QUÍMICA E SOCIEDADE
:
duas faces da mesma moeda
A seção “Química e sociedade” apresenta artigos que focalizam
diferentes inter-relações entre ciência e sociedade, procurando
analisar o potencial e as limitações da ciência na tentativa de
compreender e solucionar problemas sociais. Este artigo discute de
maneira geral a poluição do meio ambiente e, mais especificamente,
a das águas. Apresenta as várias formas de poluição que afetam as
nossas reservas d’água, exemplos de minimização de rejeitos e uma
síntese das tecnologias disponíveis para o tratamento de efluentes.
água, meio ambiente, poluição, tratamento de água
O que é poluição?
Antes de podermos discutir algumas questões ligadas à qualidade das
águas, temos que entrar em acordo sobre o que entendemos por ‘poluição’.
É uma palavra com muitos significados: alguns técnicos, outros emocionais; uns rigorosos, outros flexíveis.
Sem a pretensão de definir o termo,
podemos, para os fins deste artigo, encarar a poluição como um caso de
‘matéria no lugar errado’: a poluição
ocorre quando há excesso de uma
substância, gerada pela atividade humana, no sítio ambiental errado.
Esse tipo de definição, embora não
seja adequada para uma análise científica rigorosa, é extremamente útil por
nos permitir a discussão de uma série
de pontos de vital importância.
Critério de pureza ambiental
O primeiro desses pontos é o questionamento do que entendemos por
‘pureza’ do meio ambiente. Se, quando
pensamos em pureza, imaginamos
algo que “não está contaminado por
nenhuma outra substância”, então não
existe uma única gota d’água pura em
nosso ambiente. As águas dos poços,
fontes, lagos, rios, mares e oceanos
Eduardo Bessa Azevedo
apresenta casas decimais, a leitura do
instrumento irá nos informar de que a
água é 100% pura (0% de impurezas).
Por outro lado, se dispomos de um
instrumento capaz de nos fornecer um
resultado com precisão de quatro
casas decimais, ele nos indicará que
a água possui 0,0012% de impurezas.
Segundo o mesmo raciocínio, não
existe ‘ar puro’. Além do fato de a
atmosfera ser uma mistura de vários
gases, ela se encontra freqüentemente
‘contaminada’ com ozônio (produzido
pelos relâmpagos e outros fenômenos
naturais) e por compostos orgânicos
voláteis produzidos pelos animais e
pelas plantas.
Assim, quando falamos de pureza
ambiental estamos nos referindo ao ar
ou à água que sejam agradáveis de
consumir e que estejam livres de produtos químicos ou microorganismos
que possam causar doenças.
contêm quantidades extremamente
variáveis de uma série de sais dissolvidos. Mesmo a água da chuva chega
ao solo já ‘contaminada’ pelo gás carbônico presente na atmosfera (entre
outros). A água mais pura que se conhece é aquela encontrada nos laboratórios, após ter sido passada várias
vezes por resinas trocadoras de íons
ou destilada repetidamente. Ainda
Poluente:
assim, ela não será totalmente livre de
substância + localização
outras substâncias.
Aliás, o próprio conceito de pureza
O segundo ponto importante é que
é muito relativo. No caso da água, ele
não podemos rotular um determinado
depende fundamenproduto químico (ou
talmente de dois famistura deles) couma
Pode-se definir
tores: o uso a que ela
a menos
poluente,
mo
poluição como ‘matéria
se destina e a apaespecifiquemos
que
no lugar errado’; ela
relhagem utilizada paonde ele está. O que
ocorre quando há
ra medir o grau de puem termos de
conta
excesso de uma
reza. Uma água que
ambiental é a
poluição
substância, gerada
se considere adequade subscombinação
pela atividade humana,
da para fins recreatilocalização.
