ cam po de trig o ” e, se “ o cam po é o m u n d o ” , en ten d em o s que Ele é o S en h o r do m undo, o p ro ­ prietário verdadeiro desse cam po (Cl 1.13-17). Ele te m o di­ reito de propriedade, a despeito de o D iabo ser o “ladrão e salteador” (Jo 10.1) que p ro cu ra to m ar posse da propriedade que p e rte n c e u n ica m e n te a Ele (SI 24.1). Este cam po é a esfera da habitação hum ana. P ortanto, é o m u n d o n o qual habitam os e D eus o am ou acim a de tu d o (Jo 3.16). 31 As P a r á b o l a s d e J e s u s DOIS SEM EADORES O s versículos 24 e 25 dizem assim: “ O R e in o dos céus é sem elhante ao h o m e m q ue sem eia boa sem en te n o seu cam po; mas, d o rm in do os. h o m en s, veio o seu inim igo, e sem eou j ) ioio n o m eio do_trigo, e retiro u -se” . N esta escritura Jesus des­ tacou d o i ^ e m e a d o i^ :“ o J ]io n T e m ^ i^ s e m £ ^ b o a sem ente no seu c am p o ” , isto é. o d o n o do cam po de trig o _(v. 24), e “ o in im ig o ” (v. 25) que furtivam ente en tro u naqugle cam po e sem eou o ioio. O s dois sem eadores são distintos em caráter e propósito em relação àquele cam po de plantio. O p rim eiro sem eador é “o h o m e m ” , d o n o do cam po, tam b ém identifica­ do co m o “ o pai de fam ília” (M t 13.24,27) e co m o “o Filho do H o m e m ” (M t 13.37). N a parábola anterior, o sem eador é id en­ tificado de form a dupla: pode representar to d o cristão que prega o E vangelho de C risto, e tam b ém ser identificado com o sendo o p ró p rio S en h o r Jesus. J e su s, o s e m e a d o r q u e s e m e ia n o s e u p r ó p r io c a m p o E m duas expressões nos versículos 24 e 27 encontram os os pronom es possessivos “seu cam po” e “teu cam po” os quaisjb rta lecem o_argum ento de que Jesus é o d on o desse cam po. O inim igo vem de fora e invade_o cam po que pertence ao S enhor para sem ear o ioio, p o r isso nada é dele. Porém , n u m sentido especiaL.q n an d n jnna pessoa aceita a C risto com o S enhor e Sal­ vador de sua alma, o Espírito Santo entra em ação, regenerando a pessoa e a to rn an d o “ sem ente de trig o ” neste campo. O D i a b o , o i n i m i g o q u e s e m e i a o j o i o n o t r ig a l d e C r is t o N esta parábola, esse sem eador que surge furtivam ente en ­ q u anto os servos d o rm iam nada te m a ver com esse cam po de trigo. Ele é u m invasor que não possui o m e n o r p u d m u a u A D if e r e n ç a e n t r e o J u s t o e o In ju s t o constrangim ento para invadir o cam po do S en h o r Jesus. P o r isso, é tratado na Bíblia de m o d o direto, co m o “seu in im ig o ” , isto é,in im ig o do d o n o do cam po (v. 25), ou de m o d o indireto, co m o “u m in im ig o ” (v. 28).Todavia, de um a fo rm a específica e direta, ele é id entificado co m o o “D ia b o ” (v. 39). É in im igo de tu do quanto se refere ao S en h o r Jesus, p o r isso não te m respei­ to, n e m p u d o r. Ele se infiltra n o m eio “ d os filhos d o R e in o ” , isto ,é. d o trigal. e sem eia ervas daninhas co m o in tu ito de pre­ j udicar a colheita final. D e certa form a existe um a trin d a de do b em e outra do m al q ue se o p õ e m entre si: o Pai e o m u n d o (1 Jo 2.15), o E s p írita e a carn e (G1 5.17), C risto e o D iab o (G n 3.15). N a verdade, o Inim igo sem eou n u m cam p o que não era seu. A inda que esse cam po perten ca ao Senh o r Tesus,“ o in im i­ g o ” (D iabo) sem pre procurará p ro d u zir ali o mal. Trigo é sím bolo de alim en to, n u trição e energia para as almas fam intas espiritualm ente. N o A ntigo Testam ento, o trigo era usado com o oferta no tem plo (Ed 6.9; 7.22). E ntre outros alim entos com o azeite, v in h o , sal e cevada, o trig o não p o d ia faltar p o rq u e esses alim entos representavam a provisão de D eus para,o povo: é sím bolo da provisão divina para os ho m en s (SI 81.16; 147.14). Jesus foi o sem eador p o r excelência q u e veio para sem ear a boa sem ente n o seu cam po. S e r v o s r e la p s o s N o versículo 25, Jesus declara que os servos. daquele rei foram relapsos co m suas responsabilidades de cuidado e vigi­ lância com o cam po sem eado. O tex to diz, literalm ente: “ mas, d o rm in d o os h o m e ns, veio o seu in im ig o , e sem eou o ioio no m eio do trigo, e retiro u -se” (M t 13.25). A Igreja está neste m undo com o guardiã do cam po plantado. N ã o pod e d o rm ir nem tosqueneiar. O ioio foi sem eado dg m o d o ocu lto pelo inim igo que percebera que os servos daquele rei agiram com 33 As P a r á b o l a s d e J e s u s irresponsabilidade e falta co m suas obrigações. Eles deveriam saber que o in im igo age furtivam ente. D O IS T I P O S D E S E M E N T E S (M t 13.24,25) D uas sem entes distintas, o trig o e o jo io são sem eados nes­ se cam po. O texto bíblico declara que “ o Filho do H o m e m ” foi q u em sem eou “ a boa sem en te” , o trigo, e “ seu in im ig o ” (o D iabo) sem eou o jo io n o m eio do trigo. Ojoio O que é jo io ? (v. 25) Existe u m gênero de plantas (,lo liu m p erten cen te à fam ília das gramíneas, tam bém identificada com o z i z a n i o n (grego) ou, na form a aportuguesada, c izâ n ia . É um a h erbácea parecida com o trig o no perío d o de fojjiagciru mas que m ostra a diferença n o p erío d o de floração e frutificação. O jo io (cizânia) é u m a espécie de erv ilha b rava, c o m folhas pinuladas e flores papilionáceas, às vezes, de cor a zu l-p u rp u rin o o u averm elhada, que n o p erío d o de m aturação do trig o logo é distinguida pela sua cor. E n q u an to as plantas (o trig o e o jo io ) são novas quase não se distinguem um a da outra, m as, depois de crescidas, não se c o n fu n d em mais (M t 13.39,40). D iz o tex ­ to que quand o os hom ens estavam “ d o rm in d o ” veio o inim igo e sem eou o jo io no m eio do trigo. A té que apareça a espiga não se percebe qualqu er diferença entre o trig o e o ioio. So­ m e n t e quand o surge a espiga, do trig o se percebe a diferença. pois “ o jo io ” produ z grãos pretos (ou verm elhos, e até azulados) e o trig o p rodu z grãos amarelos. E um a espécie de “ erva danin h a ” o u “trig o silvestre” , q ue te m em seus grãosju m a certa p orcen tag em de v e n en o. A ingestão do grão do jo io m isturado ao trig o poclc-provacar náuseas, vertigens e até convulsões. E interessante perceber_que_o j 0L0 surge similar-aq ram o do trigo A D if e r e n ç a e n t r e o J u s t o e o In ju s t o en quanto é novo, p o r isso o zelo que a Igreja deve te r co m os novos convertidos. N a co lh eita, o trabalh o de separação tem de ser feito co m cuidado, para se tirar do m eio do trig o to do grão falso. E im p o rtan te n o tar que o jo io é sem eado com o (rigo^jie tal fo rm a que, q u an d o se perceb e a distinção na m aturação do cam po, o trabalho de separação do trig o e do joio tem de ser feito individualm ente. N a visão d e C risto, a leparação do trig o e do j o io^será feita na consum ação dos sé1 ulos, n o Ju ízo F inal, quando os anjos d e D e u s serão os ceifeir ros_(Mt 13.39,40). ( ) tr ig o O trig o é u m a planta herbácea, da fam ília das gram íneas, >111e tem sua o rig em na região entre o M ed iterrân eo e o Irã, e i' cultivada em todas as terras tem peradas. A etim ologia dessa |>.i lavra deriva do latim , tritricum a e stiv u m , que significa “ herbái ca de verão” ; daí o fato de ser um a planta que é cultivada especialm ente em terras quentes. A planta te m fo rm ato cilín■li ico e ereto, folhas planas, espigas densas e cariopses ovóides, mlumescidas, tenras e farinosas.Jesus cham a a atenção dos seus discípulos para o cultivo do trig o e o devido cuidado que se deve ter com o m esm o. O trigo, pelas características nutritivas i protéicas, fornece dos seus grãos o am ido panificável c o n h e i ido com o “p ã o ” .Jesus, em sua parábola, faz um a m etáfora do )’i.io de trig o e o cham a “boa sem en te” e ainda, m etaforica­ m ente, explica aos seus discípulos que essa “boa sem e n te ” são "os filhos do R e in o ” (M t 13.38). N a parábola anterior, era a I ulavra do R e in o ” (M t 13.19), isto é, a Palavra de D eus. N esta IMi.íbola, “ a boa sem en te” pro d u z o resultado esperado p o r |i m i s , m ediante a receptividade, en te n d im e n to e obediência d i , pessoas que, ao receberem “ a b o a sem en te” em seus cora­ ções, tornaram -se “filhos do R e in o de D e u s” . 35 As P a r á b o l a s d e J e s u s O utrossim , o trigo é sím bolo de alim ento, n u trição e en er­ gia para os que têm fom e e sede de justiça, isto é, fom e e sede espiritual (M t 5.6). Jesus foi e ainda é “ o h o m e m que semeia boa sem ente n o seu p ró p rio c am p o ” (M t 13.24). N ós, os cris­ tãos, som os os sem eadores de nosso tem po, p o r isso ainda há sem ente n o celeiro de D eus para ser sem eada n o m undo. Jesus é o pão vivo do céu que p o d e m itigar a fom e espiritual dos fam intos (Jo 6.35,48-50). O TEM PO DA COLHEITA A colheita im plica esperança, paciência e fé de q u em la­ v rou a terra e sem eou. O apóstolo Paulo escreveu que “ o la­ vrador que trabalha deve ser o p rim eiro a gozar dos fru tos” (2 T m 2.6) e o apóstolo T iago reforçou ainda mais esse conceito de colheita quand o escreveu: “Eis que o lavrador espera o pre­ cioso fru to da terra, aguard and o-o co m paciência, até que re­ ceba a chuva tem p o rã e a serôdia” (Tg 5.7). Am bas as referên­ cias bíblicas indicam que a colheita é o resultado final de to do o tem p o de espera paciente para se desfrutar do fruto. N esta parábola (do jo io e do trigo), a m ensagem de Jesus tinha u m caráter escatológico de ju ízo porque falava da separa­ ção entre os bons e os maus, entre os justos e os injustos, entre o trigo e o jo io , e entre “ os filhos do R e in o ” e “os filhos do M alig­ n o ” (v. 38). Porém , duas perguntas são feitas pelos discípulos de Jesus que m ereceram respostas objetivas do M estre. D u a s p e r g u n ta s in te r e s s a n te s A prim eira pergunta está n o versículo 27: “ Senhor, não semeaste tu no teu cam po boa sem ente? P or que tem , então, jo io ? ” Esta prim eira perg u n ta dem onstrava a preocupação dos discípulos co m o fato de que “ o c am p o ” perten cia ao S en h o r e 36 A D if e r e n ç a e n t r e o J u s t o e o In ju s t o que o sem eador era o p ró p rio S en h o r que havia sem eado ape­ nas “a b o a sem en te” . P o r que, então, apareceu o jo io nesta semeadura? O ra, se o jo io era a representação do m al, tem os de adm itir que a existência do m al é inevitável. C o m o e n te n d e r e aceitar a existência do m al n o seio da igreja? C o m o co m p re­ ender a sua realidade n o m undo? A questão acerca do jo io e do trigo, nesta parábola, nos leva a u m dos mais profundos m istérios relacionados co m a questão “do b e m e do m al” . S em entrarm os na discussão desse tem a -—“ b e m e m al” — , a m ensagem da parábola é que “ o mal é um a realidade que se o p õ e a D eus. N ã o é um a pessoa p ro p ri­ am ente dita, p o r isso a idéia divulgada de que o D iab o é o próprio m al é falsa. O D iabo utiliza o m al para se o p o r a D eus. N o N ovo Testam ento percebe-se u m certo dualism o apresen­ tado pelos escritores, tais com o: reino de D eus e reino de Sata­ nás, luz e trevas, b e m e mal, verdade e m entira. E ntretanto , tem os de te r o cuidado para não personificar o D iab o com o o mal. D a m esm a form a, “ o b e m ” não é D eus, mas D eus é o criador do b e m e do mal, c o n fo rm e nos é dito em Isaías 45.7: "Ku form o a luz e crio as trevas; eu faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas essas coisas” . C o n tu d o , é necessário que se faça a devida interpretação acerca do “m al” a que se refere o profeta. M attew H enry, em seu C o m e n tá rio B íblico, tece o se­ guinte com entário: N ão há outro Deus senão Jeová. N ada pode ser feito sem Ele ou sem a sua aprovação. Ele ordena a paz e guia tudo para o bem ; cria o mal, não o mal do pecado, mas o do castigo. É o autor de tudo que é verdadeiro, santo, b o m e feliz; o mal, o erro e a m iséria entraram no m undo p o r sua permissão, através da voluntária apostasia de suas criaturas, mas estão restringidos e regidos p o r seus justos propósitos.1 37 As P a r á b o l a s d e J e s u s P ortanto, a existência d o m al é u m fato indiscutível. A ques­ tão filosófica e teológica da questão do “b e m e do m al” não cabe neste estudo, senão o de reco n h ecer que Jesus ensinou sobre este tem a distinguindo “ o b o m trig o ” e “ o m au jo io ” . O ra, naquele cam po de plantio o sem eador havia sem eado apenas “a boa sem en te” ; p o r que, então, surgiu, neste cam po, a “m á sem en te” ? A fo rm a singular da frase “boa sem en te” te m u m sentido coletivo porqu e se refere às sementes tiradas do bornal e lançadas na terra.T em os que conviver com este fato. N a igreja, o cam po foi sem eado com “boa sem en te” , mas nos deparam os constan­ tem en te co m “sem entes daninhas” que aparecem para envene­ nar a vida dos crentes. A hostilidade de Satanás contra a Igreja estará sem pre presente, p o r isso precisam os estar atentos c o n tras as suas astutas ciladas. A “boa sem ente são os filhos do R e i­ n o ” , os crentes sinceros e com p ro m etid os co m o R e in o de D eus, que representam o “ trig o ” sem eado. O “jo io ” , p o r sua vez, constitui-se “ dos filhos do M alig n o ” , isto é, todos aqueles que fazem a vontade de Satanás. Esse “in im ig o ” introduz, infiltra “ os seus filhos” no m eio da igreja, n o cam po de trigo, para envenenarem o trigal co m heresias e conceitos espirituais er­ rados. A segunda pergunta está no versículo 28: “ Q ueres, pois, que vam os arrancá-lo?” U m a vez que sabem os que o jo io é praga n o m eio do trigo tendem os a to m ar m edidas drásticas contra aquela praga. Jesus m ostrou a im paciência dos trabalha­ dores daquela seara que q u eriam de im ediato arrancar to d o o jo io . Q u e ria m lim par o cam po daquelas ervas daninhas, mas o “pai de fam ília” cham ou a atenção daqueles hom ens para dois fatos. P rim eiro, seria perda te n tar arrancar o jo io quand o ainda estivesse verde, pois nesta fase inicial de crescim ento da planta­ A D if e r e n ç a e n t r e o J u s t o e o In ju s t o ção, os dois são m u ito parecidos. A rrancar o jo io significaria o risco de arrancar tam b ém o trigo. Isto ilustra a existência do mal do jo io no m eio do trigal.Tem os de ter paciência e esperar o tem po p ró p rio de separar o verdadeiro do falso. As vezes, n o seio da igreja, há cristãos im pacientes com aqueles q u e não correspo ndem ao padrão de cristãos autênticos, mas Jesus nos exorta a que tenham os paciência co m os tais. C u id a d o c o m p r o c e s s o d e s e p a r a ç ã o d o tr ig o e d o j o i o A parábola nos m ostra que a ceifa (a colheita, a sega) deve acontecer no tem p o p ró p rio , quand o se fará a separação entre 0 trigo e o jo io . O senhor do cam po de trig o ensin ou aos seus trabalhadores que não se deve p recipitadam ente arrancar o jo io, mas disse-lhes: “D eixai crescer am bos ju n to s até a ceifa” (M t 13.30).A Igreja é constituída de pessoas hum anas e,inevitavel­ m ente, terem os de conviver co m pessoas boas e más, sinceras e 1 .ilsas, justas e injustas até o tem p o da ceifa. N ã o cabe à Igreja querer ex tirp ar aquelas pessoas que causam problem as ao seu progresso. N ã o po d em o s te r a im paciência de Jo ão e Tiago, que q u eriam que descesse fogo do céu para consu m ir os que rejeitavam a m ensagem de C risto (Lc 9.5 1,52).Tem os de co n ­ viver com o mal, p o r isso p od em os en te n d e r a oração sacerdoi.il de C risto pelos seus discípulos:“ ... não peço que os tires do m undo,m as que os livres do m al” (Jo 17.15).A prendem os com ( !risto que a colheita precipitada o u antes do tem p o devido é uma am eaça para o trigo. São dois elem entos e princíp ios que it ião de se desenvolver paralelam ente até a ceifa. O u tra verd ad e q u e deve ser destacada é q u e os ceifeiros ii,‘to são os h o m e n s, mas os anjos de D eu s (M t 13.3 9 ,4 1 ). N o te m p o p resen te, q u a n d o a p lan tação está crescen do, e ' n q u an to não ch eg ar a m aturação , u m a vez p erceb id a a exisIcncia do jo io , n ão deve h aver p re cip ita ç ão e in to le rân cia. 39 As P a r á b o l a s d e J e su s L am e n ta v e lm en te , a in to le râ n c ia e a im p a ciên cia para co m os cren tes p ro b lem á tic o s n o seio da igreja tê m p ro d u z id o gran d es p reju ízo s m orais e espirituais. M u ito s cristãos n o ­ vos acabam sendo e x tirp a d o s ju n ta m e n te c o m os p ro b le ­ m ático s. A disciplina c o rre tiv a é rec o m en d áv el para a lim ­ peza do cam po, mas a exclusão sem m ise ricó rd ia acaba des­ tru in d o ta m b é m o trig o (1 C o 5.4 ,5). O t e m p o p r ó p r io d a c e ifa P odem os in terp retar o versículo 30 em duas partes. A p ri­ m eira diz o seguinte: “D eixai crescer am bos ju n to s até à cei­ fa...” Sub tende-se que Jesus queria m ostrar que ao se extirpar o jo io do m eio do trig o corre-se o risco de cortar tam bém o trigo, p o r isso o S en h o r aconselha a deixarm os que am bos cres­ çam ju n to s até o tem p o da colheita final. E n q u an to a ram agem do trig o está nova e verde, é difícil p erceber a diferença co m o jo io p o rq u e se parece m u ito com o trigo naquela fase. S o m en ­ te na m aturação do trig o se perceberá a diferença entre ambos. A lição que aprendem os nesse conselho do S en hor deve ser aplicada na vida pastoral da igreja. N o seio da igreja sem pre aparece o jo io para prejudicar a vida do trigo. D evem os ter paciência e capacidade de suportar o falso, o hipócrita, o “faz de c o n ta” n o m eio do povo de D eus. As vezes, o S en h o r p e r­ m ite que o jo io esteja n o m eio do nosso cam po de trig o para que aprendam os a conviver sabiam ente. A segunda parte do versículo 30 diz: “ ... p o r ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: colhei p rim eiro o jo io e atai-o em m olhos para o queim ar; mas o trigo, ajuntai-o n o m eu celei­ ro ” . N a p rim eira parte, tem os de conviver co m o jo io até o tem po da ceifa e, na segunda, o M estre indica que o tem p o da colheita será na “ consum ação dos séculos” , isto é, no tem p o do Ju ízo Final de D eus. 40 A D if e r e n ç a e n t r e o J u s t o e o In ju s t o O que p o d em o s e n te n d e r p o r “ fim do m u n d o ” ? A pala­ vra m u n d o , n o c o n te x to dessa parábola, refere-se ao sistem a satânico q u e im p era na terra. M as chegará u m dia em que esse será desfeito e terá fim , para que se in icie u m nov o te m ­ po, o da p le n itu d e de D eus. Q u a n d o cheg arm os a esse tem po, então se fará a separação en tre o trig o e o jo io . O S e n h o r usa, mais um a vez, a linguagem figurada e m etafó rica para falar do processo de separação na co lh eita final. A d estru ição do jo io aco n tecerá o b e d e c e n d o ao seguinte processo: será c o lh i­ do separadam ente e atado em feixes para, finalm en te, ser lan­ çado na “ fo rn alh a de fo g o ” (M t 13.42). A lin g u ag em de ju íz o é figurativa, mas não desfaz a realidade. A “ fo rn alh a de fo g o ” é ilustrada para m o strar o estado final dos ím pios na G eena, o “lago de fo g o ” (Ap 21.8). P o r o u tro lado, a co lh eita d o trig o é feita de m o d o especial p o rq u e o S e n h o r o rdena aos ceifei­ ros que ju n te m to d o o trig o e o c o lo q u e m n o seu celeiro. N atu ralm en te, esse processo de separação aco n tecerá e m dois estágios e tem p o s distintos. P rim e iro será co lh id o e separado o trig o que representa os ju sto s, os fiéis, e depois, n u m a se­ gunda fase, n o final de tu d o , o jo io separado será atado em feixes e lançado n o “ fogo a rd e n te ” , q u e é o estado final dos ím pios. N a vinda do S en h o r Jesus, to d o o trig o (os salvos) será reco lh id o para os celeiros nos céus (1 Ts 4 .1 5 -1 7 ). A prendem os com esta parábola que tem os de conviver neste tem po presente co m a existência do mal, mas po d em o s viver com sabedoria, p ru d ên cia e firm eza na fé, sem nos deixar en ­ volver pelo mal. A prendem os tam b ém que o p o d e r m ilagroso do S en h o r p o d e transform ar jo io em trigo, pois tem os até o tem po da ceifa a o p o rtu n id ad e de ver esses m ilagres operados. Temos de aprend er que há tem p o para tudo, de sem ear e de colher, co n fo rm e está escrito na Bíblia: “ T udo te m o seu te m ­ po determ inado, e há tem p o para to d o o propó sito debaixo do 41 As P a r á b o l a s d e J e su s céu: há tem p o de nascer e tem po de m o rrer; tem p o de plantar e tem p o de arrancar o que se p la n to u ” (Ec 3.1,2). C o m e n tá rio B íblico de M a tth e w H e n ry . CPA D , R io de Jan eiro, 20 02, p. 593. 42 C a pít u l o 3 A Ex p a n s ã o d o R e in o d o s C éu s M a t e u s 1 3 .3 1 ,3 2 ; A t o s 2 .4 4 - 4 7 ; 1 2 .2 4 ; 1 9 .2 0 * A Igreja é o R e i n o de D e u s e x p a n d id o e p r o e m in e n te so bre a terra, revela do p o r J e s u s n o m isté rio p o d ero so d o c re scim ento e d e s e n v o lv im e n to do g rã o de m o sta rd a . A pregação de Jesus C risto em to d o o tem po de sua vida terrena teve p o r objetivo específico falar do R e in o dos céus. E m cada parábola havia elem entos da estrutura do R ein o , sua com ­ posição, vida interior, relações com o m u n d o exterior e exten­ são no m u n d o das criaturas.Várias parábolas, entre as quais, a do G rão de M ostarda, tratam de crescim ento e desenvolvim ento do R ein o de D eus na terra. Sua habilidade com a linguagem figu­ rada deu-lhe a autoridade de falar com profundidade teológica e filosófica, mas utilizando um a form a clara e acessível a qual­ quer pessoa, de qualquer grau de cultura. N esta parábola, em especial, Ele se volta para o m u n d o da botânica e usa a figura de um a pequena sem ente (grão) de m ostarda para ilustrar u m gran­ de R ein o , o dos céus. A o fazer essa comparação, Jesus fala de desenvolvim ento, crescim ento e expansão desse R ein o . P ortan­ to, o “grão de m ostarda” , quando sem eado na terra, sendo p e­ queno e dim inuto, te m a força in terio r para se desenvolver, cres­ cer e transform ar-se num a grande árvore. C risto confere um As P a r á b o l a s d e Je s u s to m poético e literal à descrição da mostarda e diz que ela to r­ na-se suficientem ente grande para abrigar até m esm o os pássa­ ros em seus ramos. N a verdade, a lição espiritual que esta pará­ bola nos dá é sobre a elevação, expansão e proem inência do R e in o de D eus na terra.Três pontos principais sugerem estudar­ m os esta parábola: a sem ente, a hortaliça e as aves do céu. A SEM ENTE DE M OSTARDA Se Jesus estivesse em nossos dias em carne e osso certa­ m en te Ele usaria os recursos m o d ern o s para ilustrar suas g ran ­ des verdades, que são eternas e nunca caem em desuso. N a q u e ­ les dias, Ele se voltou para as coisas próprias dos hábitos e cos­ tum es, b em com o dos valores m orais da época e, co m um a linguagem especial, ensinou verdades profundas que são os va­ lores que conhecem os em nossos tem pos m o d ern o s. A o utili­ zar figuras da vida física, anim al, botân ica e hum ana, Jesus agu­ ç o u o c o n h e c im e n to existente da época co m o ta m b ém a curisiodade das pessoas pelas novidades que apresentava. H á um a certa sim ilitude entre as parábolas do Sem eador, do Jo io e do Trigo, do G rão de M ostarda e do F erm en to. C ada parábola tem a sua interpretação própria, mas Ele falou dando um a har­ m o n ia q u anto às lições que queria ensinar. A inda que alguns in térpretes divirjam quanto ao ensino que cada parábola apre­ senta, tem os de reco n h ecer que o S en h o r foi u n ifo rm e em seus ensinos. Jamais em pregou um a figura co m dois sentidos diferentes. E m cada parábola há um a perfeita h arm o n ia na m ensagem final que Jesus queria ensinar. O g r ã o d e m o s t a r d a (v . 3 1 ) A m ostarda é u m a palavra de o rig e m egípcia, sin a p is , que aparece esp ecialm en te nos três p rim eiro s E vangelh os, 44 A E x pa n s ã o d o R e in o d o s C é u s p o r q u atro vezes (M t 13.31; 1 7 .2 0 ;M c 4 .3 1 ;L c 13.10; 17.6). Jesus u tiliza a m o stard a c o n h e c id a n a P alestina c o m o s in a p is nigra e s in a p is alb a . Esses dois tipos de m ostarda, a n e g ra e a branca, são sem en tes p e q u e n in as. N o s dias de Jesus, era a s in a p is nigra, o u seja, a m o stard a n eg ra, q u e era a m ais c o ­ n hecida c o m o um a hortaliça. O ra, um a ho rtaliça é u m a plan­ ta h erb ác e a q u e p ro d u z sem en tes, as quais, d epois de tr itu ­ radas, serv em de te m p e ro para co m id a. E ra u m a p lan ta que, q u a n d o em te rra fértil, p o d ia crescer ra p id a m e n te até cerca de três m etro s e m eio. E m seus ram os esten d id o s, as aves do céu p o d ia m a n in h ar-se. A liç ã o d o s c o n tr a s te s Essa era a lição q u e Jesus q u e ria ensinar: a dos contrastes. O q u e significa co n tra ste ? S ignifica “ o grau m arca n te de d i­ ferença o u de opo sição e n tre coisas da m esm a n a tu re z a ” (D ic io n á rio H ouaiss). N esta p arábo la, Jesus u tiliza -se dessa fo rm a de ilustração para m o stra r as diferenças de valores en tre as coisas do re in o desse m u n d o e do R e in o de D eus. D e u m m o d o especial, os co n trastes in te rn o s e e x te rn o s da planta da m o stard a ap resen tad o s nesta paráb o la in d ic a m o p o d e r m isterio so do d im in u to grão dessa p lanta. P elo fato dessa h o rta liça p ro d u z ir tão p e q u e n in as sem entes, Jesus q u e ­ ria q u e seus discípulos e n te n d e sse m q u e u m a se m e n te tão p e q u e n a era capaz de p ro d u z ir u m g ra n d e resultado. A p a r­ tir de u m c o m e ç o o b scu ro ch eg a-se a u m final s u rp re e n ­ d en te. N a realidade, “ a m e n o r de todas as se m e n te s” e a “ m aio r das p lan tas” fo rm a m u m c o n tra ste d e n tro da p ará­ bola, q u e so m e n te nos é possível c o m p re e n d e r c o m u m a visão espiritual. A o p eraç ã o d ivina é o e le m e n to q u e p ro ­ m ove o c re sc im en to do R e in o de D eu s. E m v irtu d e do d i­ m in u to ta m a n h o e peso do grão de m ostarda, o R e in o de 45 As P a r á b o l a s d e Je s u s D e u s (a Palavra) surge do nada para to rn a r-s e tu d o o que o p o d e r de D eu s p o d e fazer. A Igreja, c o m o u m grão de m o s­ tarda, p e q u e n in o e p o u c o n o ta d o de in ício , foi capaz de s u rp re e n d e r o m u n d o c o m a sua vida dinâm ica. P o d e-se c o m p a ra r esse sucesso do grão de m o stard a à fé nascida n o coração de um a pessoa capaz de su rpreen der, p o ste rio rm e n te , c o m u m a g ran d e o b ra em favor do R e in o de D eus. O p o d e r m is t e r io s o d a fé C erta feita, Jesus estava rodeado de um a grande m ultidão carente e curiosa pelos seus milagres quand o aproxim ou-se u m h o m e m , pai desesperado pelo estado espiritual e físico de seu filho, e p ed iu -lh e que o curasse (M t 17.14-21). S egundo o relato de M ateus, os discípulos não conseguiram libertar o ra­ paz. U m sentim ento de frustração e derrota d o m in o u o cora­ ção daqueles discípulos. Jesus não apenas curou e lib erto u o rapaz de um a casta de dem ônios que o escravizara até então, mas aproveitou o ensejo para dar u m a lição aos seus discípulos. Perguntaram -lhe: “P or que não p ud em os nós expulsá-lo?” Je sus, de fo rm a objetiva e direta, respondeu-lhes: “P or causa da vossa p eq u en a fé; p o rq u e em verdade vos digo que, se tiverdes fé com o u m grão de m ostarda, direis a este m o n te: Passa daqui para acolá — e há de passar; e nada vos será im possível” (v. 20). A o usar a figura do “grão de m ostarda” , Jesus quis dem onstrar o p o d er m isterioso e qualitativo da fé. A dificuldade dos discí­ pulos para curar e libertar aquele jo v em e n d em o n in h ad o deu a Jesus a o p o rtu n id ad e não só de curar aquele pob re h o m em , mas acim a de tudo, de m ostrar-lhes que a fé é algo m isterioso e poderoso quando exercida na devida proporção. A o m esm o tem po, a figura do “ grão de m ostarda” é usada pelas caracterís­ ticas misteriosas e poderosas de aparecer do nada e operar gran­ des coisas. 46 A E x pa n s ã o d o R e in o d o s C é u s E s tr a té g ia s e s p ir it u a is v e r s u s e s t r a t é g ia s m a t e r ia is O m ercado evangélico está repleto de interessantes livros que oferecem m étodos de crescim ento da igreja na terra. Esses m étodos têm a sua im portância, mas te n d e m a fugir dos p rin ­ cípios naturais estabelecidos na Bíblia para u m crescim ento equilibrado em quantidade e qualidade. A visão m ercadológica de crescim ento não vê a Igreja na ótica de C risto. P or m elh o ­ res que sejam as idéias, os planos, as discussões de conceitos e de m a rke tin g em presarial para fazer um a igreja crescer, não p o ­ dem o m itir o elem ento fundam ental do verdadeiro crescim ento da Igreja que é o espiritual. A Igreja é mais que u m co n g lo m e­ rado de pessoas em to rn o das d ou trinas cristãs; é mais que u m m ero g ru p o social. A Igreja, a despeito de ser constituída de pessoas hum anas, é u m projeto de D eus apoiada e sustentada p o r Ele. L am entavelm ente, m uitos líderes evangélicos se deixaram em b eb er c o m estas novidades para suas igrejas e as dirigem com o empresas. E ntretanto , a falta de fé é típica desse tipo de liderança que abandona os princípios vitais do N o v o Testa­ m en to para abraçar to d o tipo de novidade. A credito que o evangelho é p o d er de D eus suficientem ente capaz e su p erio r a to da e qualq uer idéia hum ana de cresci­ m ento (R m 1.16). N ã o há neste co n ceito pessoal n e n h u m re­ trocesso, tam p o u co qualquer resquício de legalism o atrofiante. Não! P orém , creio que os m éto d o s n eo testam en tário s não p o d em ser relegados p o r m étodos tem porais de hom ens. P re ­ cisamos, sim, renovar a fé e to rn á-la m enos racionalista e mais racional e espiritual.V ejo certa distância entre ser racional e ser racionalista. O cristão racional avalia as coisas de D eus p o r um a perspectiva bíblica e inteligente. O cristão racionalista avalia as coisas espirituais relegando-as ao m ero c o n h ecim en to intelec­ tual da verdade. O apóstolo Paulo declarou que “ o h o m e m 47 As P a r á b o l a s d e J e s u s natural não com p reende as coisas do E spírito de D eus, porqu e lhe p arecem loucura; e não pode entendê-las, p o rq u e elas se discernem espiritualm ente” (1 C o 2.14). O ra, o p o d er m isteri­ oso da fé só é possível aos que a recebem e a exercitam em sua vida cristã. A visão que C risto d eix o u -n o s é a do “ grão de m ostarda” e o seu p o d er m isterioso de crescim ento sem q ualq uer esforço hum ano. A estratégia divina para o crescim ento da igreja difere das estratégias hum anas baseadas em esforços hum anos. O após­ tolo Paulo descreveu o crescim ento do cristão com o u m p ro ­ cesso pelo qual a Igreja toda cresce. E m Efésios 4.15, ele regis­ trou: “ seguindo a verdade em caridade, cresçam os em tu d o naquele que é a cabeça, C risto ” . D epreen d e-se desta escritura tanto o crescim ento do cristão (individualm ente) com o o da Igreja (coletivam ente).Trata-se de um crescim ento m edian te o desenvolvim ento da m aturidade espiritual e do com p ortam ento cotidiano (E f4.12-14). O c a m p o d e s e m e a d u r a (v . 3 1 ) U m “ c am p o ” não fica nun ca em lugares altos e cheios de elevações físicas. U m cam po de plantio é sem pre u m lugar extenso e plano. N as terras do O rie n te M édio existem poucos cam pos de plantio e os existentes são aproveitados ao m áxim o para o plantio de grãos. N o caso da m ostarda, a terra não tinha de ser, obrig ato riam en te, u m lugar plano, com o se faz necessá­ rio para o plantio do trigo, cevada e aveia, p o r exem plo. H á u m p e q u e n o detalhe nesta parábola que deve m erecer a nossa apreciação. Está descrito “ que u m h o m em , pegando dele [do grão de m ostarda], sem eou n o seu cam p o ” . O p ro n o ­ m e possessivo “seu” indica que aquele cam po não era u m cam po alheio, de o utrem , mas p erten cia ao sem eador. A sem ente foi semeada no “seu cam po” (v. 31). O s outros Evangelhos Sinóticos 48 A E x pa n s ã o d o R e in o d o s C é u s lem braram a m esm a parábola: M arcos escreveu que a sem ente foi sem eada“ na te rra ” (M c 4.31), e Lucas disse que foi sem eada “na sua h o rta ” (Lc 13.19). Estas pequenas diferenças são apenas de linguagem dos autores, p o rq u e a verdade que Jesus queria ensinar foi m antida na sua integridade. Se foi n u m cam po, ou na terra, o u num a horta, não tem os de forçar os detalhes de linguagem , pois tê m o m esm o sentido. U tilizando a linguagem de M ateus, “ o c am p o ” é, sem dúvida, o do m u n d o ; o m esm o das parábolas sim ilares. P o d em o s e n te n d e r q u e a sem en te sem eada n o m u n d o n o dia de Pentecostes foi peq u en a e insig­ nificante (“ quase cento e vinte pessoas” —, A t 1.15,16), mas poderosa. E ntão, rep entinam ente, cresceu o n ú m ero de discí­ pulos (At 2.14,37-41) para quase três m il almas. A liç ã o d o c r e s c im e n to N ão parece que Jesus estivesse preocupado em falar de cres­ cim ento n u m érico , mas, sim, reu n ir os dois elem entos funda­ m entais para se avaliar o crescim ento do R e in o de D eus. Esses dois elem entos são, essencialm ente, o quantitativo e o qualita­ tivo. O crescim ento da hortaliça da m ostarda indica que Jesus queria que “ o R e in o dos céus” , representado pela sua Igreja na terra, tivesse u m crescim ento baseado não em valores m ateri­ ais, mas em valores espirituais. A instituição do discipulado em M ateus 28.19,20 diz:“ Ide, p o rtanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em n o m e do Pai e do Filho e do E spírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos te n h o ordenado. Eis que estou convosco todos os dias até a consum a­ ção dos séculos” . H á um a relação dessa ordenança co m o dese­ jo de C risto no sentido de ver sua Igreja crescer. O c u m p ri­ m ento da G rande Com issão foi o segredo dos discípulos, apren­ dido, sem dúvida, entre outras coisas, c o m o ensino dessa pará­ bola do grão de m ostarda. 