FERNANDA FRIZZO DE OLIVEIRA
EFEITO DA CARBONETAÇÃO NO COMPORTAMENTO EM FADIGA DE UM AÇO
ABNT 1020
Itabira/MG
2016
FERNANDA FRIZZO DE OLIVEIRA
EFEITO DA CARBONETAÇÃO NO COMPORTAMENTO EM FADIGA DE UM AÇO
ABNT 1020
Trabalho Final de Graduação apresentado à
Universidade Federal de Itajubá – Campus de
Itabira, para obtenção do grau de Bacharel em
Engenharia da Mobilidade.
Orientador: Prof. Dr. José Carlos de Lacerda
Itabira/MG
2016
Folha de Aprovação
FERNANDA FRIZZO DE OLIVEIRA
EFEITO DA CARBONETAÇÃO NO COMPORTAMENTO EM FADIGA DE UM AÇO
ABNT 1020
Itabira, 23 de novembro de 2016.
Trabalho Final de Graduação apresentado à
Universidade Federal de Itajubá – Campus de
Itabira, como requisito parcial para
aprovação no curso de graduação em
Engenharia da Mobilidade.
Resultado: _____________________
____________________________________________
Prof. Dr. José Carlos de Lacerda
____________________________________________
Prof. Dr. André Luis Riqueira Brandão
__________________________________________
Prof. Dr. Valdir Tesche Signorett
AGRADECIMENTOS
À Deus por ter me concedido a dádiva da vida e os instrumentos necessários para chegar até
aqui.
Aos meus pais sempre amorosos. Devo a vocês cada uma de minhas conquistas e cada uma
das barreiras que fui capaz de ultrapassar.
A minha irmã Cristiane, por todo apoio e carinho durante os momentos mais difíceis de minha
vida, inclusive na execução deste trabalho, e também por todas as alegrias compartilhadas.
Ao Bruno, sempre companheiro, por todo amor e carinho a mim dedicados.
Ao Guilherme Dias, aluno do curso de Engenharia Mecânica, que muito me auxiliou durante
essa jornada. E ao técnico do Laboratório de Materiais Metálicos e Metalografia, Jordânio,
pelo seu suporte durante os ensaios.
A UNIFEI e aos meus professores da Engenharia da Mobilidade, por todo ensinamento
dividido e pelas oportunidades concedidas. Agradeço especialmente ao professor André Luis
Riqueira Brandão por toda colaboração nos momentos finais da minha graduação.
Ao meu orientador, professor José Carlos de Lacerda, por ter aceitado me orientar e por toda
paciência e auxílio durante cada etapa na execução desse trabalho, sem sua compreensão,
suporte e incentivo nada disso seria possível.
RESUMO
A proposta desse estudo é avaliar o efeito da cementação na resistência à fadiga de um aço
ABNT 1020. Para tanto, foram realizados ensaios de fadiga por flexão rotativa no
Laboratório de Estruturas da Universidade Federal de Itajubá. Corpos de prova, em forma de
barras, foram expostos ao processo de cementação seguidos de têmpera em água. Foi
realizada uma ampla revisão bibliográfica a cerca da influência de tratamentos superficiais a
fim de se obter a fundamentação para as análises dos resultados obtidos em laboratório. Os
resultados da pesquisa são apresentados por meio da curva de Wöhler e ensaios de
microdureza Vickers. Era esperado que a cementação aumentasse a resistência do aço. No
entanto, não foi possível constatar esse aumento, o que se justifica pelo processo de
descarbonetação. Considerando o exposto foram realizados ensaios com dois carregamentos
em corpos de prova com novo processo de cementação, tendo sido constatado o esperado
aumento da resistência à fadiga.
Palavras chave: ABNT 1020; fadiga; cementação; curva de Wöhler.
ABSTRACT
The proposal of this study is to analyze the effect of the cementation on the fatigue resistance
of ABNT 1020 steel. For this, were realized fatigue tests in the Structure Laboratory of
Universidade Federal de Itajubá. Specimens in bar form, were exposed to a cementation
process, following by a quenching in water. A large bibliographic review about the influence
of this treatments was made in order to obtain the stating reasons for the analysis of the
laboratory results. The results of this research are presented through Wöhler curve and the
assessment of Vickers microhardness tests. It was expected that the cementation would
increase the steel’s resistance. However, in the laboratory test, it did not happen, which is
explained by the decarburization process. Considering the exposed, tests were realized with
two loadings in specimens, with a new cementation process, and was possible to see that the
fatigue resistance increased.
Keywords: ABNT 1020; fatigue; cementation; Wöhler curve.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Relação entre solicitação mecânica e tempo em carregamento cíclico. ................... 15
Figura 2: Classificação do ensaio de fadiga, através da curva de Wöhler , em zonas de baixo
ciclo e alto ciclo. ....................................................................................................................... 16
Figura 3: Esquema de nucleação das trincas por fadiga a partir da formação de intrusões e
extrusões. .................................................................................................................................. 19
Figura 4: Curva log-log de da/dN x Δk de propagação de trincas em cada estágio. ............... 19
Figura 5: Representação da superfície de fratura de um eixo sob fadiga. ................................ 20
Figura 6: Profundidade total da rugosidade Rt. ........................................................................ 22
Figura 7: Redução do limite de fadiga devido às condições de superfície e efeito em um meio
corrosivo. .................................................................................................................................. 23
Figura 8: Gradiente de concentração de átomos intersticiais B em função da profundidade. .. 25
Figura 9: Representação gráfica da primeira Lei de Fick. ........................................................ 26
Figura 10: Representação gráfica da 2ª Lei de Fick. ................................................................ 27
Figura 11: Representação da operação de têmpera e revenimento. .......................................... 28
Figura 12: Exemplo de curva S-N com limite de fadiga – ligas ferrosas e titânio – e sem limite
de fadiga – ligas não ferrosa. .................................................................................................... 29
Figura 13: Tensão máxima e vida em fadiga para diferentes temperaturas de recozimento do
aço inoxidável UNS S31803. ................................................................................................... 30
Figura 14: Tratamento termoquímico de cementação dos corpos de prova. ............................ 31
Figura 15: Corpos de prova dentro do forno. ........................................................................... 32
Figura 16: Máquina de fadiga rotativa utilizada nos ensaios de fadiga.................................... 32
Figura 17: Cortadora metalográfica utilizada para cortar as amostras. .................................... 34
Figura 18: Embutidora utilizada no embutimento das amostras. ............................................. 34
Figura 19: Lixadeira e Politriz utilizada no lixamento e polimento das amostras. .................. 35
Figura 20: Microdurometro utilizado no Ensaio Vickers. ........................................................ 36
Figura 21: Modelo de corpo de prova usinado e parâmetros inerentes ao ensaio. ................... 37
Figura 22: Curva de Wöhler para o aço ABNT 1020. .............................................................. 41
Figura 23: Curva de Wöhler para o aço ABNT 1020 cementado. ........................................... 42
Figura 24: Nova proposta de tratamento térmico e de cementação. ......................................... 44
Figura 25: Resistência à fadiga com e sem cementação. .......................................................... 45
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Tipos de tratamentos superficiais de aço. ................................................................. 22
Tabela 2: Carregamentos utilizados na realização dos ensaios ................................................ 33
Tabela 3: Parâmetros utilizados para usinagem dos corpos de prova ...................................... 38
Tabela 4: Resultados do ensaio de fadiga do aço SAE 1020 cementado. ................................ 38
Tabela 5: Resultado do ensaio de Microdureza Vickers na seção transversal do aço
cementado. ................................................................................................................................ 39
Tabela 6: Resultado do ensaio de Microdureza Vickers na seção transversal do aço não
tratado. ...................................................................................................................................... 40
Tabela 7: Comparação entre o número de ciclos obtidos através do tratamento com o número
de ciclos sem o tratamento obtido por Costa (2015). ............................................................... 42
Tabela 8: Comparativo entre ensaio de Costa (2015), a metodologia do trabalho e a
metodologia sugerida. ............................................................................................................... 44
LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
ASTM – American Society for Testing and Materials
SAE – Society of Automotive Engineers
C – Concentração de carbono
d – Diâmetro da parte usinada.