e
tâncias
no sítio ambiental
vos, por exemplo,
Um bom exemplo deserrado
muito provavelmente
se fato nos é dado penão se encaixará nos
lo ozônio e pelos clopadrões de potabilidade exigidos para
rofluorcarbonos (CFCs). O ozônio é um
a ingestão humana. Além disso, se
gás irritante e tóxico. Na troposfera (a
temos hipoteticamente água com
camada da atmosfera que toca o solo),
99,9988% de pureza e utilizamos um
ele é claramente um poluente. Já os
instrumento de medição que não
CFCs, por outro lado, são gases não-
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA
Poluição e Tratamento de Água
N° 10, NOVEMBRO 1999
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outras atividades domésticas — ou
mano com aproximadamente 70 kg de
seja, apenas 0,03% do volume total de
massa corporal precisa ingerir diariaágua do planeta!
mente cerca de dois a quatro litros de
Percebemos, então, que manter a
água. Podemos sobreviver 50 dias sem
qualidade das nossas parcas reservas
comer, mas, em média, morremos
de água (além de não desperdiçá-las)
após quatro dias sem água (Syder,
é uma questão ur1995).
gente, se quisermos
O segundo fator é
Sugere-se o uso do
garantir a nossa soque os lençóis subtertermo ‘poluição’ para a
brevivência neste plarâneos, os lagos, os
degradação do meio
neta. Em contraparrios, os mares e os
ambiente causada
tida, ao nos utilizaroceanos são o destino
pelas atividades
mos da água, semfinal de todo poluente
humanas, sobretudo a
pre introduzimos nela
solúvel em água que
partir de meados do
Fontes de poluição
algum tipo de polutenha sido lançado no
século XX — resultado
ente, algumas vezes
ar ou no solo. Assim,
O terceiro e último ponto a discutir
do intenso
em pequenas quantialém dos poluentes já
é a sugestão de usarmos o termo ‘podesenvolvimento
dades, outras em
lançados nos corpos
luição’ para a degradação do meio
industrial desses
quantidades enorreceptores, as águas
ambiente causada pelas atividades huúltimos 50 anos
mes.
ainda sofrem o aporte
manas, sobretudo a partir de meados
de outros poluentes vindos da atmosdo século XX — resultado do intenso
Formas de poluição aquática
fera e da litosfera.
desenvolvimento industrial desses últiPor último, mas não menos impormos 50 anos. Essa idéia é importante
Várias formas de poluição afetam
tante, vem o fato de que, excluindo-se
porque a própria natureza ‘polui’ o
as nossas reservas d’água, podendo
as águas salinas usadas para recreameio ambiente. Para entendermos meestas serem classificadas em biolóção, a água disponível para os usos
lhor o conceito, comparemos as emisgica, térmica, sedimentar e química.
do nosso dia-a-dia é escassa. Isso
sões de dióxido e de trióxido de enxoA contaminação biológica resulta
mesmo! Acostumados a viver num país
fre resultantes das erupções vulcânicas
da presença de microorganismos
como o Brasil, que conta com um incrícom as resultantes das atividades hupatogênicos, especialmente na água
vel potencial hidrográfico, não nos
manas. Em junho de 1991, o vulcão
potável.
conscientizamos de que, em termos
do monte Pinatubo, nas Filipinas, enA poluição térmica ocorre freqüenmundiais, a água doce disponível para
trou em erupção. Estima-se que cerca
temente pelo descarte, nos corpos
as atividades humanas é encontrada
de 15 a 20 milhões de toneladas de
receptores, de grandes volumes de
em quantidades diminutas.
dióxido de enxofre tenham sido lançaágua aquecida usada no arrefecimento
Para entendermos as proporções,
das na atmosfera. Embora dramáticas
de uma série de processos industriais.
estima-se que o volume total de água
e com severas conseqüências, erupO aumento da temperatura da água
na Terra (excetuando-se a água contições dessa magnitude são raras. Por
Tabela 1: Distribuição aproximada da
da na atmosfera na forma de vapor
outro lado, somente os Estados Unidos
água na crosta terrestre e na hidrosfera.
d’água) gira em torno
têm lançado cerca de
9
3
...manter a qualidade
de 1,4 x 10 km , o
20 milhões de tonelaVolume x 103 (km3)
das nossas parcas
Água salgada (97,3%)
equivalente ao voludas de óxidos de enxoreservas de água (além
me de uma esfera de
fre por ano no ar, des• Oceanos
1 340 000
de não desperdiçá-las)
1 380 km de diâmede 1950.