49 As P a r á b o l a s d e J e su s N essa lição Je su s destacou a qualidade desse grão capaz de esconder em seu m inúsculo in te rio r um a força descom unal para to rn ar-se um a grande árvore. A prendem os, tam bém , que o crescim ento do R e in o de D eus é centrífugo, isto é, parte de dentro para fora, e pela sua força íntim a o reb en to parte para fora co m crescim ento à vista. O tam anh o é d im in u to (um grãozinho), mas o p o d er é im enso, capaz de transform ar um a sem ente p eq u en a em um a grande árvore. A G R A N D E ÁRVORE O tex to d iz,lite ralm e n te :“ ...m as, crescendo, é a m aior das plantas e faz-se um a árv ore” (M t 13.32). Lucas descreveu assim :“ ... e cresceu e fez-se grande árv ore” (Lc 13.19). O s b o tâ­ nicos dizem que as hortaliças são plantas que p o d e m adquirir aparência de árvores, mas são plantas com p letam ente diferen­ tes das árvores. Porém., Jesus, a despeito da linguagem quase que hiperbólica utilizada para ilustrar a hortaliça da m ostarda, teve p o r objetivo fazer com paração. Aforma de crescimento O crescim ento de um a árvore é lento e progressivo, mas o de um a hortaliça, neste caso a m ostarda, se desenvolve rápido e, geralm ente, é de pou ca duração, p o rq u e esta vive apenas o su­ ficiente para pro d u zir flores e sem entes. P orém , quand o Jesus com para o R e in o de D eus a um a hortaliça de m ostarda, sugere u m desenvolvim ento to talm ente alheio à sua natureza e cons­ tituição. P or esta razão, alguns intérpretes preferem não co m ­ parar o crescim ento da Igreja ao da m ostarda. E ntretanto , o ensino básico e fundam ental dessa parábola é m ostrar que, in ­ dep en d en te da form a rápida e m isteriosa de desenvolvim ento do grão de m ostarda, “ o R e in o de D e u s” (a Igreja) su rp reen ­ deria o m u n d o co m sua expansão e proem inência. A E x pa n s ã o d o R e in o d o s C é u s A s a m e a ç a s a o c r e s c im e n to N as parábolas similares anteriores a esta, aparece o cam po de plantio, e em cada u m desses cam pos havia problem as típi­ cos de solos e sem entes. Esses problem as de recepção, absorção e desenvolvim ento do cam po são típicos daqueles que rece­ b e m a Palavra de D eus. C ada problem a tinha de ser encarado com diligência e paciência da parte do ag ricu lto r (1 C o 3.8). N o sentido geral, a Igreja é o grão de m ostarda sem eado no m u n d o e esse grão desenvolveu-se e cresceu e to rn o u -se um a grande árvore. D ois m il anos se passaram e a Igreja expandiu se em toda a terra. O cam po representa o lugar onde foi semeada a Igreja de C risto. Esse cam po p o d e ser in terp retad o de dois m odos: com o “m u n d o físico” , ond e vivem os, e com o o “m u n d o espiritual” . Esse últim o sistema é invisível e age n o m u n d o das criaturas. C onsiderando essa palavra pela perspectiva espiritual, a Bíblia identifica o “m u n d o ” com o u m sistema de co m an d o satânico em que os dem ô nios agem para deter o crescim ento da Igreja de C risto. João, o apóstolo, disse que “ sabemos que som os de D eus e que to d o o m u n d o está n o m alig n o ” (1 Jo 5 .1 9 ).Vive­ m os neste m u n d o (físico e espiritual) com o Igreja e nele nos deparam os co m dois oponentes: a carne e o D ia b o , os quais se in cu m b e m de criar todas as dificuldades possíveis ao desenvol­ v im en to do R e in o de D eus. São agentes satânicos co n tra C ris­ to e sua Igreja. João escreveu em sua p rim eira epístola: “P orque tu d o o que há no m undo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do m undo. E o m u n d o passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de D eus perm an ece para sem pre” (1 Jo 2.16,17). Essa escritura revela que o D iabo te m sob o seu sistema três ele­ m entos com andados p o r seus agentes para infectarem os cris­ 51 As P a r á b o l a s d e J e su s tãos e, p o r esse m odo, im p ed ir o seu crescim ento. O antagonis­ m o do “ m u n d o ” contra a Igreja de C risto é um a represália de Satanás para reb ater a m ensag em insistente de João: “ Filhinhos, não am em os o m u n d o ” , no que se inclui, não só negar nosso afeto ao que é m undano, mas a separação de tu d o o que o m u n d o oferece. O ra, se sabemos que “ o m u n d o ” é u m sistema diabólico que se o p õ e a D eus, devem os nos m an ter fiéis à sua Palavra. Esse sistema espiritual diabólico explora os elem entos da nossa natureza hum ana pecam inosa para nos lançar contra D eus, entre os quais, a “ concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida” . Esses elem entos corrosivos estão sob o d o m ín io do E spírito Santo na vida do cristão e som ente serão efetivos se nos deixarm os enganar pelo pecado. A p rim eira classe de incentivo do “ espírito do m u n d o ” é à “ concu p iscên cia da c a rn e ” . A palavra concupiscência te m sua o rig e m na língua grega, e p ith u m ía , e q u e r dizer: “ desejo in co n tin en te, forte, in con trolável” . O s agentes dem oníacos se prestam a incentivar nossa carne, o u seja, os “ desejos próprio s da c arn e” relacionados com o com er, beber, sexo e outras coi­ sas mais. Esses desejos não são naturais, mas incontroláveis e c o n d u zem a pessoa a glutonarias, bebedices, adultérios, prosti­ tuições e abusos. Q u an to aos “ desejos incentivados pelos olhos” são os pecados da atração dos olhos, e “a soberba da vida” está relacionada com a busca de ostentação pela opulência, em que a pessoa perde o b o m senso, e para ter posse de coisas que satisfaçam sua vaidade pessoal é capaz de praticar loucuras. O ra, esses elem entos são nocivos ao crescim ento individual do cris­ tão e, autom aticam ente, afetam o crescim ento do C o rp o de C risto, a Igreja. Assim com o nas parábolas anteriores havia obstáculos ao desenvolvim ento das sem entes semeadas, na Parábola do G rão A E x pa n s ã o d o R e in o d o s C é u s de M ostarda, aprendem os que em to d o u m cam po o n d e é sem eada a boa sem ente aparecem tam b ém as más sem entes. D o p o n to de vista escatológico, aprendem os que n o final de tu do haverá a separação entre o falso e o verdadeiro, entre o trig o e o jo io . O s falsos cristãos serão separados dos verdadeiros cristãos pelo p o d e r do evangelho (M t 13.39-43). Q u e s i g n i f i c a e s s a “ g r a n d e á r v o r e ” ? (v . 3 2 ) Todos sabemos que a m ostarda é um a hortaliça que pod e crescer até um a altura de três a quatro m etros. Ela existe, espe­ cialm ente, no vale do Jordão. R azão pela qual Jesus usou a figura da m ostarda para falar em parábolas. A inda que alguns intérpretes discordem da idéia básica do significado dessa “ár­ vore” , ela pod e representar cada crente em particular, mas a idéia principal é a de que represente to d o o c o n ju n to que com p õe a Igreja na terra. E m síntese, um a árvore cham a a aten­ ção p o rq u e se to rn a visível aos olhos hum anos. C ada salvo em C risto constitui-se parte da Igreja invisível, mas de m o d o geral a igreja visível p o d e ser esta árvore sobre a qual, em seus ram os, os pássaros p o d em aninhar-se. S egundo o C o m e n tá rio Bíblico P entecostal, da CPAD, os autores co m en taram o seguinte: “A referência à árvore indica u m im p ério em expansão (e.g., Ez 17.23; 31.3-9; D n 4.10-12); os pássaros representam as nações do im p ério (D n 4 .2 0 -2 2 )” . AS AVES D O CÉU O texto diz: “mas, crescendo, é a m aio r das plantas e faz-se um a árvore, de sorte que vêm as aves do céu e se an in h am nos seus ram os” (v. 32). Alguns intérpretes en te n d e m que essas “ aves do c é u ” sim bolizam Satanás e seus poderes insidiosos contra a Igreja. O fam oso exegeta bíblico H e rb e rt Lockyer, em seu li- 53 As P a r á b o l a s d e J e s u s vro sobre parábolas, escreveu: “ ...sustentam os, pois, que a s‘aves do c é u ’ não representam hom ens e nações, e sim o mal, isto é, Satanás, o príncipe da potestade do ar (E f 6.12), que tem o b ­ servado em segredo co m o se tem estendido o R e in o desde o seu p e q u e n o início até seu grande desenvolvim ento atual” . E ntretanto , a despeito dessas interpretações negativas acerca do que representam essas “ aves do céu ” , prevalece aquela, a qual o “ grão de m ostarda” significa o triu nfo rápido e final do evan­ gelho, e as “ aves do c é u ” passam a ter u m sentido positivo de proteção e refúgio à som bra dessa grande árvore. O fam oso expositor bíblico T rench in te rp re to u que “ as aves são um a profecia de refúgio e defesa que deve haver para todos os hom ens na igreja” .Jesus não p reo cu p o u -se em deta­ lhar a interpretação dessa parábola, p o rq u e preferia destacar a verdade principal do seu ensino e não os detalhes pitorescos de um a parábola, que são, às vezes, apenas u m m o d o de dar beleza e estética à história. O que vale é a sua aplicação clara, visto que a lição básica que Jesus queria transm itir aos seus discípu­ los era sobre o crescim ento da Igreja n o m undo. Ele deixou claro que era a partir do seu p e q u e n o com eço com o u m “ grão de m ostarda” que a Igreja cresceria até alcançar a altura de um a árvore. As “ aves do c éu ” p o d em não ter, o brig atoriam ente, um a interpretação específica. Parece-nos que essas “aves do c é u ” fazem parte apenas da com posição da parábola, sem n e n h u m significado especial. N u m certo sentido, elas p o d e m significar apenas a representação daqueles que p o d e m se abrigar nessa grande árvore (M t 6.26; D n 4.10-12). C a p ít u l o 4 C r is t o , O T e s o u r o In c o m p a r á v e l M a t e u s 1 3 .4 4 - 4 6 ,5 1 - 5 4 A Igreja e o R ein o se entrelaçam, se fundem, porqne expressam a essência do amor de Deus. Várias parábolas tiveram apenas um ou dois versículos e esta, a do Tesouro Escondido, é um a delas. A despeito do resum ido conteúdo, sem m uitos detalhes, esta parábola é rica em sua m en ­ sagem. É um a parábola sem paralelos p o rq u e não se en co n tra nos demais livros sinóticos do N ovo Testam ento. C o m o Jesus era especialista em parábolas e preferia ensinar através das m es­ mas (M t 13.34), não lhe era difícil falar p o u co co m m u ito c o n teú d o espiritual. Era costum e dos povos antigos, especial­ m en te do O rie n te M édio, esconder m oedas, obras de m etais preciosos em lugares escavados na terra, p o r causa das guerras e p o r outras circunstâncias que lhes dava a segurança de não se­ rem roubados ou saqueados. A lição básica de Jesus não era dar u m sentido do p orqu ê das pessoas esconderem seus tesouros na terra, mas era, essencialm ente, o de m ostrar o que u m hom em * pode fazer quando en co n tra u m tesouro escondido. O R e in o de D eus é tão desejável que, quando u m h o m e m o enco ntra, é capaz de sacrificar-se para não perder aquele tesouro. As Pa r á b o l a s d e J e s u s O R E IN O DOS CÉUS O tex to diz literalm ente que o “ R e in o dos céus” é com p a­ rado a “u m tesouro escondido n u m c am p o ” (v. 44), en q u an to que, na outra parábola, o “R e in o dos céus” é com parado “ ao h o m e m neg o cian te” que busca boas pérolas. H á um a certa di­ ferença na com paração à despeito da sim ilaridade das duas pa­ rábolas. N a prim eira, o R e in o dos céus é com parado a “ u m teso u ro ” e na seguinte, o R e in o dos céus é com parado a “u m h o m e m ” . U m antigo c o m en tad o r bíblico escreveu o seguinte no ano de 1940: “ O R e in o dos céus é u m estado de coisas proveniente do do m ín io das doutrinas e dos princípios da re­ ligião de C risto sobre a vida e a consciência dos hom ens, e da infusão em seus corações e im plantação é sem elhante a um a sem ente, e quanto ao m o d o do seu crescim ento e desenvolvi­ m en to é sem elhante ao grão de m ostarda, e sem elhante ao ferm en to quanto ao alto valor dos seus benefícios o u de seus resultados práticos, quanto ao ardor do e m p en h o co m que es­ tes são procurados, é sem elhante “ a u m tesouro escondido no c am p o ” . H á d ife r e n ç a e n tr e “ R e in o d o s c é u s ” e “ R e in o d e D e u s ” ? A o lo ngo da história da Igreja e da form ação do c o rp o de doutrinas cristãs, essa questão do “R e in o dos céus e R e in o de D e u s” te m sido discutida. A lguns teólogos não v êem qualq uer distinção. E ntretanto , outros sustentam que, pelo fato de os Evangelhos de M arcos e Lucas usarem a m esm a fraseologia: R e in o de D eus, e som ente M ateus em pregar a term in o lo g ia R e in o dos céus, então, os dois reinos são u m e o m esm o. P o ­ rém , outros estudiosos destrinch am a m atéria e e n ten d em que as diferenças são mais im portantes que as similaridades de ambas as term inologias. A lguns v êem o “R e in o de D eu s” com o algo C r is t o , o T e s o u r o In c o m pa r á v e l in teiram en te relacionado co m a soberania divina e o seu d o ­ m ínio sobre todas as coisas criadas. O u tro s v êem o “ R e in o dos céus” com o u m reino escatológico e m essiânico relacionado com o futuro de Israel, quando o Messias se assentará n o T rono de Davi. Am bas as suposições são aceitáveis; p orém , não deve­ mos dogm atizar essa diferença para evitar contradições. A es­ sência das duas term inologias, R e in o dos céus e R e in o de D eus, é a m esm a p o rq u e falam do d o m ín io do ún ico D eus verdadei­ ro expressando-se em dimensões distintas. A cim a nos céus, onde D eus habita, e em baixo (sob) dos céus, ond e D eus dom ina sobre toda a criação, prevalece o fato de que Ele é D eus sobre tu d o e todas as coisas e co n ced eu esta glória ao Filho, Jesus C risto (Cl 1.13-18; Fp 2.6-11). H á s im ila r id a d e o u n ã o e n tr e R e in o d e D e u s e R e in o d o s céu s? O que im p o rta nesse estudo das sim ilaridades o u não, é que o reino, in d e p e n d e n te se a te rm in o lo g ia é dos céus o u de D eus, in d iscu tiv elm en te é algo espiritual que vem de cim a. A visão do R e in o que Jesus qu eria am pliar na m e n te dos seus discípulos era a visão da m anifestação da soberania divina na terra e identificada na vida dos cristãos. A relação do “ re in o ” co m o n o m e de “D e u s ” (R e in o de D eus) indicava o quê Jesus qu eria deixar im p lan tad o n o coração dos seus discípu­ los — o re c o n h e c im e n to de que Ele, o Senhor, é o ú n ico D eus a q u e m devem os adorar, servir e obedecer. O m u n d o precisa ver D eus na vida dos cristãos, e isso significa estar sob o d o m ín io do R e in o de D eus. A utilização do te rm o R e in o dos céus p o r M ateus indicava que o céu está acim a de nossas cabeças e o rein o se m anifesta de cim a para baixo. A lguns teólogos p referem in te rp re ta r a expressão co m o algo relacio­ 57 As P a r á b o l a s d e J e s u s n ado co m o R e in o m essiânico desejado e esperado pelo povo de Israel até o dia de hoje. Esse reino p o d e ser conceb ido com o existente n o céu, ou então no coração dos hom en s regenerados. O s rem idos co m ­ p õ e m o R e in o de D eus. A Igreja seria a coletividade form ada p o r esses rem idos, “ nos céus e na te rra ” . Som os a expressão desse reino n o m u n d o em que vivem os. A au torid ad e régia de C risto, co m o R e i dos reis, é m anifestada n o testem u n h o de cada cristão. O CA M PO O N D E ESTÁ E S C O N D ID O O T E SO U R O O texto diz literalm en te:“ ... o R e in o dos céus é sem elhante a u m tesouro escondido n u m c am p o ” (v. 44). S ubtende-se que esse “ c am p o ” refere-se ao “m u n d o ” habitado, e o “tesou ro ” , q ualq uer que seja, está escondido neste cam po. E xistem várias interpretações aceitáveis que p o d e m m erecer a nossa apreciação. Para uns, o cam po é a Bíblia Sagrada, p o rq u e ela é a reve­ lação de D eus, na qual se p o d e en co n trar preciosos tesouros que e n riq u ecem a vida espiritual dos que a lêem . O u tro s e n ten d em que o cam po representa a Igreja visível, externa, e o tesouro representa a Igreja invisível e espiritual. U m a outra interpretação diz que “ o c am p o ” é Israel, nação adquirida p o r D eus. Todas estas interpretações são interessan­ tes, mas deve prevalecer a que te m m aior consenso entre os expositores bíblicos. A in te rpretação m ais aceitável entre os teólogos é que o cam po represen ta o m u n d o dos h o m en s. Foi este m u n d o dos. hom ens, c riado p o r D e us, q u e co rro m p eu -se co m o pecado, que Ele planejou salvar através do seu Filho. Está escrito que 58 C r is t o , o T e s o u r o In c o m pa r á v e l “ oV erbo se fez carne e h ab ito u entre nós, e vim os a sua glória, com o a glória do U n ig ên ito do Pai, cheio de graça e de verda­ d e ” (Jo 1.14). A o falar para u m h o m e m desejoso de en co n trar o tesouro de sua vida, cham ado N ico d em o s, Jesus disse: “ Por­ que D eus am o u o m u n d o de tal m aneira que deu o seu Filho unigênito, para que to d o aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida e te rn a ” (Jo 3.16). P ortanto, o cam po o n d e estava esse tesouro é o m u n d o que tan to D eus am ou. Q ue hom em é este? O te x to g en eraliza esse h o m e m , isto é, não lh e dá n o m e algum , n e m o id en tifica c o m o u tro h o m e m de seu tem p o . Jesus apenas diz e m sua paráb o la q u e “ u m h o m e m a c h o u e e sc o n d e u ” . Q u e h o m e m p o d e ser este? N as parábo las a n te ­ riores, Jesus id en tific a o “ h o m e m ” c o m o aq u ele q u e “ se­ m eia a se m e n te ” e, de m o d o in d ire to , sugere ser E le m esm o este h o m e m . Porém , na Parábola, do Tesouro Escondido, “o h o m e m ” é m elhor identificado com o pecador que encontra a Cristo, “o tesouro ” m aior que alguém pode encontrar na vida. Paulo, o escritor n e o testam en tário que m e lh o r soube desenvolver a cristologia, deu testem unho pessoal do seu encontro co m C ris­ to, e p o r ele avaliou com o perda todas as demais coisas para tom ar posse de C risto com o seu tesouro achado. Escrevendo aos lilipenses ele declarou: “Mas o que para m im era ganho reputeio perda p o r Cristo. E, na verdade, ten h o tam bém p o r perda to ­ das as coisas, pela excelência do conhecim ento de C risto Jesus, m eu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas e as considero com o esterco,para que possa ganhar a C risto” (Fp 3.7,8). N o Brasil existem regiões ricas em m inérios co m o ouro, diam antes, esmeraldas e outras pedras de valor. N ã o faz m uito leinpo, nas últim as décadas do recente século passado, na fa­ 59 As P a r á b o l a s d e J e su s m osa Serra Pelada, situada na região am azônica, m ilhares de hom ens subm etiam -se a grandes sacrifícios físicos e m ateriais para cavarem aquela terra e descobrirem ouro. M u ito ouro foi enco ntrado, mas houve, tam bém , m uita frustração, p o rq u e n em todos os hom ens e m ulheres que se aventuraram em tal em ­ preitada conseguiram en co n trar ouro suficiente para ficarem ricos. O s que mais en riq u eceram foram os donos das terras garim padas. N a Parábola do Tesouro E n contrado, aquele h o ­ m em , ao descobrir o tesouro, com p ro u o cam po o qual estava escondido. O T E SO U R O E S C O N D ID O Para alguns intérpretes o tesouro é Israel, p o r causa do tra­ tam en to que a Terra Santa sem pre recebeu em relação a D eus (Êx 19.5; D t 7.6; 14.2; SI 135.4; Is 62.1; J r 31.1-3). O u tro s vêem “ o teso u ro ” com o sendo a “ Igreja” . S egundo H . L ockyer,“ é difícil conciliar a idéia de que a verdadeira Igre­ ja seja o tesouro escondido que C risto en co n tro u (e que deu tu d o de si para adquirir) co m o fato de que a Igreja de C risto foi eleita p o r D eus antes da fundação do m undo, e que C risto está relacionado co m tal escolha” . Paulo escreveu aos efésios: “ C o m o tam b ém nos elegeu nele antes da fundação do m undo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em cari­ dade, e nos predestinou para filhos de adoção p o r Jesus C risto, para si m esm o, segundo o beneplácito de sua vontade, para lo uvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no A m ad o ” (E f 1.4-6). H á, tam bém , os que v êem o tesouro com o a m anifestação presente e im an en te do R e in o de D eus, no sentido do d o m í­ nio estabelecido na vida secular. E m u m sentido mais específico, o en ten d im en to mais plau­ sível acerca desse tesouro é que, se o R e in o dos céus significa 60 C r is t o , o T e s o u r o In c o m pa r á v e l sua m anifestação visível no m undo, C risto é a expressão m áxi­ m a dessa m anifestação. D iz a Palavra de D e u s:“Ele nos tiro u da potestade das trevas e nos tran sp o rto u para o R e in o do Filho do seu a m o r” (C l 1.13). Q u a n d o o p ecad o r recebe a C risto em sua vida pessoal está, na verdade, en co n tran d o e receb en d o o R e in o de D eus em sua vida (Jo 5.39). C risto é, p o rtan to , o tesouro de valor incalculável que deve ser buscado acim a de tu d o (R m 12.1). O texto bíblico, usando a expressão “ te so u ro ” m etaforicam ente, deixa claro ser o p ró p rio R e in o dos céus o tesouro. E m bora, haja forte discussão sobre o significado do tesouro, p od em os en ten d er que, q uand o u m p ecad o r en co n tra esse tesouro, o b té m cidadania n o R e in o dos céus, o u seja, a p ró p ria salvação. O que en co n tra o tesouro é o in divíduo que entrega sua vida a C risto para o b ter salvação e a cidadania no R e in o dos céus. Possuir a C risto é o b ter o m aior teso u ro da vida. N ad a é mais precioso e m ais caro, p orqu e C risto é o ú n ico tesouro que nos tira da nossa mais p ro fu n d a pobreza espiritual. P ortanto, possuir a C risto significa possuir o R e in o que satisfaz plena­ m ente aos desejos da nossa alma. Paulo falou dessa riqueza aos efésios, quand o escreveu: “ ... para que saibais qual seja a espe­ rança da sua vocação e quais as riquezas da glória da sua h eran ­ ça nos santos” (E f 1.18). 61 C a p ít u l o 5 La n ç a i a R ed e M a t e u s 1 3 .4 7 - 5 0 ; 2 5 .3 1 - 3 4 N a riqueza de ilustrações apresentadas p o r Jesus através do m étodo mais utilizado p o r Ele durante o seu curto m inistério terrestre, três figuras são recorrentes: a do lavrador, a do com ercj.inte e a do pescador. Essas figuras faziam parte da vida cotidiana do povo daquela época e Jesus sabia explorar os aspectos pitores­ cos da vida das pessoas e de suas atividades religiosas, políticas, i Ipmésticas e da agricultura. Porém , nesta Parábola da R e d e notascl um a certa similaridade com a parábola anterior (do jo io e do trigo), porque ambas falam de bons e maus, juntos no m esm o contexto, mas separados posteriorm ente n o juízo. E interessante que ambas as parábolas encerram com a declaração de Jesus de que o juízo dos bons e dos maus aconteceria “ ... na consumação 11(>s séculos” (M t 13.48,49). Portanto, ambas dão u m enfoque prev iite e futuro. N a Parábola da R e d e aprenderemos o tipo de tral.imento que a Igreja deve dispensar àquelas pessoas boas e ruins. Esta é a últim a de um a série de sete parábolas do capítulo 13 I' ■M ateus e, p o r isso m esm o, Jesus fixou a atenção dos seus As P a r á b o l a s d e J e s u s discípulos para o “fim da dispensação da graça” , a consum ação e o Juízo Final. C inco aspectos especiais nos cham am a atenção nesta parábola: a rede, o mar, os pescadores, os peixes e os anjos. A R E D E (M t 13.47) O tex to diz literalm ente: “ O R e in o d os céus é sem elhan a u m a rede lançada ao m a r” . G rande parte do m inistério te r­ restre de Jesus foi exercido ju n to ao m ar da Galiléia. Por isso, Ele aproveitava as ocasiões e os lugares para tirar lições para os seus ensinos. N aturalm ente, nada mais natural que, estando ju n to ao mar, falar de pescaria, de rede e de pescadores. Foi ali ju n to ao m ar que Ele escolheu e convidou pescadores para serem seus discípulos. Sim ão e A ndré, depois T iago e João, eram pes­ cadores, para os quais fez o seguinte convite:“V inde após m im , e eu vos farei pescadores de h o m e n s” (Mc 1.17, A R A ). Jesus tinha u m a visão m enos restritiva em relação aos ju d eu s, p o r isso grande parte de seu m inistério co n cen tro u -se na Galiléia dos gentios. Seu objetivo básico era o de fundar o seu R e in o entre os povos da terra, a p artir de Israel, mas não exclusiva­ m en te Israel. A rede seria lançada ao m ar, o u seja, ao m undo, cuja pesca seria de hom ens de todas as nações e povos. O tipo de rede utilizada naquele m ar diferenciava u m pou daquelas confeccionadas para o oceano. Jesus ilustrava co m o s m ateriais que estayain ali junto, dos pescad ores-Era um red e pesada e grande e co m chum bada nas co rd as inferiores, cujo objetivo ç.ra-de_vatEer o fu n do do m ar e recolh er to d o tipo de peixes, bons e ru in s. A m a lh a d e s s a r e d e C ertam ente, essa rede era confeccionada para recolher toda espécie de peixes sem fazer qualq uer tipo de seleção. A m alha 64 La n ç a i a R e d e da rede recolhe todos, in d ep en d en te da qualidade do peixe p o rq u e sua finalidade era p ren d er e reter esses peixes, bons e ruins, ú te is e in ú teis. A Igreja é a expressão do R e in o dos céus e, p o r isso, ela recebe em seu seio to da espécie de pessoas, sem q u alq u er dis­ crim inação ou seleção (At 1 0 .3 4 :E f6 .9 V N a operação do evan­ gelho, quando a Igreja lança a red e, alcança grande quantidade de pessoas., p o rq u e elas são atraídas a aceitarem o evangelho e viverem nas m alhas da igreja, em sua com unhão. E ntretanto , n e m todas p erm an ecem . Alguns textos bíblicos exem plificam a função de um a rede (Jó 19.6; SI 66.11; Ec 9.12), os quais p o dem ilustrar o sentido de u m a rede em p ren d er, salvar, im ^_ pedir etc. A r e d e n ã o d is c r im in a o s p e ix e s N atu ralm en te, há u m a diferença entre um a tarrafa e um a rede. U m a tarrafa. segundo o D icio n ário A urélio, é “u m a rede de pesca, circular, co m ch u m b o nas bordas e u m a corda ao centro, pela qual o pescador a retira fechada da água, depois de havê-la arrem essado ab erta” . O u tro detalhe, um a tarrafa en volve o trabalho de um a só p e ssoa e_tem pon tos definidos eseolh.idos.pelo pescador para lançá-la. U m a rede lançada ao m ar envolve o trabalho de várias pessoas, p o rq u e ela é extensa. P or­ tanto, quand o a rede é lançada “nada está tão_abaixo que a rede não possa descer para alcançar (um pecador) n e m tão acima que não o possa atin g ir” . N in g u é m é tão m al que possa ser deixado de fora nem t ão b o rn -q n e se faça distinção. A rede i ecolhe bons e m aus. Esta rede se estenderá até a consum ação d.i dispensação da graça, que iniciou-se n o D ia de Pentecostes t* term inará co m a volta de Cristo. A rede não seleciona n e m faz acepção de pessoas (At 10.34,35). O papel da igreja te m sido co n fu n d id o p o r m uitos — — ‘T 1 ” ...........................” 65 As P a r á b o l a s d e J e su s líderes, quand o se atrevem a to m ar para si o atrib u to que so­ m en te a D eus pertence, que é o de p ro ced er a exclusão. N a tu ­ ralm ente, a igreja disciplina, corrige restabelece os seus m e m ­ bros den tro de princípios bíblicos de am or,justiça e m isericó r­ dia. A rede reúne e ju nta os peixes todos. Ela não separa o s peixes de im ediato. E interessante n o tar que na Parábola do T rjgo e rLo-Joio Tesus trato u da separação e n tre b ons e maus na “ consum ação dos séculos” . P orém , na Parábola da R ede o e n ­ sino sobre a separação de bons e ruins te m u m destaque espe­ cial. Tesus queria evitar os erros da hipocrisia dos escribas e fariseus que faziam acepção sem, n e n h u m escrúpulo. As grandes cruzadas evangelísticas convocam o trabalho de m uitas pessoas, não só do pregador, e ilustram m uito b e m u m dos recursos de D eus para a pescaria de almas. A Igreja tem de ench er-se com os peixes apanhados pela rede do Evangelho. O profeta Isaías, m uitos séculos antes, profetizou sobre isto ao escrever: “ ... a terra se ench era do co n h ecim en to do Senhor, com o as águas co b rem o m a r” (Is 11.9).Jesus deixo u explícito o alcance dessa rede co m o Evangelho, quand o disse: “E este evangelho do R e in o será pregado em to d o o m undo, em tes­ tem u n h o a toda as gentes, e então virá o fim ” (M t 24.14). O MAR O m a r r e p r e se n ta a h u m a n id a d e N o co n tex to da parábola “ o m ar ” representa a to d a_.aJmm anidade caída.Alguns textos bíblicos referem -se ao m ar com o um a m etáfora de gente, povos, n açõ es (cf. Is 57.20; D n 7.3; Ap 13.1). A idéia que a Bíblia sugere acerca do m ar não é apenas_a_„ sua extensão e p eriferia, mas refere-se à sua profundidade e obscuridade de_ pecado, e. trevas. P orém , o E vangelho te m o p oder de tirar do fu n d o do m ar ao mais vil pecado r e salvá-lo L a n ç a i a R e d e (R m 1.16). O u tro s significados acerca do m ar são tratados nas Escrituras, mas no co n tex to dessa parábola, o m ar representa a hum anidade perdida, a qual D eus tanto am a a p o n to de en tre ­ gar seu Filho Tesus para salvá-la (Jo 3 .1 6 ). O u tr o s s ig n ific a d o s d a fig u r a d o m a r A lguns intérpretes v êem o m ar co m o representando as na­ ções gentílicas, para as quais, nesta dispensação da graça, D eus tem se voltado para salvá-las. Porém ,_o sentido, g en érico da palavra “ m ar” nesta, parábola inclui todas as criatu ras, sem dis­ tinção de cor, raça, cultura o u nação, p o rq u e para D eus, neste plano salvífico através d e C risto, ju d e us e gentios são apenas criaturas que precisam de salvação (G1 3.8; C l 3.11). A rede, quando lançada ao m ar, recolhe t oda esp écie de peixes, p o r isso 0 evangelho não discrim ina n in g u é m n o m u n d o . Tem de ser pregado a toda criatura (M c 16.15). P orém , a seleção (ou c o n ­ trole de qualidade) feita pelos pescadores não é feita na m alha 1 Ia rede, mas depois de terem recolhido to d o o peixe e trazido ■i praia. Essa separação entre “bons e ru in s” é trabalho final, leito pelos anjos de D eus na consum ação dos séculos. OS PESCADORES (M t 13.48) O te x to alude_aos pescadores de m o d o in direto p o rq u e se ivfere mais especificam ente ao trabalho de “p u x ar” a rede para 1 praia e o trabalho de “apan har” os peixes e separá-los, entre I >ons e ru in s. N aturalm ente, esse p o n to representa a missão p rin i ipal da Igreja de C risto na terra que é a evangelização. [e su s c o n v o c o u d o z e d is c íp u lo s p a r a s e r e m p esca­ dores d e h o m en s Jesus sabiam ente soube usar esta parábola da rede, d irig in i li >-se a alguns dos seus discípulos que viviam da pesca, pois Ele 67 As P a rá b o la s de Jesu s relacionava-se com o trabalho que eles co n h eciam m uito bem . Q u a n d o os convo cou para seguí-lo, desafiou-os a serem pesca­ dores de hom ens (M c 1.16-18). Suas redes seriam outras redes, as quais receberiam pessoas de toda classe, raça, cultura e nação. O evangelho tem sido um a red e p o d e rosa nestes séculos da era cristã. A a r te d a p e s c a r ia G eralm ente, o pescado r conhece as águas o nd e há abundância de peixes, p o r isso ele deve co n h ecer os p o n to s __ceifcQS o n d e lancar a rede. Ele con h ece as marés, os rem ansos, os v en ­ tos, as características climáticas e a profundidade das águas. Es­ ses são os co n hecim entos prim ários indispensáveis ao pesca­ dor. N a evangelização, os pescadores de almas devem pescar o n d e se en co n tram as almas perdidas. N ã o se pesca em aquáriõs~(peixes pescados), mas nos rios profundos e em alto-m ar. C erta feita Jesus o rd en o u a Sim ão Pedro: “ Faze-te ao m ar alto ” (Lc 5.4). O pescador deve co n h e c er a arte de pescar, seja através de anzóis, de tarrafas ou de redes. Q u e m evangeliza precisa do evangelho para p o d er pregar aos ou tro s- D eve saber usar o m aterial de pesca, isto é. deve estar apto para pescar os peixes em jdiferentes am bientes o n d e se e n contram . M ilh õ e s d e p e s c a d o r e s d e a lm a s p a r a C r is to O n ú m ero de pescadores co m eço u co m cLq z ê . ho.m ens tem se m ultiplicado em m ilh ões através dos,séculos, Essa redcnão tem se rom pido, apesar de todos os m eio s-de deslxuiçloqne o in im ig o de nossas almas, tem lancada - no_.mundo