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As asas do desejo

2024, Jornal A Tarde

Artigo de opinião sobre cinema e ética

OPI N IÃO SALVADOR QUARTA-FEIRA 14/2/2024 DESTAQUES DO PORTAL A TARDE Manoel Soares compara ataques a Davi a sua demissão Codecon encerra Operação Carnaval com menos infrações www.atarde.com.br/cultura www.atarde.com.br/carnaval A3 www.atarde.com.br 71 3340-8991 (Cidadão Repórter) 71 99601-0020 (WhatsApp) Reprodução / Redes Sociais EDITORIAL O livro liberta Hoje é 14 de fevereiro, Dia Internacional da Doação de Livros, data de crescente importância, à proporção da retomada de consciência pelas pessoas, do bem gerado pelo conhecimento e bons afetos da literatura de qualidade. No Brasil atual, o movimento coletivo de união e reconstrução tem como um de seus pilares o poder de reduzir as desigualdades, por meio de leituras capazes de abrir horizontes a quem apetece ter acesso às letras. Como defensor da causa da educação desde sua edição número 1 e como realizador do programa A TARDE Educação, A TARDE propaga essa ideia, ao incentivar o apetite pelo hábito de trans- portar-se para um novo mundo, enquanto leitores tornam-se outros, mais preparados. Das cinzas desta quarta, quando o crepúsculo do Carnaval se anuncia, pode Como defensor da causa da educação desde sempre, A TARDE propaga a ideia, ao incentivar o apetite pelo hábito da leitura renascer a vontade de oferecer este ou aquele conjunto de folhas impressas e reunidas em volume, encadernado ou brochado, a depender da tecnologia. Quem tem demais em casa já passou da hora de aprender a virtude de partilhar o saber, mas atenção: precisa-se conferir se é mesmo uma boa indicação, tendo em vista os valores humanitários como pressupostos. Não é difícil doar, basta lembrar de um amigo, com perfil capaz de interessar-se por determinado tema; a biblioteca da vizinhança, para reforço do acervo; ou uma escola da rede pública ou privada, a fim de atender melhor a juventude. Para verificar o quanto é importante uma publicação de autora ou autor confiável, basta revisarmomentos da história nos quais houve censura, mediante decretos de tiranias, produzindo sentenças condenatórias. Em um país de subletrados, efeito retardado das leis dos invasores europeus, sequestrando estantes, e mesmo depois de independente, um povo inclinado à pândega e às armas, um alento têm sido as feiras literárias da Bahia. A distribuição alcança dimensão política, quando se sabe a libertação – ou escravidão mental – gerada ao simples interpretar do texto, além de melhorias no convívio incentivadas ou rechaçadas graças a modos de ler o mundo. As charges publicadas neste espaço expressam as opiniões de seus autores CAU GOMEZ Dormindo Adenáuer Novaes Psicólogo, escritor, filósofo e engenheiro [email protected] A As Asas do Desejo Vanessa Cavalcanti PPGNEIM/UFBA Antonio Carlos da Silva Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e do Centro de Estudos Globais da Universidade Aberta O biênio 1987/88 foi o preâmbulo para grandes transformações. Enquanto a URSS de Gorbatchov implementava a Perestroika – o que levaria ao colapso do chamado “socialismo real”–, Berlim assistia à estreia de “As Asas do Desejo”, enquanto o relógio do tempo nos preparava para queda iminente do Muro. Direção de Wim Wenders, roteiro participado com Peter Handke (Nobel de Literatura, 2019) e Richard Reitinger, a película retrata a angústia do anjo Damiel em entender a fragilidade humana, a mortalidade da existência. Nesta incursão, entre o êxtase e a agonia da Vida, o querubim inveja o poder daqueles bilhões de indivíduos que se deparam dia- Fundado em 15/10/1912 Presidente: JOÃO DE MELLO LEITÃO riamente com as incertezas do devir, mas que movidos pela paixão podem interceder na tecitura do hoje para preparar o amanhã. Conseguem, desta maneira, influenciar a concepção do processo histórico em trabalhos de amor perdidos. Damiel deambula melancólico por paisagens marcadas com cicatrizes das Guerras. Escuta e perscruta a urbe, que movida pela esperança de reconstrução grita em silêncio os constrangimentos de uma sociedade perdida no espaço, mas disposta a juntar as razões do seu desencantamento nas réstias do tempo. O anjo, ser não corpóreo, se reconhece na humanidade como observador passivo e incapaz de cambiar as linhas traçadas pelo destino – que, como rios de tormento, desaguam no vasto oceano da irracionalidade e da tempestiva barbárie. Compreende, ao identificar a precariedade da vida, que a história da humanidade é marcada pela aniquilação de mentes e pela escravidão