• Mares interiores e
é uma questão urgente
tro. De acordo com a
lagos salgados
100
Poluição das
se quisermos garantir
Tabela 1, apenas ceráguas
Água doce, facilmente disponível (0,3%)
a nossa sobrevivência
ca de 0,3% desse toneste planeta
• Água subterrânea, a menos
tal é constituído de
A poluição e seu
de 800 m da superfície
4 000
água doce facilmente
controle costumam ser
• Lagos
100
utilizável! Trata-se de uma situação
tratados em três categorias naturais:
crítica. No entanto, o quadro é ainda
poluição das águas, poluição do ar e
• Rios
1
pior do que parece. Levando-se em
poluição do solo. Dessas três, a poluiÁgua doce, dificilmente disponível (2,4%)
conta que cerca de 67% da água doce
ção das águas talvez seja a mais preo• Capa polar antártica
26 100
que retiramos do meio ambiente é
cupante, devido basicamente a três
• Água subterrânea, a mais
utilizada na irrigação e 23% em outras
fatores.
de 800 m da superfície
4 100
necessidades da agricultura, resta
O primeiro é a necessidade impe• Capa polar ártica e glaciais 2 800
apenas aproximadamente 10% da
riosa que nós, seres vivos, temos de
água doce disponível para nossas neágua. Ela representa cerca de 70% da
Total (arredondado)
1 377 000
massa do corpo humano. Um ser hucessidades de ingestão, limpeza e
inflamáveis, de baixa toxicidade, baixa
reatividade química e quase sem odor.
Portanto, na troposfera, são praticamente inofensivos (Tolentino e RochaFilho, 1998). O panorama é completamente invertido na estratosfera (de 30
a 35 km acima da superfície terrestre).
O ozônio torna-se um gás fundamental à manutenção da vida, por proteger
os seres vivos dos efeitos devastadores da radiação ultravioleta vinda
do Sol, ao passo que os CFCs tornamse poluentes por destruir o ozônio.
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QUÍMICA NOVA NA ESCOLA
Poluição e Tratamento de Água N° 10, NOVEMBRO 1999
causa três efeitos deletérios:
Os agentes poluidores mais codegenerativas do sistema nervoso cen• A solubilidade dos gases em
muns nas águas são:
tral, uma vez que não são metaboliágua diminui com o aumento da temFertilizantes agrícolas. Usados em
zados pelos organismos, produzem o
peratura. Assim, há um decréscimo na
grandes quantidades para aumentar
fenômeno da bioacumulação: quanto
quantidade de oxigênio dissolvido na
as colheitas, são arrastados pela irrigamais se ingere água contaminada com
água, prejudicando a respiração dos
ção e pelas chuvas para os lençóis
metais pesados, maior o acúmulo despeixes e de outros animais aquáticos.
subterrâneos, lagos e rios. Eles contêm
tes nos tecidos do organismo.
• Há uma diminuição do tempo de
principalmente os íons NO3– e PO43–.