para_ d eter o avanco da Igreja. D irig indo -se especificam ente a Pedro, Jesus lhe disse que seria pescador de hom ens (Lc 5.10). O ím ­ 68 L a n ç a i a R e d e p eto da evangelização precisa m over os corações co m am o r e desprendim ento. A Igreja P rim itiva foi capaz de revolucio nar o seu tem p o co m o arrojo da evangelização. T o d o c r e n te e m C r is to é c o n v o c a d o p a r a se r p e s c a d o r d e a lm a s Todo ganhador de almas é pescado r neste grande m ar. A igreja p o d e ser um a rede que lança o evangelho em to d o o m undo. C ada crente, individualm ente, é u m p escador de almas (At 1.8). A profissão de pescador é um a profissão de alegrias e tristezas, p o rq u e há dias q u e “ o m ar não está para p eixe” . OS PEIXES O s p e ix e s q u e c a e m n a m a lh a d a r e d e s ã o in d is ­ c r im in a d o s Sabemos que a rede não discrim ina, n em seleciona os pei­ xes. A parábola diz que a rede apanha peixes de toda espécie, hons e ru in s. N a verdade, a rede não passa de mais um recurso lium ano do qual D eus se serve na terra para organizar a sua Igreja. JNaturalm ente. a Igreia,n um certo sentido ,p o d e ser co m p.irada a um a rede, porqu e nela entra to d o tipo de pessoas, in depcndente de_cor, raça e condição social. A Igreja recebe em suas in.ilhas toda espécie de pessoas e trabalha para cuidar dessa gente ,i(6 a consum ação dos séculos quando, então, se fará a separação • ncre bons e ruins, justos e injustos, úteis e inúteis (M t 24.14). ( >s p e i x e s b o n s e r u i n s q u e c a e m n a m a l h a d a r e d e Ao longo da história da Igreja, a questão d o u trin á ria sobre n st'u papel em relação a seleção ou separação entre os bons e 69 As P a r á b o l a s d e J e su s ruins te m sido discutida, sem n o en tan to se te r chegado a u m d en o m in a d o r co m u m . A questão não é c o n tu n d en te, n o m eu p o n to de vista, en ten d o que o ensino de Tesus é claro quan do diz que a separação entre bons e m au s será feita na “ consum a­ ção.dos séculos” , e será trabalho dos anjos (M t 13.48,49). Essa questão levantada p o r Jesus nesta parábola não é diferente de outras parábolas que nos fazem recordar a distinção entre o trig o e o jo io que crescem ju n to s e se entrelaçam . A separação só é feita na colheita. N a verdade, vem os nestas parábolas a sim bologia da igreja visível que, te m em seu seio, um a m escla de crentes e in créd u ­ lo s e toda sorte de gente, o n d e se to rn a difícil, às vezes, distin­ gu ir quem é quem . Porém , isto faz parte da vida c o m u m de u m a igreja local (visível). O apóstolo Paulo declarou aos rom a­ nos que nem to d o s os que são de Israel são israelitas” (R m 9.6-8). E n ten d em o s tam bém que m uitos se dizem cristãos^ mas não o são. P ertencer à igreja visível não im plica necessariam ente ser m em bro.da Igreja verdadeira. Existem pessoas religiosas, mas não regeneradas. Existem tam b ém p essoas que se batizaram em águas, mas nunca foram lavadas pelo sangue de Cristo. Pessoas que professam exteriorm ente serem cristãs, mas in terio rm en te não possuem qualquer sinal de cristianismo (M t 7.21). O PAPEL DOS ANJOS N O FINAL D OS TEM PO S ( M t 13.49,50) T am entavelm ente. em nossos tem pos atuais tem havido distorção.quanj o .ao papel dos anjos em relação à igreja atual e ao m u n d o presente. E n tre ta n to, saberm os que du ran te esta dispensação da graça é o E spírito Santo que está form ando ativam ente a Igreja, não os anjos. Eles (os anjos) c o n trib u e m de algum m o d o para facilitar o trabalho dos pescadores, mas o 70 L a n ç a i a R e d e e s tím u lo v e m d o E s p ír ito S an to . P o r é m , ao fin a l desta dispensaçao, n a volta d e C risto para a sua Igreja am ada, é que_ os anjos entrajã p em ação, isto é, n o arrebatam ent o dos vivos e na ressurreição d o s m o rtos em C risto. N esse evento, os anjos farão a separarão entre bons e ru in s— J. C. R y le, em seu co m en tário de M ateus, escreveu sobre essa q uestão :“ N ã o nos c o n ten tem o s em ser m em bros da igreja de um a m aneira externa. N e m to d o s os que estão d e n tro da_ rede sã q :yerdadeiros,discípulos de Tesus C risto. M uitas pessoas que recebem as águas d o batism o jam ais recebem as da v ida. M uitos que participam d o pão e do v in h o na_Ceia do S en h o r j amais sg alim entam do co r p q jde C r is ta .p o r m eio da fé,” . P or isso, ajgrej-a local é sem pre um a m escla de pessoas, convertidas., c _riã o ç o nv.erti das. C O N C LU SÃ O Esta parábola nos ensina a definir nosso papel co m o obrei­ ros pescadores que lançam a rede do evangelho para apanhar o maior n ú m ero possível de almas para C risto. O que im p o rta é que preguem os o evangelho e as resgatem os do m u n d o . P o i ém, q u anto à questão in te rio r do coração das pessoas, so m en le no final será verdadeiram ente revelado, e os anjos terão u m papel im p o rtan te nesse evento. Q u e o S en h o r nos p e rm ita es­ tender a rede da salvação e convidar a todos os ho m en s que se n rependam e creiam n o evangelho. 71 C a p ít u l o 6 Fid e l id a d e e D il ig ê n c ia n a O b r a d e D eus M a te u s 2 5 .1 4 - 3 0 A m e d id a d a fid e li d a d e n ã o é a q u a n tid a d e , m a s a q u a lid a d e de n o ssa obra p a ra o S e n h o r. H á um a c erta sim ilaridade entre as parábolas dos talentos e das m inas nos registros d e J M ateus e de Lucas (Lc 19.11-27). In d e p e n d e n te He alguns detalhes diferenciados entre as duas parábolas, p o d e m o s p erceb er que a lição de ambas é a m esma: ‘‘talentos” o u ‘‘m inas’’ representam valores espirituais e m orais co m os quais Hevemos “ neg o ciar” , isto é, desenvolver em nossa vida cristã. JRxiste tam bérn_um a certa relação d o u trin á ria dessa parábola co m a parábola d as dez v irgens, p o rq ue as duas a p o n ­ tam para o futuro advento de C rista_O s personagens das d u as. parábolas — ; as virgens e os servos — sim bolizam as m esm as pessoas: p orém , elas são vistas sob vários aspectos. N a Parábola das D ez V irgens a Igreja é estim ulada a vigiar; na Parábola dos Talentos a Igreja é estim ulada a fazer a obra do R ein o . As P a rá b o la s d e Jesu s OS TALENTOS SÃO REPA RTID O S D ISTIN TA M EN TE ( M t 25.14,15) O q u e e r a ta le n to ? A idéia básica da parábola sobre talentos referia-se ao h o m em rico que possuía um a b oa q u a n tidade de dinheiro e que, precisando ausentar - se daquela terra, resolveu distribuir res­ ponsabilidades d e n e gociação aos seus servos (trabalhadores) e o fez_d e acordo co m a capacidade de cada u m dos seus três servosJvlateus utilizou o te rm o grego ta la n to n , que significa “ talen to ” e referia-se a um a m oeda de alto valor. Eqüivalia “ u m talen to ” a seis m il denários e, u m denário correspondia ao salário diário de u m trabalhador (M t 1 8 .23-28).“ U m talen­ to ” eqüivalia tam b ém a seis m il dracmas, o equivalente a 12.600 gramas de prata, mas o talento podia ser tam b ém de ouro e de cobre. O valor de u m talento, p o rtan to , dependia do tipo de m etal do qual era feito a m oeda. O q u e s i g n i f i c a m o s t a le n t o s n a ó t i c a d a p a r á b o la ? N o m u n d o secular, um a pessoa co m talen to s é identificada co m o alguém que te m habilidades especiais para fazer deter­ m inadas coisas. N o rm a lm e n te, são criativas e_ inventivas, p o r isso seus talentos são m anifestos em várias áreas da vida h u m a ­ na. Esses talen to s tê m sido in te rp retados figurativam ente com o habilidades ou opo rtunidad es de cada pessoa para fazer algum a coisa útil. E m relação ao R e in o de D eus na te rra , essas habili­ dades p o d em representar dons naturais o u dons espirituais re­ cebidos. de D eus. Q u a n d o se te m consciência desses dons, os m esm o s p o d em ser ad m inistrados em favor do R e in o de D e u s. Podem os entendê-los co m o bens pessoais, ou seja, u m co n - 74 F id e l id a d e e D il ig ê n c ia n a O b r a d e D e u s ju n to de qualidades naturais e graças espirituais que qualificam estas pessoas a realizarem determ in ado s serviços para o R e in o de D eus na terra. O nosso. S en hor é Tesus C risto e dEle vem tu d o o que te m os e so m os, pois tu d o foi criado n E le, p o r m eio dEle e para E le (Cl 1.16), e sem Ele nada som os e nada p o d e ­ m os fazer na sua obra 0 o 15.5). C ada crente, e m particular, é dotado__de alg um talento co m o qual pod erá trabalhar para o S en h o r e receber a devida recom pensa. O s ta le n to s fo r a m r e p a r tid o s e n tr e o s s e r v o s c o n ­ f o r m e a c a p a c id a d e d e c a d a u m (M t 2 5 .1 5 ) N ão se trata de algum tipo de discriminação, mas de capaci­ dade p essoal que cada crente possui para servir. O im p ortante é que cada qual faça b em o seu trabalho e prospere naquilo que foi dotado para fazer. Q ra. se D eus é o nosso C riad or e nos fez dife­ rentem ente e nos deu capacidades distintas é porque cada qual . preenche o espaco que_o outro n ão pode preencher. N inguém é totalm ente com pleto n em totalm ente inútil sem que tenhaltlgurn dom para desenvolver. Segundo a parábola, aquele senhor entre­ gou a u m servo cinco talentos; a outro, dois e ao terceiro, um talento. Cada qual deveria desenvolver os seus talentos da m elhor form a possível, porque a cada um foram_da dos talentos de acordo co m a capacidadej3essoal.,Aprendem os, nesta desigualdade de distribuição, que não é .a quantidade que vale para D eu s, mas_a qualidade com que desenvolvemos nossos talentos. O TRABALHO DOS SERVOS ( M t 25.15-18) O q u e r e c e b e u c in c o t a le n t o s ( w . 1 6 ,1 9 - 2 1 ) Era, indiscutivelm ente, talentoso! T anto é verdade que, im e­ diatam ente após a saída do seu senhor, esse servo não perdeu 75 As P a rá b o la s d e Jesu s tem po, mas pôs-se a trabalhar co m diligência e fidelidade. D iz o texto que esse servo “foi, e co m eles neg o cio u e granjeou outros cinco talen to s” (M t 25.16,20). O verdadeiro cristão se esm era em negociar seus talentos e fazê-los prósperos. N ão te m preguiça, mas trabalha co m diligência em tu d o o que faz. N ão exibe o que não tem , mas negocia e granieia o u tro tanto, p o rq u e rejeita o ócio o qual não p o d e fazer parte _da vida de u m servo de D eus. E aquele que confia no seu S en h o r e o tem co m o j u sto e fiel e sabe., que ao final, quand o o seu S en hor voltar, receberá o seu galardão (1 C o 15.10; Fp 4.13). O q u e r e c e b e u d o is t a le n t o s ( w . 1 7 ,2 2 ,2 3 ) Pelo fato de ter recebido apenas dois talentos, o segundo em pregado reconhecia que era tu d o o que podia fazer. Ele tinha consciência de suas lim itações. N ã o teve inveja o u ciú­ m es do que recebera cinco talentos, p o rq u e sabia que não faria ren d er m ais além d o s dois recebidos. A p ren d em o s que deve­ m os nos aquietar e aceitar o que o nosso S en h o r sabe e c o n h e­ ce a nosso respeito. D evem os fazer o m elh o r co m o que tem os recebido. Esse servo não se fez de rogado, mas trabalhou com afinco e granjeou outros dois talentos. O q u e receb eu apenas u m t a le n t o ( w . 1 8 ,2 4 ,2 5 ) Q uanto aQJterceiiQ. em pregado, era term os de qualidade, o nível do seu trabalho seria o m esm o, p o rq u e D e u s não estava qillilitido a im portância nem dim inuindo o valor daquele servo, p o r ter-lhe dado apenas u m talento para administrar. E ntretanto, ele se deixou dom inar p o r u m sentim ento de inveja e de ciúm e, além d e ter desenvolvido u m espírito d e ingratidão e de falta de autocrítica. Ele deveria saber que não pod eria fazer m uito com mais de u m talento, mas se fizesse com aquele único talento. 76 F id e l id a d e e D il ig ê n c ia n a O b r a d e D e u s certam ente lhe seria acrescentado outro ou mais. pela fidelidade e pela alegria de fazer o m elh o r para agradar o seu senh or. P o rém , ele criticou o seu senhor e ainda o acusou d e iniustjca,_(Mt 25.24,25). D evem os aprender a nos co n ten tar com aquilo que tem os.recebido do S enhor e fazer o m elhor para agradá-lo. . ÊX ITO E INSUCESSO D O TRA BA LH O DOS SERVOS Todo servo deve obrigação ao seu senhor, co m o tam b ém prestar contas de suas atividades. S o m o s servos de C risto e te ­ m os recebido d Ele dons. e opo rtu n id ad es os quais devem_ser trabalhados. TiLílü o que S en h o r req u er de cada u m de seus servos é fidelidade e responsabilidade.. O ê x it o d o s d o is p r im e ir o s s e r v o s ( w . 1 6 ,1 7 ,1 9 - 2 3 ) A narrativa declara que am bos, tanto o que recebera cinco talentos q u anto o que recebera dois talentos, foram e negocia­ ram co m seus talentos, granjeando o dob ro do que receberam de seu senhor. N a verdade, eles foram fiéis e diligentes ao tra­ balho recebido para fazerem . N a vida cotidiana da igreja, to d o crente te m recebido de_Cxisto — o S en h o r, dons e o p o rtu n i­ dades, de_realizacão os quais p rom ovem e fazem prosperar a igreja,social, m aterial e esp iritu alm en te.D ian te de,C risto, nada, é justificável não fazer a obra c o r n os talentos recebido s.Tem os que confiar na forca do S en h o r para realizar a obra ÍFp 4.13). Existe u m adágio latino que diz: “m â x im u s in m ín im u s ”, que qu er dizer: “fazer o m áxim o nas m ín im as coisas” . Esse é o se­ gredo da fidelidade! D eus não olha a quantidade d o s dons re­ cebidos, mas a fidelidade co m que os desenvolvem os.. A m b o s os servos, o p rim eiro e o segundo, não m ed iram esforços p ara negociar co m os talentos recebidos. 77 As Pa r á b o l a s d e J e s u s O in s u c e s s o d o t e r c e ir o s e r v o ( w . 1 8 ,2 4 ,2 5 ) Esse servo é o tipo do crente que n un ca_está satisfeito com nada na igreja. Sem pre te m algum a crítica negativa e vê tu d o com pessim ism o. P or isso esse servo “foi, e cavou na terra, e escondeu o dinheiro do seu sen h o r” (v. 1 8 ).E daquelas pessoas que_tentam salvar suas vidas, mas acabam p e rd e n d o -as, com o está^escritoj.“P o rq u e aquele que quiser sajvar a sua vida p erd êla-á, e q u em perder a sua vida p o r am or de m im achá-la-á” (M t 16.25). Esse servo foi punido, m esm o te n d o apenas um talento. M u ito m ais-severam ente será p u n id o o que tiver rece­ b ido mais_de_u m talento e não os n e gociar. O s dons são dados para serem usados na obra do Senhor. T udo o que o S en hor espera é que sejamos fiéis e abundantes na sua obra. P or isso Paulo nos exorta: “ ... sede firm es e constantes, sem pre a b u n ­ dantes na obra do S enhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senh o r ” (1 C o 15.58). A PRESTAÇÃO DE CONTAS (M t 25.19) É interessante n o tar o que diz o texto: “E, m u ito tem po depois, veio o senho r daqueles servos” . Esse te m po indica o fu tu ro do ajuste de contas de todas as pessoas.Todos tem os de prestar contas u m dia, do b e m e do m al que tem os feito a nós m esm os, e ao nosso próxim o. F id e lid a d e a n te s d a r e c o m p e n s a A ntes de req uerer qualq uer direito de rec o m p ensa o servo deve cu m p r ir o seu trabalho, p ara receb er apen as o que for justo. A recom pensa a mais, isto é, o p rêm io pelo trabalho feito, será sem pre fru to da b o n d ad e do Senhor, com o aco n te­ ceu co m os dois prim eiros servos que apresentaram resultados positivos ao seu senhor. A recom pensa deles foi o direito c o n - 78 I F id e l id a d e e D il ig ê n c ia n a O b r a d e D e u s cedido para entrarem “ n o gozo do seu sen h o r” (w . 21-23 ). O servo infiel foi injusto ao acusar seu senho r de m au e afirm ar que p o r m ed o preferiu e n terrar o talento na terra (v. 18). Ele foi im pro dutivo duas vezes: um a, p o r não negociar co m o talento recebido; outra, p o r en terrar o talen to . Para garantir sua estupidez, ele en te rro u seu talen to . N ad a fez co m ele, para parecer,hon esto diante de seu senhor. P or isso, foi co n d en ad o e cham ado de “ m au e negligente servo” (v. 26). R e c o m p e n s a d e p o is d a fid e lid a d e Parece u m jo g o de palavras, mas significa que antes de pensar em recom pensa, to d o servo deve fazer seu trabalho p o rq u e é servo e o faz com prazer e fidelidade. O p rêm io da fidelidade é explícito nas palavras: “ Sê fiel até à m o rte, e d a r-te-e i a coroa da vida” (Ap 2.10). A recom pensa daqueles fiéis servos foi o convite para entrar “n o gozo do S e n h o r” (w . 21-23). Percebese u nia desproporção entre trahalhQ e recom pensa quand o o S en h o rjasa d uas expressões: sobre p o u c o e sobre m u ito , N a realidade, o m u ito que fazem os pelo Senjiox_é p o u co pela im ­ portância, da recom pensa qu£-Ele_nos confere. O s serviços de hoje são incom paráveis co m os serviços que terem os na eter­ nidade (Ap 22.3). As vezes,no serviço do Senhor, tem os cansa­ ço, d o r e aflição, mas serão suportáveis quand o en trarm o s no gozo do Senhor, nosso serviço não sofrerá qualquer tip o de dificuldade física, em ocional ou espiritual (H b 12.2). R e c o m p e n s a e p u n iç ã o n o a ju ste d e c o n ta s O S en h o r voltará para reaver seus ta le n tos (v. 19). A quele se n h o r veio q u a n d o os em pregados não o esperavam . Assim será na v inda do S en h o r (M t 25.13). D evem os trabalhar co m afinco e estar atentos co m o nosso trabalho até que E le ve- 79 As P a r á b o la s d e Jesu s nha. Q u a n d o E le v ier ajustará c o n ta s co m os seus servos, pois “ -..j^ada u m d e nós dará contas de si m esm o a D eus” (R m 14.12). O s fiéis serão abençoados e entrarão n o gozo do Senhor, mas o s infiéis, ficarão de fora e serão p u n id o s sem m isericórdia, p o rque não cu m p riram seus p apéis na ausência do S en h o r. A B í­ blia diz que cada u m receberá do S en hor to d o o b e m que fizer” (E f 6.8). T am b ém diz a Palavra de D eus: “M as q u em fizer ag ravo jreceb erá o agravo que fizer” (C l 3.25). A prendem os algumas lições preciosas nesta parábola. P ri­ m eiro, que to d o cristão au tên tico te m recebido algum d o m de D eus para trabalhar. S egundo, que u m dia, to d o cristão apre­ sentará o fru to do seu trabalho no ajuste de contas co m o Senhor. Terceiro, que existem cristãos infiéis e injustos para co m o Senhor, p o r isso nada fazem para crescer na obra de D eus. Q u arto , q ue haverá u m ju lg a m e n to de nossas obras. Para os justos, n o T rib u n a l de C risto (2 C o 5.10), e para os injustos, no julgam ento do G rande Trono Branco (Ap 20.11-15). Q u in to , que há recom pensa para os fiéis e pun ição para os infiéis. 80 C a p ít u l o 7 O G r a c io s o Pe r d ã o d e D eus M a t e u s 1 8 .1 5 - 3 5 P erdã o im p lica n o tra b a lh o d u p lo e recíproco e n tre D e u s e nós. P erd o a m o s p o r q u e f o m o s p e rd o a d o s. D os mestres de com unicação pedagógica, é indiscutível que, Jesus foi u m exem plo singular, pois utilizava, princip alm ente, m étodos pró p rio s explorando sem pre a linguagem alegórica e figurada. E specialm ente as parábolas, que era u m m é to d o p o ­ pular de instrução e Jesus soube ensinar através desse m éto d o com encanto, profundidade e clareza em suas colocações. C o n tar histórias sem pre atraiu as pessoas e a m aneira de apresentá-las sob a form a de parábolas provocava a im aginação dos ouvintes e os levava a refletir sobre os conceitos e verdades m orais e espirituais contidos nelas. Sobre os mais variados assuntos rela­ cionados co m princíp ios m orais e espirituais, em especial, os assuntos que tratavam das coisas do R e in o dos céus p o r Ele anunciado. A m or, perdão, reconciliação, justiça, respeito h u m a­ no, alegrias e tristezas e tantos outros assuntos eram tratados p o r Jesus nas suas parábolas, e a Bíblia declara: “ T udo isso disse Jesus p o r parábolas à m ultidão e nada lhes falava sem paráb o ­ las” (M t 13.34). As P a rá b o la s d e Jesu s A parábola deste capítulo tem sido identificada p o r outros títulos, tais c o m o :“ O C re d o r Incom passivo” , “ 0 Servo Incle­ m e n te ” , mas, na verdade, ela trata de u m assunto da m aiorjim portância na experiência cotidiana das pessoas: o tratam ento co m a ofensa e co m o perdão. São princípios de vida, que n o rteiam o cristão quanto ao ato de p erdoar q uand o ofendido. O fensa e perdão são dois elem entos da nossa vida cotidiana que afetam todas as nossas em oções. Jesus estabeleceu alguns princípios de tratam ento do perdão aos que nos ofendem . N esta parábola, Jesus fala do perdão num a perspectiva to talm ente hum ana, p o rq u e não se trata apenas do perdão de D eus para o h o m e m , mas do perdão do ofendid o para o ofensor, isto é, do h o m e m para o h o m em . Jesus trata dessa relação entre aqueles que ofen d em e os que são ofendidos. O P O N T O DE PARTIDA PARA O PER D Ã O (M t 18.1-20) U m a h is tó r ia re a l “N ã o posso jam ais perd o á-la” . Foram as palavras de u m h o m e m à sua esposa depois de dez anos de casados.Tudo havia com eçado na vida conjugal com m uito am or, tern u ra e dedi­ cação m ú tu a entre o casal Jo ão e M aria. N asceram dois filhos saudáveis e bon ito s e João e M aria se esforçavam para que a vida fosse m enos árida que o sem i-deserto do nordeste brasi­ leiro ond e viviam. C o m esforço e d en o d o lim param a terra das pedras e a prepararam para ser produtiva usando os recursos possíveis para que isto acontecesse. Flavia certa paz e tranqüili­ dade na vida daquela família naquele lugar. D e repente, M aria co m eço u a esfriar no relacionam ento co m o m arido e co m os filhos criando um a barreira quase que intransponível nas rela­ ções co m a família. N in g u é m sabia o que estava acon tecendo 82 O G r a c io s o P e r d ã o d e D e u s coí|n M aria. Ela to rn o u -se dura co m os filhos e fria co m o marido.Vivia irritada e não revelava nada, do que estava aconte­ cendo. A coexistência fechada, de irritação e de silêncio, am ar­ gou a vida daquele lar. João, o m arido, não conseguia en te n d e r o que havia acontecido. P ro cu ro u algumas vezes dialogar com M aria, mas ela fugia sem pre de q ualq uer tipo de conversa. Esse estado de am argura d u ro u dez anos. E ntão, u m dia Jo ão desco­ b riu que sua esposa o havia traído dez anos atrás e tinha difi­ culdades de enfrentar a situação e conviver co m sua culpa. Ela ficou doente em ocional e fisicam ente com o resultado daquele estado de vida e de culpa do qual não conseguia libertar-se através da confissão e do pedido de perdão. N aturalm ente,João, ao descobrir o que havia acontecido, ficou cheio de ó d io e queria vingar-se a qualq uer custo. P or dez anos viveu n u m clim a de receios, dúvidas e rancores, e agora, co m o coração cheio de ira e rancor, o pensam ento que lhe aguilhoava dia e n o ite era a vingança contra o h o m e m que entrou na sua casa co m o am igo e que agia com o se nada tivesse acon tecido ao lo ngo desses anos. A idéia de p e rd o a r a esposa e aquele h o m e m que fizera m al ao seu casam ento, era algo h u m a n a m e n te im possível. E n ­ tretanto,João era u m cristão de p ou ca intim idade co m a igreja, mas tin h a n o seu coração, algum a sem en te do E vangelho. A o p ro c u rar aconselhar-se co m o seu pasto r não p o d e evitar a palavra “p e rd ã o ” . O pasto r o levou a orar ju n ta m e n te consi­ go a oração que Jesus ensinou: “ P erd o a-n o s as nossas dívidas, assim c o m o nós p erd o am o s aos nossos devedores” (M t 6.12). Jo ão reagiu logo após a oração e d eclarou ao pastor: “ N ã o posso jam ais p e rd o a r m in h a esposa n e m esse h o m e m ” . O pasto r então falo u -lh e co m voz m ansa, mas firm e: “Jo ão, as palavras de C risto a você são estas:‘Se, p o ré m , não perdoardes aos h o m e n s as suas ofensas, ta m b é m vosso Pai vos não p e rd o ­ 83 As P a r á b o l a s d e Je s u s ará as vossas ofensas’ (M t 6 .1 5 )” . João, mais um a vez reagiu e disse ao pastor: “ C o m o posso p erd o ar o h o m e m que a rru i­ n o u o m e u lar e que d estru iu tu d o o que eu mais amava?” O p asto r c o n v id o u Jo ão para orar, o qual c o m e ç o u a chorar profusam ente en q u an to o pastor apresentava ao S en h o r aquela situação. A oração foi u ng ida e de g rande em o ção e o E sp íri­ to Santo p ro d u ziu n o coração de Jo ão u m p ro fu n d o senti­ m e n to de perdão. Ele sentiu-se lib erto daqueles sentim entos am argos de revolta e de vingança que acabariam p o r m atá-lo. A o voltar para casa, sua esposa e os dois filhos p e rce b e ­ ram que havia algo sereno em seu rosto. Ele reu n iu a fam ília na sala de estar e então falou-lhes do que D eus fizera em seu coração. N ã o so m en te p e rd o o u a esposa, mas p e d iu -lh e p e r­ dão p o r não te r conseguido tratar desse p ro b lem a antes. A esposa, que vivera o sen tim e n to de traição e culpa em sua consciência e estava c o m p ro m e te n d o sua saúde em o cio n al e física, d e rra m o u -se em lágrim as diante do m arid o e dos fi­ lhos e p e d iu perdão a todos. D ep o is de abraçarem -se, esposa e m arid o , pais e filhos, Jo ão declarou à esposa: “M aria, vivi m o m e n to s de ódio e rancores co m p ro fu n d o desejo de v in ­ gança, mas D eus fez u m a obra em m eu coração e preferi aceitar as palavras de que deveria p erd o a r para ser perdoado. E u te p e rd ô o de to d o o m eu coração e te p eço perdão p o r não te r sabido adm inistrar esta situação” . A liç ã o b á s ic a d a p a r á b o la A lição desta parábola é que o perdão dilui to d o o obstá­ culo em ocional negativo quando estamos dispostos a rec o n h e ­ cer que, antes de cobrar a dívida dos que nos devem , tem os um a dívida im pagável co m D eus. Se aquele h o m e m esperasse que sua esposa, que lhe havia ofendido co m seu adultério, lhe confessasse o que havia acontecido, talvez não houvesse a o p o r­ 84 O G r a c io s o P e r d ã o d e D e u s tunidade de perdão. Q u a n d o o perdão p artiu dele, não apenas aliviou sua carga de ódio e desejo de vingança, mas lib ero u sua esposa para que pudesse refletir e agir co m atitude recíproca. O perdão deve partir daquele que estiver p ro n to para adm inis­ trar essa atitude, in d ep en d en te da atitude do ofensor. Existe u m ditado que diz o seguinte:“U ltrajando seu inim igo, você se coloca abaixo dele; vingando um a injúria, você estará n o m es­ m o nível do m in n g o ; p erdoando, você está acima dele” . S im p lic id a d e v e r su s e m u la ç ã o Jesus cham a para p e rto de si u m m enino, e no m eio dos seus discípulos dá um a estupenda lição de vida acerca da rela­ ção das am bições pessoais e o m o d o de agir para obtê-las. Os versículos de 1 a 3 indicam essa exem plificação feita p o r Jesus àqueles hom ens. O m o d o de ilustrar foi igualm ente simples e belo, e ao m esm o tem p o foi to cante e im pressivo para aqueles discípulos. H avia nascido no coração deles, desejos carnais e, inconvenientes de em ulação cheios de am bições de grandeza, capazes de neutralizar q ualq uer sentim ento puro de com p a­ nheirism o, respeito m ú tu o e espírito de perdão. U m sentim ento im p u ro os incitava a querer superar uns aos outros, e esse sen­ tim en to de rivalidade e com p etição foi detectado p o r Jesus, que im ediatam ente p ro cu ro u co rrig ir algumas atitudes entre os seus discípulos. Jesus apelou para a sim plicidade de um m e ­ n in o para desfazer a em ulação daqueles hom ens. O C O N T E X T O DA PARÁBOLA O objetivo final desta parábola so m ente será alcançado se en ten d erm o s to d o o seu contexto, p o rq u e o m esm o é a p re­ paração do cam po de ação para as verdades que Jesus queria ensinar sobre o perdão irrestrito. 85 As P a r á b o l a s d e J e su s A n a lis a n d o o c o n t e x t o d a p a r á b o la (M t 1 8 .1 - 6 ) Para falar de perd ão e c o m o ad m in istrá-lo nas nossas re­ lações pessoais acerca de ofensas, Jesus se volta para um a c ri­ ança e c o m especial te rn u ra ensina aos seus discípulos sobre valores m orais, entre os quais o perdão. Ele ilustra a natureza in o c e n te de um a criança e destaca a sua sim plicidade para rep resentar o verdadeiro sentido do perdão (v. 2). Jesus c o ­ m e ç o u fazendo elogio ao espírito simples e créd u lo de um a criança para ensinar que assim deve ser o espírito p e rd o a d o r de q u e m precisa p e rd o a r e ser perdoado. N esse sen tid o não há espaço para o espírito vingativo. O ra, q u an d o som os sim ­ ples co m o um a criança, p o d em o s lidar mais facilm ente co m as ofensas que nos fazem n o dia-a-dia. A vingança é um a arm a in ú til que só p ro d u z dissabor e destrói não só a pessoa que é alvo da vingança, mas ta m b ém aquela que a levou a efeito. D av id A ugsburger, em seu livro L iv r e p a ra P erdoar, es­ creveu: “A vingança inicia u m a excursão sem fim , descendo aos mais recô n d ito s recessos do rancor, da represália e das im piedosas desforras” . A o ilustrar sobre nossos sen tim en to s em relação a p o d er e d o m ín io , Jesus havia p erceb id o um a certa ansiedade dos discípulos sobre grandeza e s ta tu s d e n tro do g ru p o , isto é, q u em era o m aior entre eles. A o to m ar u m m en in o para ilus­ trar a lição que daria àqueles h o m en s adultos e am ad u reci­ dos, p o ré m agind o co m atitudes in co eren tes, quis m o strarlhes o q u a n to é perig o so q u an d o nos to rn a m o s im pacien tes e d o m in ado s p o r sen tim en to s que fogem ao padrão que Ele os estava ensinando. E ntão, nos to rn a m o s capazes de o fen d er nossos co m p an h eiro s (ou irm ãos na fé), de feri-los co m ati­ tudes presunçosas para co n seg u irm o s posição e grandeza e n ­ tre os demais. 86 O G r a c io s o P e r d ã o d e D e u s O c o n tr a s te e n tr e o p e c a r v o lu n ta r ia m e n te e se r in d u z id o a p e c a r O texto contido nos versículos seguintes (w. 6-9) indica a perspicácia de Jesus em ensinar lições de vida que envolvem as relações entre as pessoas, especialmente quanto às questões de ofensa e perdão. D epois de valorizar a posição da criança no m undo dos hom ens, Jesus enfatizou que, no R ein o de Deus, escandalizar os pequeninos constitui-se pecado grave. Ele destacou que “o fazer pecar a m eu irm ão” pode ser um a form a de “ofender a m eu ir­ m ão” e isto significa, na linguagem bíblica,“ escândalo” . O ra, o que é escândalo? N a língua grega, o term o aparece em M ateus 17.27, com o substantivo ,skandaion e com o verbo ,skandalizo. N a versão Almeida Revista e C orrigida, os term os são traduzidos p o r “ escândalo” e “escandalizar” . E m outras traduções e versões esses mesmos term os aparecem com o “pedra de tropeço” o u “fa­ zer tropeçar” , “fazer errar” e fazer pecar” . Nas palavras de Jesus esses term os têm u m sentido m uito forte de rejeição, pois o resul­ tado final de quem induz um a pessoa simples a pecar ou “a fazer errar” é digno de condenação. A linguagem metafórica é tão forte que Jesus utilizou a expressão “arrancar o olho” , ou “cortar a m ão ou o p é ” que servissem de condutores de pecados (M t 5.29,30). Essas figuras metafóricas de extirpação de órgãos físicos, com o mãos, pés e olhos, não pod em ser interpretadas literalmente. O contexto dessa passagem bíblica indica que se trata da excom unhão de u m m em bro escandalizado, mas Jesus p ronu n­ ciou u m “ai” sobre os que provocam tal situação (M t 18.7). Os “pequeninos” , segundo o contexto do ensino de Jesus, são aquelas pessoas indefesas, incapazes de reagir negativamente. Jesus decla­ rou que os tais são protegidos p o r D eus através dos seus anjos (Mt 18.10). O ra, se u m cristão ofende e escandaliza u m irm ão em C risto e não repara seu erro, pode sofrer o dano de sua atitude. 