D – Coeficiente de difusão em cm²/s
Do – Fator de frequência dos saltos atômicos de uma posição para outra em uma distância
HV - Hardness Vickers
J – Fluxo de átomos por unidade de área por unidade de tempo
Kgf – Quilograma Força
Kt – Fator de concentração de tensões
L – Distância entre a carga aplicada e a usinagem R – Razão de Tensões
mm – Milímetros
Mpa – Mega Pascal
Nf – Número de ciclos até a fratura
Ni – Número de ciclos até a nucleação das trincas
Np – Número de ciclos até a propagação das trincas
P – Carga aplicada;
Q – Energia de ativação da difusão
R – Constante universal dos gases = 1,987 cal/mol.K
T – Temperatura
x – Posição da partícula
ºC – Graus Celsius
σa – Amplitude de Tensão
σf – Carregamento utilizado no ensaio de fadiga rotativa
σm – Tensão Média
σ max – Tensão Maxima
σ min – Tensão Mínima
σn – Tensão nominal que atuaria na seção sem o entalhe
σr − Variação de Tensão
SUMÁRIO
1.
2.
3.
4.
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 11
1.1.
Justificativa ................................................................................................................ 13
1.2.
Objetivos .................................................................................................................... 14
1.3.
Organização do trabalho ............................................................................................ 14
REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 14
2.1.
Carregamentos cíclicos .............................................................................................. 15
2.2.
Mecanismos de nucleação e propagação de trincas por fadiga.................................. 17
2.3.
Influência da concentração de tensões na resistência a fadiga .................................. 21
2.4.
Influência do acabamento superficial na resistência a fadiga .................................... 22
2.5.
Influência de tratamentos térmicos e superficiais na resistência à fadiga ................. 23
2.6.
Representação de ensaios de fadiga – Curva de Wöhler ........................................... 28
METODOLOGIA ............................................................................................................. 31
3.1.
Preparação dos corpos de prova para os ensaios de fadiga ........................................ 31
3.2.
Tratamento termoquímico de cementação ................................................................. 31
3.3.
Tratamento térmico de têmpera ................................................................................. 32
3.4.
Ensaios de Fadiga ...................................................................................................... 32
3.5.
Preparação metalográfica das amostras para análise micrográfica ............................ 34
3.6.
Ensaios de microdureza na seção transversal das amostras ....................................... 36
RESULTADOS OBTIDOS .............................................................................................. 37
4.1.
Ensaio de Fadiga ........................................................................................................ 37
4.2.
Ensaio de Dureza Vickers .......................................................................................... 39
4.3.
Curva de Wöhler ........................................................................................................ 41
4.4.
Proposta de uma nova metodologia no processo de cementação .............................. 44
5.
CONCLUSÕES ................................................................................................................. 45
6.
SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS .............................................................. 46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 47
GLOSSÁRIO ............................................................................................................................ 51
1. INTRODUÇÃO
A fadiga é definida como um processo localizado e progressivo de mudanças estruturais
permanentes ocorridas em um material. Neste caso, tensões e deformações cíclicas em um ou
mais pontos do material podem resultar em trincas ou fraturas após determinado número de
ciclos (ASTM E 1823-96, 2002 apud GUIMARÃES, et al., 2012).
Alves (2008, p. 31) faz uma análise detalhada da definição acima quando diz que:
“Progressivo” significa que a fadiga se desenvolve com o tempo de solicitação cíclica; “Localizado” quer
dizer que a fadiga se estabelece num certo ponto, preferencialmente sujeito a alta concentração de tensões
e deformações causadas por variações geométricas bruscas, gradientes de temperaturas, tensões residuais
etc; “Trinca” é o foco do estudo da fadiga, uma vez que seu crescimento leva a uma situação em que a
seção resistente torna-se insuficiente para suportar o carregamento, culminando na ruptura inesperada da
peça; “Fratura” é o último estágio do processo de fadiga e consiste na separação da estrutura em duas ou
mais partes.
Para que ocorra falha por fadiga em um material é preciso que ocorra simultaneamente:
solicitações dinâmicas, solicitações de tração e deformação plástica. Caso um desses fatores
não ocorra, a falha por fadiga também não acontece (HAAG, 2012).
De acordo com Carnio (2009), a fratura por fadiga ocorre em níveis de tensão inferiores à
resistência mecânica do material. Tal fato é atribuído ao aumento progressivo de fissuras
internas geradas pelo processo de fadiga, o que ocasiona a perda de rigidez da estrutura
dependendo do número de ciclos de carregamento.
A ruptura por fadiga é catastrófica, ocorrendo muito repentinamente e sem avisos, para
praticamente todos os materiais (CARNIO, 2009). Segundo Callister (2009) e Chan (2010), o
fenômeno da fadiga mecânica é, atualmente, uma das maiores preocupações dos profissionais
que atuam nas áreas de projetos, construção, manutenção de máquinas, equipamentos e
estruturas. Fraturas devido à fadiga chegam a representar cerca de 90% das causas de falhas
em serviços de componentes metálicos que são submetidos continuamente a esforços
dinâmicos e a vibrações, como nas indústrias automobilística e aeronáutica.
A fadiga afeta diversos segmentos industriais, como automóveis, aeronaves, motocicletas,
navios, máquinas e equipamentos. Esse fato evidencia a grande importância de estudos sobre
as propriedades dos materiais que estão expostos ao processo de fadiga (CONCER, 2011).
Os principais fatores considerados nos testes de fadiga são: tensão média; tamanho da peça;
tipo de carregamento; acabamento superficial; temperatura; meio e concentradores de tensões
(GAMBONI, 2011).
11
Os primeiros ensaios envolvendo a falha de materiais metálicos por fadiga ocorreram por
volta de 1828, quando o alemão A. J. Albert começou a estudar o motivo das quebras
frequentes dos vagões da mina de Clausthal. Ele construiu uma máquina de ensaio para
estudar a vida dos componentes dos eixos e correntes dos vagões ferroviários (MUNUCCI,
2010).
O termo “fadiga”, originado do latim (fatigare), só foi utilizado pela primeira vez pelo francês
J.V. Poncelet, mais de dez anos depois dos primeiros ensaios de Albert (ALVES, 2008;
HERNANDEZ, 2012). Naquela época, o processo de falha ainda não era entendido.
Acreditava-se que os materiais ficavam “cansados” devido às variações de carregamentos e
tempo de serviço (DANTAS, 2010).
A primeira investigação científica sobre falhas por fadiga que se tem registro é atribuída ao
Engenheio Alemão Wöhler. Seus estudos incluíram testes em grande escala para uma grande
variedade de componentes estruturais usando máquinas desenvolvidas por ele, para
solicitações de flexão, torção e axial (CARNIO, 2009). Em 1869, Wöhler publicou os
resultados do seu trabalho, tendo concluído que os responsáveis por falhas por fadiga estão
relacionados com a variação de tensão e com o número de ciclos (MARCELO, 2008).
Com a expansão do uso de materiais metálicos e com o passar das décadas, principalmente
em consequência do aumento do uso de máquinas, registraram-se ainda mais falhas de
componentes submetidos a carregamentos cíclicos. Tal fato deixou evidente a necessidade de
serem desenvolvidos procedimentos de projeto que pudessem prevenir e prever as falhas por
fadiga (MARCELO, 2008).
O estudo de fadiga se intensificou a partir da metade do século XIX e prevalece até os dias de
hoje, uma vez que se trata de um processo muito complexo, e que ainda nos dias de hoje não é
completamente compreendido (GOIS, 2010).
Com o propósito de aumentar a resistência à fadiga de componentes em aço, alguns
tratamentos termoquímicos têm sido muito utilizados. Tais processos têm como finalidade
adicionar elementos químicos (como carbono, nitrogênio, boro, dentre outros) na superfície
do aço, por meio de difusão a altas temperaturas – entre 300 e 1200 ºC (LEITÃO, 2010).
A cementação é o processo termoquímico que visa à difusão de carbono. Nas aplicações
mecânicas são grandes os volumes de peças de aço que passam por esse processo, como
aplicações em autopeças e em elementos de máquinas (como pinhões, engrenagens, eixos
etc.) (SANDOR, 2008). Esse processo é amplamente utilizado na fabricação de componentes
12
que necessitam de alta dureza superficial e de grande resistência ao desgaste (COLPAERT,
2008 apud LEITÃO, 2010).
O processo de cementação é muito versátil e pode ser aplicado sem dificuldades e a baixo
custo em peças com geometrias e tamanhos diferentes, atendendo de modo adequado às
exigências de alta resistência a fadiga (SANDOR, 2008).