Controle da poluição
vida de algumas espécies aquáticas,
Quando os fertilizantes e outros nuafetando os ciclos de reprodução.
trientes vegetais entram nas águas paÉ importante considerar que a
• Potencializa-se a ação dos poluradas de um lago ou em um rio de
poluição gerada pelas atividades
entes já presentes na água, pelo auáguas lentas,
industriais e suas conseTalvez a mais
mento na velocidade das reações.
causam um ráqüências para o meio ambiproblemática de todas
A poluição sedimentar resulta do
pido cresciente eram, até recentemenas formas seja a
acúmulo de partículas em suspensão
mento de plante, uma preocupação quase
poluição química,
(por exemplo, partículas de solo ou de
tas superficiais,
exclusiva de organizações
causada pela presença
produtos químicos insolúveis, orgâespecialmente
ambientais, governamentais
de produtos químicos
nicos ou inorgânicos). Esses sedimendas algas. À
ou não. Numa sociedade
nocivos ou
tos poluem de várias maneiras:
medida que escomo a nossa, orientada
indesejáveis
• Os sedimentos bloqueiam a ensas plantas
para o lucro e não para o
trada dos raios solares na lâmina de
crescem, forbem-estar da sociedade,
água, interferindo na fotossíntese das
mam um tapete que pode cobrir a
essa questão só começou a ser tratada
plantas aquáticas e diminuindo a capasuperfície, isolando a água do oxigênio
seriamente pela maioria das indústrias
cidade dos animais aquáticos de ver e
do ar. Sem o oxigênio, os peixes e
com a promulgação e a fiscalização de
encontrar comida.
outros animais aquáticos virtualmente
leis que exigem o controle dos rejeitos
• Os sedimentos também cardesaparecem dessas águas (é o
gerados.
reiam poluentes químicos e biológicos
fenômeno chamado de eutroficação).
O controle da poluição tem seguido
neles adsorvidos.
Compostos orgânicos sintéticos.
atualmente duas abordagens. A aborMundialmente, os sedimentos
Principalmente após a Segunda Guerdagem tradicional (a única a existir até
constituem a maior massa de poluenra Mundial, aumentou muito a produalguns anos atrás) tenta ‘consertar o
tes e geram a maior quantidade de poção industrial de compostos orgânicos
mal feito’, ou seja, tratar os efluentes
luição nas águas.
sintéticos: plásticos, detergentes, solgerados pelos esgotos domésticos,
Talvez a mais problemática de toventes, tintas, inseticidas, herbicidas,
pela agricultura e pelas indústrias, de
das as formas seja a poluição química,
produtos farmacêuticos, aditivos alimodo a reduzir a níveis apropriados a
causada pela presença de produtos
mentares etc. Muitos desses produtos
concentração dos poluentes. A segunquímicos nocivos ou indesejáveis. A
dão cor ou sabor à água, e alguns são
da abordagem visa a ‘evitar o mal’,
poluição química é um pouco diferente
tóxicos.
atacando o problema em dois flancos:
e um pouco mais sutil que as outras
Petróleo. A existência de poços de
a educação da sociedade, buscando
formas de poluição. A
petróleo no fundo do
a conscientização das pessoas para a
poluição térmica tem
mar e o uso de superMundialmente, os
necessidade da diminuição do volume
pouco efeito sobre a
petroleiros para o
sedimentos constituem
de lixo gerado, e a alteração de projepotabilidade da água.
transporte desse proa maior massa de
tos e processos industriais com vistas
A poluição sedimentar
duto têm dado oripoluentes e geram a
à minimização dos rejeitos (Quadro 1).
é normalmente muito
gem a acidentes que
maior quantidade de
O grau de tratamento requerido por
visível e facilmente reespalham grandes
poluição nas águas
um dado efluente depende principalmovível. Mesmo a
quantidades de pemente dos padrões de lançamento em
poluição biológica parece em alguns
tróleo pelo mar; isso acaba causando
questão, que, por sua vez, estão ligados
casos menos perigosa do que a
a morte de grandes quantidades de
às características do corpo receptor.
poluição química, uma vez que a maioplantas, peixes e aves marinhas.