87 As P a rá b o la s d e Jesu s Porém, se o ofendido dem onstrar disposição para perdoar, sem dúvida estará dentro da matemática divina do perdão, isto é, tom a a iniciativa e o faz, se preciso, até “setenta vezes sete” . A INICIATIVA PARA O PER D Ã O O ra, se teu irm ão pecar contra ti, vai e rep reen d e-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irm ão. M as, se não te ouvir, leva ainda contigo u m ou dois, para que, pela boca de duas ou três testem unhas, toda palavra seja confirm ada. E, se não as escutar, dize-o ã igreja; e, se tam b ém não escutar a igreja, co n sidera-o com o u m gentio e publicano (M t 18.15-17). D e quem d e v e h a v e r a in ic ia tiv a d o p e r d ã o ? A iniciativa deve partir do ofendido. S egundo a orientação do p ró p rio M estre, há um a inversão de posições. N o rm a lm e n ­ te, segundo os padrões tradicionais da experiência hum ana, a iniciativa sem pre deveria partir do ofensor e nunca do ofendi­ do. Jesus inverte os papéis e estabelece u m novo padrão, um a nova m aneira de agir em relação a culpa e perdão. Ele estabe­ lece que a iniciativa deve partir do ofendido, não do ofensor. A filosofia de Jesus difere to talm ente dos sistemas m undanos. A busca da reconciliação deve partir do ofendido para que haja paz entre as partes. O m o d o cristão é buscar sem pre um a o p o r­ tu nidade de dem o nstrar u m coração p ro n to para p erdoar e reconciliar-se. Q u a n d o alguém ofende o seu irm ão dem onstra im aturidade espiritual, p o r isso o ofendido deverá agir com atitude reconciliadora e perdoadora. J e su s c o n fr o n ta se u e n s in o c o m a le i d a T o rá Jesus foi categórico e explícito q uand o disse:“ Se teu irm ão pecar contra ti” . Ele estava falando, na realidade, que o ofendi­ O G r a c io s o P e r d ã o d e D e u s do não deveria esperar que o ofensor viesse até ele para p e d ir perdão, mas que a iniciativa deveria partir do ofendido. Segun­ do estudos mais apurados em alguns m anuscritos, não se en ­ contra a expressão “ contra ti” , do versículo 15. D ev id o à exis­ tência de falhas m ateriais dos m anuscritos originais p o r d e te ri­ oração provocada pelo tem p o é possível que não se en co n tre esta expressão nos originais. E ntretanto , esse fato não m odifica o sentido do ensino de Jesus sobre o perdão. Ele queria que os seus discípulos e todos aqueles que ouviam , especialmente aque­ la parábola, entendessem que o pecado deveria ser confro nta­ do co m os ensinos que a lei ju daica lhes dava. Jesus fez questão de declarar que não veio a este m un d o para renegar a lei mosaica, mas para cum p ri-la. Inteligen tem ente, Jesus explo ro u o co ­ n h e cim en to de um a lei que os seus ouvintes sabiam de cor. T anto Ele q u anto os escribas e fariseus sabiam que a lei daT orá ensinava que o p ró x im o deveria ser co rrig id o quand o achado em pecado, pois ignorar o pecado significava com p actuar com o m esm o (Lv 19.17). A correção era feita reservadam ente para preservar a dignidade de ambas as partes — o irm ão acusado p o d eria não ser culpado e o acusador p o d eria estar enganado. P o r isso a Torá exigia que duas o u três testem unhas sustentas­ sem a acusação se o ofensor se recusasse a atender o cotejo inicial (D t 19.15; cf. M t 18.16).' T rês p a sso s p ara o p erd ã o Três passos deveriam ser dados para que o problem a fosse resolvido. PjTmeiro. o ofendido deveria ir até o ofensor e p ro ­ curar resolver entre am bos em particular. Segundo, se o ofensor não estivesse disposto a solucionar o problem a, então o ofendi­ do procuraria testem unhar o fato levando consigo duas ou três testem unhas para o diálogo entre am bos. E, se p o r todos os m odos, o ofensor se recusasse a resolver o problem a entre am ­ 89 As P a r á b o l a s d e J e s u s bos, deveria levar o caso perante a igreja, para que esta julgasse o caso. E, se p o r fim o ofensor não quisesse m esm o resolver o problem a, o ofendido estaria livre da alma desse ofensor, um a vez que o m esm o não reagisse favoravelm ente ao perdão. N e s­ ta escritura, Jesus indicou, tam bém , a necessidade da disciplina eclesiástica quando o ofensor não se predispõe a reco n h ecer a ofensa. As vezes, a ofensa tinha u m grau de gravidade e n o rm e que p o d eria até m esm o levar ã expulsão (exclusão) da igreja. O que Jesus deixa claro é que devem os buscar todas as form as possíveis de solução. P o rém , se o ofen so r persistir em seu ca­ m in h o de ran co r e im p en itên cia, só resta-lhe a e x co m u n h ã o (1 C o 5.1-5; 2 T s 3.6-15; 2 Jo 10). AS IM PLICAÇÕES D O PER D Ã O (M t 18.21,22) D estacam os an te rio rm e n te os aspectos da rejeição de um a pessoa à autorid ad e de um a igreja, e isto não p o d e ser relacio­ nado co m o papel da igreja rom ana que coloca a autorid ad e da igreja n o patam ar da autorid ad e divina. Isto não se refere a um a hierarquia religiosa o u eclesiástica, até p o rq u e a Igreja de C risto ainda seria edificada quando Ele falou sobre o seu papel n o m undo. H avia naquele tem p o em cada sinagoga ju daica um a ju n ta de anciãos que tratava dos negócios religiosos da sinagoga (congregação, igreja), co n fo rm e se constata em Lucas 7 .3 -5 . A igreja local foi a sucessora da sinagoga e, p o r esta se m odelava, inicialm ente, os serviços in tern o s e os aspectos dis— ciplinares aos seus participantes. Jesus, inteligentem en te, utili­ zou a experiência da sinagoga, de um a form a indireta, para ilu s tra r c o m seus e n sin o s. A ssim c o m o n a sin ag o g a os freqüentadores estavam acostum ados a certos princípios disciplinares, tam bém , a futura igreja que estava sendo fundada, cer­ 90 O G r a c io s o P e r d ã o d e D e u s tos princípios seriam preservados, tais co m o o de levar u m irm ão recalcitrante peran te a com u nidade para falar-lhe e d e­ cidir sobre sua rejeição aos conselhos. A A U TO RID A D E DA IGREJA LOCAL D iz o tex to , em seguida: e, se ta m b é m não escutar a ig reja” (M t 18.17). As in terp retaçõ es q u a n to a esse te x to são diversas p o rq u e d e p e n d e m da fo rm a de g o v ern o adotada p o r cada igreja. A form a co n g reg acio n al e n te n d e q u e o recalci­ tran te deve ser levado p u b licam en te p e ran te a com u n id ad e. P o rém , a fo rm a presbiterial e n te n d e que o assunto deve ser tratado pelo prebistério , p o rq u e este representa a igreja. A fo rm a teo crática é aquela que e n te n d e a a u to rid ad e pastoral co m o capaz de rep resentar os interesses da igreja, p o r causa da sua a u to rid ad e espiritual o u to rg ad a p o r D eus. N ã o cabe neste estud o d iscu tir as form as de a u to rid a d e eclesiástica. P o rém , é indiscutível o fato de que n o versículo 18, Jesus confere ao apostolado peso e a u to rid ad e de p ro ib ir e p e rm i­ tir, assim co m o ligar e desligar q u e m estiver sob a sua a u to ri­ dade espiritual na igreja. C o m p e tia aos líderes espirituais da igreja estabelecer term o s de c o m u n h ã o e regras disciplinares para a igreja local. N ã o se trata de c o n ferir au to rid ad e ex clu ­ siva a um a pessoa, co m o n o caso de Pedro, mas a a u to rid ad e era extensiva aos dem ais apóstolos. S u b e n te n d e-se q u e esta a u to rid ad e é co n ferid a ao lo n g o da h istória da Igreja aos lí­ deres de q u alq u er igreja local. A igreja rom ana defende a idéia de que P edro foi ú n ico q u e receb eu esse tip o de a u to rid ad e e, daí p o r diante, so m en te o seu sucessor exerceria esta a u to ­ ridade. E ntretanto, ainda no p rim eiro século da era cristã, Pedro foi censurad o p o r te r exercido a u to rid ad e in d e p e n d e n te dos dem ais apóstolos (G1 2 .1 1 -1 5 ). 91 As P a rá b o la s d e Jesu s O tr a t a m e n t o d a ig r e ja c o m o s r e c a lc itr a n te s A declaração “ considera-o com o u m gentio e publicano” (v. 17) deve ser avaliada, não com o um a form a de discriminação, mas segundo o fato de que gentios e publicanos eram classes de pesso­ as sem qualquer compromisso com o D eus de Israel. O s gentios eram todos os estrangeiros que não faziam parte das promessas de Israel, mas queriam ser tratados com o irmãos de fé, mas Israel rejeitava tal possibilidade. Q uando Jesus citou, por um a perspecti­ va negativa, gentios e publicanos, não tinha em m ente qualquer tipo de discriminação racial ou social. O contexto deve ser anali­ sado para se ter em m ente o que Jesus quis dizer aos seus discípu­ los. Percebe-se, então, que Jesus referia-se a essas duas classes de pessoas com o estranhas à vida religiosa, em especial a dos judeus. Aliás,Jesus sempre foi amável com aqueles que os judeus conside­ ravam “pecadores” , tais quais os gentios e publicanos. Por serem estrangeiros que não estavam com prom etidos com os ditames e regras judaicas, os gentios eram reputados p o r pecadores. Os publicanos, p o r sua vez, podiam ser gentios, mas a m aioria deles era constituída p o r judeus que não tinham qualquer com prom is­ so com os interesses judaicos, tanto em term os políticos com o religiosos. Por isso, os publicanos que eram judeus eram conside­ rados traidores pelos demais judeus, um a vez que eram cobradores de impostos da parte do Im pério R o m a n o no governo da Pales­ tina. Portanto, um a pessoa que endurece o coração para o perdão e que se rebela contra qualquer possibilidade de reconciliação é considerada um a pessoa recalcitrante, para a qual resta-lhe toda a responsabilidade e penalidade. P r e v e n ir a n te s d e ju lg a r O profeta E zequiel, no capítulo 3, versículos 18 e 19, falou ao povo de Israel e deu um a conotação de responsabilidade 92 O G r a c io s o P e r d ã o d e D e u s pessoal: “ Q u a n d o eu disser ao ím pio: C erta m e n te m orrerás; não o avisando tu, não falando para avisar o ím pio acerca do seu cam inh o ím pio, para salvar a sua vida, aquele ím pio m o rre ­ rá na sua maldade, mas o seu sangue da tua m ão o requererei. Mas, se avisares o ím pio, e ele não se converter da sua im piedade e do seu cam inho ím pio, ele m orrerá na sua maldade, mas tu livraste a tua alm a” . A ntes de qualquer ju ízo precipitado, todo líder cristão deve esforçar-se ao m áxim o para salvar aquela vida de um a condenação da qual não poderá voltar atrás posterior­ m ente. A igreja não é um a casa de execução sumária; porém , deve preservar seus valores disciplinares procurando salvar vidas, até porque o ju ízo final sobre qualquer pessoa não nos pertence. Assim com o há deveres para o m em bro co m u m da igreja, tam ­ b é m há deveres para os que lideram a igreja do D eus vivo. N os versículos 18 a 20, Jesus estabelece o p rin cíp io de au­ to ridad e espiritual da liderança da igreja referente à questão disciplinar que envolve o ofensor e o ofendido. N o versículo 18 Jesus d eixo u explícito que o líder espiritual da igreja — no caso, o pastor — te m autorid ad e para “ligar e desligar” no céu e na terra a pessoa em dívida espiritual para co m D eus e co m a igreja. N atu ralm en te, o abuso dessa au to rid ad e, o u o seu em prego de form a equivocada, p o d e gerar conseqüências n e ­ gativas.Tem havido ao lo ngo da história da Igreja m uitas injus­ tiças contra pessoas que co m eteram falhas m orais e espirituais O C O N C E IT O DE JESUS SO BRE O PER D Ã O N o m u n d o m o d e rn o existem m ilhares e m ilhares de obras de ajuda pessoal que desenvolvem conceitos sobre os assuntos mais diversos de ordem m oral e psicológica. Jesus fez m uito mais que em itir m eros conceitos morais; Ele os evidenciou 93 As P a r á b o l a s d e J e su s ensinando e praticando no dia-a-dia de sua vida terrena. P o ­ rém , na Parábola do C re d o r Incompassivo, o u seja, do perdão irrestrito, c om o prefiro referi-la neste estudo, Jesus utiliza toda a sua argúcia para ilustrar com o se deve, de fato, p erd o ar a q u em nos ofende. U m a p e r g u n ta q u e p r o v o c o u u m a r e s p o sta c o n c e itu a i N o versículo 21 tem os um a p erg u n ta feita co m u m a m e n ­ talidade legalista que pro v o co u u m a resposta co n ceitu ai ca­ paz de ro m p er com estigmas m oralistas sem n e n h u m a coisa nova que pudesse resolver o p ro b lem a de culpa e perdão. D iz o texto: “E ntão, Pedro, ap ro x im an d o -se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará m eu irm ão co n tra m im , e eu lhe perdoarei? A té sete?” (M t 18.21) Foi o in trép id o P edro q u em fez a p erg u n ta que levou Jesus a dar um a resposta que m u d a ­ ria o c o n ceito de perdão. Jesus havia falado de ofensa e p e r­ dão e isto pro v o co u curiosidade entre os discípulos. A p e r­ g unta de P edro procurav a d e te rm in a r a quantidade de vezes que se deveria p e rd o a r u m ofensor. A idéia que Pedro tinha sobre a atitude de perd ão referia-se a um a prática entre os ju d e u s de que a q u an tid ad e legal para se p e rd o a r alguém seria de três e sete vezes. E ra tradicion al o ensino dos rabinos “ de q u e se pod ia p e rd o a r o ofensor até três e não ir até quatro vezes” (Am 1.3;Jó 33.29,30 ). A m a te m á tic a d o p e r d ã o Essa m atem ática apresentada p o r Jesus, co m o resposta à p e rg u n ta de Pedro, viria a rev olucio nar os sistemas de valores m orais e espirituais existentes: “ N ã o te digo que até sete, mas até setenta vezes sete” (M t 18.22). A tradição estabelecia três ou sete vezes a q u an tid ad e para o perdão. Jesus q u e b ro u a 94 O G r a c io s o P e r d ã o d e D e u s m atem ática legalista dos ju d eu s e, num a linguagem hiperbólica, falou em setenta vezes sete, para in d icar u m n ú m e ro ilim ita­ do para a capacidade de p e rd o a r o ofensor. P o r exem plo, a B íblia fala do an ted ilu v ian o L am eque, o qual teve sua c o n d e ­ nação am pliada, não apenas sete vezes co m o C aim , mas se­ te n ta vezes sete (G n 4.23,24). Jesus, co m seu m é to d o rev olu­ cionário, transform a o co n c eito negativo em positivo, de se­ te n ta vezes sete de condenação, para setenta vezes sete o ato de perdoar. PER D Ã O E JU STIÇ A ( M t 18.23-35) D epois da resposta que Pedro recebeu, Jesus aproveitou o ensejo da curiosidade dos discípulos para lhes ensinar u m novo conceito de perdão através de um a sábia parábola. O a ju ste d e c o n ta s O versículo 23 declara que u m certo rei resolveu acertar as contas co m os seus servos. U m deles devia “ dez m il talentos” (v. 24) e, naturalm ente, o rei ch am o u -o para o ajuste de contas. A lição inicial que o M estre queria dar aos seus discípulos era de que haveria u m dia, em que, todos prestaríam os contas ao Senhor. A Bíblia declara que esse ajuste de contas será inevitá­ vel. Nossas dívidas espirituais para co m D eus são imensas, pois cada pecado que com etem os constitui-se um a dívida que c o n ­ traím os co m D eus. N ão se trata de um a dívida co m u m , mas um a dívida co m o R e i, o nosso Senhor. E m 2 C o rín tio s 5.19, Paulo usa a expressão “ ...n ão lhes im p u tan d o os seus pecados” , que significa “ não lhes to m an d o em conta os seus pecados” . Temos hoje u m fiscal co b rad o r dessa conta que é a nossa cons­ ciência (coração), mas tem os alguém que pag o u a nossa conta com o seu p ró p rio sangue, Jesus C risto (1 Jo 3.20; 1.7). 95 As P a rá b o la s d e Jesu s A im e n s a d ív id a c o n t r a íd a ( w . 2 3 ,2 4 ) A quele servo do rei devia “ dez m il talentos” , indicando que sua dívida era m u ito m aior do que ele p o d eria pagar. O perdão do rei foi total para aquela dívida, e aquele servo não ficou devendo absolutam ente nada. Todos nós precisam os re­ co n h ecer que som os devedores de D eus e Ele nos p erd o o u , p o r causa do seu grande am or. Q u e m ama a D eus am a ao seu próxim o. Assim com o D eus nos p e rd o o u to da a dívida que tínham os para co m Ele, tam bém devem os perdoar os nossos devedores (M t 6.15). A d ív id a e r a i m p a g á v e l (M t 1 8 .2 5 ) D iz o texto que o servo,“não ten d o com que pagar” , ape­ lo u à com paixão do seu senhor. D o p o n to de vista bíblico, to d o pecado é u m a dívida insolvente, isto é, somos incapazes de pagá-la. Se D eus cobrasse segundo a perfeita ju stiça seria­ m os condenados co m o devedores insolventes. A ju stiça req uer satisfação. Q u a n d o se m ede a justiça co m o m érito do pecado, não resta n e n h u m esforço p ró p rio para satisfazer a justiça divi­ na. S egundo o p rin cíp io b íb lic o ,"... o salário do pecado é a m o rte ” (R m 6.23). Isto significa que o pagam ento que recebe­ m os p o r nossos pecados é a m orte. Sem o perdão divino, a m o rte eterna será inevitável, mas C risto veio a este m u n d o e pagou a nossa dívida (1 Pe 2.24). A j u s t iç a c o m p la c e n t e (M t 1 8 .2 6 ,2 7 ) A quele servo não tinha com o pagar sua dívida. E ntão, de­ sesperado, apelou ao coração b on doso do rei para dar-lhe te m ­ p o para pagá-la. O rei ficou com padecido daquele h o m e m e p e rd o o u -lh e to da a dívida. A despeito daquele servo não m e ­ recer perdão, pois o seu coração era irresponsável e insensato, 96 O G r a c io s o P e r d ã o d e D e u s d u ro para co m os outros, o rei ainda assim com padeceu-se dele. A atitude daquele rei dem onstra o que D eus fez p o r nós. Som os im erecedores da com paixão divina, mas sua justiça tem em sua essência a m isericórdia, p o r isso Ele foi capaz de p e rd o ­ ar todos os nossos pecados. O pagam ento exigido pela justiça teria de ser pago e Jesus assum iu a nossa dívida. Ele nos p e r­ doou! (1 Jo 1.7-9). A IN C LEM ÊN CIA D O SERVO PE R D O A D O (M t 18.28-35) A c r u e ld a d e e s e v e r id a d e d e u m ser v o in c le m e n te O s versículos 28 a 30 diz que aquele servo, ao sair da casa do seu sen h o r anistiado q u anto à sua divida, não teve a m esm a atitude co m u m conservo seu que lhe devia um a im portância b e m m enor. Toda aquela dem onstração de benevolência do seu senhor não lhe serviu de exem plo na h o ra de tratar co m alguém que lhe devia. Esse servo agiu com extrem a crueldade e aspereza. Seu rig o r revelou seu coração egoísta dom in ado p o r um a desm edida avareza. T ão logo, aquele servo perdoado saiu da presença de seu senhor, foi atrás de u m conservo que lhe devia e passou a cobrar-lhe sem m isericórdia. Sua atitude foi de um a crueza m aldosa para com o h o m e m que lhe devia e contrastava co m a b on d ad e e a com paixão do seu senhor. Ele queria m isericórdia, mas não era capaz de usar de m isericórdia para co m o próxim o. A diferença de ambas as dívidas era e n o r­ m e, pois, e n q u an to o servo devia dez “m il talento s” , o seu c o n ­ servo lhe devia tão -so m en te “ cem dinheiros” .E le esqueceu-se com p letam en te da b on dade de seu senhor e não m ed iu conse­ qüências ao cobrar do seu conservo sem n e n h u m resquício de m isericórdia. O texto declara que esse servo usou de violência, p eg an d o -o co m ambas m ãos pelo pescoço e apertava-o e su­ 97 As P a r á b o l a s d e J e s u s focava-o sem pena. D iz literalm ente o texto que aquele servo, “ ...lan çan d o m ão dele,sufocava-o” (v. 28). N o m u n d o da im piedade não há m isericórdia. Esse espíri­ to m u n d an o te m de ser repelido do m eio cristão, mas às vezes constatam os atitudes sem elhantes de irm ãos contra irm ãos no seio da igreja. O senho r daquele servo, ao saber de sua cruelda­ de com o outro, ficou indignado e m an d o u cham á-lo para que fosse conscientizado de que, não sabendo ser ju sto co m o seu conservo, não lhe restava outra atitude, senão cu m p rir o rigor da lei (M t 18.32,33), c o n d e n a n d o -o a pagar p o r sua crueldade. O s e n h o r d a q u e le s e r v o r e v o g o u o p e r d ã o d a d ív i­ d a ( M t 1 8 .3 4 ) O que significa “revogar” ? Significa to rn a r sem efeito um a p rim eira decisão tom ada. A quele senho r to rn o u nulo, isto é, invalidou o perdão concedido àquele servo in grato e incle­ m ente. Isto nos ensina que as dívidas que contraím os co m D eus p o r nossos pecados são tratadas na sua totalidade. O u terem os o perdão co m p leto ou se paga a p ena na sua totalidade. Q u a n ­ do aceitam os a C risto, toda a dívida é perdoada m edian te o pagam ento satisfeito pela obra expiatória que C risto ofereceu ao Pai no Calvário.Veja o que o au to r da Epístola aos H ebreus escreveu sobre essa questão: “M as este, havendo oferecido u m ú n ico sacrifício pelos pecados, está assentado para sem pre à destra de D eus, daqui em diante esperando até que os seus inim igos sejam postos p o r escabelo de seus pés. Porque, com u m a só oblação, aperfeiçoou para sem pre os que são santifica­ dos” (H b 10.12-14). O ra, o que significa “ oblação” ? Esta pala­ vra, no sentido mais simples, significa “ oferta” que se faz a D eus. E ntend e-se, p o rtan to , que Jesus ofereceu a oferta perfeita, total e única da sua p ró p ria vida na cruz do C alvário e isto resultou 98 O G r a c io s o P e r d ã o d e D e u s no “perdão c o m p le to ” de C risto. P or isso, as atitudes daqueles que foram perdoados são pautadas pela obra do E spírito Santo no sentido de santificação, isto é, separação total do pecado. E ntretanto , o que nos cham a a atenção nesta parábola é o fato daquele senhor, ao descobrir o ato de injustiça praticado contra o seu conservo que lhe devia, revogou o perdão co n ce­ dido àquele servo. Esta atitude do rei desfaz aquela idéia de que “um a vez salvo, salvo para sem pre” , pois a salvação req u er de todos nós a preservação daquilo que recebem os. A quele servo não soube preservar a bênção do perdão p orqu e não soube perd o ar ao seu conservo. A obra salvífica im plica sua ação em três tem pos distintos. N o tem p o passado, em relação ao perdão salvador que recebem os. E a salvação da pena do pecado. N o tem p o presente, im plica a preservação do perdão recebido e o m o d o co m o o vivenciam os em relação ao nosso próxim o. E a salvação da presença do pecado, ou seja, da reali­ dade do pecado que nos rodeia tão de perto. E, p o r fim, no tem po futuro refere-se à salvação do co rp o do pecado. O ra, para serm os salvos no futuro precisam os corresponder aos p rin ­ cípios de justiça, pelos quais fom os salvos. Porém , é n o versículo 35 que tem os a resposta. J e s u s f a z a a p lic a ç ã o d a p a r á b o la O tex to diz, literalm ente: “Assim vos fará tam b ém m eu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada u m a seu irm ão, as suas ofensas” (M t 18.35). A o p erd o ar alguém que nos ofende devem os fazê-lo de coração, pois o perdão é u m dos elem entos vitais para a sobrevivência, indispensável para term o s um a vida saudável, física, m oral e esp iritu alm en te. A p ren d em o s nesta parábola que o “ ...juízo final será sem m isericórdia sobre aquele que não fez m isericórdia; e a m isericórdia triunfa sobre o ju íz o ” (Tg 2.13). A lição que aprendem os nesta parábola corresponde 99 As P a r á b o l a s d e J e s u s ao co n tex to d o u trin á rio de toda a Bíblia sobre perdão,justiça e ju ízo. Existe u m co n ceito universalista que declara que D eus é am or e ao final de todas as coisas, Ele perdoará a todos sem distinção. P orém tal conceito não te m respaldo bíblico. A B í­ blia nos m ostra q u e a justiça jam ais deixa de ser cum prida. A p ena do pecado é sem pre inevitável. Se eu não posso perdoar aquele que peca contra m im , co m o po d erei esperar o perdão de Deus? C o n tu d o , se sou perdoado e aprendo a perdoar aquele que m e ofende, satisfaço a justiça de D eus. C O N C LU SÃ O Q u e é,pois, o perdão? O perdão im plica na capacidade de anular a dívida contraída de nosso irm ão contra nós m esm os e que jam ais será lem brada. E o que D eus fez p o r nós (H b 8.12). C o n fo rm e n o ta explicativa do C o m e n tá rio P entecostal. C P A D : R io de Janeiro, 20 03, p. 107. 100 C a p ít u l o 8 C r is t o , A R o c h a In a b a l á v e l M a t e u s 7 .2 1 - 2 8 S e o S e n h o r n ã o ed ifica r a casa, e m vã o tra b a lh a m os q u e e d ific a m . S a lm o s 1 2 7 . 1 As mais notáveis m ensagens de Jesus e m sua vida te rre n a fo ram apresentadas através de parábolas. Ele era capaz de fu ­ gir dos m éto d o s de lin g u ag em que explorassem apenas a re­ tó ric a sem clareza nos p en sam en to s e nas idéias. Ele sabia usar as figuras de lin g u ag em que despertassem a atenção dos seus o u v in tes e os levassem a refletir sobre os co n ceito s apre­ sentados. As parábolas eram ricas e persuasivas. Ele não foi u m m ero pro sead o r o u c o n ta d o r de histórias, mas apresenta­ va suas verdades profundas através de um a lin g u ag em acessí­ vel ta n to para o sim ples c o m o para o in telectu al e os c o n d u ­ zia para d e n tro das parábolas. Suas narrativas tin h a m consis­ tên cia e, a despeito da sim plicidade, eram singulares e in c o m ­ paráveis. Ele era capaz de d izer u m a g rande verdade apenas c o m u m d ito parabólico, u m sím ile que ilustrasse a verdade que desejava expor. Sua criatividad e neste m é to d o de lin g u a­ g em o to rn o u o M estre dos m estres. Ele pod ia ilustrar através As P a r á b o l a s d e J e s u s de um a parábola os mais diversos assuntos c o m p aran d o -o s co m coisas da vida cotidiana das pessoas. Ele foi capaz de tran sp o r a h istória q uand o expôs verdades que só te ria m sen­ tid o n o futuro. A Parábola das D uas Casas é a parte final do Serm ão da M o n tan h a, precedida pelo ensino de u m p rin cíp io vital que im plica n um a distinção entre obediência e desobediência. N os versículos 21 ao 23, antecedendo o sentido prático do seu e n ­ sino, a parábola faz um a clara adm oestação relatando que não basta fazerm os coisas típicas de um a espiritualidade exterior. P o r mais notável que pareça um a religiosidade e x terio r de­ m onstrada em regras e conceitos de m oralidade, nada disso nos levará ao céu, a não ser que te n h a m o s u m a c o n d u ta que corresponda àquilo que fazemos ex terio rm en te. A ntes de tudo, D eus espera de nós atitudes in teriores de f L e obediência que possam ser ex teriorizadas. Jesus estava p reo cu p ado co m um a falsa p rofissão, de fé que se exteriorizava apenas de lábios. E m segund o lu gar, destacou tam b ém que n ão basta o uv ir a verda­ d e sem, p raticá-la. O m o d o com o procuram os ouv ir os ensinos de Jesus será identificado no m o d o com o praticam os aquilo que ouvim os. A través desta paráb o la ap ren d ere m o s a im p o rtâ n c ia do co m p ro m isso q u e devem os te r c o m o cristian ism o v e rd a­ d eiro e a m e lh o r fo rm a que Jesus u so u para a p ren d erm o s esta verdad e ilustrada. E le ilustra duas c o n stru çõ e s feitas p o r d iferen tes h o m en s: um a “ so b re j i ro c h a ” e a o u tra “ so b re a a re ia ” . A licão p rim o rd ia l é m o stra r c o m o devem os c o n str u ir nossa vida espiritu al; e n tre ta n to , nos_ in d ica ojdp.o de m ateria l de c o n stru ç ã o e o solo sobre o qual c o n stru ir. O p rin c íp io de “ o u v ir e p ra tic a r” , “ o b e d e c e r e d e so b e d e c e r” será re c o n h e c id o pela nossa c o n d u ta , em relação a D eus e ao m u n d o n o qual vivem os. 102 C r is t o , a R o c h a In a b a l á v e l ADVERTENCIAS Q U E PR E C E D E M A PARÁBOLA Esta parábola co n té m verdades contrastantes co m o ensino dos escribas e fariseus:“E acon teceu que, co ncluindo Jesus este discurso, a m ultidão se adm irou da sua d o u trin a, p o rq u an to os ensinava com autoridade e não com o os escribas” (M t 7.28,29). Se a autorid ad e dos escribas e fariseus baseava-se m u ito mais na força da letra dos oráculos de D eus, a autorid ad e de Jesus baseava-se na força do espírito desses oráculos. P ortanto, o e n ­ sino de Jesus desmascarava a hipocrisia dos seus inim igos. N aturalm ente, para en ten d erm o s a finalidade da Parábola das D uas Casas, precisam os voltar ao co n tex to do ensino que Jesus queria transm itir aos seus discípulos. A linguagem figura­ da da parábola ilustra a im portância da firm eza e, ao m esm o tem po, da vulnerabilidade das pessoas em relação às coisas es­ pirituais. Para culm inar seu discurso, o M estre constru iu u m cam inho pelo qual chegaria à parábola utilizando-se da m es­ ma. U m p o u co antes, e x o rto u seus ouvintes acerca de alguns cuidados que deveriam ter. Estas advertências foram aclaradas co m o enredo da parábola. O teólogo J. C. R y le, em seus com entários bíblicos do E vangelho de M ateu s, dejtaca três g ru p os de religiosos que p o d em ser notados: os “falsos p rofetas” (M t 7.15-20); os ‘‘falsos p rofessos” (vv. 21-23) e os “falsos o u v in tes” (vv. 24-27). A p r im e ir a a d v e r tê n c ia : D is t in g u ir o fa ls o e o v e r ­ d a d e ir o Jesus adverte contra os “falsos profetas” que surgiam no seio da igreja. N os versículos 13 e 14, deste m esm o capítulo, Jesus apresenta as figuras de “ d uas p o rtas” e de “ dois cam i- 103 As P a r á b o l a s d e J e s u s n h o s” . A m bas as figuras estão im plícitas q u anto ao ensino qual Ele queria transm itir aos seus ouvintes naquele discurso. Ele fala do cam inho largo e o, estreito, b e m c o m o fala da porta estreita e a larga. Aos_que trilh am para entrarem -pela p o rta estreita^precisam estar alertas às am eaças que surgem n o cam i­ nho, pois as mesm as, co m o in tu ito de desviar e interceptar nosso objetivo, im p ed em -n o s de conquistarm os o R e in o dos céus. Esses interceptores são indicados com o “falsos profetas” . Q M estre n os convida a en trarm os pela p o rta estreita, mas essas.am eaças to rn am -se em pecilhos c -obstáculos para n ossa caminhada.. Q u e m são esses.obstáculos? Q s “falsos profetas” . Q u e m são esses falsos profetas? O que eles representam e com o p o d em ser reconhecidos? E m p rim eiro lugar, precisam os id en ­ tificar u m profeta verdadeiro com o aquele que recebe de D eus um a m ensagem para ser entregue aos hom ens. A responsabilidade de u m profeta era en o rm e; ele deveria dizer apenas aquilo que recebeu, sem acrescentar ou dim inuir. E ntretanto, o falso profeta declarava-se p o rta-voz da palavra de Deus. mas_falsificava_a m ensagem original, dando outra com ple­ tam ente diferente. N aturalm ente, a missão do profeta era a de conduzir os hom ens no cam in h o de D eus: entretanto, eles assim o faziam diferentem ente, condu zin do- os p o r cam inhos fora da vontade d e D e u s. E ram falsos guias, falsos c o n d u to res. Desde o_. A ntigo Testam ento, os verdadeiros profetas advertiam o p o m .d e . Israel acerca dos falsos profetas, tam bém identificados de pasto­ res in úteis. A profecia de.Zacarias 11.16,17 declara: Porque eis que levantarei um pastor na terra, que não visitará as que estão perecendo, não buscará a desgarrada, e não sarará a doente, nem apascentará a sã; mas com erá a carne da gorda e lhe despedaçará as unhas. Ai do pastor in ú ­ til, que abandona o rebanho; a espada cairá sobre o seu bra- 104 C r is t o , a R o c h a In a b a l á v e l ço e sobre o seu olho direito; o seu braço com pletam ente se secará, e o seu olho direito com pletam ente se escurecerá. N a verdade, D eus prediz a suscitação de u m falso profeta, ou seja, u m falso pastor que o d en o m in a de “in ú til” aos in te ­ resses do reb anh o de D eus. Fala do abuso das ovelhas e da falta de cuidado e proteção pastoral. Seria alguém que cuidaria ape­ nas dos seus pró p rio s interesses e, para satisfazer sua luxúria, desviaria as ovelhas p o r cam inhos escabrosos e fora dos cam i­ nhos de D eus. D e u m certo m o d o , Jesus referià-se a esse tipo de “falso profeta” , os quais viviam n o m eio do povo de Israel naqueles dias, mas que agiam “vestidos de ovelhas” , sendo, de fato, lobos. O quadro religioso vivido p o r aquela geração dos seus dis­ cípulos era exatam ente o que dem onstrava a casta religiosa re­ presentada pelos “ escribas e fariseus” . C onsideravam -se “ guias espirituais” que professavam co n d u zir o povo no cam inho da verdade, mas eram , de fato, falsos profetas, que os levavam a satisfazer seus p ró p rio s interesses. Q u a n d o os lobos “vestidos de ovelhas” en tram n o m eio do rebanho, as ovelhas não p erce­ b e m co m facilidade a m entira e o engano, porque só v êem o exterior. N ã o faltam hoje no seio da igreja os “falsos profetas” , que não passam de falsos guias espirituais, isto é, falsos pastores do reb anh o do Senhor. Jesus alertou para este fato e in d ico u que a farsa p o d e ser identificada e reconhecida pelo exam e dos fru to s desses e le m e n to s: “ P o rta n to , p elo s seus fru to s os conhecereis” (M t 7.20). C rem os no m inistério profético no seio da igreja com o havia nos seus p rim órdio s. E ntretanto , a atividade profética não ficou detida o u restrita àqueles dias p o rq u e a sua m anifestação aconteceria, de m o d o distinto da m anifestação profética no Antigo Testam ento. A profecia seria um a manifestação através 105 As P a rá b o la s d e Jesu s do d o m da profecia dado para instrução, edificação e ex o rta­ ção (1 C o 12.10; 14.3). A Bíblia recom en da que as m ensagens proféticas sejam julgadas segundo a Palavra de D eus. Isto in d i­ ca que a igreja precisa desenvolver a capacidade de discerni­ m en to espiritual de toda e qualquer m anifestação, para que se evite distorções e heresias. Falsos profetas tê m surgido no seio da igreja produ zindo grandes danos à igreja de C risto com o u m todo. Lam entavel­ m ente, a Palavra de D eus te m sido relegada a u m segundo plano na direção espiritual da igreja, e tem se dado exagerada ênfase a m anifestações espirituais relativas aos dons, sem o d e­ vido respaldo bíblico que serve de orientação para a vida da igreja. A m elh o r ou a m aior profecia espiritual não é a profe­ rida m eram en te p o r algum profeta, mas aquela m ensagem res­ paldada nos princípios que n o rteiam a m inistração desse dom . A parência de santidade e persuasão pessoal p o r atitude piedosa não se constitui prova de autenticidade.T oda m ensagem p reci­ sa ser provada e julgada pelos critérios da Palavra de D eus. N aqueles dias, Jesus perceb eu que os chefes religiosos, à sem elhança dos seus antecessores (Jr 28), arrastavam o povo à ruína espiritual.Jesus previa o p erigo futuro contra a sua igreja, quand o falsos profetas entrariam no m eio do povo de D eus “vestidos de ovelhas” , com aparência de santidade e piedade, mas seriam , na verdade, “lobos devoradores” que arrebatariam as ovelhas do aprisco do Senhor. O fru to seria a prova m aior que revelaria esses falsos profetas (M t 7.16). U m a vez que não é fácil distinguir o falso do verdadeiro, resta tão -so m en te p e r­ ceber essa.distinção “p o r seus fru to s” . A s e g u n d a a d v e r tê n c ia : D i z e r s e m fa z e r (M t 7 . 