Segundo Giordani (2012), a cementação tem como objetivo aumentar a quantidade de
carbono na peça através da exposição da mesma a um ambiente apropriado com determinado
potencial de carbono, ocasionando sua absorção na superfície do metal. Nesse tipo de
tratamento, difunde-se o carbono na austenita da estrutura do aço, o que altera a composição
na superfície do componente, aumentando substancialmente a vida em fadiga do componente
(GIORDANI, 2012).
Para que o processo de cementação ocorra de forma correta às peças devem ser envolvidas em
meio carbonetante, que pode ser sólido (carvão), gasoso (atmosferas ricas em CO2) ou até
mesmo líquido (banhos de sal à base de cianetos) (GUIA DO AÇO ARCELOR).
Têm-se indícios do uso de processos como o de cementação em ferramentas desde os tempos
pré-históricos, mas ainda hoje é difícil saber com precisão quando se iniciou a utilização de
tais procedimentos. Os primeiros indícios do seu uso, segundo análises arqueológicas,
ocorreram no Oriente Médio. A descoberta mais antiga é uma picareta achada nas montanhas
Adir na Palestina em XII A.C. Foram encontradas também várias lâminas que provam que o
tratamento da cementação ocorreu de forma intencional pelos artesões no Chipre, atividades
datadas do século XI e X A.C (GIORDANI, 2012).
Assim como outras características mecânicas, as propriedades de fadiga dos materiais podem
ser determinadas por meio de ensaios de simulação em laboratório, contemplando tanto
quanto possível as condições de tensão durante o serviço (CARNIO, 2009). E será essa a
abordagem comtemplada pelo presente trabalho na análise da efetividade da cementação.
1.1. Justificativa
Estudos como esse são importantes para um maior entendimento da correlação da resistência
à fadiga do aço com e sem a camada cementada. Isto porque o aumento da dureza superficial
da camada carbonetada em aços de baixo carbono certamente produz aumento da resistência à
fadiga do aço, aumento por consequência o número de ciclos que a peça é capaz de suportar.
Procedimentos como esse são importantes uma vez utiliza de processos relativamente simples
a um baixo custo.
13
1.2. Objetivos
Esse trabalho tem como objetivo avaliar o efeito de uma camada superficial de carbono na
resistência à fadiga do aço ABNT1020.
Como objetivos específicos, prevê: a realização de tratamentos térmicos de tempera no aço
cementado; ensaios de microdureza para verificação da resistência da camada cementada e
compara-la com a resistência do aço não cementado; obtenção da curva de Wöhler do aço
ABNT 1020 carbonetado; e avaliar o efeito da alteração no tipo de tratamento térmico e de
cementação adotado.
1.3. Organização do trabalho
Para realização desse trabalho utilizou-se o Regulamento do Trabalho Final de Graduação do
curso de Engenharia da Mobilidade proposto pelo colegiado do curso. A pesquisa é composta
por cinco capítulos.
O capítulo 1 contém a Introdução, composta pelas as considerações iniciais a cerca do tema
abordado, bem como a justificativa que torna o tema relevante e os objetivos.
O Capítulo 2 aborda as principais definições conceituais necessárias para a exposição do
trabalho, bem como a descrição do estado da arte do tema abordado, sendo composto pela
descrição objetiva dos trabalhos encontrados na literatura.
No Capítulo 3 é apresentada a metodologia utilizada durante os ensaios em laboratório,
descrevendo os principais elementos que compõem o desenvolvimento da pesquisa, e os
passos necessários para obtenção dos resultados;
O quarto capítulo trata dos resultados obtidos durantes os ensaios, apresentando e avaliando
os experimentos que foram executados. Esse capítulo também traz uma proposta para adoção
de uma nova metodologia a fim de se alcançar melhores resultados.
Por fim, o Capítulo 5 traz as conclusões inerentes ao trabalho realizado, além de uma proposta
para trabalhos futuros.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Nesse item será estudado, através de pesquisas em bibliografia disponível, o efeito da
cementação de um aço ABNT 1020 quando submetido a um ensaio de fadiga, bem como a
14
propagação de trincas e tensões em ensaios como esse. Será abordado também um estudo de
apresentação de resultados de ensaios de fadiga em uma curva Wöhler (curva S-N).
2.1. Carregamentos cíclicos
A causa básica do fenômeno de falha dos materiais está na natureza da tensão a qual o
material é submetido. A falha por fadiga ocorre devido à aplicação de esforços cíclicos no
material, o que por consequência, diminui também a sua vida útil em serviço. Esse processo
resulta na iniciação (nucleação) e propagação de trincas, e finalmente ocasiona a ruptura do
material (DEL MENEZZI, 2011).
Carregamento cíclico é definido por Hernandez (2012) como um carregamento que varia
entre um valor máximo e mínimo por um período proporcionalmente longo de tempo. Esses
carregamentos são expressos por uma função senoidal que varia entre as tensões máximas e
mínimas aplicadas em um intervalo de tempo. Na Figura 1 tem-se um exemplo clássico de
carregamento dinâmico, cujo o eixo das ordenadas representa a solicitação de tração e
compressão, e o eixo das abscissas o tempo.
Figura 1: Relação entre solicitação mecânica e tempo em carregamento cíclico.
Fonte: Callister (2007) apud Almirón (2010).
Segundo Almirón (2010) e Gamboni (2011), partindo-se dos valores de cargas máximas e
mínimas, é possível conhecer melhor o processo de fadiga, podendo-se calcular: a variação de
tensão (�� ), a amplitude de tensão (σa ), a tensão média (σm ) e a razão de tensões (R),
conforme mostram as equações de (1) a (4).
15
Variação de tensão:
�� = �
�� – �
�
(Equação 1)
Amplitude de tensão:
�� =
��
(Equação 2)
Tensão média:
�
=
� �� + � �
(Equação 3)
Razão de tensão:
=
� �
� ��
(Equação 4)
Dantas (2010) classifica as cargas cíclicas quanto à amplitude e número de ciclos:
a) Cargas cíclicas de grande amplitude e baixo ciclo: são aquelas cargas em que as
tensões são muito altas, provocando deformações plásticas e, por consequência, a ruptura com
um número muito baixo de ciclos;
b) Cargas cíclicas de baixa amplitude e alto ciclo: são aqueles carregamentos cuja
amplitude é geralmente constante, e a tensão se mantém em um limite esperado de tensões
máximas e mínimas. Esse tipo de carregamento geralmente ocorre em máquinas, pontes,
carga de vento, entre outros. Nesse tipo de carregamento a vida útil da peça é mais longa e
pode ser prevista.
A Figura 2 ilustra essa classificação da vida em fadiga através da curva de Wöhler, tem-se a
primeira parte referente à vida de baixo ciclo com grandes carregamentos. Na segunda parte,
mais relevante nesse estudo, representa a vida em fadiga de alto ciclo, que é caracterizada por
vidas longas antes de se atingir o limite de resistência.
16
Figura 2: Classificação do ensaio de fadiga, através da curva de Wöhler , em zonas de baixo ciclo e alto ciclo.
Fonte: Hernandes (2012).
As tensões cíclicas aplicadas podem ser de natureza axial (tração-compressão), de flexão
(dobramento) ou torcional (torção). A variação dessas tensões ao longo do tempo é a
responsável por rupturas de fadiga (CANIO, 2009).
De acordo com Minucci (2010), muitos componentes mecânicos sofrem carregamentos mais
complexos, podendo ser de natureza multiaxial, gerando tensões em mais de uma direção
como, por exemplo, a combinação de flexão e torção em eixos. Esses esforços podem ser
periódicos, transientes ou aleatórios. Além disso, esses esforços também podem estar
combinados de diversas maneiras como: esforço de flexão variável e de torção fixa (caso mais
comum); todas variando simultaneamente (flexão, torção, axial); e, pode ser que todos variem
simultaneamente mas com amplitudes diferentes (MINUCCI, 2010).
2.2. Mecanismos de nucleação e propagação de trincas por fadiga
Em um processo onde o material é exposto a carregamentos cíclicos, a trinca inicia-se em
pontos onde há imperfeição estrutural ou onde há alta concentração de tensões. A partir daí,
surgem micro trincas, deformações plásticas, asperezas, dentre outros. À medida que o tempo
passa, as propriedades mecânicas do material se danificam progressivamente, resultando em
uma iniciação de trincas que cresce até atingir a ruptura final (CAYRO, 2016).