O arsenal de tecnologias de trataria dos microrganismos podem ser
Compostos inorgânicos e minemento de efluentes é muito amplo. O
destruídos pela fervura da água que
rais. O descarte desses compostos
Quadro 2 contém um resumo das
eles estejam infectando, ou pelo tratapode acarretar variações danosas na
tecnologias disponíveis.
mento com substâncias químicas,
acidez, na alcalinidade, na salinidade
Os tratamentos primários são emcomo o hiploclorito de sódio e a cal
e na toxicidade das águas. Uma classe
pregados para a remoção de sólidos
viva. Já a poluição química não é assim
particularmente perigosa de composem suspensão e de materiais flutuantão simples. Os efeitos nocivos podem
tos são os metais pesados (Cu, Zn, Pb,
tes. O tratamento secundário visa a reser sutis e levar muito tempo para seCd, Hg, Ni, Sn etc.). Além de muitos
mover as substâncias biodegradáveis
rem sentidos.
deles estarem ligados a alterações
presentes no efluente (por meio de
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA
Poluição e Tratamento de Água N° 10, NOVEMBRO 1999
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Quadro 1: Exemplos de minimização de rejeitos e custos
envolvidos
Quadro 2: Tipos de
tratamento de efluentes
1. A 3M iniciou em 1975 o Pollution Prevention Program, o famoso 3P. Desde
então, o 3P já resultou numa redução de 110 mil toneladas de poluentes
atmosféricos, 13 mil toneladas de poluentes aquáticos, 290 mil toneladas de
lodo e sólidos e seis bilhões de litros de efluentes. A economia gerada pelas 90
indústrias instaladas nos EUA é da ordem de 390 milhões de dólares.
Tratamento primário
Gradeamento
Decantação
Flotação
Separação de óleo
Equalização
Neutralização
Tratamento secundário
Lagoas de estabilização
Lagoas aeradas
Lodos ativados e suas variantes
Filtros de percolação
RBCs (sistemas rotativos)
Reatores anaeróbicos, etc.
Tratamento terciário
Microfiltração
Filtração
Precipitação e coagulação
Adsorção (carvão ativado)
Troca iônica
Osmose reversa
Ultrafiltração
Eletrodiálise
Processos de remoção de nutrientes (N, P)
Cloração
Ozonização
PAOs (processos avançados de
oxidação), etc.
2. O programa da Dow Chemical Company chama-se Waste Reduction Always Pays (WRAP) (traduzindo, “a redução de rejeitos é sempre lucrativa”) e
foi lançado em meados de 1987. De acordo com a indústria, já foram
economizados 15 milhões de dólares num investimento de seis milhões. No
estado da Louisiana, a emissão de hidrocarbonetos numa das fábricas da Dow
foi reduzida em 92% e de hidrocarbonetos clorados, em 98%. A fábrica de
látex, na Califórnia, recupera 90% dos sólidos presentes no efluente.
3. De acordo com a Dupont, o custo operacional envolvido no tratamento
de resíduos era da ordem de 100 milhões de dólares, em 1985, crescendo de
25 a 30% anualmente. As instalações petroquímicas do Texas, que geravam
800 galões/min na produção de adiponitrila, tiveram que ser otimizadas, e essa
quantidade foi reduzida em 50%. O ácido adípico, um subproduto dessa fábrica,
foi utilizado na remoção do SO2. Essas modificações trouxeram uma economia
de dez milhões de dólares ao ano para essas instalações.
24
4. A Borden Company, na sua fábrica química (resina) na Califórnia, também
implementou um programa de minimização via ozonização. O volume de
efluentes caiu de 268 m3/dia para 19 m3/dia, com uma economia de 50 mil
dólares por ano.
5. Nos efluentes vermelhos dos matadouros, a recuperação do sangue pode
ser feita pela adição de ácido acético e etanol e posterior centrifugação. O
produto pode ser utilizado como proteína para ração animal.
6. Da proteína existente nos efluentes de instalações de tratamento de
camarão e lagosta, 35% podem ser recuperados por simples ajuste de pH.