2 1 - 2 3 ) C o n fo rm e citam os a n terio rm en te, J. C. R y le in d ico u u m segu n d o g ru p o de religiosos, que são “ os falsos professos” . Q u e m 106 C r is t o , a R o c h a In a b a l á v e l são eles? C o m o agem e co m o p od em os identificá-los? São aquelas pessoas que declaram “ crer” no Evangelho, mas sua profissão de crença é falsa, p o rq u e dizem o que não praticam . J o h n S to tt, teólogo inglês, c o m e n to u esse texto de M ateus e o in te rp re to u co m o “ o ato de fazer-se um a profissão de fé sim plesm ente verbal” . Q u a n d o alguém apenas diz crer em J e ­ sus, mas não lhe obedece está, na verdade, negando aquilo que diz crer. Confessa co m a boca, mas neg a-o co m as obras. N o versículo 21 está escrito: “ N e m to d o o q u e m e_d iz” , isto é, n e m to d o aquele que fala m u ito significa estar falando a verda­ de do seu coração. Logo n o versículo 22, Jesus d iz: “M u ito s, naquele dia, hão de dizer” . N o te a distinção entre as duas frases. A p rim eira diz: “ n em to d o ” ejna frase seguinte, diz: “ m u i­ tos hão de d izer” , in d ican do que são duas situações distintas. A p rim eira refere-se ao simples ato d e falar sem qualq uer co m prom isso co m D eus. A segunda ap o n ta para o_“ ú ltim o dia” , qu a n d o, n em todos, mas m uitos hão de te n tar se j u stificar di­ ante de D e u s, mas será tarde. N a verdade, o que Jesus ensina é que devem os, sim, confes­ sar a nossa fé de m o d o verbal, mas esse ato deve ser acom pa­ nhado da obediência ao que Jesus ensinou. D esenvolveu-se no seio da igreja .nos, ú ltim o s^ di^s um a h e resia sobre “ o p o d e r da palavra” . Essa teologia ensina que somos amaldiçoados ou aben­ çoados p o r aquilo que dizem os. Sem dúvida, esse p o d e r das palavras é m u ito relativo, p o rq u e se D eus, em sua infinita sabe­ doria, nos julgasse e condenasse pelas palavras que proferim os, n e n h u m de nós estaria vivo. Jesus sabia da vulnerabilidade em ocional nas coisas que fazem os o u falamos, p o r isso o m ín i­ m o que Ele espera daqueles que professam crer nEle é que sejam capazes de praticar aquilo que dizem o u professam. N a ­ turalm ente, todos nós precisam os controlar nosso “ h o m e m in ­ te rio r” para que nossa língua tam b ém seja controlada. E in te­ As P a r á b o l a s d e J e s u s ressante n o ta r que Jesus, naquele discurso, não se d irig iu a pes­ soas irreligiosas, mas a pessoas que diziam crer nEle. E ram pes­ soas exigentes q uanto aos requisitos das leis mosaicas, mas que não eram sinceras quanto à sua prática. C ham avam a D eus de Senhor, mas não faziam, de fato, a vontade do Senhor. A esses, o S en h o r lhes diz: “ apartai-vos de m im , vós que praticais a in iq ü id ad e” . N ã o basta d izer:“ Senhor, S en h o r” . E preciso que nossa confissão seja autêntica, verdadeira e acom panhada de real obediência ao S en h o r (R m 10.9,10). O “fazer” é req u eri­ do além do ato de “ dizer” (M t 6.10; 28.20). A te r c e ir a a d v e r tê n c ia : O u v ir s e m p r a tic a r o q u e o u v iu (M t 7 .2 4 -2 6 ) Q terceiro tipo de religiosos apontado p o r R y le se c o m ­ põ e dos “falsos o u vintes” , com o está declarado n o versículo 2 6 :“E aquele que ouve estas m inhas palavras e as não pratica...” Existem , na verdade, dois tipos de o uvintes: o q u e_ouve e p ra­ tica o que o uv iu e aquele que ouve e.não pratica o que ouviu. O s seguidores de Jesus não só são desafiados e estim ulados a “ ou v irem as suas palavras de vida e te rn a ” , mas tam b ém a colo­ carem em prática as palavras ouvidas. A quele que “ ouve e pra­ tica” é com parado “ ao h o m e m p ru d e n te ” . Porém , aquele que apenas “ ouve as palavras de C risto ” e não as pratica é com para­ do ao “h o m e m insensato” . Tiago, irm ão do Senhor, escreveu em sua epístola que “A religião pura e im aculada para co m D eus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas trib u laçõ es e guardar-se da co rru p ção do m u n d o ” (Tg 1.27). O que sabe o u v ir é tratado co m o “sábio” p o rq u e desenvolve a capacidade de crer que é, antes de tudo, u m ato volitivo, um a atitude de nossa vontade. D ispor-se a o u v ir é um a form a de crer. C re r é querer, p o rq u e 108 C r is t o , a R o c h a In a b a l á v e l o fato de crer nas palavras de C risto ultrapassa a barreira do “ ego h u m a n o ” para conquistar “o saber” nas palavras de C ris­ to. A “prática” daquilo que se “ ouve de C risto ” significa a su­ peração das dificuldades do “ cam inho estreito e da p o rta es­ treita” (M t 7.13,14). A PARÁBOLA EXPLICADA Todo o c o n tex to dessa parábola era u m a preparação da parábola que Jesus p ro p o ria aos seus ouvintes. A parábola das duas casas construídas, um a sobre a rocha e a outra sobre a areia, seria apenas u m co n to interessante, sem n e n h u m signifi­ cado para aqueles ouvintes, se não houvesse um a razão especial da parte de Jesus. N a realidade, a parábola tm ha u m caráter ilustrativo das verdades apresentadas p o r Jesus. N os versículos 24 a 27, Jesus dá u m d irecionam ento à sua m ensagem . Ele havia ensinado aspectos relacionados com “ o dizer e o fazer” e, tam bém , c o m “ o o u v ir e p raticar” .D ep o is de estabelecer que aqueles que aceitassem as suas doutrinas e as praticassem certam en te ganhariam o céu, e para os que não as aceitassem, teriam u m destino final trágico. Para to rn a r mais claro o seu ensino Jesus apresenta a Pará­ bola das D uas Casas: um a construída sobre a rocha e a outra, sobre a areia. D ois personagens se destacam nesta parábola: o h o m e m p ru d e n te e o h o m e m insensato. A casa construída p o r cada u m desses personagens é m etaforicam en te com parada à construção do caráter desses dois hom ens. N o ta-se que o M es­ tre descreve o que acontece quand o se desencadeia sobre esses dois ho m en s tem pestades de chuvas e vendavais. U m deles su­ p orta b e m as vicissitudes sobre sua vida p o rq u e co n stru iu seu caráter em lugar firm e, mas o o u tro não suporta o revés e se desm orona com pletam ente. 109 As P a r á b o l a s O hom em d e J e s u s p r u d e n te C o m o identificar “o hom em p rudente” ? (v. 24). N ão se trata simplesmente de um a qualidade da alma ou do espírito. P ru d ên ­ cia é um a qualidade vital de sobrevivência. A parábola sugere que aquele hom em prudente tinha u m com portam ento equilibrado. Era alguém que sabia o que queria e o que estava fazendo. Era alguém que fazia as coisas de sua vida com equilíbrio racional. N ão agia induzido p o r meras emoções, porque preferia as coisas consistentes. U m a pessoa prudente desenvolve a capacidade da moderação, da cautela e da sensatez, p o r isso ele é considerado sábio, porque constrói sua vida sobre fundam ento firme. P rudên­ cia é um a qualidade moral que deve ser cultivada, especialmente pelas pessoas de tem peram ento colérico ou sangüíneo. A precipi­ tação é típica das pessoas que não param nunca para pensar no que devem fazer, p o r isso acabam tendo frustrações. A moderação, a ponderação, a precaução e a sensatez são term os sinônimos que devem n ortear a nossa vida na construção dos nossos valores m o ­ rais e espirituais. O texto nos diz que o h om em prudente, em bora tenha sido com batido no seu caráter, manteve-se firme. Ele não desanim ou porque m esm o tendo sido surrado pelas tempestades, não perdeu a confiança na rocha onde construiu sua casa. O ato de “edificar sobre a rocha”, com o sugere o texto significa aquele que “ escuta as palavras de Jesus e as pratica” (v. 24). A vida cotidi­ ana implica num a aprendizagem enquanto vivemos, p o r isso de­ vemos aprender a “ouvir a palavra de D eus e praticá-la” , pois dessa form a construiremos um a vida estabilizada sobre a rocha que é Jesus (Is 28.16; 1 C o 3.11; l T m l . l ; A t 4.11,12). O hom em in s e n s a to O que é insensatez? S egundo os dicionários, “insensatez” diz respeito à falta de senso; aquele é dem ente; tolo. Q uais são 110 C r is t o , a R o c h a In a b a l á v e l as características de um a pessoa tola? É alguém que está sem pre com pressa e vive das coisas im ediatas, p o rq u e não sabe esperar. A quele h o m e m da parábola foi considerado insensato p o rq u e não estava p reocu pad o em constru ir sua casa co m segurança (v. 26). Ele se deixo u levar pelas aparências p o rq u e vivia sem pre p rocuran do atalhos e resultados im ediatos. D o p o n to de vista espiritual, esse h o m e m não firm ava a sua fé em algo consisten­ te. E m nossos dias nos deparam os co m esse tipo de fé im ediata, ond e os elem entos constituintes dessa m esm a fé são vu ln erá­ veis e sujeitos a grandes decepções e frustrações. O ra, quem deseja constru ir um a casa para si não p o d e construí-la de qual­ q u er m aneira. O to lo despreza o ensino e a instrução. A fir m e z a d a c a sa so b r e a r o c h a e as te m p e s ta d e s (M t 7 .2 5 ) U m o u tro sentido para a construção dessa casa é a cons­ trução da nossa fé, isto é, nossa crença “ nas palavras de C risto ” (M t 7.24). O sentido m oral dessa construção refere-se à cons­ trução do caráter; p o rém , o sentido espiritual dessa construção aponta para a construção da nossa fé. D iz respeito àquilo que crem os e com o o praticam os. E preciso estar b e m constru ído para não cair. A palavra “ co m b ateram ” (v. 25) significa, literal­ m ente, “ caíram sobre” ou “ caíram c o n tra” , o que dá a idéia de algum a força e peso m aiores que se lançam sobre a vida de um a pessoa, o u seja, todos aqueles elem entos da natureza co m o “ chuvas torrenciais, ventos fortes e correntezas caudalosas” . E ntretanto , Jesus sugeriu que a casa foi “ edificada” , isto é, foi construída sobre u m fu n d am en to firm e (Pv 12.7; Is 28.16). Tudo o que se lança sobre nossa vida, ten tan d o dem over o edifício que construím os, será neutralizado pela profundidade dos fundam entos da casa, isto é, da nossa vida espiritual. Sua As P a r á b o la s d e Jesu s firm eza te m a ver c o m os m ateriais que usamos para constru ir o fundam ento, p o r isso a casa n ã o cai. O hom em q u e c o n s tr u iu s u a c a s a s o b r e a a r e ia (M t 7 .2 6 ) Esse h o m e m foi cham ado p o r Jesus de “insensato” , que significa ser “falto de senso o u razão” , dem ente, que não tem b o m senso. N ã o é difícil p e rce b e r alguém que não te m b o m ju ízo quando constrói um a casa sobre a areia. Indubitavelm ente, esse tipo de pessoa não tem ju íz o e não dem onstra o m e n o r senso de inteligên cia. E ntre os dois hom ens ilustrados p o r Jesus há u m contraste entre o “ o u v ir” e o “ fazer” . Se houvesse b o m senso p o r parte desse co n stru to r, ele jam ais construiria sua casa sobre a areia. O que pod e representar a areia? Pode significar as opiniões hum anas, a justiça própria. E x istem pessoas que são auto-su fi­ cientes, alim entadas p o r u m ego sob o estigma da natureza pecam inosa herdada de nossos prim eiro s pais, A dão e Eva. São pessoas do tipo que não aceita n en h u m a instrução, n e m h u ­ m a n a r e m religiosa. A Bíblia declara que “ O te m o r do S en hor é o p rincíp io da ciência; os lo uco s desprezam a sabedoria e a in stru ção ” (Pv 1.7). Essa parábola te m p o r objetivo m ostrar que aquele “h o m e m in sen sato ” representa a pessoa que não p õ e em prática “ as palavras” ensinadas p o r Jesus. A loucura desse h o m e m não consiste em não dar ouvidos às palavras de Jesus, mas sim n o seu desprezo às coisas sérias da vida. Sua lo u cu ra consistia n o fato de o u v ir a Palavra de D eus e não dem o nstrar a m e n o r preocu pação em praticá-la. Q u a n d o veio a tem pestade, a casa ru iu p o rq u e não tinha u m b o m fundam ento. Era u m a casa vulnerável às intem péries da vida, p o r isso não su p o rto u o com bate do tem poral que foi ru in d o a sua base e, p o r fim, to d a ela. 112 C r is t o , a R o c h a In a b a l á v e l A LIÇÃO QUE A PARÁBOLA NOS ENSINA Nesta parábola nos deparamos com dois tipos de ouvintes: os que ouvem as palavras de C risto e as praticam ; e os que ouvem as palavras de C risto e não as colocam em prática. E ntendem os que o prim eiro grupo de ouvintes são aquelas pessoas que não prestam apenas seus ouvidos, mas que recebem em seus cora­ ções a palavra ouvida e as obedece sem restrição.Têm prazer em ouvir a Palavra divina: “Mas bem -aventurados os vossos olhos, porque vêem , e os vossos ouvidos, porque ouvem ” (M t 13.16). U m a boa lição desta parábola é que cada u m de nós deve edificar um a casa espiritual. Essa casa representa a nossa fé que precisa ser apoiada na rocha inabalável que é Cristo. A Igreja está edificada sobre esta R o c h a e assim sabemos que todo aquele que está em C risto, p erm an ece firm ado nesta rocha. Ele é a rocha inabalável sobre a qual depositam os toda a nossa confi­ ança (1 Pe 2.4-10). Finalmente, a lição básica que a parábola nos dá é dem onstra­ da na figura dessas duas casas. Se construirm os nossa casa espiri­ tual (nossa fé) de m o d o que o ouvir e o praticar sejam um a realidade na nossa vida, estaremos seguros contra toda e qual­ quer tem pestade que possa surgir. Todos os ataques de fora, no cam po espiritual, serão neutralizados, se estivermos firm ados na R o ch a eleita e preciosa, que é Cristo. Q u e cada u m de nós p e r­ gunte a si m esm o: “Estou eu fazendo aquilo que o Senhor m e m andou fazer?” D evem os ainda nos perguntar: “ Somos meros ouvintes e maus praticantes do ensino da Palavra ou somos bons ouvintes e praticantes daquilo que ouvim os da parte d ó Senhor?” Cada u m de nós precisa avaliar sua própria vida neste sentido. Q u a n d o lem os as Escrituras e ouvim os as palavras do Se­ nhor; quan d o nos to rn am o s m em bros de um a igreja dizem os que crem os em Cristo. Essa atitude nos responsabiliza em garan­ tir aquilo que ouvim os e em praticá-lo (Tg 1.22-25; 2.14-20). 113 C a p ít u l o 9 A Ju s t iç a e a G r a ç a d e D eus M a t e u s 2 0 .1 - 1 6 A geração da u n d é c im a hora, resta -lh e o p r iv ilé g io de f a z e r a obra f i n a l n a dispensação da graça. Essa parábola de Jesus é mais um a contracu ltura apresenta­ da pelo M estre que desfaz a cultura dos privilégios e destaca a graça e a generosidade do Pai celestial aos que chegam p o r últim o. O c o n tex to dentro da parábola indica que esses “últi­ m os” a chegarem para trabalhar na seara do S en h o r p o d e m ser aqueles que não tin h am a m e n o r o p o rtu n id ad e n o R e in o de D eus. A graça do S en h o r não discrim ina n em privilegia classes específicas, mas dá o p o rtu n id ad e a todas as pessoas de serem úteis no R e in o dos céus. D aí a m áxim a do S en h o r Jesus nesta parábola: “Assim, os derradeiros serão os prim eiros, e os p ri­ m eiros, derradeiros” (M t 20.16). N esta parábola, Jesus com para o R e in o dos céus à u m pai de família que denota alguém que possuía um a casa e um a vinha (v. 8). U m certo dia, esse h o m e m saiu de m adrugada a convocar trabalhadores para a sua vinha. E m vários períodos de horas durante aquele dia, desde a hora terceira, sexta, n o n a e undécim a, trabalhadores foram convocados para o trabalho. N o As P a rá b o la s d e Jesu s versículo 16 Je su s repete u m co n ceito citado em M ateus 19.30 e o destaca: “Assim, os derradeiros serão os prim eiros, e os p ri­ m eiros, derradeiros, porqu e m uitos são cham ados, mas poucos, escolhidos” . Esse conceito ensina que D eus não é devedor de ninguém . Para o S en hor não faz diferença o tem p o de traba­ lho, mas sim, a disposição para o u v ir o cham ado e fazer o tra­ balho no tem p o que tiver disponível. DEUS, O V IN H ATEIRO (M t 20.1) Para reforçar a idéia central do ensino que Jesus queria, de fato, ensinar, o versículo 30 do capítulo 19 de M ateus tam bém é citado nesta parábola. Lemos a história do jo vem rico que dese­ java ter posse da vida eterna dem onstrando u m espírito egoísta e interesseiro. Jesus, então, inteligentem ente dá a lição de que o galardão m erecido nunca será na base de privilégios, n em de classes sociais. O que im porta, na verdade, para D eus, é a atitude desprendida das coisas materiais. Q u an d o Ele p ronu nciou a sua m áxim a dentro dessa parábola estava am pliando a visão dos seus discípulos. A ilustração da parábola que Jesus narra apresenta o don o da vinha com o u m pai de família que cultiva para o sus­ tento dos seus. N a idéia figurativa, D eus Pai é o vinhateiro que plantou um a vinha e procura preservá-la. D eus é o grande Pai de família que contrata trabalhadores para a sua vinha. D e m o n s t r a ç ã o d a g r a ç a e d o s e n h o r io d o v in h a te ir o O sen h o rio é identificado n o p ró p rio texto co m o “pai de fam ília” , o que indica a sua autorid ad e de chefe da casa e, p o r­ tanto, o p o d er de liderança sobre o que é seu. C ontextualizando essa parábola, entendem o s que D eus é Pai de um a grande fa­ m ília denom inada Igreja. D ele em ana a ordem de trabalho, a visão e o sonho da vinha que plantou na terra. Sua graça de- 116 A J u s t iç a e a G r a ç a d e D e u s m onstrada se refere ao m o d o de agir n o sentido de não im p o r nada a n in g u ém sem o pagam ento ju sto. Indica que a graça de D eus é dada a todos de igual m odo, in d ep en d en te da q u an ti­ dade de tem p o de serviço, p o r isso os trabalhadores da u n d éc i­ m a hora, que são os derradeiros (últimos), recebem tanto quanto os que trabalharam o dia inteiro. O p r in c íp io q u e d e v e n o r t e a r o s tr a b a lh a d o r e s n o s t e m p o s a tu a is É lam entável constatarm os que nos tem pos atuais, nossa teologia pastoral ten h a sido tão d eturpada dentro da Igreja de C risto. M uitas igrejas, p o r terem a m esm a atitude, estão viven­ do o dram a daqueles m esm os trabalhadores e pelo fato de te ­ rem trabalhado mais tem po, não aceitam o tratam ento dispen­ sado p o r D eus aos que chegaram depois. Estes se acham se­ nhores da vinha, p o r serem prim eiros; p o rém , são tão servos quanto os que chegaram depois. São eles que reclam am e di­ zem : “Estes derradeiros trabalharam só um a hora, e tu os igualaste conosco, que suportam os a fadiga e a calma do dia” (M t 20.12). Precisam os en te n d e r o c o m p o rta m e n to do Pai celeste. Ele é ju sto e dá a cada trabalhador o que lhe é devido. N in ­ guém é prem iado p o r tem p o de serviço, mas p o r ter feito o serviço co m fidelidade e desprendim ento. N o te que aqueles trabalhadores que haviam trabalhado o dia in teiro não aceita­ ram ser equiparados em salário co m aqueles que trabalharam apenas na u nd écim a hora. N a verdade, o que Jesus queria ensinar era resultado de algumas atitudes percebidas entre os seus discípulos. H avia algo de vangloria e de orgulho que dom inava o coração de alguns deles, tais co m o Pedro, A ndré e João. Pelo fato de terem sido os prim eiros a deixar tu d o e seguir o M estre, desenvolveram um a 117 As P a r á b o l a s d e J e s u s certa vaidade e, p o r isso, se sentiam com direito de su p erio ri­ dade sobre os demais. Eles en ten d iam que haviam enfrentado situações de privação e fadiga mais que os outros, mas Jesus percebe o espírito que se desenvolvia entre os discípulos e lhes dá a preciosa lição de que esses sentim entos são inconvenientes no R e in o de D eus. E lam entável que m uitos líderes ajam com o m esm o espírito que dom inava o coração daqueles discípulos e que vivam sob o respeito hum ano. O v in h a te ir o d is tr ib u iu e m q u a tr o t e m p o s d is tin ­ t o s o tr a b a lh o n a v in h a ( w . 3 -6 ) A o lo ngo do dia, o vinhateiro saiu em busca de trabalha­ dores para a sua vinha e o fez em tem pos distintos. C o m o aquele S en hor saiu de m adrugada, o u seja, na p rim eira hora, em busca de trabalhadores para sua vinha, ele foi convocando h om ens para a hora terceira; depois buscou um a nova tu rm a de trabalhadores na hora sexta e, tam bém , na hora nona. Final­ m ente, sabendo que havia m uito trabalhado para aquele dia, saiu a buscar trabalhadores para a hora undécim a. N a vida cotidiana das pessoas em geral, as horas represen­ tam períodos o u tem pos específicos. N a vida do povo ju d e u , o dia é dividido em 12 horas, e na linguagem bíblica, d ep en d en ­ do do seu contexto, as horas têm um a sim bologia especial. N a parábola que estamos estudando, Jesus utiliza a experiência cotidiana dos ju d eu s quanto ao dia de trabalho e ensina um a preciosa lição acerca dos trabalhadores do R e in o dos céus. Ele divide o dia em quatro períodos de tem p o diferencia­ dos: a prim eira hora (6 horas), pois aquele senho r saiu de m a­ drugada; a terceira hora (9 horas); a sexta hora (12 horas, m eio dia); a non a hora (15 horas) e, p o r últim o, a décim a prim eira h o ra (undécim a, 17 horas). A hora u nd écim a era exatam ente 118 A J u s t iç a e a G r a ç a d e D e u s um a hora antes das 18 horas, quando o sol se p õ e no h orizon te. E m todos esses períodos diferenciados, o u seja, a cada três h o ­ ras, aquele senhor (pai de família) persistiu na busca de traba­ lhadores para a sua vinha, até en co n trar tantos quantos pud es­ sem fazer o trabalho. O s intérpretes bíblicos p ro cu ram dar sen­ tidos históricos distintos a cada tem p o de horas de trabalho na vinha. P orém , o grande destaque é dado aos trabalhadores da u nd écim a hora. O v in h a te ir o se p r e o c u p a v a c o m o r e s u lta d o f in al d o tr a b a lh o A parábola deixa claro que a p reocu pação de Jesus era m ostrar que a recom pensa, a paga pelo trabalho, não era m e d i­ da pela duração (ou tem po) do trabalho, mas sim, pela intensi­ dade, fidelidade e qualidade do trabalho feito (1 C o 4.2; 2 T m 2 .2 ;T t 2 .1 0 ;P v 2 8.20;L c 16.10). Q u a n d o Jesus declara q u e “ os derradeiros serão prim eiros, e os prim eiros, derradeiros” (M t 2 0 .1 6 ),Ele quis ensinar que a soberania divina não será exercida à custa da justiça n e m da graça. D eus está livre de im posições m orais, p o rq u e o contrato de trabalho indicava u m pagam ento específico pelo trabalho feito. O vinhateiro não foi injusto com n e n h u m daqueles trabalhadores, mas lhes pagou pelo contrato feito co m cada u m deles. O que im portava para o vinhateiro era que a sua vinha não viesse a sofrer solução de continuidade, mas que, ao final do dia, o trabalho estivesse pronto. Estam os n o tem po da graça e quase dois anos se passaram. Os trabalhadores da p rim eira hora serão recom pensados tanto quanto os da u nd écim a hora. O utrossim , o pagam ento será feito na presença de C risto em seu T ribunal (2 C o 5.10), p o r isso os que buscam recom pensa aqui na terra p o d erã o vir a ficar frustrados na presença de C risto u m dia. 119 As P a r á b o l a s d e J e s u s A VIN H A (M t 20.1) N esta p aráb o la,“ o R e in o e a v in h a ” tê m u m destaque es­ pecial. O texto com eça falando n o “R e in o dos céus” , que sig­ nifica o d o m ín io de D eus sobre o nosso m u n d o físico, sua am plitude e superioridade, pois esse reino vem de cim a. D eus te m plantado um a vinha neste m u n d o e conta conosco para cultivar, cuidar, fazer produzir e usufruir do fru to dessa vinha. A fig u r a d a v in h a N o A ntigo Testam ento, Israel é o povo eleito de D eus e é ilustrado com o a “v inha de D eus na te rra ” (Is 5.7; J r 12.10). E xistem outras m etáforas de Israel, tais com o “ a oliveira” (R m 11.17) e a “figueira” (Lc 21.29). N o N o v o Testam ento, a figura da “v in h a” ilustra a “ Igreja de C risto ” (Jo 15.1-8). N esta nova dispensação a Igreja é a nova v inha de D eus na terra. O c o n v it e p a r a tr a b a lh a r n a v in h a É o S en h o r q u em sai e cham a trabalhadores para a sua vinha. Trabalhar na vinha im plica vocação e capacitação para fazer o trabalho. C o m o p od em os identificar essa convocação para se trabalhar na vinha do Senhor? Ele o faz p o r in te rm éd io do E spírito Santo que apela nos corações das pessoas. D o m es­ m o m o d o com o aqueles hom ens foram cham ados para um a jo rn a d a de trabalho, o E spírito Santo tam b ém age e convoca servos dispostos a se engajarem na obra de D eus (Ap 3.20). O apóstolo Pedro, inspirado pelo E spírito Santo, declarou que fom os cham ados para anunciar o p o d er do S en h o r (1 Pe 2.9). O apóstolo Paulo escreveu a T im o te o que o S en h o r “nos sal­ v o u e cham ou co m u m a santa convocação” (2 T m 1.9). E in te ­ ressante n o tar que aquele senho r convocou aqueles hom ens 120 A J u s t iç a e a G r a ç a d e D e u s em horas distintas de u m m esm o dia. D e a co rd o c o m a escatologia, “ u m dia” eqüivale a u m tem p o específico e, cada tem p o te m sua circunstância p rópria, seu co n tex to histórico. P ortanto, cada hora (ou tem po) da história, o S en hor D eus busca hom ens e m ulheres para trabalharem na sua vinha. P or isso cada tem p o de trabalho de u m m esm o dia te m sua im p o r­ tância e valor. O s convocados receberão p o rq u e fizeram no tem p o que tiveram para fazer a obra, não p o d en d o se p re o c u ­ par c o m os demais. A cada tem po, cada obreiro deverá ter cons­ ciência de sua obra, pois o nível de responsabilidade é o m es­ m o, in d ep en d en te da circunstância. O im p o rtan te em tu d o isto é que o preço do trabalho é feito na base da igualdade de direito, não na base do m érito pessoal. D eus é S en h o r de todas as coisas e faz co m o quer, p orqu e suas ações são feitas sob a égide de sua in eren te justiça e m ise­ ricórdia. Paulo fez um a citação interessante sobre esse aspecto da vontade divina, quand o escreveu:“ ... co m p ad ecer-m e-ei de q u em m e com p adecer e terei m isericórdia de q u em eu tiver m isericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, n em do que corre, mas de D eus, que se co m p ad ece” (R m 9.15,16; Ê x 33.19). P ortanto, cada tem p o na dispensação divina te m o seu va­ lor, sua im portância, seu co n tex to histórico e D eus cham a a q u em q u e r e os trata segundo sua soberana vontade. C ada ge­ ração te m o seu valor e a sua im portância. A Igreja não p o d e deixar de reconhecer o trabalho de cada geração, daqueles obrei­ ros que deram o m áxim o de suas vidas para c u m p rirem a m is­ são que lhes foi devida. N e m p o r isso o seu trabalho foi mais im p o rtan te que o feito p o r esta geração atual. E lam entável assistirmos ao desrespeito de obreiros atuais aos obreiros anti­ gos. P orém , se cada geração trabalhar co m desvelo n o tem p o que tiveram da parte de D eus, todos serão honrados. 121 As P a r á b o l a s d e J e s u s O tr a b a lh o n a v in h a (M t 2 0 .1 ) O texto deixa im plícito que há m uito trabalho na vinha. Esta vinha precisa dos cuidados de limpeza, do cultivo, do acom ­ p an h am en to das atividades no plantio e n o seu desenvolvi­ m ento. Precisa, tam bém , da persistência e da paciência dos tra­ balhadores até o tem p o da colheita (Tg 5.7). A Igreja é um a vinha trabalhosa que requer dos seus viticultores dedicação para que a m esm a produza b o m vinho. A qualidade do fru to dessa vinha depende m u ito do cuidado dos trabalhadores co m a ter­ ra, com o tronco, com os seus ram os. P or isso é necessário qualificação dos trabalhadores na obra de D eus (2 T m 2.15). OS TRA BA LH A DO RES DA V IN H A O apóstolo Paulo ex o rto u a T im óteo, dizendo: “ Porque o exercício corporal para pou co aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir. Esta palavra é fiel e digna de toda a aceitação. Porque para isto trabalhamos e lutam os, pois esperamos no D eus vivo, que é o Salvador de todos os hom ens, principalm ente dos fiéis” (1 T m 4.8-10). Esta escritura indica que aqueles que trabalham na vi­ nha de D eus devem fazê-lo porqu e am am a D eus e a sua obra. A o c io s id a d e , u m a a m e a ç a p a r a a v in h a A ociosidade n o co n tex to desta parábola deve ser vista sob dois aspectos. O p rim eiro aspecto envolve aqueles hom ens que estavam ociosos p orqu e não tin h am trabalho. E ram hom ens que iam para a praça da cidade aguardar serviço. N ã o há no tex to indicação de que aqueles hom ens não tivessem ex p eri­ ência em trabalho de viticultura o u agricultura, um a vez que o trabalho típico da Palestina era a agricultura o u a pesca n o m ar da Galiléia. A queles hom ens receberam o convite do senhor 122 A J u s t iç a e a G r a ç a d e D e u s da vinha e se dispuseram ao trabalho. A ociosidade deles não era p o r preguiça o u com odism o, mas p o rq u e não havia convo­ cação para o trabalho. O segundo aspecto da ociosidade daqueles hom ens p o d e ­ ria representar com odism o, preguiça, desqualificação e desin­ teresse. N a obra do R e in o de D eus não p o d e haver esse tipo de atitude dos trabalhadores ( 2 T s 3 .1 1 ;l T s 5.14). Este ú ltim o versículo, na tradução N V I, diz o seguinte: “ que advirtam os ociosos” . P or o utro lado, te m faltado no seio da Igreja atual aquele espírito de sacrifício, de paixão e desprendim ento para fazer a obra. E m nossos tem pos atuais, a tecnologia m o d e rn a te m to m ado o lugar das pessoas, até m esm o d entro da igreja. A m o d ern id ad e te m usurpado o lugar da alegria, do prazer de fazer a obra de D eus. A ociosidade g an h o u espaço na vida de m uitos cristãos. r E t e m p o d e tr a b a lh a r ! D u ran te to d o o dia aquele senho r da vinha buscou traba­ lhadores que realizassem a obra, de form a que a vinha não viesse a sofrer solução de continuidade. N a terceira, sexta e n o n a hora, o vinhateiro en co n tro u trabalhadores para a sua vinha, e ao lo ngo do dia, todos trabalharam e cu m p riram suas obrigações e receberam o salário ju sto pelo seu trabalho. C ada trabalhador c u m p riu o seu papel com direito ao seu salário p o r aquilo q u e fizera na v in h a daquele senhor. P o rém , foi n o entardecer, n o crepúsculo do dia, na últim a hora, antes que o sol se pusesse no h o rizo n te, isto é, na u nd écim a hora, que o vinhateiro buscou o últim o g ru p o de trabalhadores para o tra­ balho final na vinha. N a história da Igreja, entram os na u nd écim a hora. S enti­ m os que estamos no crepúsculo do ú ltim o trabalho da Igreja na terra, quand o se fará a grande colheita, a colheita da graça 123 As P a rá b o la s d e Jesu s de Deus! Todos aqueles que trabalharam na v inha do Senhor, da p rim eira à n o n a hora, to rn a ram possível o papel final da Igreja neste tem po. N ão p od em os co rrer o risco de lam entar o tem p o p erdido e confessar com o Israel em outros tem pos: “Pas­ sou a sega, findo u o verão e nós não estamos salvos” (Jr 8.20). O apóstolo Jo ão previa, profeticam ente, esse tem po e escreveu em sua epístola: “ Filhinhos, é já a últim a h o ra ” (1 Jo 2.18). A U N D ÉC IM A H O R A (M t 20.6) A parábola deixa transparecer que os que trabalharam na u n décim a hora receberam mais do que esperavam. N a diferenci­ ação das horas de trabalho, com vantagens e desvantagens, des­ cobrim os que o critério de ju stiça divina não é baseado em critérios hum anos. D escobrim os que os que trabalharam na und écim a hora são tratados co m igualdade aos que com eça­ ram de m anhã cedo. A bênção da salvação é de igual p ro p o r­ ção, tanto para os que se convertaram há vinte, trin ta o u cin­ qüenta anos, quanto aos que se convertaram hoje. O t e m p o n ã o é m e r it ó r io n o s e r v iç o d o r e in o d e D e u s (M t 2 0 .8 - 1 2 ) H á um a verdade im prescindível nesta parábola: n in g u ém trabalha p o r prêm ios ou galardões extras, porq u e cada traba­ lh ado r receberá aquilo que lhe for ju sto receber. A obra feita não é m eritó ria pelo tem p o de trabalho. Q u e m trabalhou no p rim eiro tem po, ou q u em trabalhou na und écim a hora, terá o m esm o salário. O salário do S en hor não será pela quantidade, mas pela qualidade do trabalho que fazem os na vinha. E o p ró p rio S en h o r que ensina e declara co m um a sabedoria ím ­ par: “ O s últim os serão prim eiros, e os prim eiros serão ú ltim o s” (M t 20.16, A R A ). 