17
Segundo Dantas (2010), como consequência do enfraquecimento do material devido ao
carregamento e ao número de ciclos, desencadeia-se o processo de fadiga em três estágios:
Estágio 1: Ocorre a nucleação da fissura, a nível microscópico, em um ponto de
concentração de tensões, seja ela pré-existente ou devido ao processo de fadiga;
Estágio 2: Crescimento estável da fissura em plano perpendicular ao plano da tensão
principal de tração, ou seja, ocorre a propagação da fissura. A medida que o ciclo de tensões
aumenta o tamanho da falha cresce, diminuindo assim a rigidez do elemento, atingindo um
nível macroscópico;
Estágio 3: Abertura crítica e propagação instável da fissura gerando a ruptura de forma
repentina.
A quantidade de ciclos até a fratura (Nf) pode ser calculada como sendo a soma do número de
ciclos para a nucleação da trinca (Ni) e do número de ciclos para a propagação da trinca (Np),
sendo a contribuição da ruptura final considerada insignificante (CARNIO, 2009; CONCER,
2011). Sendo o estágio de nucleação responsável por 90% do número total de ciclos. Assim,
tem-se o número de ciclos até a fratura por fadiga dada pela (Equação 5):
�� = �� + �
(Equação 5)
Segundo Hernandez (2012), a nucleação no material pode ocorrer devido à deformação
plástica localizada em regiões onde há defeitos. Quando são submetidas a tensões cíclicas,
microrregiões dos grãos do material passam a desenvolver deformações plásticas cada vez
maiores até atingir o escoamento. Materiais muito frágeis podem pular esse estágio de
nucleação e proceder diretamente com a propagação de trincas onde existam vazios ou
inclusões, neste caso o material rompe a um número baixo de ciclos.
Em materiais metálicos, a nucleação da trinca (Estágio 1) ocorre em consequência de um
carregamento cíclico, provocando pequenos movimentos que causam o deslizamento das
discordâncias nos planos de escorregamento, originando as bandas de deslizamento na
superfície do material, como ilustrado na Figura 3. As bandas de deslizamento permanentes se
formam quando as discordâncias são deslocadas e não voltam ao seu ponto de origem,
propiciando a iniciação das trincas. (CONCER, 2011; VELLOSO, 2009). Nesse estágio,
pequenas trincas são nucleadas na superfície gerando concentrações de deformações plásticas
locais (BATISTA, et al., 2015).
Com o passar do tempo, começam a surgir intrusões e extrusões, principalmente na superfície
dos materiais, isso ocorre devido à maiores concentrações de tensões presentes nessa região.
18
Além disto, quanto maior a amplitude do carregamento, mais breve se torna o estágio de
nucleação das microtrincas (HERNANDEZ, 2012).
Figura 3: Esquema de nucleação das trincas por fadiga a partir da formação de intrusões e extrusões.
Fonte: Lee (2005) apud Velloso (2009).
A propagação de trincas (Estágio 2) ocorre de forma perpendicular à fonte principal de tensão
normal do material, avançando de forma semicircular (Figura 5), provocado pelo estado
triaxial de tensões encontrado no início da trinca. A velocidade de propagação dessas trincas
se dá em função da amplitude do fator intensidade de tensões. Já o crescimento da trinca
ocorre pela relação entre o tamanho da trinca (Δk) e o número de ciclos de vida em fadiga
(da/dn), onde ‘da’ é o tamanho da trinca e ‘dn’ é o número de ciclos necessários para se
atingir o tamanho da trinca (KAMAYA, 2015; HAAG, 2012). A Figura 4 explica a
propagação das trincas por fadiga, relacionando o número de ciclos com seus respectivos
estágios.
19
Figura 4: Curva log-log de da/dN x Δk de propagação de trincas em cada estágio.
Fonte: Adaptado de Shnigley (2006) apud Yaag (2012).
A Figura 5 exemplifica uma superfície de trinca por fadiga em um eixo fabricado em aço. Os
principais indícios deste tipo de fratura são: o local do início da trinca de fadiga que ocorre na
superfície; a área de propagação da trinca de fadiga demostrada pelas marcas de praia; e a
região de fratura instantânea em que a trinca atinge sua extensão crítica (CONCER, 2011).
Figura 5: Representação da superfície de fratura de um eixo sob fadiga.
Fonte: Meyers et al. (1999) apud Concer (2011).
Nos casos em que a trinca se desenvolve no interior do material, e não na superfície, essa
trinca frequentemente está relacionada com a existência de uma interface. Isso pode ocorrer,
20
por exemplo, entre uma camada cementada e o núcleo do metal, o que ocasionaria uma trinca
no interior do metal (CONCER, 2011).
A propagação instável (Estágio 3) ocorre quando a falha atinge um certo nível de diferença de
intensidade de tensões ou o material já está muito danificado para opor resistência às tensões
externas, sendo considerada a última parte do ciclo de vida de uma estrutura (CAYRO, 2016).
2.3. Influência da concentração de tensões na resistência a fadiga
De acordo com Alves (2008) e Dantas (2010), as fissuras por fadiga sempre se iniciam nos
pontos de concentração de tensões, sejam elas devido a falhas pré-existentes no material ou
devido à nucleação e propagação de trincas. Esse processo é desencadeado devido à ação de
cargas cíclicas e flutuação de tensões com o tempo.
Após a nucleação, ocorre uma progressão da trinca que se deforma plasticamente gerando
ainda mais concentradores de tensões até o ponto de ruptura completa do material
(PFINGSTAG, 2009).
Singularidades ou descontinuidades na microestrutura são pontos de altas concentrações de
tensões que induzem a nucleação. Essas concentrações de tensões podem ser oriundas de:
riscos superficiais, intrusões e extrusões, tamanho dos grãos, contornos de grãos, porosidade
acentuada, defeitos de solidificação, pontos de corrosão, tratamentos termoquímicos, dentre
outros (LAURITO, 2010; HERNANDEZ, 2012).
Muitas das peças de aço que são utilizadas nas indústrias, na engenharia e em projetos,
possuem entalhes ou variações na geometria que são causadores de aumento de tensões
localizadas. Essas modificações e/ou detalhes podem ser: furos, rasgos, ombros, cantos
vivos, detalhes necessários para fixação e utilização da peça, etc (STROHAECKER, 2010).
Entretanto, esses entalhes são locais onde há concentração de tensões, o que faz com que
sejam pontos fracos e possíveis origens para desencadeamento de fraturas por fatiga. O
cálculo da concentração de tensão que tal entalhe irá causar é dado pela Equação (6)
(CASTRO; MEGGIOLARO, 2009 apud GAMBONI, 2011).
� =
�
�
(Equação 6)
Onde:
Kt – Fator de concentração de tensões;
21
σm – Máxima tensão que atua numa dada seção entalhada;
σn – Tensão nominal que atuaria na seção sem o entalhe.
Gamboni (2011) enfatiza a importância de cálculos como esses, pois com a simples alteração
da localização dos entalhes e/ou geometria na fabricação da peça já se obtém uma melhor
distribuição das linhas de concentrações de tensões.
Ademais, o estudo dessas tensões pode interferir na escolha do tipo de aço, no
dimensionamento das estruturas, na identificação e modificação de detalhes nas peças e
equipamentos. Escolhas essas que podem ser responsáveis por um aumento considerável na
resistência à fadiga do material (POSSAMAI, 2015).
2.4. Influência do acabamento superficial na resistência a fadiga
Conforme mencionado anteriormente, a superfície dos materiais é a região mais propensa à
propagação de microtrincas, pois é nela onde se encontra o maior número de defeitos de
fabricação, marcas e características do material (HERNANDEZ, 2012).
Assim sendo, quanto melhor o acabamento superficial do material maior a sua vida útil, pois
a rugosidade da superfície tem grande influência na formação de concentradores de tensões,
que geram trincas por fadiga (STROHAECKER, 2010; ROCHA, 2010).
Segundo Rocha (2010), o acabamento superficial é medido através da rugosidade, que
corresponde à distância vertical entre o pico mais alto e o vale mais profundo do comprimento
avaliado, em microns (mm ou m), como mostrado na Figura 6.
Figura 6: Profundidade total da rugosidade Rt.
Fonte: Rocha (2010).