7. Peneiras de poliéster (de 200 mm) foram utilizadas na remoção de sólidos
presentes em efluentes de abatedouro de aves (90 m3/h no abate de 250 mil
aves por semana). O teor de sólidos diminuiu de 900 mg/L para 300 mg/L
(67%), com uma economia anual de 60 mil dólares.
tratamentos biológicos convencionais).
O tratamento terciário emprega técnicas físico-químicas e/ou biológicas para a remoção de poluentes específicos
não removíveis pelos processos biológicos convencionais.
Recentemente, tem-se feito cada
vez mais uma distinção importante entre as tecnologias de tratamento existentes. Elas são separadas em tecnologias de transferência de fase e tecnologias destrutivas. As primeiras,
como o próprio nome indica, transferem os poluentes da fase aquosa para
uma outra (como exemplo podemos
citar a adsorção em carvão ativo, na
qual os poluentes ficam adsorvidos na
superfície do carvão: são transferidos
da fase aquosa para a fase sólida). Ao
lado das muitas vantagens dessas tecnologias, uma desvantagem salta aos
olhos: a poluição não é destruída: apenas deixa de ser veiculada pelo meio
aquoso para ser emitida para a atmosfera ou transformada em resíduos sólidos.
As tecnologias destrutivas são baseadas na oxidação química da matéria orgânica (MO), levando-a a espécies cada vez mais oxidadas e, eventualmente, à sua total mineralização:
MO
Agente oxidante
CO2 + H2O
Como se observa, a vantagem dessas tecnologias é a ausência de subprodutos, ou seja, a real remoção da
poluição.
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA
Poluição e Tratamento de Água
A oxidação química é normalmente
realizada utilizando-se ozônio, peróxido
de hidrogênio ou algum outro oxidante
convencional. Entretanto, na maioria dos
casos a oxidação de compostos orgânicos, embora seja termodinamicamente favorável, é cineticamente lenta.
Assim, a oxidação completa é geralmente inviável do ponto de vista econômico.
Vários estudos têm demonstrado
que as limitações cinéticas podem ser
superadas pelo uso de radicais extremamente oxidantes e pouco seletivos
(radicais hidroxila, OH• e/ou radicais
superóxido, O2–) nas reações de oxidação.
Nas aplicações comerciais, esses
radicais são gerados pelo uso combinado de (i) radiação ultravioleta (UV)
e peróxido de hidrogênio, (ii) radiação
UV e ozônio, (iii) ozônio e peróxido de
hidrogênio, (iv) radiação UV e fotocatalisadores (TiO2, ZnO, CdS etc.) e (v)
N° 10, NOVEMBRO 1999
radiação UV, fotocatalisador e peróxido
de hidrogênio. Esses processos são
comumente conhecidos como processos avançados de oxidação ou PAOs.
Aos químicos compete
a tarefa de descobrir
substâncias menos
nocivas ao meio
ambiente; aos
engenheiros químicos,
o desenvolvimento de
processos que
produzam bens de
consumo com um
mínimo de rejeitos e
um máximo de
reciclagem
Conclusões
O questionamento final talvez seja:
poderemos viver num mundo sem poluição? A resposta é categórica: não.
Como quer que definamos poluição,
encarando-a como proveniente das
atividades humanas ou da própria
natureza, sempre haverá fontes de poluição ambiental.
Mesmo que minimizemos ao máximo nossos rejeitos — domésticos, da
agricultura ou industriais —, que os reciclemos e os tratemos com tecnologias destrutivas, ainda assim algum
tipo de poluente será sempre gerado
(lembremos que um dos produtos
finais dos processos oxidativos é o
CO2, que, emitido para a atmosfera,
contribui para o efeito estufa — Tolentino e Rocha-Filho, 1998).
Muito longe dessa hipótese ‘ideal’
estão as presentes estatísticas:
• São conhecidas 5 milhões de
substâncias químicas.
• Só existem dados ecotoxicoló-
gicos para cerca de mil substâncias.