124 A J u s t iç a e a G r a ç a d e D e u s A id é ia b á s ic a d o p e n s a m e n t o d e C r is to N o R e in o de D eus na terra, não há discrim inação, n e m discrepância social o u favoritismo. O s trabalhadores da u n d é ­ cim a hora são os trabalhadores do ú ltim o tem p o de D eus para a Igreja na terra. O galardão desses últim os é o m esm o dos que trabalharam nas prim eiras horas. O valor do serviço aos olhos de D eus depende do espírito co m que é feito o trabalho. C O N C LU SÃ O N ão se trabalha na vinha de D eus visando recom pensas ou vantagens. A recom pensa não é m aior n e m m enor, p o rq u e é direito de todos. P equenos e grandes, pobres e ricos, todos são tratados de igual m o d o na vinha do Senhor. C a p í t u l o 10 R e a l iz a n d o a V o n t a d e d o Pa i M a te u s 2 1 .2 3 -3 2 A graça de D eus não discrimina ninguém, mas c perdoadora para com todos os pecadorcs. Existe um a certa sim ilaridade entre algumas parábolas. N a parábola a n terio r Jesus ilustrou algumas verdades falando do trabalho em um a vinha. N esta, mais um a vez o M estre fala de um a vinha, mas a distinção entre as duas parábolas reserva-se aos personagens. N a prim eira, Jesus fala de convocação de tra­ balhadores para a vinha de u m rei. N a segunda, a vinha precisa de trabalhadores, mas o senho r daquela vinha convoca seus dois filhos para o trabalho. E ntretanto , cada um a tem a sua lição p ró p ria diferenciada pelos princípios e finalidades in seri­ dos no enredo de cada um a das parábolas. C o m o a classe religiosa dos ju d eu s era decididam ente in i­ miga de Jesus e refutava tu d o q u anto era ensinado, tam bém , com m uita propriedade e inteligência, Jesus ensinava p rin c íp i­ os de vida do R e in o dos céus e redargüia com argum entos as insinuações maliciosas dos seus opositores. N esta parábola, especificam ente, Jesus faz um a distinção entre duas classes de pessoas que os ju d eu s discrim inavam : a As P a rá b o la s d e Jesu s classe religiosa e a classe desprezada dos pecadores, isto é, publicanos e m eretrizes. Jesus, co m sabedoria, não apenas re­ provou esta discrim inação, mas lhes ensinou o m o d o com o D eus vê esse tipo de problem a e co m o o resolve. O PR Ó LO G O DA PARÁBOLA (M t 21.23-27) A finalidade dessa parábola objetivava respond er a um a perg u n ta capciosa e maldosa da parte dos chefes religiosos dos judeus: “ C o m que autoridade fazes isso?” (v. 23) U tilizando seu m éto d o predileto através de parábolas, Jesus confrontava abertam en te os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo, e os levava a se irritarem pela capacidade que tinha de n e u tra­ lizar todos os ataques intelectuais e religiosos contra sua pessoa. A lguns episódios vividos e assistidos pelo povo de Israel to rn a ­ ram amargos para a presunção daqueles chefes religiosos. Por exem plo, a entrada triunfal de Jesus pelas ruas de Jerusalém sendo aclam ado e louvado pelo povo, que dizia: “ H osanas ao Filho de D avi” (M t 2 1.9).Todos esses elem entos co n trib u íram para o plano de m a rte contra Jesus não m uito depois daqueles dias. Essa classe de hom ens constituía-se de líderes políticos e religiosos que controlavam o Sinédrio. A r e je iç ã o in t e le c t u a l e t e o ló g ic a d o s líd e r e s d e Isr a e l ( w . 2 3 ,2 5 ,2 6 ) . N aturalm ente, os líderes de Israel tem iam o avanço sim pá­ tico entre Jesus e o povo, p o rq u e ensinava um a nova do u trin a que confrontava os conceitos tradicionais da religião judaica. N a verdade, era a últim a sem ana que precedia a sua m o rte no Calvário. E ntão Jesus expôs--se de m o d o m u ito mais claro e agressivo ao sistema religioso existente. A queles líderes busca­ vam algum a contradição em Jesus, algum a ação que ofendesse 128 R e a l iz a n d o a V o n t a d e d o P a i as leis da religião e do Estado, mas não conseguiam quand o tentavam pegá-lo em algum erro nas discussões em público. Pelo contrário, eles sem pre acabavam p erd en d o nos con fro n ­ tos com Jesus. A p erg u n ta confro ntante daqueles líderes, nesta feita, nas cercanias do T em plo era: “ C o m que autorid ad e fazes isso?” Q ual era a fonte da autorid ad e de Jesus para falar do m o d o co m o falava? Jesus deu-lhes um a resposta na form a de réplica, pela qual não p u d eram dizer nada. A resposta à provocação dos líderes de Israel (vv. 24,25,27). N ã o havia n en h u m a acusação plausível da parte daqueles ju d eu s e, p o r isso,Jesus, consciente e seguro, sabia dar respostas que os deixavam sem q u alq u er co n tra-arg u m en tação . Jesus m u d o u sua tática de resposta fazendo-lhes um a c o n tra -p ergunta sobre o que pensavam acerca do batism o de João Batista, um a vez que eles sabiam que o povo o tinha com o grande profeta, e eles o rejeitavam . T anto o povo q u anto o p ró p rio Jesus aprovavam o m inistério de Jo ão Batista (M t 3.5 -7 ; Lc 7 .2 9 ,3 0 ).“ C o m que autorid ad e?” era a questão daqueles líde­ res de Israel, pois eles controlavam o S inédrio — o principal co rp o adm inistrativo ju d a ic o em Jerusalém . O s cham ados “anciãos do p o v o ” eram , na verdade, os representantes das fa­ mílias que exerciam p o d e r de influência sobre assuntos do g o ­ v erno local e n o Templo. Todavia, os principais opositores de C risto eram os fa r ise u s que controlavam as sinagogas. Havia, tam bém , dois outros grupos de políticos e religiosos, os herodianos e os saduceus, que não se m isturavam aos escribas e fariseus, mas, dom inados p o r um a inveja e ira co n tra Jesus, ju ntavam -se para fazer pressão contra Ele. Esses grupo s inim igos p rocura­ vam m eios pelos quais pudessem apanhá-lo desprevenido, levando -o a cair em algum a arm adilha teológica ou religiosa. N ão ten d o assunto que pudesse desafiar a argúcia e o co n h eci­ m ento de C risto para fazê-lo cair, então p artiram para colocar 129 As P a rá b o la s d e Jesu s em ju lg a m e n to a sua autoridade. D isseram eles: “ co m que au­ to ridad e dizes e fazes estas coisas?” , e Jesus respondeu sem lhes dar um a resposta objetiva, deixando no ar os pensam entos de seus inim igos intelectuais. E m síntese Jesu s não lhes disse nada; tão som ente fê-los en ten d er que a sua autorid ad e era tão óbvia quanto era a autoridade de João Batista. N ão era praxe de C risto desafiar as autoridades, isto é, os poderes suprem os da nação, mas inevitavelm ente não te m eu opo r-se àqueles hom ens. Esse prólo go à parábola deu a Jesus a o p o rtu n id ad e de co n tra-atacar seus inim igos e expor, mais u m a vez, alguns princíp ios do R e in o dos céus. N ada m elh o r que lhes responder através de um a parábola e, dessa feita, Ele o fez contando essa parábola de u m pai e seus dois filhos. DOIS TIPO S DE C O M PO R T A M EN T O DAQUELES FILHOS H á um a expressão típica de Jesus em várias situações, quando precisava contra-atacar seus inim igos, que era: “M as que vos parece?” (M t 17.25; 18.12) Esta expressão era o p ren ú n cio de algum a parábola que Ele apresentava. N a linguagem tipológica bíblica, a “v in h a” sem pre representou a Israel (SI 80.8-19; Jr 2.21; Ez 19.10). A resposta de Jesus era para aqueles israelitas que lhe faziam oposição continuam ente. D aí p orqu e Jesus, mais um a vez, conta a história de um a vinha, destacando u m pai que era “ senhor daquela v in h a” e seus dois filhos. O o b j e t iv o d a p a r á b o la d o s d o is filh o s Q u a n d o propôs esta parábola,Jesus se p reo cu p o u em m os­ trar que aqueles dois tipos de filhos representavam duas classes de pessoas que se confrontavam n o dia-a-dia da vida e co n ô m i­ ca e religiosa de Israel. Q u e classes eram essas? O prim eiro 130 R e a l iz a n d o a V o n t a d e P d o a i filho correspo nde aos pecadores, representados pelos publicanos e m eretrizes, discrim inados na sociedade israelita (v. 31), e o segundo filho correspo nde à casta religiosa com posta pelos p rín ­ cipes dos sacerdotes e os anciãos do povo (v. 23), que h o n ra ­ vam a D eus co m os lábios, mas tin h am o coração lo nge da presença do S en hor (Is 29.13). D ir e ito s ig u a is d o s d o is filh o s e m r e la ç ã o a o p a i (v . 2 8 ) O s dois tinham direitos iguais dentro da casa do pai, b e m co m o obrigações de respeito a ele. N ã o havia qualq uer razão de discrim inação entre am bos pelo velho pai, pois as circuns­ tâncias eram as mesmas, b e m com o os benefícios e obrigações. O trabalho não era im posto pelo pai, mas foi u m pedido, um a vez que, dentro de um a família, os negócios são do interesse de todos os seus m em bros. E ntretanto , aqueles filhos deram res­ postas diferentes ao pai. A lição m aior desse p o n to está no fato de que no R e in o de D eus não há acepção de pessoas, n e m privilégios. E m relação ao R e in o de D eus, não im p o rta se p e ­ cadores o u religiosos, todos te m direito a entrar, desde que ten h am atitudes sinceras de arrep en d im en to e fidelidade ao Senhor. N in g u é m entra n o R e in o de D eus n u m estado de pecam inosidade, mas de purificação pelo sangue do “ C o rd eiro de D eu s” . N o entanto, o que se destaca neste p o n to é a atitude de cada um daqueles filhos. Se troux erm os à contextualização o fato de que D eus espera de seus filhos atitudes espontâneas e amorosas para co m o Pai q uand o são convocados para o traba­ lho, não tem os dúvidas de que essas atitudes positivas tê m sido raras. A v inha d epende da disposição dos filhos n o sentido de •itender à convocação do Pai Celestial para trabalhar (Jo 4.34). 131 As P a r á b o l a s U m d e J e s u s r e tr a to d e D e u s P a i A figura do pai destaca-se na parábola. Ele não foi rude com seus filhos, nem os tratou com imposição. Apenas solicitou que o ajudassem na administração da vinha. N ão se sabe p o r quais razões aqueles dois filhos foram maus, e não tiveram atitudes de respeito e consideração com o pai.Alguns comentaristas parecem acom odar-se à idéia de que o filho que disse não ao pai e, arrependendose, acabou indo trabalhar na vinha, esteja livre de u m julgam ento de sua atitude inicial. N a verdade, não é o arrependim ento o ele­ m ento de destaque no ensino de Jesus, mas a sua atitude inicial, ríspida e dura para com o pai. O segundo filho não foi m enos ou mais rude, porque sua atitude foi ainda mais reprovada p o r Jesus. Porém , neste p on to é o pai que se destaca com o alguém que deseja contar com seus filhos na administração da sua vinha. Ele é o retrato do Pai Celestial, sempre amoroso e pronto a dividir as responsabilidades pela sua vinha na terra, a sua igreja. Q uando agimos displicentem ente com a casa do Pai, a sua Igreja, nossa atitude não difere dos “filhos indolentes” da parábola. N atural­ m ente, a interpretação dessa parábola não se prende à resposta objetiva de Jesus aos judeus, mas sugere u m ensino para o relacio­ nam ento dos crentes em C risto com o Pai Celestial. É fato consu­ m ado que somos filhos de Deus, e alcançamos esse direito filial através de Jesus Cristo (Jo 1.12; R m 8.14; G1 4.5). A C O N D U T A REPROVADA DOS FILHOS A m bos os filhos receberam o m esm o pedid o da parte do pai: “ Filho, vai trabalhar hoje na m inha v in h a ” (v. 28), mas am ­ bos deram respostas distintas ao pai. O p rim eiro filho disse “ n ã o ” , mas arrepen deu-se p o ste rio rm e n te e foi. O segundo filho disse “ sim ” , mas não foi trabalhar. Se analisarm os a c o n ­ duta de am bos, concluirem os que os dois responderam m al ao 132 R e a l iz a n d o a V o n t a d e d o P a i pai. Q u a lq u er arg u m en to pró o u contra se desfaz pelo m o d o desrespeitoso q u e dem onstraram . A m b a s as a titu d e s e s ta v a m s o b o e s t ig m a d a r e b e ld ia O p rim eiro n egou -se a ob ed ecer à o rd em do pai; p o rém , depois, arrependeu-se. O segundo p ro m eteu obedecer, mas, p o r fim, não o fez. O últim o, que disse “ sim ” , é tão desob edi­ ente co m o o outro, que disse “n ã o ” , mas acabou in do trabalhar na vinha do pai. A m bos dem onstraram atitudes controversas, típicas de pessoas dom inadas p o r sentim entos vulneráveis à re­ beldia. A vantagem do p rim eiro filho é o fato de te r se arre­ p en d id o e ido à vinha. Q u an to s cristãos vivem na igreja usu­ fru in d o das bênçãos de D eus, mas são dom inados p o r senti­ m entos de contrariedade. São vulneráveis às tentações da car­ ne que m ilitam contra o E spírito (G1 5.16,17). A n a lis a n d o a c o n d u t a d o s d o is f ilh o s ( w . 2 8 ,2 9 ) O prim eiro filho ru d em en te respondeu ao pai:“não q u ero ” . U m a resposta má, típica de u m coração m au. Ele foi rude ao negar-se a obedecer à ordem do pai porqu e sua atitude exterior dem onstrava sua natureza rebelde. Esse filho representa aquelas pessoas que não têm qualquer sensibilidade espiritual. O segundo “filho” , pelo contrário, respondeu positivamente: “Sim, eu v o u ” . P o rém não foi. P ro m eteu um a coisa e logo fez tudo ao contrário. D em on strou um a atitude inconseqüente para com o pai. Esse filho nos m ostra que h ou ve contradição entre sua palavra e a realização daquele trabalho, entre sua prom essa e seu cu m p rim en to . Esse filho, pelo contrário, não teve arre­ pen d im en to . Ele professou obediência aparente sem n e n h u m a intenção de obedecer. Sua atitude era hipócrita. Disse “ Sim, sen h o r” , mas não estava disposto a fazer a vontade do pai. 133 'a r á b o l a s de J e s u s A APLICAÇÃO DA PARÁBOLA J e s u s l e v a n t a a q u e s t ã o d a a u t o r i d a d e (v . 3 1 ) N o enredo da parábola Jesus quis destacar a sua autorid ad e sem discuti-la. P o r isso, con tra-ataco u a indagação dos seus in i­ m igos co m outra pergunta. Eles questionaram : “ C o m que au­ to ridad e fazes isso?” Jesus lhes responde co m outra pergunta relativa à o rig em do batism o de Jo ão e o que ele ensinava (M t 21.31,32; M c 1.4; Lc 7.29,30). O ra, falar de João Batista, perso­ nagem reco n h ecid o pelo povo co m o grande profeta, não era o tipo de assunto que os chefes políticos e religiosos quisessem discutir co m Jesus. Eles foram colocados n u m “beco de saída” , pois, se negassem a orig em espiritual do m inistério de João Batista, seriam rejeitados pelo povo. João Batista tinha a apro­ vação do povo e, se negassem a procedência divina do seu m i­ nistério, estariam negando a autorid ad e espiritual dele. Jesus, então, diante da resposta diplom ática daqueles hom ens em afir­ m ar que não sabiam d on de vinha a au torid ad e de João, co n traatacou com um a resposta seca e objetiva ao declarar:“ N e m eu vos digo co m que autorid ad e faço isso” (v. 2 7 ).D epois de n e u ­ tralizar seus oponentes,Jesus reforça sua reposta contando -lhes a parábola. E co m eço u co m u m a pergunta: “M as que vos pare­ ce?” (v. 28) Ele expôs sua parábola e, ao final, fez outra p e rg u n ­ ta solene: “ Q u al dos dois fez a vontade do pai?” (v. 31) A res­ posta a esta pergunta de Jesus deve ser analisada sob a óptica da atitude de cada filho. Ações versus palavras Esses dois elem entos, ação e palavra, revelaram o caráter daqueles filhos. O s dois tin h am pecado contra a autorid ad e do pai. U m foi áspero e duro; o ou tro foi falso e m au. P or esta 134 R e a l iz a n d o a V o n t a d e d o P a i im agem refletida pelos filhos podia-se estabelecer o verdadeiro caráter de cada u m deles. O p rim eiro disse não, mas, arrep en ­ dendo-se, foi. Sua resposta foi do tipo que o pai não esperava dele. E ntretanto, m u d o u de atitude depois. A Bíblia nos deixa en te n d e r que to d o aquele que se arrepen de de um a m á c o n ­ duta en co n tra acesso a D eus (Ez 33.14-16). O o utro filho deu um a resposta positiva, a m elh o r que aquele pai podia ouvir; mas, na verdade, sua atitude era falsa. E xistem m uitos cristãos que tê m lábios doces nas respostas, p o ré m seus corações dizem o contrário (1 Jo 3.18). Professam p e rten ce r ao Senhor, mas são desobedientes e rebeldes. C O N C LU SÃ O A prendem os nesta parábola que esses dois filhos represen­ tam duas classes de pessoas. U m a é aquela que exibe religiosi­ dade, mas não passa de aparência, sem n e n h u m conteúdo . A outra é aquela classe pecadora, desprezada e discrim inada, mas que pod e ser alcançada pela graça de D eus p o rq u e não te m nada a esconder. U m a é falsa e dissimulada; a outra é pecadora, mas é autêntica, não esconde o seu pecado. A graça de D eus é para todos. C a p í t u l o 11 V ig ia i, po is n ã o q u a n d o Sa b e is V ir á o Se n h o r M a t e u s 2 5 .1 - 1 3 T od o cristã o precisa e sta r a lerta p a ra a v in d a in esp era d a de C r is to e d e s e n v o lv e r a r e s p o n s a b ili­ d a d e p e s s o a l de v e la r n o s e n tid o de e sta r s e m p re p r o v id o de a z e ite e m s u a v id a . M ais um a vez o M estre utiliza u m a experiência típica dos costum es tradicionais da época para ensinar u m a grande lição aos seus discípulos. A lgum as vezes ele explorava experiências da vida rural, da vida pesqueira, da vida política e, tam bém , da vida social. N esta feita, ele faz um a parábola de u m casam ento. A narrativa que desenvolveu é rica em detalhes e oferece a o p o rtu n id ad e de m aio r reflexão sobre os seus ensinos. Segundo os costum es orientais, um a festa de casam ento celebrava-se à noite e, co m o não havia ilum inação elétrica, precisavam de algum a lam parina. As famílias mais abastadas pod iam festejar durante vários dias. A celebração com eçava quand o o noivo (esposo) e alguns amigos iam à casa da família da noiva para en co n trar a esposa e, depois, d irigir-se ao local da celebração das bodas. Feitas as cerim ônias religiosas, os noivos se dirigiam para as bodas acom panhados p o r u m a grande p ro ­ cissão de am igos.Todos os participantes deveriam estar devida­ m en te vestidos e, com o a cerim ônia realizava-se à noite, ti­ As P a rá b o la s d e Jesu s n h am de estar providos co m suas próprias lam parinas, natural­ m ente, de azeite com bustível. C h eg an d o ao local das bodas, todos os convidados entravam e a p o rta princip al era fechada. N e n h u m estranho teria acesso àquela festa. A parábola im plica lições de previdência para que n in g u ém seja to m ad o de sur­ presa q uand o o esposo chegar. O caráter dessa parábola tem u m sentido profético e escatológico,poisJesus deixa b e m claro sobre a sua volta e a necessidade de estarm os preparados para aquele m o m en to . ELEM ENTOS H E R M E N Ê U T IC O S DA PARÁBOLA C o m o esta parábola te m u m sentido escatológico especial, exige-se um a interpretação objetiva e cuidadosa. A lguns ele­ m entos da parábola req u er o cuidado h e rm e n ê u tic o no senti­ do de evitar quaisquer p on tos de vista que afetem o ensino geral da parábola. São po n to s de vista distintos que m erecem a nossa apreciação mas que tem contradições. C o n tu d o a sua análise serve de base para um a argum entação mais equilibrada. O im p o rtan te nesta interpretação é desenvolver um a linha de en te n d im e n to que respeite os princípios de interpretação b í­ blica sem isolar a parábola do co n tex to teológico geral. N a parábola dos dois servos (M t 24.45-51) aprendem os a im p o r­ tância daqueles que vivem na expectativa da vinda do Senhor, não apenas os que esperam , mas os que são fiéis e prudentes. N a parábola das dez virgens a lição principal é a p rudência e a previdência. E ntretanto , existem alguns detalhes dentro dessa parábola que m erecem nossa apreciação. Irem os analisar esses detalhes para que se am plie o en te n d im e n to do ensino que Jesus quis deixar para seus discípulos. P or esse m o d o podem os evitar distorções de interpretação. 138 V ig ia i, p o is n ã o Sa b e is q u a n d o V ir á o Se n h o r T rês c o r r e n te s d e in te r p r e ta ç ã o A p rim eira, in terp reta “ as virgens” com o sendo “u m g ru p o especial” que representa o “rem anescente ju d e u ” (Ap 7.3,4; 14.1-4), identificado com o os “ 144 m il salvos n o p e río d o da G rande T ribulação” . N atu ralm en te, essa interpretação diz res­ p eito aquele tem p o especial que acontecerá n o p e río d o da G rande Tribulação, e nada te m a ver co m Igreja. A segunda in terpretação refere-se às virgens que represen­ ta a Igreja co m o u m todo. E xistem dois grupos distintos no seio da Igreja: o g ru p o das cinco loucas e o das cinco p ru d e n ­ tes. D iv id em em duas m etades, ou seja, 50% representando as “ cinco loucas” , e os outros 50% representando as “ cinco p ru ­ dentes” . E nsinam que um a m etade será salva (as prudentes), e a outra m etade (as loucas) serão deixadas. U m a m etade subirá e a outra não subirá no arrebatam ento da Igreja. U sa-se com o arg um ento o tex to de M ateus 2 4 .4 0 -4 2 que diz:“E ntão, estan­ do dois n o cam po, será levado um , e deixado o outro; estando duas m o en d o n o m o in h o , será levada um a, e deixada o u tra ” . Esse te x to p reced e um a ex o rtação de C risto à sua Igreja que será tirada antes que venha o g rande dia da v inda pessoal e visível do Messias. P o rtan to , a idéia de duas m etades é in ­ com patível co m o ensino geral sobre o arrebatam ento da Igreja ( lT s 4.16,17). A terceira in terpretação refere-se ao n ú m ero dez que tem o sentido de totalidade; p o r isso, as dez virgens representam os cristãos com o u m to d o (a Igreja) e cada cristão individual­ m ente. Esta interpretação é a que ganha m aior aceitação no m eio evangélico. As “ dez virgens” representam “um a totalida­ d e” , ou seja, a totalidade dos crentes em C risto no m undo. Assim com o estas virgens aguardavam a chegada do esposo, assim, tam bém , a Igreja aguarda a vinda do Esposo. 139 As O P a rá b o la s de Jesu s q u e r e p r e se n ta m as d e z v ir g e n s ? (M t 2 5 .1 ) A d esp eito da m u ltip licid ad e de d e n o m in a ç õ e s cristãs, esp ecialm en te, evangélicas, sabem os q u e as dez v irg en s não rep re se n ta m dez p re te n d e n te s d o esposo. N ã o são dez d e­ n o m in a ç õ e s cristãs c o m p e tin d o p elo m esm o esposo.V isitei vários lugares e m Israel, em alguns deles, d en o m in a ç õ es cris­ tãs, divididas e n tre si, b rig a m pela posse de terras. Eles im a ­ g in a m q u e C risto possa te r nascido, sep u ltad o e co lo c a d o as m ãos o u coisas sem elh an tes e m algum a p a rte desse lugar. C h eg a a ser triste v er Igrejas c o m o : a de R o m a , a A nglican a, a O rto d o x a , a G reg a-siríaca e ou tras m ais, d isp u tan d o o p a ­ pel de v erd ad eira e ú n ica re p re se n ta n te de C risto . N a reali­ dade, se o lh arm o s a Igreja de C risto p o r u m a p ersp ectiv a universal, a v erem os distinta em co m u n id ad es (igrejas) lo ­ cais, q u e p o d e significar u m a p lu ralid ad e d e n tro da u n id ad e. P o rém , não devem os levar para esta discussão. O que im ­ p o rta nesta parábo la é que as dez virgens rep resen tam , lite ­ ralm en te, os cren tes in d iv id u a lm e n te e, estes, c o m p õ e m o c o rp o da Igreja (a esposa) de C risto . P o r q u e o u s o d a p a la v r a “ e s p o s o ” a o in v é s d e “ n o iv o ” ? N aq u ele tem po, especialm ente nas terras do O rie n te M é ­ dio, o noivado era quase tão definitivo q u anto o casam ento. U m a m u lh er com p ro m etid a em noivado era tratada com o “ es­ posa” , em bora vivesse fisicam ente separada do noivo (ou espo­ so). A m bos estavam obrigados à m esm a fidelidade, com o se estivessem casados (G n 29.21; D t 22.23,24; M t 1.18,19). N a linguagem escatológica, a Igreja é a esposa de C risto p o rq u e está com p ro m etid a co m Ele (Ap 19.7; 21.9; 22.17). 140 V ig ia i, p o is n ã o Sa b e is q u a n d o V ir á o Se n h o r O e n s in o p r in c ip a l d a p a r á b o la A linguagem da parábola é m etafórica (figurada), mas a m ensagem dela é literal.Jesus queria ensinar aos seus discípulos sobre a necessidade de cada crente estar devidam ente prepara­ do para a chegada do esposo, o u seja, a vinda de C risto (M t 24.42; 25.13). A parábola fala de dez virgens que aguardavam o esposo, mas isto não significa um a abertura para a poligam ia (M t 25.1).A Igreja não é a constituição de dez esposas, o u dez pretendentes. Essa idéia fere com p letam ente o p rin cíp io bási­ co do casam ento que é a m onogam ia. P ortanto, a Igreja é só um a esposa. O n ú m ero dez é red ondo, dá a idéia de algo c o m ­ pleto. O n ú m ero dez era m u ito significativo na vida cotidiana dos povos antigos, especialm ente, do povo israelita. P o r exem ­ plo: os dez m and am en tos (Ex 20); dez hom ens para ju lg ar so­ bre u m assunto (R t 4.2); para um a reunião em qualq uer sina­ goga era exigido n o m ín im o dez pessoas; e segundo o h isto ri­ ador Josefo, para se c o m er o cordeiro pascal exigia-se n o m ín i­ m o dez pessoas presentes. N ão podem os dogm atizar o núm ero dez n e m forçar qualquer interpretação, mas o m esm o ganha im portância no sentido de valorizar seu significado de totalida­ de. A totalidade das dez virgens representa o corpo form ado da Igreja que reúne todos os crentes para form ar um a só esposa. O p rim eiro versículo desse capítulo destaca o verbo sair, quan d o diz: “E ntão o reino dos céus será sem elhante a dez virgens que, to m an d o as suas lâmpadas saíram ao e n co n tro do esposo” (M t 25.1, ênfase do autor). O verbo “sair” indica a ação da Igreja se m ovim entando, isto é, saindo do lugar, para en co n trar o esposo (1 Ts 4.15-17). O ra, o p ró p rio sentido da palavra eclésia no grego significa “ sair para fora” o u “vir para fora” . N o sentido espiritual, a Igreja é o povo que saiu para fora dos seus term o s para en co n trar co m alguém im portante. 141 As P a rá b o la s d e Jesu s Todo crente em C risto saiu do seu estado de pecam inosidade para u m novo estado de vida regenerada (2 C o 5.17). DUAS CLASSES DE CR EN TES (M t 25.2-5) Jesus destacou estas duas classes de crentes co m o as p ru ­ dentes e as loucas. D evem os n o tar que as virgens estavam ves­ tidas igualm ente e todas se prepararam para a chegada do es­ poso, quando, então, haveria o cortejo nupcial até a festa das bodas. H avia um a certa harm o n ia quanto as vestim entas assim co m o todas levavam consigo as suas lâmpadas. Elas conheciam o esposo e m an tin h am suas lâm padas acesas. P orém , o esposo tardou, e então se percebeu a diferença entre as dez virgens. A s lo u c a s (M t 2 5 .3 ) P or que o te rm o “loucas” ? D evido ao co m p o rtam en to que dem onstraram . Elas foram irreverentes e insensatas. U m a pes­ soa é louca quando perde a capacidade de refletir, de pensar sabiam ente. E a falta de atitudes responsáveis. Ser cham ado de “lo u c o ” não é nada fácil. As virgens displicentes foram cham a­ das de “loucas” . Foram insensatas com relação a espera do es­ poso. Elas representam os crentes que vivem descuidados quanto à sua vida espiritual. Fazem “p o u co caso” das responsabilidades espirituais e q u anto à oração (R m 12.12; 1 C o 7.5; 1 Ts 5.17); quanto à leitura sistemática da Bíblia (2 T m 3. 15-17); quanto ao espírito m issionário (Ez 3.18,19; M t 28.19,20; M c 16.1517); quanto ao am or fraternal (1 Ts 3.12; 4.9; R m 12.10). As cinco loucas dem onstraram insensatez, pois não se preo cu p a­ ram em levar azeite suficiente em suas vasilhas e lâmpadas (M t 25.3,5; H b 6.12; Pv 18.9). As virgens loucas dem onstraram hipocrisia, isto é, falsa espiritualidade, falsa devoção e fingi­ m en to (M t 25.3,8; 1 Pe 2.1; Is 9.17; Ez 33.31,32; 2 C o 5.12). 142 V ig ia i, p o is n ã o Sa b e is q u a n d o V ir á o Se n h o r A s p r u d e n t e s ( M t 2 5 .4 ) Por o utro lado, Jesus reconh eceu que as outras cinco vir­ gens foram cuidadosas e previdentes. E m to d o o tem p o que aguardavam a chegada do esposo, elas foram cuidadosas, caute­ losas e vigilantes.Três qualidades foram dem onstradas pelas v ir­ gens prudentes: previdência, sinceridade e vigilância. A p ri­ m eira qualidade, previdência, indicava a precaução e a cautela. Elas se prepararam para o futuro incerto. P or isso, elas tinham azeite em suas vasilhas (M t 25.4). N ã o basta ter lâm padas poli­ das e brilhantes, com aparência de norm alidade, mas vazias in ­ te rio rm e n te (M t 5.15,16; 1 Sm 16.7). Aquelas vasilhas precisa­ vam ser um a provisão co n tín u a de azeite para as lâm padas. Isto significa que o “ azeite” é sím bolo da provisão do E spírito San­ to na vida do crente e precisa ser renovado dia a dia (E f 5.18; 2 R s 4.1-7). A segunda qualidade é sinceridade e isto significa te r atitudes puras, sem m istura, sem alteração. Estas virgens p ru ­ dentes dem onstraram sua sinceridade quand o disseram às o u ­ tras: “ N ã o seja caso que nos falta a nós e a vós” (M t 25.9). A terceira qualidade foi vigilância, isto é, estado de alerta, p ro n ti­ dão (M t 25.13; R m 13.11). A s c o n d iç õ e s e s p ir itu a is d a s d e z v ir g e n s (M t 2 5 .2 - 5 ) D uas classes de crentes são destacadas nesta parábola: os insensatos e os prudentes. As loucas representam os crentes in ­ sensatos e alienados espiritualm ente. São típicos daqueles que vivem na periferia da fé, pois n un ca se entrosam perfeitam ente. São os que andam fora da linha do cristianism o. P or o u tro lado, os p ru d en tes representam os cristãos cautelosos, previdentes, pois m an tém um a vida cristã de vigilância e espiritualidade. As dez virgens possuíam lâm padas e vasilhas de azeite (M t 25.7-9). As loucas tin h am azeite apenas nas lâmpadas até que 143 As P a r á b o l a s d e J e s u s acabou, não tin h am n e n h u m azeite em suas vasilhas. Elas fo­ ram displicentes e não se preocu param em prover o azeite. As p rudentes, pelo contrário, tin h am azeite nas lâm padas e em suas vasilhas. R EQ U ISITO S INDISPENSÁVEIS PARA E N T R A R NAS BODAS As jovens virgens precisavam estar providas de alguns ele­ m entos indispensáveis para participar das bodas. V e ste s b r a n c a s. O principal fator req u erid o para se entrar em um a festa de casam ento era a vestim enta, que tinha que ser branca. P ortanto, vestidos brancos sim bolizavam a pureza da noiva e o esplendor da festa. N a linguagem figurativa, os vesti­ dos brancos feitos co m o tecido típico da época que era o lin h o fino, significam (biblicam ente) as “justiças dos santos” (Ap 19.8). N a era neotestam entária, os vestidos brancos dos crentes em C risto são lavados no sangue do C ordeiro (Ap 7.14). C a lç a d o s p r ó p r io s . O s calçados são feitos com o E vange­ lho da Paz. O profeta Isaías ao falar da redenção desejada pelos ju d eu s destacou o papel dos que levam a boa notícia e procla­ m am a salvação e a paz. Ele disse: “ Q u ã o suaves são sobre os m ontes os pés do que anuncia as boas novas, que faz o u v ir a paz, que anuncia o bem , que faz o uv ir a salvação, que diz a Sião: O teu D eus reina!” (Is 52.7) O apóstolo Paulo fez um a aplicação dessa m ensagem de Isaías à pregação do evangelho que é um a proclam ação de paz e salvação (E f 6.15). L a m p a r in a s . O u tro fator que aparece nesta parábola são as lam parinas providas de azeite para estarem acesas durante a noite 144 V ig ia i, p o is n ã o Sa b e is q u a n d o V ir á o Se n h o r (M t 25.1). Essas lamparinas são ilustradas p o r Jesus em um a o u ­ tra figura interessante, a dos olhos. Jesus disse que a lâm pada do corpo são os olhos (M t 6.22; Lc 11.33-36). O lhos obscuros, ce­ gos, fechados não pod em produzir n en h u m a luz, assim sendo, essas lâmpadas p o d em indicar a luz ou a cegueira que está no crente. Jesus disse que a nossa luz deve resplandecer diante dos hom ens (M t 5.15,16).Ter a luz acesa, não apenas ilum ina o que está à frente da pessoa, mas significa “ estar vigilante” (Lc 12.35). R e c ip i e n t e (v a s ilh a ) p a r a o a z e i t e ( M t 2 5 .4 ) . Esse recip ien ­ te era feito de couro b e m cu rtid o para não dar vasam ento e para c o n te r o azeite com bustível. T ip o lo g icam en te, esses reci­ pientes (ou vasilhas) representam a nossa vida espiritual que precisa estar provida de azeite que é sím bolo de glória, brilho, unção, energia e au torid ad e espiritual (E f 5.18). O bviam ente, as pessoas naquela época não carregavam esses elem entos para simples exibição, mas eram indispensáveis para se andar à noite. P or isso, o azeite é sím bolo do E spírito Santo com o aquele que cura, alim enta, unge, e fornece luz. A CHEGADA D O ESPOSO (M t 25.10) O c la m o r d a m e ia -n o ite N o tex to está escrito: “M as à m eia-n o ite ouviu-se u m cla­ m o r” (M t 25.6). E scatologicam ente, “ m eia- n o ite ” te m um a sim bologia especial. Significava a consum ação o u o p rin cíp io de u m novo dia, u m novo tem po. Para aquelas virgens, era a ansiedade da chegada do esposo. Sim bolicam ente, m eia noite, era a hora do silêncio, quand o todos d o rm e m o sono mais intenso. Era a hora inesperada. A preocu pação de Jesus em sua m ensagem nesta parábola era o de despertar seus discípulos 145 As P a rá b o la s d e Jesu s para o fato daquela hora inesperada, quando poucos estão aten­ tos. A vinda de C risto será assim para a sua am ada esposa (1 C o 15.51,52; 1 Ts 4 .1 4 -1 7 ).