Um acabamento superficial ideal é de suma importância para que não ocorram discrepâncias
de resultados no ensaio de fadiga. Porém, durante tratamentos superficiais pode ocorrer de
22
serem deixadas marcas como pites e riscos nos componentes metálicos, que passam a agir
como grandes concentradores de tensões. Para que isso não prejudique os ensaios de fadiga,
faz-se necessário a correção dessas imperfeições (GAMBONI, 2011).
A Figura 7 mostra como as condições de superfície podem afetar a porcentagem do limite de
fadiga de um aço, comparando diferentes acabamentos e meios.
Figura 7: Redução do limite de fadiga devido às condições de superfície e efeito em um meio corrosivo.
Fonte: Chawla e Gupta (1995) apud Gamboni (2011).
Gamboni (2011) faz duas considerações importes: a condição da superfície do material é mais
relevante em aços duros; e em baixas vidas, onde predominam a propagação de trincas a
elevadas tensões, a condição da superfície afeta de maneira mais amena a vida em fadiga.
2.5. Influência de tratamentos térmicos e superficiais na resistência à fadiga
O tratamento superficial no ensaio de fadiga é muito significante, uma vez que a maior
ocorrência de trincas ocorre na superfície. Essas trincas se desencadeiam basicamente devido
a dois fatorares: as tensões residuais de compressão e/ou de tração; e o acabamento superficial
(DIETER, 1988 apud ALVES, 2008).
Segundo Skonieski (2008), são muitas as técnicas utilizadas para melhorar o acabamento
superficial dos materiais, mantendo o núcleo macio. Essas técnicas podem ser divididas em
23
dois grupos principais: os que adicionam camadas e os que tratam o substrato, algumas das
principais técnicas são apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1: Tipos de tratamentos superficiais de aço.
Fonte: Lampman (1991) apud Skonieski (2008).
Os processos que ocorrem por meio de métodos difusionais, também denominados de
tratamentos termoquímicos, são utilizados na camada superficial com a finalidade de se obter
uma melhor tenacidade e ductilidade, bem como maior resistência à fadiga (Kirchner, 2014).
Leitão (2010) defende que para se escolher o melhor tratamento termoquímico deve-se
considerar fatores como: o potencial do meio, a capacidade da peça em absorver um
determinado elemento, a geometria da peça e principalmente o modo como se dá a difusão do
elemento químico no aço.
Esses tipos de tratamentos envolvem processos de acabamento superficiais e tratamento
térmicos, de forma a difundir gradativamente os elementos químicos na superfície da peça. O
principal objetivo desses tratamentos é obter componentes que apresentem dureza e
resistência mecânica superficial associada a uma boa tenacidade no núcleo do elemento
24
(GIORDANI, 2012). Sendo de suma importância o estudo de difusão dos átomos, através de
tratamentos térmicos.
Segundo Skonieski (2008), os mecanismos de difusão dependem da solução que o átomo irá
formar com o metal base, e da diferença de tamanho entre os átomos da matriz e os átomos de
soluto. Assim sendo, essa difusão pode ocorrer de duas formas:
a)
Difusão substitucional: onde os átomos do soluto, através de uma energia
vibracional, migram para a matriz metálica. Isso é possível, pois os átomos de soluto possuem
tamanho similar aos átomos da matriz.
b)
Difusão intersticial: onde os átomos de soluto dão saltos atômicos
probabilísticos de um plano cristalino para outro de forma aleatória. Isso ocorre quando há
grande diferença de tamanho entre os átomos envolvidos, como ilustrado na Figura 8.
Figura 8: Gradiente de concentração de átomos intersticiais B em função da profundidade.
Fonte: Porter (1991) apud Skonieski (2008).
A difusão dos átomos em um meio no qual inicialmente não existe equilíbrio químico é
descrita pela primeira Lei de Fick da difusão, que descreve processo difusionais estacionários,
expresso pela Equação (7) (MENEGÁRIO, 2012) e representado pela Figura 9.
= − .
�
��
(Equação 7)
25
Onde:
J – Fluxo de átomos por unidade de área por unidade de tempo;
D – Coeficiente de difusão em cm²/s;
C – Concentração de carbono;
x – Posição.
Figura 9: Representação gráfica da primeira Lei de Fick.
Fonte: Callister (2000) apud Borsa (2009).
Em situações reais e práticas, as concentrações no interior do sólido variam com o tempo,
descrevendo um estado de difusão não estacionário. Para esses casos práticos tem-se a 2ª Lei
de Fick (Figura 10), que é aplicável na maioria das situações de processos difusionais
(SKONIESKI, 2008). Essa situação é descrita pela Equação (8).
�
=
��
�
�
��
��
(Equação 8)
No caso do coeficiente de difusão ser constante, tem-se (BORSA, 2009):
�
��
=
.
�
��
(Equação 9)
A difusão ‘D’ varia com o tipo de estrutura da matriz, com a natureza do soluto e também
com a temperatura. Sendo determinante a temperatura que a difusão irá ocorrer, uma vez que
26
quanto maior a temperatura maior será a energia térmica dos átomos para superar a barreira de
energia dos átomos do solvente (VAN VLACK, 1970 apud BORSA, 2009).
Considerando uma faixa definida de temperaturas, tem-se o valor do coeficiente de difusão
dado pela Equação tipo Arrhenius (Equação10) (PORTER, 1992 apud BORSA, 2009).
=
. ��� −
�
(Equação 10)
Onde:
Do – Fator de frequência que está relacionado com a frequência dos saltos atômicos de uma
posição para outra e da distância percorrida;
Q – Energia de ativação da difusão;
R – Constante universal dos gases = 1,987 cal/mol.K
T – Temperatura em K
Figura 10: Representação gráfica da 2ª Lei de Fick.
Fonte: Callister (2000) apud Borsa (2009).
O processo de endurecimento superficial via cementação ocorre de forma efetiva quando
acompanhado dos tratamentos térmicos de têmpera e de revenimento. Essa abordagem
possibilita que toda a seção da peça fique austenitizada e a difusão atômica ocorra de forma
correta (BORSA, 2009).
27
A têmpera é considerada um dos mais importantes e utilizados métodos de tratamento
térmico. Consiste no aquecimento do aço em temperaturas em torno de 900 ºC e posterior
resfriamento em temperatura adequada considerando o tratamento termoquímico utilizado,
favorecendo a homogeneização da estrutura que causa o aumento da dureza e resistência à
tração. Esse processo também auxilia na redução da ductibilidade, da tenacidade, e no
aparecimento de tensões internas (POSSAMAI, 2015).
Já o revenimento consiste em reaquecer a peça temperada a temperaturas inferiores à
temperatura crítica, conforme mostra a Figura 11, com tempos de duração e velocidades de
resfriamento definidos. O revenido melhora a tenacidade e diminui a dureza da peça, e
também é um processo muito comum (KIRCHNER, 2014).
Figura 11: Representação da operação de têmpera e revenimento.
Fonte: Possamai (2015).
2.6. Representação de ensaios de fadiga – Curva de Wöhler
No século XIX, Wöhler começou a desenvolver seus estudos quanto à falha dos eixos do
trem, os mesmos produziam tensões compressivas ao longo da superfície superior e tensões
tratitivas na parte inferior. Foi notado que após o eixo ter rodado meia volta essas situações de
tensões se invertiam. A partir dessa analise Wöhler concluiu que um material é induzido a
falhar por carregamento cíclico mesmo todas as tensões estando abaixo da tensão de falha
estática (ALVES, 2008).
28
Wöhler representou os dados de sua pesquisa em forma de tabela, e em 1875 seu sucessor
Spangenberg plotou as curvas em escala normal de Tensão x Número de ciclos. Essa
representação foi denominada de curvas de Wöhler ou S-N. (CAYRO, 2016).
Porém as aplicações da curva só tiveram inicio em 1910 quando Basquin representou a curva
de Wöhler em escala logarítmica, e dessa forma é utilizada até os dias de hoje (ALMIRÓN,
2010).
O método de levantamento da curva de Wöhler é utilizado para obtenção das resistências à
fadiga de um material. O principal objetivo dessa curva é associar o número de ciclos de vida
para uma dada tensão aplicada, caracterizando o comportamento em fadiga do material.
(HERNANDEZ, 2012; DANTAS, 2010).
Segundo Gamboni (2011), Almirón (2010) e Lacerda (2015), observa-se a existência de um
valor de tensão para o qual a peça nunca ira se romper, independente do número de ciclos.