• Aproximadamente 66 mil produtos químicos são comercializados hoje
somente nos EUA, como fármacos,
pesticidas, cosméticos e outros.
• Cerca de 45 mil substâncias são
comercializadas internacionalmente.
• A produção de substâncias orgânicas sintéticas é estimada em 300 milhões de toneladas anuais; 150 produtos químicos são produzidos em taxas
superiores a 50 mil toneladas por ano.
• Estima-se que mil novos produtos químicos são lançados anualmente
no mercado.
Os mais pessimistas, diante desse
quadro, diriam que em termos de poluição ambiental a situação é desesperadora. Nós, os otimistas, diríamos
que a situação é desafiadora. Sem falar
nos profissionais de outros ramos do
conhecimento humano, aos químicos
compete a tarefa de, cada vez mais,
aumentar o entendimento que temos
da química do nosso mundo e descobrir substâncias menos nocivas ao
meio ambiente, e aos engenheiros químicos, o desenvolvimento de processos que produzam os nossos bens de
consumo com um mínimo de rejeitos
e um máximo de reciclagem, além de
eficientes esquemas de tratamento
dos efluentes gerados. Outra questão
imprescindível é a constante e gradual
mudança nas políticas econômicas e
ambientais no sentido de garantir à sociedade os bens de consumo de que
ela necessita, sem para isso prejudicar
o meio ambiente.
A partir de todas as questões abordadas, é evidente o papel ímpar dos
educadores na conscientização da
sociedade quanto às questões ambientais. É imprescindível que os profissionais de todas as áreas do saber
tragam esse tema para o cotidiano das
salas de aula. Temos que dar nossa
contribuição para a construção de uma
cidadania ‘ecologicamente correta’,
pela eliminação de hábitos cristalizados de desperdício de nossas reservas
naturais e da triste mania de “retirar o
lixo de nossa casa jogando-o no quintal do vizinho”. Devemos ter consciência de que, em termos do descarte
de poluentes em nosso meio ambiente,
vale a ‘regra do bumerangue’: tudo que
vai acaba voltando...
Eduardo Bessa Azevedo, engenheiro químico
e licenciado em química pela UERJ, mestre em
ciências (área de tecnologia ambiental) pela COPPE/
UFRJ, é professor de físico-química da Escola Técnica
Federal de Química do Rio de Janeiro.
Referências bibliográficas
TOLENTINO, M. e ROCHAFILHO, R.C. A química no efeito
estufa. Química Nova na Escola n.
8, p. 10-14, 1998.
SNYDER, C.H. The extraordinary
chemistry of ordinary things. Nova
Iorque: John Wiley & Sons, 1995.
Para saber mais
RAMALHO, R. Controle de poluição de águas. Madri: Reverté, 1983.
MAGOSSI, L.R. e BONACELLA,
P.H. Poluição das águas. São Paulo:
Editora Moderna, 1997.
BRANCO, S.M. Água: origem,
uso e preservação. São Paulo: Editora Moderna, 1998.
BAIRD, C.. Environmental chemistry. São Francisco: W.H. Freeman, 1998.
MANAHAN, S.E. Environmental
chemistry. Atlanta: Tappi Press,
1994.
Evento
XI ENCONTRO CENTRO OESTE
DE DEBATES SOBRE O
ENSINO DE QUÍMICA
O XI ECODEQ (Encontro Centro
Oeste de Debates sobre o Ensino de
Química) foi realizado paralelamente
ao XXXIX Congresso Brasileiro de
Química - tradicional promoção da
Associação Brasileira de Química, no
Centro de Cultura e Convenções da
cidade de Goiânia, Goiás nos dias 26
a 30 de setembro de 1999. O evento
contou com a participação de 1220
participantes entre estudantes, professores e convidados. Foram realizadas
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA
30 conferências relacionadas a diversas áreas da Química. Num total de
35 minicursos oferecidos, 8 foram relacionados a questões de ensino. Foram apresentados 30 trabalhos também na área da Educação Química.
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