“M eia n o ite ” pode significar a chega­ da do fim da dispensação da graça e o despertar de um a nova era, u m novo dia para a Igreja de C risto. E os que chegarem tarde para as bodas pod erá significar o início de ju ízo sobre as nações n o p erío d o da G rande Tribulação. Q u a t r o d ia s e s c a t o l ó g i c o s “M e ia -n o ite ” é um a expressão que significa p rin cíp io ou consum ação de u m novo tem po. N a linguagem escatológica da Bíblia, u m dia p o d e representar u m tem po, um a época, u m p erío d o de tem po. O s teólogos apresentam , através de um a linguagem m etafórica, quatro dias escatológicos que represen­ tam dispensações, o u seja, períodos de tem pos. O prim eiro dia escatológico é d en o m in ad o D ia do h o ­ m em . Esse dia representa toda a história da hum anidade em que o h o m e m pensa, fála, ordena, decide, faz e desfaz. O segundo dia escatológico é d en o m in ad o D ia de C risto (Fp 1.10). Esse dia alcança três eventos escatológicos im p o r­ tantes. D iz respeito ao en co n tro da Igreja com C risto nos ares, o u seja, n o arrebatam ento da Igreja (1 C o 15.51,52; 1 Ts 4 .1 4 17). Alcança, tam bém , o T ribunal de C risto no céu, q uand o os salvos em C risto hão de com parecer para o ju lg a m e n to de suas obras feitas na te rra . Esse T rib u n a l n ão te rá u m se n tid o condenador, mas prem iado r pelas obras feitas (2 C o 5.10; Fp 1.10; 2 C o 1.14; E f 5.27). O u tro evento im portante, dentro do dia de C risto, diz respeito às Bodas do C ordeiro (Ap 19.1,7; 21.9,10). Esses três eventos acontecerão dentro do p erío d o do “ dia de C risto ” n o céu; não na terra. O terceiro dia é d en o m in ad o D ia do S en hor (D n 9.27;A p 1.7). O dia do S en h o r é confundido, às vezes, co m o dia de 146 V ig ia i, p o is n ã o Sa b e is q u a n d o V ir á o Se n h o r C risto pela ligação dos fatos que sucedem . E ntretanto , nesse dia se inicia a in tervenção de C risto sobre a terra. Será o dia de sua aparição, a sua m anifestação (epifanéia, gr.) pessoal e visí­ vel sobre a terra, que c o rresp o n d e à profecia de D aniel 9.27; A pocalipse 1.7, ou seja, ao final da G rande Tribulação que eq ü i­ vale à “sem ana profética” de D aniel de sete anos. N esse dia, C risto descerá gloriosam ente sobre o m o n te das Oliveiras em Jerusalém (Zc 14.1-9) e julgará as nações e destruirá a trin d ad e satânica constituída pelo A nticristo, o Falso Profeta e o D iabo (grande D ragão). Será o dia da intervenção do S en h o r naquele im p ério da m aldade (Ap 1 9 .1 1 -2 1 ;2 0 .1 0 ).E sse dia será q u an ­ do o S en hor instalará seu reino de m il anos sobre a terra (Ap 20.4-6). Ele reinará co m os seus fiéis e fará de Jerusalém , a terrestre, a capital do reino sobre o m undo. O q uarto dia é d en o m in ad o D ia de D eus (2 Pe 3 .1 2 ).Esse será o dia do grande inventário universal. N ada escapará ao co n h ecim en to e ju íz o de D eus. E identificado na Bíblia co m o “ o ú ltim o grande dia” (2 Pe 3 .7 ;Jd 6). E, tam bém , identificado com o “ o dia do G rande T rono B ra n c o ” , isto é, o dia do Ju ízo Final, quand o todos os ím pios, em todas as eras serão julgados e sofrerão o dano da “segunda m o rte ” , que significa, o “ e te rn o b an im en to da presença de D e u s” . A c h e g a d a d o e s p o s o (M t 2 5 .1 0 ) A chegada do esposo será precedida p o r “u m clam o r” (v. 6). Esse clam or tem o sentido de grito, brado, alerta, voz alta para acordar q u em estiver d o rm in d o ou para alertar q u em es­ tiver aten to para o inesperado (1 C o 15.51,52; 1 Ts 4.15,16). Ele virá para um a esposa que o espera (M t 25.13,42,44; 1 C o 15.5 0 -5 2 );que o ama (1 Pe 3.18; 1 Jo 4 .1 9 );q u e reflete a glória do esposo (2 C o 3.18); que te m o perfum e do esposo (2 C o 2.15; C t 4 .1 1 ).Ele virá in esp eradam ente,à sem elhança dos dias 147 As P a r á b o l a s d e J e su s de N o é, quand o aquela geração fez p o u co caso da sua m ensa­ gem de ju íz o divino (M t 24.36-44). Ele virá em um a h o ra que os servos negligentes não o esperam (Lc 12.45,46). Ele virá n u m “ abrir e fechar de olhos” indican do que esse tem p o to r­ na-se difícil co n tá-lo o u detectá-lo. Paulo, o apóstolo usou o te rm o grego átom o s que im plica n um a partícula m ínim a de tem p o quase que indivisível (1 C o 15.52). Será mais rápido que o relâm pago que corta o céu de um p o n to a o utro (Lc 17.24). Ele virá buscar um a esposa que foi purificada, ataviada para o en co n tro através do E spírito Santo (R m 1.4;A p 19.7,8). AS BODAS D O CASAM ENTO (M t 25.10) O n d e se r á o lu g a r d a c e le b r a ç ã o d a s B o d a s? N aturalm ente, o lugar das Bodas será nas m ansões celestiais, n o céu, não na terra (Ap 19.1,7; 21.9,10); n e m será no perío d o do m ilênio 11a terra. A despeito da linguagem figurada que a Bíblia usa para ilustrar eventos espirituais, esse lugar não é fic­ tício. E real e verdadeiro, p o rq u e a Bíblia assim o diz. Q uem é o esp oso? O esposo é C risto (Ap 19.7) e a esposa é a Igreja n e o testam entária (E f 5.2 2-32). Ele é cham ado “ o C o rd eiro de D e u s” , p o r causa do seu sacrifício no C alvário, pela sua amada (Jo 1.29; 3.28,29). Q uem é a esp osa ? A palavra “ esposa” refere-se, naturalm ente, a um a m u lh er e, na Bíblia, m etaforicam ente, p o d e significar “ nação, povo, gen­ te, co m u n id ad e” , co n fo rm e o co n tex to da escritura que usa a palavra “m u lh e r” . P ortanto, 110 co n tex to figurado escatológico, 148 V ig ia i, p o is n ã o Sa b e is q u a n d o V ir á o Se n h o r a “ esposa” do C o rd eiro não é Israel, visto que Israel o rejeitou em sua prim eira vinda (Jo 1.11), p o r isso, através de um a lin ­ guagem m etafórica, Israel é denom inada “m u lh er rameira, adúl­ tera, p o r causa do seu pecado co m os costum es das nações (Ap 18.9,10,24). A verdadeira esposa é a Igreja gentia, lavada e purificada pelo sangue do C o rd eiro e preparada pelo E spírito Santo para ser a esposa do C o rd eiro (2 C o 11.2;A p 19.7). Q uem sã o o s c o n v id a d o s d a s B o d a s? O s convidados do esposo para as Bodas (Ap 19.9) são os anjos que os servirão. O rem anescente ju d e u (os 144 mil) sal­ vos na G rande Tribulação (Ap 14.1-4), o am igo do noivo que é o E spírito Santo e os santos do A ntigo T estam ento ressuscita­ dos na grande ressurreição que aparecem na qualidade de am i­ gos do esposo. Im agine os convidados do noivo que en co n tra­ rem os lá, tais com o Abraão, Isaque, Jacó, José, M oisés, Elias, D avi e tantos outros do A ntigo Testam ento. A e x c lu s iv id a d e d a s B o d a s (M t 2 5 .1 0 ) D iz o tex to literalm ente que após o esposo e a esposa en ­ trarem co m os seus convidados no lugar da G rande Festa, id en ­ tificado com o “Bodas do C o rd e iro ” (Ap 19.7-9), a p o rta da Casa do R e i será fechada. N a parábola, literalm ente, está escri­ to que “fechou-se a p o rta ” (M t 25.10). Este é o tem p o da graça de D eus quan d o todos os crentes tem a o p o rtu n id ad e de se prepararem para aquele D ia Festivo; p o rém , quand o fechar-se a porta, não haverá um a segunda o p o rtunidad e. Toda e qual­ quer justificativa será desconhecida perante o Senhor (M t 25.11). A grande lição que aprendem os nesta parábola é que de­ vemos estar atentos para este G rande D ia da vinda do Esposo, quando n in g u é m saberá a hora. 149 C a p í t u l o 12 As B o d a s d o Fil h o d e D eu s M a te u s 2 2 .2 - 1 4 G o z a m o s a q u i n a terra, agora, as benesses das B o d a s do R e i e n o s p re p a ra m o s p a ra o c lím a x dessa f e s ta , n a s B o d a s d o C ord eiro. Esta parábola é precedida p o r u m a expressão típica de Je ­ sus em várias outras situações:“E ntão Jesu s, to m an d o a palavra, to rn o u a falar-lhes em parábolas” (v. 1). Esta expressão indica que Jesus continuava a dar resposta às objeções dos seus in im i­ gos declarados, os chefes do S inédrio e das sinagogas na capital. A parábola que segue é, mais um a vez, u m a resposta às insinu­ ações maldosas dos seus adversários (M t 21.46). O s intérpretes confundem , às vezes, esta parábola co m outra em Lucas 14.1624. As duas parábolas falam de um a festa prom ovida p o r u m rei. P orém , em ambas as festas os convidados rejeitam o convi­ te. P or mais que se ten te en co n trar sim ilaridade nas duas pará­ bolas, percebe-se detalhes distintos que lhes dão lições to tal­ m ente distintas. N esta parábola de M ateus as bodas são para o filho. N ão se trata de n en h u m a festa co m u m , mas um a festa dada p o r u m rei às bodas de seu filho. P o rém o rei enviou seus servos a fazerem convites a pessoas de seu co n h e c im e n to e de seu filho. M etafo­ As P a r á b o l a s d e J e s u s ricam ente, Jesus estava direcionando esta parábola aos seus ad­ versários e os acusa de estarem rejeitando o convite de D eus para a festa do seu Filho. Todavia, eles preferiram desonrar o filho e m atar seus servos. A lição princip al que Jesus p õ e em destaque está no versículo 1 4 :“ ... m uitos são cham ados, mas poucos, escolhidos” . Esse conceito indica tam b ém que a pará­ bola te m u m sentido escatológico, p o rq u e fala de juízo. U M C O N V I T E D O R E I (M t 22 .2,3) Q uem é o R e i? E m toda a Bíblia, D eus, o S en h o r e C riad o r de todas as coisas, é identificado p o r vários títulos, dentre os quais o de R e i. N o hebraico, a palavra aparece, p elo m enos, 2.500 vezes. N o hebraico, a palavra “ re i” aparece co m o m e le k , e n o grego do N o v o T e stam en to a palavra é ba siléus. E x iste m vários cognatos do te rm o c o m o “ re in o ” , “ ra in h a ” , “ re in a r” . D e G ênesis 14.1 até A pocalipse 21.24, essa palavra está presente nas páginas da B íblia. E n tretan to , em relação a D eus, a palavra rei tem u m sentido especial e m etafó rico . Paulo o ilustrou co m o R e i te rn o (1 T m 1.17 —A R A ). E m relação à Igreja, C risto é o R e i (1 T m 6.15,16; M t 27.1 l) .E m síntese,D eus é o S en h o r com p o d er suprem o sobre todas as coisas. N as parábolas de C risto, D eus Pai é ilustrado de m o d o especial. Nas duas parábolas anteriores (M t 21.28,33), D eus é representado na figura do viticultor, pai e senho r de um a v i­ nha. Nestas parábolas Ele é ilustrado na figura de “u m rei” e “p ai” . N a outra parábola, o filho era o herdeiro da vinha; nesta, é o filho do rei que vai se casar (SI 72.1). S ubtende-se que o rei é o nosso Pai Celestial; o filho é Jesus C risto, o noivo que vai se casar; a noiva é, indiscutivelm ente, a Igreja. 152 As B o d a s d o F il h o d e D e u s U m a c e le b r a ç ã o d e s e ja d a p e lo r e i ( w . 2 ,3 ) A despeito desta parábola ser um a resposta aos seus in im i­ gos religiosos,Jesus, na verdade, estava apresentando um a pará­ bola sob duas perspectivas: um a no presente e outra, futura. A queles que inicialm ente foram convidados para as bodas (vv. 4-6) representavam os ju d eu s que rejeitaram o Filho, Jesus. E m vez de aceitarem o convite, preferiram fazer outra coisa. O rei sem pre desejou esta festa e, n o tem po devido, chegaria o m o ­ m en to da celebração. Era o desejo do rei e do filho, mas o convite foi relegado p o r outros afazeres. A c e le b r a ç ã o t e m um s e n tid o a tu a l A celebração te m u m sentido presente e futuro, isto é, escatológico. E n tretan to , colocar esta parábola n o c o n tex to presente não desfaz a óptica escatológica da parábola. O ra, J e ­ sus estava falando para aquele povo que lhe ouvia naquele m o m en to . P ortanto, a interpretação não se restringe a u m de­ term in ad o tem po, mas o enredo da parábola te m u m sentido dinâm ico, isto é, não te m u m sentido estático, 110 sentido de se p o d er in terp retar escatologicam ente. O convite de D eus é ao povo de Israel, esperando que reconhecesse em Jesus o herd ei­ ro do R e in o (At 13.46).João, o apóstolo amado, escreveu que Ele “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam ” (Jo 1.11). O p ro n o m e “seus” refere-se ao povo de Israel, do qual Jesus era nascido. N esta parábola Jesus nos faz su btender que Israel, com o povo, recusou o convite. O ra, p o r esse aspecto histórico, entendem o s que, um a vez que Israel o rejeitou, res­ tou a o p o rtu n id ad e para todos quantos não faziam p arte desse Israel legalista. M ais um a vez fortalece o fato de que se o c o n ­ vite aos de casa foi rejeitado o m esm o foi aberto para todas as nações e povos do m undo, e Jo ão disse: “Mas a todos quantos o 153 As P a rá b o la s d e Jesu s receberam d eu-lhes o p o d er de serem feitos filhos de D eus: aos que crêem n o seu nom e, os quais não nasceram do sangue, n em da vontade da carne, n e m da vontade do varão, mas de D e u s” (Jo 1.12,13). N esse tem p o de m anifestação da graça de D eus, a p o rta da casa do R e i foi aberta para todos os demais. E m bora a celebração resulte no casam ento — união futura entre C risto e sua Igreja — a festa está o co rren d o agora p o r­ q ue já desfrutam os, nesta dispensação, as delícias desse “ja n tar preparado” (v. 4). A c e le b r a ç ã o se r á , ta m b é m , fu tu r a N aturalm ente, esta parábola nos leva às “bodas do C o rd ei­ ro ” (Ap 19.7-9). N o A ntigo Testam ento, a união m atrim on ial era um a figura da relação entre D eus e Israel (Is 54.4). Porém , no N o v o Testam ento a figura do m atrim ô n io é apresentada na relaç ão e s p iritu a l e n tre C ris to e a Ig re ja , a “ esposa do C o rd eiro ” (Ap 19.7; 21.9). OS CO N V ID A DO S D O REI D o is in s is te n te s c o n v ite s p a ra Isra el N o p rim eiro convite do rei (M t 22.1-3), os servos saíram com endereço certo para convidar pessoas que faziam parte das relações co m o rei para as bodas. Todavia, os convidados apresentaram desculpas implausíveis para não irem a festa. P or m otivos secundários e p o r preferirem tratar de seus interesses, esses convidados não apenas rejeitaram o convite do rei, mas ofenderam -no , desrespeitando sua autoridade. O s obstáculos levantados p o r esses convidados não justificavam o p o u co caso ao convite do rei. O rei não desistiu da festa. Pelo contrário, resolveu fazer u m segundo convite. Ele e n ten d eu que os convidados talvez 154 As B o d a s d o F ilh o d e D e u s não tivessem en ten d id o o convite e a im p o rtân cia do m esm o. P or isso, o rie n to u os m ensageiros que levassem os convites e declarassem aos convidados que o ja n ta r já estava preparado, os bois e os cevados já m ortos, e tu d o estava p ro n to para a cele­ bração (M t 22.4-7). P orém , outra vez, aqueles convidados re­ jeitaram o convite do rei. Esse fato foi en ten d id o p o r Paulo e B arnabé em um a de suas prim eiras viagens missionárias. A o chegarem a A ntioqu ia da Pisídia, visitaram as sinagogas e pregaram o evangelho de Cristo. A m bos, entendendo o plano de D eus, não tem eram fazer co m ­ parações com as profecias do A ntigo Testam ento e declarar que Jesus era o Messias prom etido (At 13.26). M ostraram aos ju deu s que os ouviam que eram privilegiados em receber a palavra de D eus antes dos gentios, mas eles rejeitaram o convite e, p o r isso, m ediante a sua recusa a Jesus C risto co m o Salvador e Senhor, o convite se voltaria para os gentios (At 13.46). O s d o is p r im e ir o s c o n v it e s r e v e la r a m tr ê s c la s s e s d e p esso a s A p rim eira classe é a dos indiferentes, p o rq u e lhes interes­ sava m u ito mais cuidar dos assuntos m ateriais, dos negócios, do que ir a um a celebração. A segunda classe é a dos ingratos, pois, um a vez que faziam parte da am izade do rei, ainda foram v io ­ lentos, m altratando os servos do rei. A terceira classe daqueles prim eiros convidados era ainda p io r que as duas já m en cio n a­ das p o rq u e não lhes interessava qualq uer coisa que não fosse do seu p ró p rio interesse. A lém de m anifestarem um a oposição amarga ao convite levado pelos servos do rei, ainda persegui­ ram e usaram de violência co m eles. Seu egoísm o era tão forte que aquele convite parecia ser um a afronta a eles e, p o r isso, não h e sitara m u ltra ja r e m a ta r os servos d o rei (M t 2 2 .6 ). 155 As P a rá b o la s d e Jesu s É interessante n o tar que os indiferentes e os ingratos não m a­ taram n e m perseguiram os servos. H istoricam ente, essas duas classes de convidados não m ataram os profetas n e m o Messias, mas sim os da terceira classe, os religiosos céticos, isto é, exata­ m ente, os chefes religiosos que viviam perseguindo a Jesus. Foram eles, dom inados p o r presunção capaz de os levar a odiar e a m atar quem fizesse som bra sobre o p o d er que exerciam. Eram , na verdade, u m a classe de pessoas co m um a visão errada de religiosidade. O rei os p u n iu severam ente, suas cidades, suas famílias, p orqu e o problem a não foi a simples recusa ao convi­ te, mas a afronta à autoridade real e o desafio ao m atarem aqueles servos. N a história da Igreja, através dos séculos, os servos de C risto foram m o rto s e perseguidos p o r causa da m ensagem do evangelho. O te r c e ir o c o n v it e (M t 2 2 .8 - 1 0 ) Esse convite revela o p o d er divino de exercer a justiça ir­ m anada à m isericórdia. S egundo o costum e da época, os c o n ­ vidados dessa feita não tinham absolutam ente nada co m o rei. P o r isso, eram considerados indignos para participar de um a festa na casa real. Esses convidados não tin h am etiqueta n e m ostentavam classe social algum a. N ã o gozavam da am izade do rei e eram pessoas com uns do povo, discrim inadas pela socie­ dade de então (M t 22.8). O s gentios eram discrim inados pelos ju d eu s p o r serem pagãos. Essa discrim inação devia-se ao fato de serem adoradores de outros deuses, mas, ao receberem o convite, foram acessíveis aos servos do rei e ench eram a casa real. O texto diz que os servos do rei foram p o r todos os cam i­ nhos possíveis e convidaram a todas as pessoas, in distintam ente (M t 22.10). A o rd em do rei dizia que os servos deveriam ir a todas as saídas do cam inho, significando que deveriam ir não apenas às pessoas dentro dos term os geográficos de Israel, mas 156 As B o d a s d o F il h o d e D e u s a tantas quantas fossem encontradas fora das fronteiras do te r­ ritó rio . O livro de A tos dos A póstolos é u m testem u n h o do evangelho que foi levado para fora das fronteiras de Israel. A recusa dos ju d eu s ao convite do R e i abriu a p o rta para os gentios (R m 11.11; 15.27; E f 3.6). O s p r o p ó s ito s d e D e u s n ã o p o d e m fic a r fr u s tr a d o s A rejeição dos ju d eu s p ro p icio u a entrada dos gentios no R e in o dos céus (vv. 8-10). A despeito da rejeição dos ju d eu s ao plano de salvação oferecido pelo Senhor, na presciência divina já estava elaborado o plano que não frustraria o projeto divino para a salvação da hum anidade. D eus não ab an d o n o u Israel em seus propósitos; apenas foi colocado em segundo plano para que assumisse o p rim eiro lugar, a Igreja, que é constituída de ju d eu s e gentios. O propó sito de D eus é form ar um a fam ília de filhos que assimilem a im agem de Jesus e sejam com o Ele (R m 8.29). A eleição da p arte de D eus não é feita segundo a carne (R m 9.8), mas segundo o Espírito. O im p o rtan te é que o propósito divino não p o d e ser frustrado p o r interferências hum anas, p o rq u e D eus faz valer seu propósito acim a de qual­ q u er obstáculo. Se aqueles convidados da parábola tinham di­ reito à festa, p o r serem ju d eu s, não alcançaram a justiça p o r direito segundo a carne. O s demais convidados, aqueles consi­ derados “ in dign os” , pelo contrário, ao aceitarem o convite, al­ cançaram a justiça m edian te a fé (R m 9.30-33). Para eles, bas­ to u ouvir, crer e aceitar o convite do R ei. A F E S T A D O C A S A M E N T O (M t 2 2 .1 0 -1 2 ) O s benefícios e delícias do R e in o m essiânico são repre­ sentados pela figura de u m a festa nupcial. O s ju d eu s foram indiferentes ao convite do R e i. O s servos enviados p elo R e i ao 157 As P a rá b o la s d e Jesu s longo da história desse povo foram rechaçados e maltratados, desde os prim eiros profetas até o últim o, entre eles, João Batista. O s c o n v id a d o s p r e c is a v a m e sta r v e s tid o s a d e q u a ­ d a m e n t e (v . 1 1 ) N o rm alm en te, q uem vai a um a festa de casam ento vestese apropriadam ente para o evento. P orém o rei sabia que estes últim os convidados eram desprovidos da m e n o r condição m a­ terial para o b terem vestidos apropriados. E ntão, sabendo da situação desses convidados de últim a hora, o rei providenciou vestes nupciais que os tornassem tão especiais quanto qualq uer pessoa de elite. E scatologicam ente, a Igreja é a N oiva do C o r­ deiro, o Filho do R e i (Ap 19.7,8). Q u al o significado sim bóli­ co da “veste nupcial” ? Significa vestir-se com um a roupa ade­ quada para um a festa de casam ento. N aturalm ente, aqueles que vieram de u m m u n d o sujo e com andrajos velhos precisam desnudar-se dessas vestes antigas, dos andrajos do pecado, e vestir-se co m os vestidos próprio s de festa. U m a s u r p r e s a d e s a g r a d á v e l n a f e s t a (v . 1 1 ) A lguém entrou no salão de festas da casa do rei mas não se vestiu adequadam ente para as bodas. Era costum e do O rie n te oferecer aos convidados algum a vestim enta adequada para um a festa daquele nível. Isso foi feito a todos aqueles convidados que eram pobres e não tin h am a m e n o r condição para tal. D e repente, quando o rei entra n o recinto da festa para ver seus convidados devidam ente vestidos, viu ali u m h o m e m não ves­ tido de m aneira adequada. Era u m c o m p o rta m e n to inaceitável para a sociedade de então. Trazendo isto para a realidade espi­ ritual, entendem o s que é im possível alguém querer estar na celebração m aior do R e in o de D eus sem estar trajado adequa­ 158 As B o d a s d o F ilh o d e D e u s dam ente. Tal co m p o rta m e n to significava um a atitude im p ró ­ pria para aquele am biente. A quele h o m e m , displicente naquela festa, representa um a classe de pessoas que en te n d e m que p o ­ dem servir a D eus de qualq uer m odo, sem dem onstrar os sinais da obra purificadora e santificadora do C alvário. Q u e m está vestido co m suas próprias justiças não tem direito a q u erer entrar na Festa quan d o todos estão trajando vestidos que re­ presentam as “justiças dos santos” . A v is ã o e s c a to ló g ic a d a s b o d a s D ois textos bíblicos nos dão essa visão, em M ateus 22.10 e Apocalipse 19.7-9. N a festa das bodas, co n fo rm e a parábola, o versículo 10 d iz :“ ... e a festa nupcial ficou cheia de convida­ dos” . Q u e alegria para o coração do rei ver sua casa lotada com esses extraordinários convidados. Eles representam a Igreja ao lo ngo de sua história e que, u m dia, será arrebatada. O s m ortos em C risto serão ressuscitados (1 Ts 4.17) e conduzidos às b o ­ das do C ordeiro para o glorioso casam ento do Filho do R e i co m a sua am ada Igreja. Q u e sã o as b o d a s d o C o r d e ir o s e g u n d o A p o c a lip s e 1 9 .7 ? A palavra “b o d a ” significa “ celebração” . P ortanto, a grande celebração da eternidade acontecerá n o casam ento de Jesus com a Igreja. A palavra “ cordeiro” refere-se ao papel expiatório de C risto n o C alvário co m o “ o C o rd eiro de D eus, que tira o pecado do m u n d o ” . O sentido da palavra “ co rd eiro ” em rela­ ção a C risto fortalece a idéia de que a Igreja foi com prada p o r u m alto preço, o do sangue do C ordeiro de D eus (Ap 5.6-9). O “filho do rei” é a m esm a figura do “ C o rd e iro ” que se resum e na pessoa de C risto. Ele é o Esposo desejado pela Igre­ 159 As P a rá b o la s d e Jesu s ja (a esposa). A “ esposa” do Filho do R e i, não é Israel, mas é a Igreja rem ida n o C alvário (R m 1.6; 8.28; 1 C o 1.2,24,26). O p erío d o das bodas do C ordeiro será após o arrebatam ento e o T ribunal de C risto, e n q u an to aqui, na terra, acontece a G rande Tribulação. A lição básica dessa parábola está n o versículo 14, que mostra a rejeição de Israel à obra de C risto. Israel era o povo cham ado e eleito, o povo convidado para as bodas, mas sua rejeição p ro ­ piciou o convite a todos os povos. 160 C a p í t u l o 13 A Pa r á b o l a d a Pé r o l a d e G r a n d e Va l o r M a t e u s 1 3 .4 5 ,4 6 O u tr o s s im , o R e i n o dos céus é s e m e lh a n te ao h o m e m n eg o cia n te q u e busca bo as p é ro la s; e, en co n tra n d o u m a p é ro la d e g r a n d e valor, f o i , v e n d e u tu d o q u a n to tin h a e c o m p ro u -a . D istinta da parábola anterior, a Parábola da Pérola de G ran­ de Valor não é um a m era repetição do M estre. Existe um a certa similaridade entre essa parábola e a do tesouro escondido.Toda­ via, na Parábola da Pérola Jesus desenvolve um a nova visão do R e in o dos céus. E nqu an to na Parábola do Tesouro o h o m em pecador é o que negocia para to m ar posse do tesouro (v. 44), na Parábola da Pérola o negociante não é o pecador, mas o p ró p rio C risto que veio de longe para buscar a pérola de grande valor. U M A Ó PTIC A BÍBLICA DISTINTA A questão interpretativa das parábolas deve ser feita co m critério e sem n e n h u m invencionism o teológico, pois os p ró ­ prios in térpretes se divergem em po n to s de vista, os quais m e ­ r e c e m a p re c ia ç ã o . O p r ó p r io Je su s a b r iu e sp a ç o p a ra dim ensionarm os a in terpretação de suas parábolas pela riqueza de c o n teú d o m oral e espiritual que contêm . A sim ilaridade entre as duas parábolas em alguns p on tos não nos im pede de 161 As P a rá b o la s d e Jesu s perceber as distinções existentes, até p orqu e não haveria razão plausível da parte de C risto para contar duas parábolas sem que cada um a delas tivesse a sua p ró p ria interpretação. Q u a is as d ife r e n ç a s q u e p o d e m o s p e r c e b e r n a s d u a s p a r á b o la s ? N a p rim eira , o h o m e m descobriu o tesouro p o r casualida­ de e então resolveu com p rar o cam po para ter posse daquele tesouro. N a segunda, o negociante em preen deu um a viagem com objetivo definido. Ele buscava en co n trar um a pérola que superasse todas as demais existentes, e o fez co m afinco e obje­ tividade. Ele sabia o que queria. Ele não tinha em m en te outra idéia, n em outra jó ia, mas estava ciente de que havia um a “p é ­ rola de grande valor” em algum lugar. P o r isso, foi objetivo, persistente e paciente em sua busca. A m e lh o r e m a is p la u s ív e l in t e r p r e t a ç ã o d a p a r á b o la D evem os perceber que os elem entos principais desta pará­ bola são “ o h o m e m neg o cian te” e “ a pérola de grande valor” . A inda que alguns intérpretes repitam a interpretação da pará­ bola anterior, devem os e n ten d er que há distinção entre os ele­ m entos que co m p õ e cada parábola. A sugestão natural, sem n e n h u m critério h erm en êu tico , é in terp retar a pérola de gran­ de valor co m o sendo C risto. H in os e poesias são feitos desta­ cando C risto co m o a preciosa pérola. D en tro de um a visão particular de valor, é perfeitam ente aceitável considerarm os a C risto, o Salvador, com o a jó ia preciosa que encontram os e que en riq u ece a nossa vida. N esta parábola, a interpretação mais aceitável é a de que Jesus é o negociante que veio a este m u n d o para en co n trar a jó ia rara de sua vida, um a pérola de grande valor. Para esse em p reen d im en to Ele fez um a grande 162 A P a r á b o l a d a P é r o l a d e G r a n d e V a l o r viagem até en co n trar a sua tão desejada pérola. S ubtende-se, naturalm ente, que esta pérola de grande valor, pela qual Jesus deu tu d o o que tinha, era a sua Igreja gloriosa. JESUS, O N E G O C IA N TE Q uem é o n e g o c ia n te ? O texto diz literalm ente que “o R e in o dos céus é sem e­ lhante ao h o m e m neg o cian te” (v. 45). N a parábola anterior, “ o R e in o dos céus é sem elhante a u m tesouro escondido” (v. 44). Esse negociante não era u m aventureiro; não era u m viajante proscrito que não sabia o que queria. Ele tinha u m objetivo: buscava boas pérolas, e não se satisfazia co m pérolas com uns. N ã o era u m an jo en via d o p o r D e u s p ara rea liza r essa busca . Ele era u m m ercado r que buscava boas pérolas.N ão era o arcanjo M iguel n em o arcanjo G abriel, dois nom es b em identificados em missões delegadas p o r D eus, o T odo-poderoso. Ele não era u m mercador de q u in q u ilh a ria s . Ele tinha u m ideal, um a m eta, u m sonho: e n c o n tra r“ um a pérola de grande valor” . P or isso, subtende-se que era inteligente, altruísta, perspicaz e sensível em sua busca. Ele estava certo de que pagaria u m alto preço ao encontrá-la. Esse “neg o cian te” dem onstrou, no co n tex to da parábola, que era alguém m u ito inteligente, ativo, diligente e sensível para negociar. Ele sabia o que queria. Possuía u m critério sele­ tivo na busca das boas pérolas. Sua perspicácia espetacular o fez buscar a sua pérola nos lugares mais rem otos, p o rq u e era p e r­ sistente em seus objetivos e não perdia o entusiasm o em tu d o o que fazia. O que almejava, de fato, era o sucesso da sua busca e, para tal em preen d im en to , estava consciente de que pagaria u m alto preço até en co n trar a “pérola de grande valor” que 163 As P a r á b o l a s d e J e s u s ansiava. Ele foi o m ercado r de D eus que veio a esse m u n d o para en co n trar essa singular jó ia preciosa. F oi J e s u s o negociante q u e nos com prou p o r u m g ra n d e preço. Paulo escreveu aos coríntios: “P orque fostes com prados p o r b o m p re ço ” (1 C o 6.20). Ele disse mais: “ P orque já sabeis a graça de nosso S en h o r Jesus C risto, que, sendo rico, p o r am or de vós se fez pobre, para que, pela sua pobreza, enriquecêsseis” (2 C o 8.9). O “ b o m p re ço ” pago indicava o seu co n h ecim en to de avaliação das pérolas boas o u ruins encontradas. A o lo ngo da história da Igreja, renom ados pregadores do evangelho tê m preferido in terp retar esta pérola singular com o o p ró p rio C risto. E ntretanto , à luz do co n tex to da parábola, não tem os dúvidas de que o negociante não é o utro senão o p ró p rio C risto, que deu tu d o para ad q u irir esta pérola. Precisamos levar em consideração que esta interpretação não é m agna e única, p orém , a mais aceitável se considerarm os que “ ... não há ninguém que busque a D eus” (R m 3.11) e entender­ mos que é Cristo quem busca o pecador, conform e Ele m esm o declarou: “Porque o Filho do F lom em veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc 19.10). N a parábola das cem ovelhas, é o pastor que deixa as noventa e nove ovelhas no aprisco e sai em busca da ovelha perdida (M t 18.12-14;Lc 15.3-7).N a parábola da dracma perdida, é a m ulher que busca encontrar a sua dracma (Lc 15.8-10). Portanto, não devemos dogmatizar um ponto de vista de interpretação quando o assunto sugere mais de um ponto de vista. Ao final de tudo, todos os pontos de vista distintos não p o ­ dem ferir o princípio herm enêutico da verdade geral sugerida. A PÉROLA VALOROSA O q u e é e q u e m , é a p é r o l a d e g r a n d e v a lo r ? D iz o texto literalm ente: “E, enco ntrando um a pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha e co m p ro u -a” (v. 46, 164 A P a r á b o l a d a P é r o l a d e G r a n d e V a l o r grifo do autor). A especialidade de Jesus para ilustrar verdades pro­ fundas de maneira peculiar através de parábolas deu à figura da pérola u m destaque especial. Jesus sabia tirar proveito dos valores materiais e morais da época para ilustrar verdades profundas. Ele ilustrou as pérolas porque elas tinham u m valor inestimável na­ quela época. Só eram comparáveis às jóias de ouro, aos diamantes, aos rubis e outras pedras preciosas raras. C o m o s ã o fo r m a d a s as p é r o la s É in teressan te a d iferença q u e existe na fo rm a çã o das pérolas e das outras pedras preciosas. As pedras preciosas co m o safira, d iam an tes, rubis, esm eraldas e ou tras m ais, tê m u m p rocesso de fo rm a çã o m u ito le n to em relação às pérolas. Estas são p ro d u zid as p o r u m o rg an ism o vivo q u e age n o in te rio r de certo s m olusco s, as ostras m arítim as. Esse o rg a ­ nism o vivo sofre o a trito de algum c o rp o estranho, que p o d e ser u m grão de areia o u u m ovo de algum parasito, o qual, ao lo n g o de algum te m p o , vai se d im e n ta n d o esse o rg an is­ m o e m cam adas até c h eg ar a ser u m a p e d rin h a a rre d o n d a d a no in te rio r da ostra. A causa im e d ia ta da fo rm a çã o de u m a pérola é a presença do e le m e n to q u e fere a carne do m olusco. A lição p rim e ira q u e ap ren d em o s é que, de ta n to so frim e n ­ to n o i n t e r i o r d a q u e la c o n c h a , a q u e la c a r n e v a i se se d im e n ta n d o em cam adas até to rn a r-se u m a jó ia p recio sa e fo rm o sa, tão desejada pelas pessoas. O u tro ssim , a péro la não se fo rm a in sta n ta n e a m e n te ; o d im in u to grão de areia que a to rm e n ta e fere a c arn e do m o lu sco vai p ro d u z in d o sobre aquela carn e o “ n á c a r” . O ra, o q u e é o nácar? E a q u e ­ la s u b s tâ n c ia b r a n c a e b r i l h a n t e , c o n s t itu í d a d e cal carb o n atad o , q u e vai fo rm a n d o as cam adas p ro te to ra s para dar o rig e m à pérola. Essa cam ada p ro te to ra é co n h ecid a com o “ c o n c h a ” , e d e n tro dela se esco n d e a pérola. 