Esse valor de tensão é chamado de limite de fadiga ou zona de vida infinita. De acordo com
Velloso (2009) para materiais de engenharia, a vida infinita é considerada no valor de tensão
igual 1.000.000 ciclos (N≥106). No caso de materiais não ferrosos, como magnésio e
alumínio, esse valor de tensão limite não se aplica, como é exemplificado na Figura 12.
Figura 12: Exemplo de curva S-N com limite de fadiga – ligas ferrosas e titânio – e sem limite de fadiga – ligas
não ferrosa.
Fonte: Perez (2004) apud Velloso (2009).
O método da curva S-N é valido, uma vez que considera apenas o regime elástico e elevado
número de ciclos, ou seja, não faz distinção entre etapas de nucleação de trincas, propagação
de trincas e ruptura final. Sendo assim, esse método é muito utilizado na prática, pois a
29
maioria das estruturas de engenharia é projetada para trabalhar sob esses tipos de tensões
(ZILIO, 2013).
É possível se obter a curva de Wöhler através de ensaios de laboratório, nesse caso a peça de
metal é submetida a um carregamento cíclico pré-definido e de amplitude constante até a
ruptura completa do material. Para simular os resultados em uma curva S-N, representa-se no
eixo das abscissas o número de ciclos até a ruptura e no eixo das ordenadas coloca-se a
amplitude de tensão aplicada durante o carregamento (DANTAS, 2010).
A apresentação do gráfico S-N para materiais exibindo o limite de resistência à fadiga é
ilustrada por Lacerda (2015), que divide a curva de Wöhler em zonas de baixo ciclo
(carregamento cíclico alto), alto ciclo (carregamento cíclico baixo), e na zona de vida infinita
cujo carregamento cíclico é tão baixo que apresenta número de ciclos infinito, como mostra a
Figura 13.
Figura 13: Tensão máxima e vida em fadiga para diferentes temperaturas de recozimento do aço inoxidável UNS
S31803.
Fonte: Lacerda (2015).
Almirón (2010) lista as seguintes vantagens da utilização do método S-N:
É computacionalmente simples e rápido;
Conta com um grande banco de dados sobre os efeitos quantitativos de vários
parâmetros que podem afetar a nucleação de trincas;
Há uma grande experiência com o seu uso em casos reais de projeto, uma vez que é
utilizado desde o século XIX;
30
Pode ser simplificado em uma única equação, a qual engloba todas as informações
necessárias ao dimensionamento mecânico.
3. METODOLOGIA
Neste item será descrita a metodologia utilizada, desde a preparação dos corpos de
prova até os ensaios de fadiga e microdureza, para a realização desse trabalho.
Todas as etapas necessárias para realização desses ensaios e elaboração desse trabalho foram
executadas nos laboratórios da Universidade Federal de Itajubá – campus Itabira.
3.1. Preparação dos corpos de prova para os ensaios de fadiga
Foram usinados, lixados e polidos 14 corpos de prova para adaptação à máquina de ensaio
de fadiga da marca EDIBON modelo EEFC. Esses procedimentos foram realizados no
Laboratório de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Itajubá - campus Itabira,
de acordo com a norma ASTM E466 de 1996.
A confecção dos corpos de prova se deu utilizando as seguintes dimensões: 380 milímetros
de comprimento, 8 mm de diâmetro e 4 mm de diâmetro na parte usinada, como mostra a
Figura 21.
3.2.Tratamento termoquímico de cementação
O tratamento termoquímico de cementação das amostras foi realizado através da exposição
dos corpos de prova a uma chama de acetileno (C2H2), por um período de aproximadamente 5
minutos em cada corpo de prova, como mostra a Figura 14.
31
Figura 14: Tratamento termoquímico de cementação dos corpos de prova.
Fonte: Autoria própria.
3.3. Tratamento térmico de têmpera
Após a cementação dos corpos de prova, os mesmos foram levados para um forno da marca
FDG Equipamentos modelo FDG 3P – S para difusão do carbono no material.
A difusão ocorreu à taxa de 5 graus Celsius por minuto até atingir a temperatura de 950ºC,
permanecendo nessa temperatura durante o período de duas horas e posterior resfriamento
dentro do forno, conforme mostra a Figura 15.
Figura 15: Corpos de prova dentro do forno.
Fonte: Autoria própria.
32
3.4. Ensaios de Fadiga
Os ensaios de fadiga foram realizados no Laboratório de Estruturas da UNIFEI – campus
Itabira, em uma máquina de fadiga rotativa da marca EDIBON modelo EEFC, conforme
mostra a Figura 16.
Figura 16: Máquina de fadiga rotativa utilizada nos ensaios de fadiga.
Fonte: Autoria própria.
Neste dispositivo as amostras são submetidas a uma carga pré-estabelecida em uma das
extremidades, e um motor é responsável pela rotação do corpo de prova na outra
extremidade. O conjunto de carga aplicada com rotação do motor promove a fratura por
fadiga no material ensaiado.
Os ensaios foram realizados à rotação de 1500 rotações por minuto (rpm) e frequência
aproximada de 30 Hz, com carga aplicada de 2,7 quilos.
Por meio dos resultados do número de ciclos necessários para o rompimento do corpo de
prova, e sabendo-se o valor da tensão aplicada é possível analisar a resistência do material à
fadiga, como mostrado no item 2.6 desse trabalho.
Para realização dos ensaios e para posterior elaboração da curva de Wöhler do aço ABNT
1020 cementado, as 14 amostras foram submetidas aos carregamentos descritos na Tabela 2.
Sendo preparados 3 (três) corpos de prova para cada carregamento definido, sendo que para
a carga de 280 Mpa foram preparados 2 (dois) corpos de prova.
33
Tabela 2: Carregamentos utilizados na realização dos ensaios
Carregamentos (Mpa)
320
300
280
260
240
Fonte: Autoria própria.
3.5. Preparação metalográfica das amostras para análise micrográfica
A preparação metalográfica das amostras foi realizada no Laboratório de Materiais Metálicos
e Metalografia da UNIFEI – Itabira.
Para realização do ensaio de dureza Vickers foram utilizadas duas amostras: a primeira
utilizando um dos corpos de prova que passaram pelo tratamento de cementação e pelo
tratamento térmico de têmpera; e a segunda utilizando um corpo de prova que não passou pelo
tratamento termoquímico.
De cada uma das amostras foram cortadas aproximadamente 2 (dois) milímetros de espessura
utilizando-se uma Cortadora Metalográfica da marca PANTCC modelo PANCUT 40,
mostrada na Figura 17.
Figura 17: Cortadora metalográfica utilizada para cortar as amostras.
Fonte: Autoria própria.
34
Em seguida, as amostras foram embutidas a quente, utilizando-se baquelite e a embutidora
PANAMBRA modelo PRANPRESS 30 (Figura 18). O processo durou aproximadamente 15
minutos e envolveu a utilização de desmoldante, o correto posicionamento da amostra e o
aquecimento até atingir 160 ºC sob uma pressão de trabalho de 130 Kgf/cm2. Em seguida,
esperou-se o resfriamento até chegar a 60 ºC, para a retirada do material da embutidora.
Figura 18: Embutidora utilizada no embutimento das amostras.
Fonte: Autoria própria.
Após o embutimento as amostras foram submetidas ao processo de lixamento, utilizando-se
uma Lixadeira Politriz da marca FORTEL modelo PLF, apresentada na Figura 19. Foram
utilizadas 4 (quatro) granulações distintas de lixas – 80, 300, 600, 1200 mm, e com o auxilio
de um Microscópio Óptico, foi possível verificar se a superfície apresentava arranhões e
avaliar a superfície lixada.
35
Figura 19: Lixadeira e Politriz utilizada no lixamento e polimento das amostras.
.
Fonte: Autoria própria.
Para que as amostras apresentassem superfície espelhada, e o mais livre de arranhões e
imperfeições possível, foi realizado o polimento das duas amostras utilizando a mesma
Politriz Lixadeira (Figura 19) utilizada para no lixamento das amostras, e dois tapetes de
alumina com granulações de 1µm e 3 µm.
3.6. Ensaios de microdureza na seção transversal das amostras
Após a preparação metalográfica das amostras, realizou-se o ensaio de dureza Vickers para
obter a dureza média dos materiais, bem como o desvio padrão dessas medições.