165 As P a rá b o la s d e Jesu s C o m o a I g r e ja d e C r is to f o i fo r m a d a ? Esse fato sobre a form ação das pérolas nos leva a pensar e refletir co m um a analogia especial. Assim com o Eva, a m ãe de todos os hom ens foi tirada do lado de A dão (G n 2.21,22), da sua costela, assim, tam bém , a Igreja foi tirada do lado ferido de C risto (Jo 19.34) no Calvário. Assim com o C risto se fez carne, e na sua carne foi ferido pelos nossos pecados, assim tam b ém o elem ento ferid or que o fez sofrer e que co b riu a sua carne p rodu ziu e fo rm o u a sua preciosa pérola, a Igreja. Pelos sofri­ m entos de C risto a Igreja foi gerada, assim com o a pérola é produzida m edian te o sofrim ento infrin gido contra a carne do m olusco. A Bíblia declara que a Igreja é o C o rp o de C risto (1 C o 12.27) e entendem os, neste c o n tex to de interpretação, que nós, os crentes em C risto, somos o seu co rp o sofrido, mas trans­ form ado na mais preciosa jó ia espiritual. O ra, se o co rp o de C risto, com o carne, foi ferido pelos nossos pecados, tam b ém se to rn o u a pérola form ada no m olusco do C alvário. C o m o o grão de areia reveste a carne do m olusco co m um a beleza e um a glória ím par, assim, tam bém , nós som os revestidos com a glória daquEle que sofreu pelos nossos pecados. A Igreja é a pérola de valor desejada pelos ladrões e saltea­ dores sob o co m ando de Satanás (Jo 10.1,10) que vive desejan­ do destruir e dissolver a Igreja através dos séculos. C o n tu d o , o E spírito Santo te m preservado essa “pérola valorosa” , a Igreja, da am eaça de destruição pelos m utiladores espirituais. O u tra sem elhança entre o processo de form ação da igreja e de um a pérola é a lentidão da espera que vai acon tecen d o em segredo, n o in te rio r da concha, e co m segurança. N ã o é um a form ação explícita, mas é gradual, co m o sugere a escritura de P au lo :“ de glória em glória” (2 C o 3.18; R m 8.18). O E spírito Santo trabalha, p ortanto, no processo de form ação da Igreja ao lo ngo da “ dispensação da graça” . Estam os, na realidade, sendo 166 A P a r á b o l a d a P é r o l a d e G r a n d e V a l o r transform ados, aperfeiçoados e am adurecidos até alcançarm os a plenitud e de C risto, com o está escrito: “A té que todos ch e­ guem os à unidade da fé e ao c o n h ecim en to do Filho de D eus, a varão perfeito, à m edida da estatura com pleta de C risto ” (Ef 4.13). Assim co m o o nácar é a preciosa substância que vai calcificando a carne do m olusco, p o d e sim bolizar a unção do E spírito Santo que prom ove calcificação e consistência à Igreja de C risto na terra. A grande lição que aprendem os, contra todas as teorias falsas da teologia da prosperidade, é a lição de que o so frim en ­ to nos aperfeiçoa e aprim o ra para que nos to rn em o s mais c o n ­ sistentes. O sofrim ento da pérola é tem porário, do m esm o m o d o que acontece na vida do cristão. T o rn am o -n o s aptos para a vida etern a e aprendem os co m as palavras de Paulo: “ ... se é certo que co m ele padecem os, para que tam b ém co m ele seja­ m os glorificados. P orque para m im te n h o p o r certo que as aflições deste tem p o presente não são para com parar c o m a glória que em nós há de ser revelada” (R m 8.17,18). A p é r o la d e g r a n d e v a lo r s o b d u a s p e r s p e c t iv a s A prim eira perspectiva dessa pérola valorosa é in d iv id u a l. C ada pessoa é vista p o r Jesus C risto de m o d o especial e p a rti­ cular, p o rq u e é um a “pérola de grande valor” pela qual Jesus deu sua p ró p ria vida, a fim de adquiri-la. O apóstolo Pedro declarou em sua epístola que som os p ro p ried ad e exclusiva de D eus, p o rq u e Jesus nos co m p ro u para o seu R e in o de am or. E m 1 Pedro 2.9 está escrito: “M as vós sois... o povo a d q u iri­ d o ” . N a versão N V I diz “povo exclusivo de D e u s” e, finalm en­ te, na A R A , “povo de p ro p ried ad e exclusiva de D e u s” . Essas versões tê m na sua essência o m esm o sentido de “possessão” de D eus. C ada cristão com p ro m etid o co m o R e in o de D eus p re ­ cisa valorizar o seu papel neste m u n d o de tantas im itações e 167 As P a r á b o l a s d e J e s u s falsidades. E xistem “boas pérolas” com o existem “boas religi­ ões” . E xistem pérolas originais e pérolas sintéticas. Porém , só existe um a “pérola de grande valor” que sobrepuja todas as demais. A relação que se faz entre “ o reino e a Igreja” é perfeita­ m en te aceitável. O reino não significa, no c o n tex to dessa pará­ bola, u m lugar específico, mas se expressa na vida do povo de D eus. Assim, a Igreja é a expressão do R e in o dos céus, isto é, a dem onstração da soberania divina na face da terra. O s céus representam aquilo que está abaixo do tro n o de D eus e diz respeito ao do m ín io divino dos céus na terra. A Igreja é, p o r­ tanto, a m anifestação tangível do R e in o de D eus. D a m esm a form a com o um a pérola é produzida p o r u m organism o vivo no fundo do m ar quando sofre o atrito de algum corpo estranho e, ao longo do tem po, vai se sedim entando em camadas até chegar a ser um a pérola, a Igreja vai sendo form ada, de m o d o gradual, de glória em glória, até alcançar a perfeição (2 C o 3.18). 168 C a p í t u l o 14 A Pa r á b o l a d a s C o is a s N o v a s e V el h a s M a t e u s 1 3 .5 2 A existência tio jo io no meio do trigo não impede que vivamos com graça c inteligência, sem nos deix ar afetar pelo veneno do joio. Esta é um a parábola narrada apenas em u m versículo e, apesar de m enosprezada p o r alguns com entadores, possui um a m ensagem im portantíssim a acerca do assunto princip al trata­ do p o r Jesus em todas as suas parábolas. O R e in o de D eus possui algumas características especiais e singulares, pois valo­ riza algumas coisas, que dentro de u m padrão de valores na experiência hum ana, não significam nada, mas que para D eus são da m aior im portância. O destaque sobre “ coisas novas e velhas” tiradas do m esm o baú indica que D eus não despreza as coisas pequenas e insignificantes (Zc 4.10; 1 C o 1.27,28). Se­ g u n d o H e rb e rt Lockyer, esta parábola foi a últim a de um a sé­ rie de outras parábolas que Jesus havia contado e tinha p o r objetivo dar um a im p o rtan te lição aos seus discípulos. D epois de um a série de parábolas, co m a últim a apresentada Ele q u e­ ria descobrir até que p o n to seus discípulos haviam assimilado seus ensinos. P or isso,perguntou-lhes: “ ... entendestes todas es­ tas coisas?” (M t 13.51). 169 As P a r á b o l a s d e J e s u s E xistem alguns elem entos dentro dessa parábola que de­ vem m erecer a nossa apreciação. São pessoas e coisas. D esta­ cam-se: u m escriba instruído, o R e in o dos c é u s , o tesouro e as coisas novas e velhas. U M ESCRIBA IN STR U ÍD O Disse Jesus:“ ... to d o escriba in stru íd o ” (v. 52). Q u e m é esse escriba? O que ele faz? Q u al a im portância do seu trabalho? O ra, u m escriba era pessoa respeitadíssima na sociedade de então, especialm ente, na religião judaica, da qual era u m representan­ te intelectual e teológico. E interessante que Jesus usou a pala­ vra “ escriba” , que no grego é g ra m m a te u s, raiz de “gram ática” no português. N o hebraico, o te rm o “ escriba” vem de sõter (ou’ satar , que significa “ escrever” . Em pregava-se sapar para designar o secretário de u m rei (2 Sm 8.17). Havia, tam bém , o escriba m ilitar, que escrevia os nom es dos recrutados para a guerra (Jr 37.15). E m relação à Lei de M oisés, e nos livros posteriores do A ntigo Testam ento, u m escriba era u m p e rito na arte de escre­ ver (Ed 7.6; N e 8.1). N os tem pos m onárquicos de Israel, os escribas tin h am atividades de responsabilidade nos negócios do Tem plo do Senhor. Isso tanto é verdade que foi desenvolvi­ da a posição dos g ra m a teis tou hierou, “ escribas do T em plo” (2 R s 12.10; 1 C r 24.6; 2 C r 34.13). O fo rn ecim en to de cópias da Torá e de outras partes das Escrituras era feito pelos escribas levíticos (D t 17.18; J r 8.8). N o caso do profeta Jerem ias, suas m ensagens eram registradas p o r u m escriba o u “am anuense” (Jr 36.4,18,32). N o A ntigo Testam ento os escribas tin h am res­ ponsabilidades de serviço para os reis, e do registro dos feitos dos reis e dos eventos de Israel. N os E vangelhos Sinóticos (M ateus,M arcos e Lucas), o ter­ m o g ra m m a te u s aparece cerca de 60 vezes; em Atos dos A p ó sto ­ los, quatro, e um a vez citado p o r Paulo. O sentido genérico do 170 A P a r á b o l a d a s C o is a s N o v a s e V e l h a s te rm o g ra m m a te u s (escriba) abrange várias atividades que re­ quer u m escrevente, co m o u m escrivão o u u m oficial civil de um a cidade (At 19.35). Porém , n o N ovo Testamento, u m escriba é sem pre identificado com o alguém que é p erito na Lei de M oisés (ou seja, u m erudito naTorá), tam bém identificado com o “rab in o ” o u u m “teólogo o rd e n a d o ” . N o m ik o s é u m a outra palavra no grego relativa a g r a m m a te u s , a qual se e n co n tra no N ovo T estam ento e significa “advogado” . O u tro te rm o grego é n o m o d id a ska lo s, que significa “ in té rp re te da L ei” .E xiste ainda um a outra expressão, dida ska lo s n o m o s, que se refere ao “m estre da L ei” . P ortanto, o te rm o que mais aparece no N o v o Testa­ m en to é n o m ik o s, que sugere sem pre se tratar de “u m p e rito ju d aico na Lei de M oisés” (M t 22.35; Lc 10.25; 11.45,46, 52; 14.3). E m especial nos Evangelhos, percebe-se que os escribas parecem ter se associado com os fariseus, p rin cip alm en te para fazerem oposição a Jesus C risto (Lc 7.30; 11.53). P ortanto, u m escriba ju d aico era alguém letrado, m estre (professor) da Lei de M oisés, qualificado para ensinar nas sina­ gogas (Mc 1.22). E ntretanto, a referência de M arcos indica que, a despeito da im portância do cargo de escriba, sua autorid ad e parecia não ser m u ito acatada. Jesus não era u m escriba, mas falava co m autoridade. N o A ntigo T estam ento tem os em des­ taque u m escriba cham ado Esdras (Ed 7.6,11), o h o m e m que se destacou para ser u m líder entre o seu povo e convocá-los para voltar a sua terra, e levar de volta to d o o tesouro que fora dado ao D eus de Israel. Esdras foi o escriba que fez u m púlpito de m adeira para ler a Lei de m o d o que todos os chefes de Israel pudessem o u v ir sua leitura e exposição. N o s dias de Jesus, os escribas, em sua m aioria, to rnaram -se inim igos declarados dos ensinos de C risto, cuja d o u trin a base­ ava-se em conceitos de vida e liberdade, e n q u an to os escribas e fariseus criaram dou trinas co m amarras legalistas, das quais eles 171 As P a r á b o l a s d e J e s u s m esm os não eram cu m p rid o res.Jesu s os refu to u m uitas vezes e os c o n d e n o u alertan d o seus discípulos com estas palavras: “ ... G uardai-vos dos escribas...” (M c 12.38). O utras vezes, com toda clareza,Jesus dizia-lhes diretam ente:“ ... ai de vós, escribas e fariseus...” (M t 23.13-15,23,25; 27.41). Naqueles dias, os escribas e fariseus criaram tantas amarras tem porais para a interpretação da lei do S enhor que as pessoas tinham dificuldades em cu m p rila. Q u an d o Jesus foi acusado p o r eles de não estar cum p rindo a Lei de Moisés, deu-lhes a resposta com firm eza de que Ele não veio para revogar a lei, mas para cum pri-la (M t 5.17). C O M O JESUS VIA U M ESCRIBA? N o versículo 52 Jesus fez um a declaração acerca do papel de u m escriba e o que se esperava dele com o u m in térp rete da Lei. Jesus disse: “ ... p o r isso, to d o escriba instruído acerca do R e in o dos céus” . N a versão N V I, diz literalm ente: “P o r isso, to d o m estre da lei in struído quanto ao R e in o dos céus” , tra­ duzin do de m o d o direto o sentido de u m escriba e o seu papel no serviço religioso ju d aico naqueles dias. Jesus deixo u explí­ cito que o papel de u m escriba era o de co n h ecer tu d o acerca do R e in o dos céus. E ntretanto , não parece que os escribas de seus dias se preocupavam tanto co m a questão do R e in o dos céus, mas se preocupavam m uito mais com nuanças da Lei do que co m os conceitos o u princípios da mesma. Jesus não agia n e m falava co m espírito revanchista; p o r isso Ele citou o escriba n u m sentido geral e favorável à im p o rtâ n ­ cia da função do m esm o no serviço de educação religiosa acerca da Torá. P or este m otivo, não se p o d e ver os escribas som ente n u m a persp ectiv a negativa, p o r causa de alguns q u e não correspo ndiam ao papel para o qual foram designados. Essen­ cialm ente, to do escriba tinha p o r missão ensinar a verdade da lei de D eus ao povo.Todavia, m uitos deles corrom peram a missão 172 A P a r á b o l a d a s C o is a s N o v a s e V e l h a s que tin h am e, p o r isso, agiam co m atitudes m entirosas e h ip ó ­ critas que foram explicitam ente condenadas p o r Jesus. A RELA ÇÃ O D O PAPEL D O S ESCRIBAS C O M O D O S DISCÍPULOS DE JESUS N o versículo 51, Jesus acabara de apresentar um a série de parábolas. Esta fo rm a de linguagem foi utilizada p o r Ele para revelar coisas profundas, p o ré m fugindo da linguagem filosófi­ ca. E m M ateus 13.34,35 lem os:“T udo isso disse Jesus p o r pará­ bolas à m ultidão e nada lhes falava sem parábolas, para que se cum prisse o que fora dito pelo profeta, que disse: A brirei em parábolas a boca; publicarei coisas ocultas desde a criação do m u n d o ” . D epois dessas palavras,Jesus ainda apresentou outras, mas antes de apresentar a oitava parábola, d eixo u en ten d er que os seus discípulos não p o d iam agir com o os escribas e fariseus que deturpavam o espírito da lei de D eus em benefícios de interesses próprios. P o r isso, depois da Parábola da R e d e (M t 13.47-50), Ele se dirige diretam ente aos seus discípulos e lhes p e rg u n ta:“ ... entendestes todas estas coisas?” (v. 51). N o d ecu r­ so da apresentação de todas as outras parábolas, Jesus usou “ as coisas velhas” ou “antigas” da lei (v. 52) para ilustrar co m novas verdades as quais tirariam “ o véu de obscu ridad e” do e n te n d i­ m en to daquelas antigas verdades. N a realidade,Jesus não estava desprezando aT orá, com o acusavam os escribas e fariseus, mas estava ab rin d o um a nova visão acerca das coisas passadas.Ver­ dades ocultas (M t 13.35) im plícitas naquelas “ coisas velhas” se to rn a ria m “ novas” p o rq u e Jesus veio a este m u n d o para revelar os m istérios de D eus, com o declarou Paulo aos Efésios: “ ... d esco b rin d o -n o s o m istério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si m esm o, de to rn a r a c o n g re­ gar em C risto todas as coisas, na dispensação da plenitud e dos As P a r á b o la s d e Jesu s tem pos, tanto as que estão nos céus com o as que estão na terra; nele, digo, em q u em tam b ém fom os feitos herança, havendo sido predestinados co n fo rm e o propósito daquele que faz to ­ das as coisas, segundo o conselho da sua v o n tad e” (E f 1.9-11). E m síntese, assim com o os escribas deveriam revelar e en ­ sinar as verdades do R e in o dos céus aos hom ens e não o fize­ ram , assim, os discípulos de C risto deveriam assum ir com res­ ponsabilidade e com prom isso a proclam ação dessas verdades reveladas a eles de m o d o especial através de parábolas. Jesus esperava que seus discípulos entendessem o significado de cada parábola e com o “ mestres do E vangelh o” ensinassem ao povo. A sem elhança do “m estre da lei” que in terp reta e faz uso de coisas velhas e novas, os discípulos deveriam co n tar a história da salvação com o a receberam . N ós, Igreja de C risto, som os os depositários das verdades reveladas e tem os a missão de explicitálas ao m u n d o para que todos co n h eçam ao D eus que enviou Jesus C risto para ser o nosso Salvador e Senhor. COISAS NOVAS EVELHAS N os últim os anos, a Igreja te m sido invadida p o r novidades e te m abandonado coisas antigas. Tem havido descaso co m a história da Igreja e co m as dou trinas consideradas “velhas” , mas que, na verdade, são a base de tu d o em que crem os. A ban­ don ar as coisas velhas sem pre trouxe conseqüências graves na vida do povo de D eus. Essas “ coisas velhas” não se referem às coisas tem porais que se apagam e se perdem no tem po, mas trata-se de algo que form a “ o fu ndam ento dos apóstolos e dos profetas” (E f 2.20). As “ coisas novas” são aceitáveis quand o não ferem o prin cíp io das coisas antigas, sobre as quais são susten­ tados e m antidos os valores originais. L am entavelm ente, o espúrio m o v im en to neopentecostal é um a contravenção ao verdadeiro m o v im en to do E spírito San­ 174 A P a r á b o l a d a s C o is a s N o v a s e V e l h a s to, p o rq u e te m às portas de seu m o v im e n to as novidades carismáticas (espiritualistas) que exploram o em ocionalism o sem n e n h u m equilíbrio em d etrim en to de u m evangelho raci­ onal, sem ser racionalista. O verdadeiro m ovim ento pentecostal tem sua base na atividade livre do E spírito Santo nas esferas da em oção e da razão, ond e se enfatiza as m anifestações espiritu­ ais através dos dons espirituais. O verdadeiro m o v im en to do E spírito não é u m m o v im en to novo, p o rq u e tem seu início no D ia de Pentecostes, e essa verdade é indiscutível. O m o v im en ­ to espiritual tem sua base na pessoa de C risto (1 C o 3.11). As coisas novas de hoje não são tiradas da “velha fo n te ” , mas são tiradas de “ cisternas rotas” (Jr 2.13). Jesus quis en sin ar aos seus discípulos q u e a d o u trin a do R e in o é tão velha, visto q u e foi p ro clam ad a e ensinada p e ­ los antigos profetas, mas o q u e é n ov o nesta d o u trin a é a im a g em q u e Jesus q u e ria dar ao R e in o dos céus. Se na d o u ­ trin a dos escribas (m estres da lei) o povo de D e u s p ro v in h a de A braão, agora, o n ov o povo de D eu s, fo rm a d o p o r ju d e u s e g en tio s, p ro v é m da Palavra de D eu s. A m en sag em que p reg am o s h o je é tão antiga q u a n to o q u e os profetas p re g a ­ ram . A d iferen ça está apenas na ro u p a g e m q u e se dá a essa m en sag em . Jesus e n sin o u q u e os filhos do R e in o são nasci­ dos de sua Palavra. H e rb e r t L o k y er d eclaro u sobre esta v e r­ dade as seg u in tes palavras: “ A revelação divina é antiga; p o ­ rém , re tê -la e v iv en ciá-la é algo n o v o ” . P rin c íp io s divinos são antigos; mas p raticá-lo s é algo novo. E isso q u e to rn a a B íblia tão fascinan te aos discípulos d o R e in o . Suas verdades são antigas, e n o e n ta n to são sem p re novas, rec e n te s, re lu z in d o c o m nova g ló ria e p u lsan d o c o m nova v id a ” . O após­ to lo P au lo escreveu: “ A ssim que, se a lg u ém está e m C risto , nova c riatu ra é: as coisas velhas já passaram ; eis q u e tu d o se fez n o v o ” (2 C o 5.17). 175 As P a rá b o la s d e Jesu s U M A CO M PA RA ÇÃ O DISTINTA D iz o t e x t o : t o d o escriba instruído... é sem elhante a u m pai de fam ília” (v. 52). Som ente Jesus, o M estre dos mestres seria capaz de criar elem entos de com paração que jam ais se viu fazer por outro mestre Jesus era especialista em polem izar valores morais e espirituais os quais em sua óptica eram discutíveis. Ele nunca colocou em dúvida os valores absolutos estabelecidos na revela­ ção divina, mas podia perfeitam ente polem izar e discutir valores tem porais criados pelo próprio hom em . N o caso do versículo 52, Jesus não polem iza, mas faz um a com paração de m odo sin­ gular. A relação que Ele fez do “ escriba in struído” c o m “u m pai de família” é algo espetacular. Q u an to ao “escriba in struído” já discutim os em outro ponto, mas nesta parte do texto o M estre buscou na im portância do papel patern o dentro de um a família os elem entos que m elhor representam aqueles que tem a missão de ensinar as verdades do R e in o dos céus. A o proferir a expres­ são “pai de família” Ele queria destacar a autoridade que um pai de família exerce dentro de sua própria casa.Todo cristão autên­ tico é investido de autoridade especial, com o um pai de família e com o u m “ escriba instruído” para ensinar a lei do S enhor e interpretá-la corretam ente. O ra, u m pai de família era alguém que tinha poderes de com andar sua casa. Era o cabeça da família, o provedor de sustento m aterial e físico da família. U m b o m pai deve conhecer as coisas velhas e as coisas novas para saber com o dar aos seus filhos. N o te isto: u m escriba tinha autoridade para interpretar a lei e m anter-se fiel a ela enquanto vivesse. N ão podia, p o r hipótese alguma, acrescentar coisa nova, diferente, à interpretação da lei. A igreja deve exercer sua autoridade através dos seus pastores para aceitar ou não qualquer coisa nova. Agora, podem os descobrir coisas novas nas coisas velhas. Por quê? Por­ que Jesus falou que o pai de família tira “ coisas novas e velhas” do seu tesouro” ( v. 52). 176 A P a r á b o l a d a s C o is a s N o v a s e V e l h a s O T E SO U R O DE U M PAI DE FAMÍLIA D iz o texto, l i t e r a l m e n t e : q u e tira do seu tesouro coisas novas e velhas” (v. 52). A expressão “ teso u ro ” deixa claro que aquele pai de fam ília era organizado, precavido e tin h a e m re­ serva tanto quanto precisasse para su prir quaisquer necessida­ des. O ra, a com paração inicial é feita co m os discípulos de Jesus. Eles deveriam saber guardar n o baú da fam ília “ as boas coisas, novas e velhas” , para n o seu tem p o p ró p rio tirá-las e usufruí-las de igual m odo. Para a missão que tem os de ensinar as verdades do R e in o de D eus às pessoas, que tem os em reser­ va? Q ual é o nosso tesouro? Lançam os fora as “ coisas velhas”? Ficarem os só co m as “ coisas novas” ? O que Jesus espera de seus discípulos é que sejam capazes de satisfazer às necessidades dos seus ouvintes co m verdades tiradas de toda a Bíblia, a qual representa o nosso verdadeiro baú. N ele tem os “ coisas novas e velhas” .As velhas coisas são todas aquelas verdades indestrutíveis b e m com o as coisas novas são todas aquelas mesmas verdades com a roupagem cristã. A fonte será sem pre a m esm a, co m o o tesouro será sem pre o m esm o, co n te n d o coisas velhas e novas. Q uaisquer coisas novas fora “ do b o m te so u ro ” são inaceitáveis. Tudo q u anto Jesus havia ensinado nas sete outras parábolas podia parecer velho, mas Ele queria que isto fosse e n ten d id o sob um a nova perspectiva. E n ten d em o s, então, que o tesouro p o d e representar o co ­ ração daquele verdadeiro escriba, discípulo e pai de família, co n fo rm e Jesus m esm o falou: “ O h o m e m b o m , do b o m te­ souro do seu coração, tira o b e m ” (Lc 6.45). D evem os, p o rta n ­ to, valorizar o antigo, mas ab rin d o espaço para o novo. A lei mosaica é antiga, mas o evangelho é novo. U m não desfaz o outro. O novo veio para cu m p rir o que exigia o antigo. Jesus deu esse exem plo. Ele c u m p riu a exigência da velha lei para dar nova vida aos pecadores. 177 C a p í t u l o 15 A Pa r á b o l a d a s O v e l h a s e d o s Bo d e s M a te u s 2 5 .3 1 -4 6 D eus não atropela sua própria justiça porque E le ju lg a com eqüidade. Pelo fato de alguns com entaristas não considerarem esse texto um a narrativa, não o rec o n h ec em co m o parábola. E n tre ­ tanto, na listagem da Bíblia de E studo Pentecostal, esse tex to é indicado com o parábola. U m a vez que Jesus utiliza um a lin ­ guagem figurada que fala de pastor, ovelhas e bodes, tem os a descrição de um a cena real que trata de u m evento futuro (escatológico) relacionado co m os ju lgam ento s. N a verdade, os capítulos 25 e 26 de M ateus tratam em o rd em cronológica de dois julgam entos: o ju lg a m e n to de Israel (M t 25.1-30) e o ju l­ g am en to dos gentios (M t 2 5 .3 1 -4 6 ). P o rém , na exposição escatológica que C risto fez, u m terceiro ju lg a m e n to é aponta­ do com o o ú ltim o dos grandes ju lgam ento s, o do G rande T ro­ no Branco. As P a rá b o la s d e Jesu s C O R R IG IN D O UM A IN T ER PR E T A Ç Ã O EQUIVOCADA N ã o s e tr a ta d e u m j u l g a m e n t o g e n é r i c o d e s a l­ v o s e p e r d id o s Tornou-se quase tradicional o ensino de que o julgam ento que separa ovelhas e bodes aconteceria no últim o grande dia, o do G rande Trono Branco, ou seja, o Juízo final. Esse m odo de pensar sugere u m julgam ento genérico no qual todos os salvos e perdi­ dos irão com parecer diante do G rande Juiz, e este, então, fará a separação, colocando os salvos (as ovelhas) à direita e os perdidos (os bodes) à esquerda (M t 25.32,33). Devem os distinguir os textos referenciais de M ateus 25.31-46 e Apocalipse 20.11-15. 0 j u l g a m e n t o d o s s a lv o s Esse ju lg a m e n to não é punitivo e diz respeito ao T ribunal de C risto, quand o a Igreja verdadeira com parecerá diante de C risto para recom pensa das obras feitas p o r m eio do c o rp o na terra (R m 14.10;2 C o 5.10). Esse ju lg a m e n to acontecerá im e­ diatam ente ao arrebatam ento dos vivos e da ressurreição dos m o rto s em C risto na volta do S en hor nos ares (1 C o 15.51,52; 1 Ts 4.13-17). N aturalm ente, entendem o s que as ovelhas não se referem de m aneira específica à Igreja, mas às nações gentílicas na volta pessoal de C risto a terra (Jl 3.1,2). O j u lg a m e n t o d o s p e r d id o s Esse ju lg a m e n to é o últim o de todos os ju lg am en to s divi­ nos p o rq u e te m u m sentido punitivo (Ap 20.11). E m todos os tem pos, todas as criaturas hum anas, inevitavelm ente, com pare­ cerão diante do G rande T rono B ranco e serão julgadas pelas 180 A P a r á b o l a d a s O v e l h a s e d o s B o d e s obras que realizaram .Todos os m o rto s (com exceção dos salvos em C risto) com parecerão diante do Justo Juiz, e terão sua p u ­ nição incontestável. OS JU LG A M EN TO S ASSOCIADOS À SEGUNDA VINDA DE C R IST O D os vários ju lg am en to s prescritos na Bíblia, alguns deles têm relação direta com a segunda vinda de C risto. A s d u a s fa se s d a v in d a d e C r is to O ra, a segunda vinda de C risto é identificada com o tal porque a sua prim eira vinda aconteceu na sua encarnação com o h o m em , com o o Verbo divino que se fez carne e habitou entre nós 0 o 1.1-3,14). A p rim eira fase de sua segunda vinda referese à sua vinda até as nuvens, nos ares (1 Ts 4.16,17) para o e n co n tro co m a Igreja arrebatada dos vivos e os ressurretos transform ados. A segunda fase da sua vinda foi predita pelo p ró p rio C risto, que voltaria a terra para estabelecer u m R e in o especial sobre os hom ens. E um a vinda pessoal, visível e g lo ri­ osa, pois “ ... to d o olho o verá” (Ap 1.7).Trata-se de um a vinda pré-m ilenar, isto é, som ente depois dessa vinda pessoal de C risto será instalado o seu R e in o de m il anos. E ntre a p rim eira e a segunda fase da sua vinda surgirá o A nticristo, que instalará seu do m ín io a p artir de Israel. E n tão será identificado o p erío d o da G rande Tribulação. N este p eríodo (a G rande Tribulação) a Igreja não estará mais na terra, um a vez que já terá sido arrebatada para estar co m C risto. H á os que ad m item a idéia de que a prim eira m etade da G rande Tribulação será experim entada pela Igreja e daí, então, oco rrerá o arrebatam ento. E ntretanto , o ar­ rebatam ento só se justifica co m o um a form a de tirar a Igreja antes que se inicie esse período. 181 As P a rá b o la s d e Jesu s D o is e v e n t o s p r e d ito s p a r a a Ig r e ja a p ó s o a r r e b a ­ ta m e n to Esses dois eventos são retratados na Bíblia co m ênfase no fato de se tratar do que acontecerá com a Igreja depois que for arrebatada. Todos os crentes em C risto com parecerão perante o T ribunal de C risto e logo depois participarão das bodas do C ordeiro. O p rim eiro evento que ocorrerá n o céu será o T ri­ bunal de C risto (R m 14.10; 2 C o 5.10). Esse trib unal não é punitivo, mas será de recom pensa pelas obras individualm ente feitas pelos crentes. N ã o acontecerá na terra, mas nas “regiões celestiais” . O segundo evento mais im p o rtan te co m a Igreja arrebatada é a grande festa denom inada bodas do C ordeiro, quando C risto, o Esposo am ado receberá a sua esposa, que é a Igreja (Jo 3.29; R m 7.4; 2 C o 11.2; E f 5.25-33; Ap 19.7,8). Q u a tr o j u lg a m e n t o s p r e v is to s p a r a o s j u íz o s d iv in o s D epois do arrebatam ento da Igreja inicia-se o prim eiro ju lg am en to e o últim o acontece diante do G rande T rono B ran­ co. O p rim eiro com eça co m o ju lg a m e n to de Israel, q ue acon­ tecerá no p erío d o da G rande Tribulação (M t 24.15-30). O se­ gundo, logo a seguir, é o ju lg a m e n to dos gentios (M t 25.3146) e acontecerá im ediatam ente após o ju lg a m e n to de Israel, logo depois da vinda pessoal de C risto a terra (J1 3.1,2; M t 25.34). O local desse ju lg a m e n to será na terra. O terceiro ju l­ gam ento é o ju lg am en to dos anjos caídos (2 Pe 2.4; J d 6 ;A p 20.10) e acontecerá no céu. O quarto ju lgam ento é o do G rande T rono B ranco (Ap 20.11-15) e acontecerá no céu. O JU LG A M EN TO DOS G EN TIO S Esse ju lg a m e n to se relaciona diretam ente com a parábola m etafórica das ovelhas e dos bodes e está explicitado p o r Jesus em M ateus 25.31-46. 182 1 A P a r á b o l a d a s O v e l h a s e d o s B o d e s Q u a n d o a c o n te c e r á ? Esse ju lg am en to ocorrerá após a segunda vinda de C risto a terra (J1 3.1,2). O profeta Jo el nos faz e n ten d er que esse ju lg a ­ m ento é a vingança do S en h o r contra as nações que m altrata­ ram Israel. A despeito da incredulidade de Israel e de sua rejei­ ção ao Messias, o S en hor irá restaurar a nação de Israel à sua terra p o r causa das promessas feitas aos seus servos no passado. O povo de Israel, antes rebelde, ex perim entará um a conversão ao Messias m anifestado, e, q uand o reu nido na sua terra, se p ro ­ cessará o seu ju lg a m e n to e será separado entre o povo, as ove­ lhas dos bodes. O s incrédulos serão lançados fora, e os salvos de Israel serão conduzidos ao R e in o m ilenar instituído p o r Jesus (R m 11.26,27). Q u a l o lu g a r d o j u lg a m e n t o ? Tem havido discussões sobre o local desse ju lg am en to . O profeta Zacarias p rofetizou o reto rn o do S en h o r sobre o m o n ­ te das Oliveiras, o nd e se abrirá u m grande vale com o p o d e r de sua vinda. A credita-se que este será o local (Zc 14.4). O u tro s crêem que o vale de Josafá será o lugar do ju lg am en to , p o rq u e naquele m esm o lugar o rei Josafá d e rro to u os m oabitas e os am onitas, cuja vitória serviu de inspiração para se crer que “ o vale de Josafá” será o lugar do grande ju lg a m e n to (2 C r 20 .2 6 28). A profecia de Jo el 3.2 declara que esse ju lg a m e n to dos gentios ocorrerá nesse “vale de Josafá” . Q uem será ju lg a d o n e sse ju lg a m e n to ? A profecia de Jo el 3.2 declara que na vinda do S en h o r todas as nações serão reunidas p erante Ele em Israel e ali entra­ rá em ju íz o contra aquelas nações p o r causa do seu povo (Isra­ el). N o texto de M ateus 25.40,45 Jesus fala de seus “pequeninos 183 As P a r á b o l a s d e J e s u s irm ão s” , isto é, o povo de Israel. O mal feito pelas nações co n ­ tra esses “pequenin os irm ão s” será p u n id o perante o S en hor naquele dia da sua vinda. N os dias da G rande Tribulação, o povo de Israel sofrerá g ran d em en te e u m rem anescente fiel de 144 m il será salvo (Ap 7.9-17). São as ovelhas do Senhor. N es­ te caso, as ovelhas não se referem g en ericam ente aos crentes em C risto. O r e s u lta d o d o j u lg a m e n t o d a s n a ç õ e s N a parábola de Jesus, percebe-se a linguagem figurada que Ele usou para distinguir ovelhas e bodes. Ás ovelhas colocadas à sua direita Ele convidou: “V inde, benditos de m eu P ai” (M t 25.34). M as aos colocados à esquerda, os bodes, Ele disse: “A partai-vos de m im ,m alditos,para o fogo e te rn o ” (M t 25.41). E n tend em os, então, que u m g ru p o salvo é levado para o R e i­ n o do Pai (Is 55.5; D n 7.14; M q 4.2), en q u an to o ou tro é excluído do R e in o e destinado ao lago de fogo. A grande lição que aprendem os co m esta parábola está no fato de que o ju lg am en to das nações ocorrerá “logo depois da aflição daqueles dias” (M t 24.29) co m o reto rn o do “ Filho do h o m e m v indo sobre as nuvens do c éu ” (M t 24.30). P ortanto, a separação entre ovelhas e bodes não é geral, e refere-se, tão som ente, a u m ju lg a m e n to no perío d o da volta do S en h o r de­ pois da G rande Tribulação. 184 E l i e n a i C a b r a l Pa r á b o l a s de Je s u s A Bíblia Sagrada, com o a Palavra de D eus revelada, ainda que p o r diferentes escritores —L cada um dos quais com estilo e linguagem próprios — , m an tém sua unidade e autoria divina. E m sua diversidade de linguagem , que dentre outras utiliza-se de sím bolos, metáforas, alegorias e parábolas, esta últim a se destaca e aparece em m uitos dos ensinos de Jesus. O propósito de Jesus ao co n tar um a parábola era o de transm itir as verdades eternas em sua m ensagem . E para torná-la fascinante e atrativa, Ele a ornava com detalhes de beleza histórica que en riqueciam o seu enredo. Para interpretá-las, é preciso sobretudo que a sua m ensagem seja discernida espiritualm ente, co m o devem ser discernidas as coisas espirituais, segundo nos diz o apóstolo Paulo. C o n tu d o , este livro não tem p o r objetivo tão -so m en te ensinar regras de interpretação, mas, através de alguns elem entos básicos de interpretação apresentados, prover o leito r de subsídios para um a análise das parábolas de Jesus à luz das Escrituras. O A u t o r Elienai Cabral é pastor da Assembléia de Deus em Sobradinho, DF, pregador, conferencista, comentarista das Lições Bíblicas e autor de diversos livros publicados pela CPAD, entre os quais, A J u v e n tu d e C r is tã c o S e x o , O P reg ad or E fic a z , R o m a n o s e E fé sio s (ambos da série C om entário Bíblico) e A S ln d r o m e do C a n to do G a lo .