Esse ensaio foi realizado no Laboratório de Materiais Metálicos e Metalografia da
Universidade Federal de Itajubá – campus Itabira, em um microdurômetro da marca
Wilson Instruments e modelo 402MVD, conforme mostrado na Figura 22. Sendo todo o
ensaio de microdureza executado utilizando-se como parâmetro a norma ABNT NBR NM
ISO 6567-1: 2008.
36
Figura 20: Microdurometro utilizado no Ensaio Vickers.
Fonte: Autoria própria.
O funcionamento do microdurometro Vickers consiste na penetração perpendicular de um
indentador, que possui formato de pirâmide invertida de base quadrada com ângulo de 136°
entre as faces, na superfície de uma amostra por um período de tempo pré-determinado
utilizando uma força padrão e também pré-definida. O valor da dureza com a Pirâmide de
Diamante Vickers [HV] é então calculado, para um determinado ponto, através da média
aritmética das duas diagonais do indentador (NORMA ABNT NBR ISO 6507-1: 2008).
Para obtenção dos resultados foram realizadas medições percorrendo toda a transversal das duas
amostras (mesmas 2 amostras que passaram pelo processo de metalografia) , obedecendo-se a
distância de 1mm entre uma impressão e outra. Essas medições foram realizadas com carga de
100 gramas perfurando o material durante 10 segundos.
De posse desses valores é possível estabelecer uma comparação entre a dureza da amostra
que não foi tratada e a dureza da amostra que passou pelo tratamento termoquímico e
térmico.
37
4. RESULTADOS OBTIDOS
Nesse capítulo serão descritos os resultados obtidos nos ensaios de fadiga e sua representação
por meio da curva de Wöhler, bem como os resultados obtidos através do ensaio de Dureza
Vickers. Além disso, também será realizada uma interpretação dos resultados e a apresentação
de uma adequação na metodologia a fim de se obter melhores resultados.
4.1. Ensaio de Fadiga
As amostras utilizadas para o ensaio de fadiga foram usinadas de acordo com a
especificação da norma E466-96 da ASTM (1996) para amostra com raio continuo entre
as extremidades, conforme mostrado na Figura 21 e descrito no item 3.1 deste trabalho.
Figura 21: Modelo de corpo de prova usinado e parâmetros inerentes ao ensaio.
Fonte: Costa (2015).
Para correta usinagem dos corpos de prova, foram utilizada as equações de tensão e flexão
rotativas para obtenção do parâmetro ‘L’, conforme mostra a Equação 11.
Onde:
�� =
, �³
(Equação 11)
�� – Carregamento utilizado no ensaio de fadiga rotativa;
– Carga aplicada;
– Distância entre a carga aplicada e a usinagem;
� – Diâmetro da parte usinada.
38
Para realização dos ensaios foi estabelecida uma carga fixa de 2,7 quilos. Sendo que o
diâmetro utilizado, em todos os corpos de prova, foi igual a 4,5 milímetros.
Conforme mostrado no item 3.1, foram estabelecidos os carregamentos de: 320, 300,
280, 260 e 240 Mpa.
Sendo assim, utilizando a Equação 11 e os valores pré-determinados para a carga e o
diâmetro, foi possível calcular a distância entre a carga aplicada e a usinagem (L) p ara
cada carregamento definido. Os valores de ‘L’, para cada Tensão aplicada, são
demostrados na Tabela 3.
Tabela 3: Parâmetros utilizados para usinagem dos corpos de prova
Tensão (Mpa)
320
300
280
260
240
P (kgf)
2,7
2,7
2,7
2,7
2,7
d (mm)
4,5
4,5
4,5
4,5
4,5
L (mm)
178,00
171,25
164,50
157,75
151,00
Fonte: Autoria própria.
Após a usinagem dos corpos de provas, os mesmos foram submetidos ao ensaio de
fadiga conforme mostrado no item 3.4.
Na Tabela 4 tem-se o resultado obtido nos ensaios de fadiga das 14 barras de aço que
passaram pelo processo de cementação.
39
Tabela 4: Resultados do ensaio de fadiga do aço ABNT1020 cementado.
Tensão
(Mpa)
320
300
280
260
240
Corpo de
prova
1
4
3
2
8
14
9
10
11
12
13
5
6
7
Número de
ciclos
3.497
8.132
42.655
12.132
277.758
132.172
108.076
387.392
349.368
303.629
118.147
1.738.206
276.023
X
P
Observação
(mm) (Kgf)
2,7
Fraturou
178
2,7 Fraturou/energia caiu
2,7
Fraturou
2,7
Fraturou
171
2,7
Fraturou
2,7
Fraturou
2,7
Fraturou
165
2,7
Fraturou
2,7
Fraturou
158
2,7
Fraturou
2,7
Fraturou
2,7
Fraturou
151
2,7
Fraturou
2,7
Fraturou
Fonte: Autoria própria.
4.2. Ensaio de Dureza Vickers
O Ensaio de dureza Vickers foi executado em duas amostras de aço: a primeira em uma
amostra de aço cementado; e a segunda realizada na amostra que não passou pelo tratamento
de cementação.
Conforme descrito no item 3.6 deste trabalho, o ensaio foi realizado com medições
percorrendo toda a transversal das duas amostras, obedecendo-se a distância de 1 mm entre uma
impressão e outra.
Na Tabela 5 tem-se o resultado do ensaio de microdureza Vickers realizado na seção
transversal da amostra que passou pelo processo de cementação. Para essa amostra foi obtida
a média das perfurações de 113,4 HV com desvio de padrão de 4,8 HV.
40
Tabela 5: Resultado do ensaio de microdureza Vickers na seção transversal do aço cementado.
Ponto
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
Média
Desvio Padrão
Dureza (HV)
112,0
114,5
111,1
108,2
120,4
118,0
115,2
113,4
109,9
120,4
119,2
112,6
115,1
116,2
101,7
111,0
109,3
113,4
4,8
Fonte: Autoria própria.
Na Tabela 6 foram descritos os valores obtidos em cada perfuração realizada na amostra de
aço não tratada. Conforme se pode notar foi obtido o valor de 147, 9 HV, com um desvio
padrão de 10,1 HV.
41
Tabela 6: Resultado do ensaio de Microdureza Vickers na seção transversal do aço não tratado.
Ponto
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
Média
Desvio Padrão
Dureza (HV)
155,8
161,1
161,6
170,1
136,4
153,5
153,8
151,7
150,3
145,9
146,2
147,1
149,2
141,1
148,1
143,8
144,9
135,2
130,8
136,4
139,8
136,6
140,3
137,2
135,5
134,5
145,5
153,4
141,8
158,0
159,1
169,5
159,1
158,1
147,9
10,1
Fonte: Autoria própria.
42
Sandor (2008) afirma que as propriedades de fadiga variam de forma diretamente
proporcional à microdureza (HV), ou seja, quanto maior a resistência à fadiga do aço maior a
dureza do material.
A partir da análise das Tabelas 3 e 4, percebe-se que a dureza obtida na amostra que passou
pelo tratamento de cementação foi bem menor quando comparada com a dureza da amostra
que não passou pelo tratamento, caracterizando uma perda de resistência do material.
4.3. Curva de Wöhler
De acordo com COSTA (2015), os resultados do ensaio de fadiga do aço ABNT 1020 são
descritos pela curva de Wöhler representada na Figura 22.
Figura 22: Curva de Wöhler para o aço ABNT 1020.
Fonte: Costa (2015).
Com base nos resultados de número de ciclos obtidos para cada tensão estabelecida (320, 300,
280, 260 e 240 Mpa) no ensaio de fadiga do aço ABNT 1020 cementado, representados na
Tabela 4, é possível se obter a curva de Wöhler desse aço. Na Figura 23 tem-se a curva de
Wöhler obtida para o aço que passou pelo processo de cementação.
43
Figura 23: Curva de Wöhler para o aço ABNT 1020 cementado.
Fonte: Autoria própria.
Por meio da comparação entre os valores obtidos por Costa (2015) – aço 1020 ensaiado
quanto à fadiga sem nenhum tratamento - e os obtidos nesse trabalho é verificada uma
redução significativa no número de ciclos para uma mesma tensão. A Tabela 7 compara os
valores obtidos por Costa (2015) com os valores obtidos através da metodologia utilizada
neste trabalho.
Tabela 7: Comparação entre o número de ciclos obtidos através do tratamento com o número de ciclos sem o
tratamento obtido por Costa (2015).
Tensão Aplicada (Mpa)
320
300
260
240
Maior número de ciclos obtidos
Costa (2015)
Metodologia utilizada
165.129
8.132
85.835
277.758
2.778.915
387.392
11.296.114
1.738.206
Fonte: Autoria própria.
A redução no número de ciclos do aço tratado o caracteriza que ao invés da cementação
houve uma descarbonetação do material. Segundo Possamai (2015) a descarbonetação é a
remoção do carbono da superfície da peça, e ocorre após a operação de tratamento térmico
que aquecem a camada superficial do componente, reduzindo assim o limite de resistência a
fadiga e diminuindo substancialmente o número de ciclos.
44
A diminuição da resistência citada por Possamai (2015) foi verificada também no ensaio de
dureza Vickers, que mostra uma significativa redução da dureza do aço cementado quando
comparado com o aço não tratado, conforme mostrado no item 4.2 desse trabalho. Essa
redução na dureza da superfície é ocasionada pela rugosidade irregular encontrada nos grãos
descarbonetados que agem como áreas de concentrações de tensões (SANDOR, 2008).
O efeito da descarbonetação ocorreu, provavelmente, devido ao fato de o material ter sido
exposto a altas temperaturas a uma baixa concentração de gás carbônico. Outro fator
agravante foi o não confinamento (forno aberto) da região cementada, o que auxiliou a
descarbonetação do material.
Tendo em vista o ocorrido os resultados de fadiga esperados não foram alcançados, pelo
contrario, houve redução significativa da resistência à fadiga.
4.4. Proposta de uma nova metodologia no processo de cementação
Tendo em vista o ocorrido, novos procedimentos para a carbonetação foram adotados. Os
procedimentos descritos nos itens 3.2 e 3.3 foram alterados de forma a se obter um método
eficaz na carbonetação do material.
Com o objetivo de obter um tratamento termoquímico mais efetivo, dois corpos de prova
foram confinados no interior de um tubo contendo carvão vegetal moído (alta concentração de
carbono), sendo as bordas do tubo vedadas com massa refratária. O aquecimento dos corpos
de prova ocorreu à temperatura de 950 ºC por um período de 4 horas. O procedimento é
ilustrado pela Figura 24.
Figura 24: Nova proposta de tratamento térmico e de cementação.
Fonte: Autoria própria.
45
Neste caso o gás carbônico gerado durante o aquecimento no forno atingiu alta concentração
propiciando a correta carbonetação dos corpos de prova. Observou-se que houve um
acentuado empenamento nos corpos de provas cementados, com considerável dificuldade de
endireitamento dos mesmos sem que houvesse fratura.
Os dois corpos de prova cementados por meio desse procedimento foram ensaiados à fadiga
por flexão rotativa com carregamentos de 320 e 260 Mpa. Em ambos os ensaios obteve-se
uma resistência superior a 107 ciclos, sendo que nenhuns dos dois corpos de prova fraturaram.
A Tabela 8 e a Figura 25 amostra um comparativo entre os valores obtidos nos ensaios
realizados por Costa (2015) em barras de aço ABNT 1020 sem nenhum tratamento e os
valores obtidos pela nova metodologia proposta para o processo de cementação.
Foram comparados os resultados de número de ciclos para as tensões aplicadas de 320 e 260
Mpa. Para ser possível essa comparação, foram utilizados os maiores valores de número de
ciclos obtidos para estas tensões por Costa (2015).
Tabela 8: Comparativo entre ensaio de Costa (2015), a metodologia do trabalho e a metodologia sugerida.
Tensão aplicada (Mpa)
260
320
Maiores números de ciclos obtidos
Costa (2015)
2.778.915
165.129
Metodologia Proposta
11.113.157
4.886.962
Fonte: Autoria própria.
Figura 25: Resistência à fadiga com e sem cementação.
Fonte: Autoria própria.
46
Os resultados obtidos pela metodologia proposta comprova a eficiência da cementação no
aumento da resistência à fadiga do aço ABNT 1020, que nesses casos, superou os resultados
obtidos por Costa (2015) para esse mesmo aço sem nenhum tratamento.
5. CONCLUSÕES
O processo de cementação é um dos mais usados quando se tem o objetivo de aumentar a
resistência à fadiga do aço. Assim, pode-se concluir, através de ensaios em laboratório, que:
Se o procedimento não for feito de forma adequada o efeito do tratamento pode
ocorrer de forma contrária, diminuindo a resistência do aço à fadiga pela
descarbonetação superficial;
Houve aumento da resistência à fadiga do aço ABNT 1020 das amostras que foram
efetivamente cementadas;
A inesperada descarbonetação diminuiu a dureza superficial do aço, e por
consequência, não contribuiu para a sua resistência à fadiga.
6. SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS
Sugere-se ampliar a pesquisa envolvendo um maior número de corpos de prova cementados
(pelo menos três para cada carregamento) de forma a possibilitar a construção da curva de
Wöhler do aço ABNT 1020 na condição cementado.
47
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51
GLOSSÁRIO
Aço SAE 1020
É um dos aços mais comuns e utilizados devido a sua boa soldabilidade, boa forjabilidade,
boa usinagem e baixo custo benefício. Devido a sua baixa resistência mecânica é comum
utiliza-lo após cementação.
Carregamento cíclico
É um carregamento que varia entre um valor máximo e mínimo por um período longo de
tempo repetitivamente.
Cementação ou Carbonatação
Tratamentos termoquímicos muito utilizados em aços de baixo carbono. Têm como finalidade
adicionar carbono na superfície do aço através de difusão a altas temperaturas. A temperatura
de aquecimento deve ser superior à temperatura crítica.
Concentração de tensão
Pontos de inicio de falha. Ocorre quando o nível de solicitação ultrapassa o nível de
resistência em determinado ponto do material. Sucede devido à baixa resistência localizada
ou aumento local na solicitação que atua no material.
Curva de Wöller
Representação gráfica da vida em fadiga de materiais ferrosos. Relaciona a tensão aplicada e
número de ciclos que o material é capaz de suportar.
Deformações plásticas
São as deformações que mudam de forma permanente e irreversível quando submetido a uma
dada tensão.
Descarbonetação
Redução do teor de carbono em toda a extensão ou parte do material. Esse procedimento
ocorre durante tratamentos térmicos e reduz a resistência à fadiga e por consequência sua vida
útil.
52
Ductilidade
Qualidade que representa a flexibilidade do material. É o grau de deformação que um
material suporta até fraturar.
Ensaio de microdureza
Consiste em testes com endentações estáticas causadas por cargas menores um quilo grama
força em uma escala microscópica com instrumentos de alta precisão. Só é possível após
acabamento metalográfico.
Extrusões:
Processo pelo qual os componentes do material são forçados através da matriz
formada/projetada da peça, expulsão de material para fora da matriz.
Fadiga:
Enfraquecimento devido a esforços realizados. No caso do aço, ocorre quando o material é
submetido a esforços similares repetitivos.
Intrusões
É o processo pelo qual algo tenta violar uma base já formada. Penetração no interior de da
superfície de materiais preexistentes.
Nucleação de trincas
É definido como a iniciação das trincas, ocorre quando microrregiões dos grãos do material
passam a desenvolver deformações plásticas cada vez maiores até atingir o escoamento.
Número de ciclos
É número de repetições ou ocorrências que uma peça é capaz de resistir a uma dada tensão.
Revenimento
É realizado após a têmpera com o objetivo de aumentar resistência à fratura e a formação de
trincas superficiais. Consiste em reaquecer a peça temperada a temperaturas inferiores à
temperatura crítica.
53
Tenacidade
Qualidade que descreve uma propriedade. É utilizada para qualificar materiais quanto a sua
dureza, é dada a materiais resistentes, difíceis de partir, firmes.
Tensão multiaxial
Ocorre quando há múltiplos esforços combinados e variáveis com o tempo em um mesmo
ponto. Eles podem ser periódicos, aleatórios, sincronizados, em fase ou defasados. Um dos
seus principais efeitos é a falha por fadiga.
Tratamento térmico de têmpera
Manter o material em temperatura adequada pelo tempo necessário para homogeneizar a
estrutura. A têmpera pode ser realizada também após a cementação em altas, de forma a
difundir gradativamente o carbono na superfície da peça.
Tratamento termoquímico
Tratamentos que geram modificações na composição química na superfície de um material, a
uma temperatura e meio adequados.
54