de corpos. Sabe, entretanto, que as gentes (o ser físico), ao tomarem consciência da sua submissa condição, revoltar-se-ão (de for- CONTROLLER: Lucas Lago RELAÇÕES INSTITUCIONAIS: Luciano Neves COMERCIAL: Marluce Barbosa MARKETING: Eduardo Dute A TARDE E MASSA!: Luiz Lasserre CONTEÚDOS E PROJETOS ESPECIAIS: Mariana Carneiro PORTAL A TARDE: Caroline Gois RÁDIO A TARDE FM: Jefferson Beltrão ma lúcida e apaixonada) contra os ditames da mercantilização da Vida. Acredita que os seres humanos, em distinção aos deuses olímpicos, conseguem adquirir consciência no decorrer do luto e, por conseguinte, na reflexão sobre as circunstâncias históricas deste trapézio em que “a rede é distante e o horizonte um braço errante” (Jorge Palma, 2001). “As Asas do Desejo” reverberam em nossas retinas o germinal da emancipação. Desvelam que a revolução social começa no despertar do indivíduo, no seu compromisso ético em reconhecer no Outro a força motriz da sua própria liberdade. Se cinzenta é a árvore dourada da vida e a morte é a nossa única certeza, parafraseando Goethe, viver é buscar o aperfeiçoamento constante das capacidades e habilidades humanas para dar asas ao desejo de liberdade. Afinal, o anjo é uma criança que “quando criança, caminhava de braços caídos, queria que o ribeiro fosse um rio, o rio uma torrente e este charco, o mar. Não sabia que era criança, tudo para ela tinha alma e todas as almas eram uma só” (Peter Handke). ASSOCIADA À SIP SOCIEDADE INTERAMERICANA DE IMPRENSA MEMBRO FUNDADOR DA ANJ - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS ASSOCIADA AO IVC INSTITUTO VERIFICADOR DE COMUNICAÇÃO PREMIADA PELA SOCIETY FOR NEWS DESIGN cidade dorme, movida pelo sonífero da inexorável festa. Tudo é alegria, prazer e liberação de tensões. Válidos, mas, pelos excessos, esconde uma dura realidade. Na festa, dores são aplacadas, lamentos são adiados e perdas são esquecidas. Tudo é deixado de lado, menos as dores da alma. Estas só serão dissolvidas quando se encontra o sentido e o significado existencial. Enquanto isso não ocorrer, o prazer falará mais alto, a festa será ansiosamente esperada e se tornará um momentâneo alívio. A cidade só acordará de seu sono letárgico quando compreender que terá que sacrificar o uso contínuo do entorpecente que lhe vicia a disposição para se libertar das amarras de seu passado dolorido. A cidade é invadida por estranhos, aceitos pelo poder público, que argumenta entrada de recursos, pagamento de impostos e pelo exercício da fraternidade. Porém, cessada a festa, nada disso é revertido em bem comum, pois a população menos favorecida, mesmo aqueles que investiram em pequenos negócios, não vê benefícios públicos. Segurança, saúde e educação continuam precárias. Ampliando-se o tempo e os espaços para a grande festa, estende-se o problema, pois os equipamentos e serviços públicos são os mesmos. Reduz-se a segurança, não há profissionais e condições de saúde para atender à quantidade crescente de sequelados e, por último, o cidadão vê sua cidade tomada por restrições de mobilidade, pelo vandalismo em suas ruas e pela redução do período escolar. Após a festa, cata-se o lixo, desfaz-se o circo e volta-se à rotina com outras dores. Agora, às dores não aplacadas pela alegria somam-se os prejuízos, as decepções e as frustrações. Há quem ganhe, alguns ficam satisfeitos com o que embolsam, mas a maioria perde. O ser humano ainda aprenderá que deve resolver seus problemas interiormente com alegria, trabalho e com comedimento. Assim como acontece com a cidade, também se dá com seu cidadão. Com ele, independentemente de festas, não haverá desenvolvimento pessoal sem sacrifício, nem transformação sem esforço. Que o diga a borboleta que, para ser livre e voar, mergulha no casulo e nele se transmuta após longo tempo de reclusão e com esforço de mudança em suas entranhas. Viver exige renovação constante, renascimento a cada fase existencial e ascensão em busca de si mesmo. É preciso que se entenda que, não se curam doenças com anestésicos; eles são utilizados como meio para a suspensão da dor, a fim de que, em paralelo, se erradique o problema. Da mesma forma, quando se pretende resolver um conflito ou uma crise pessoal, deve-se fazer uma pausa para reflexão, para respirar fundo e para criar disposição para o real enfrentamento do problema. Que tenhamos festa, mas não nos enganemos quanto às nossas feridas interiores que carecem do devido cuidado. Em Delfos estava sabiamente escrito: Conhece-te a ti mesmo e nada em excesso. SEDE: RUA PROFESSOR MILTON CAYRES DE BRITO, N.º 204, CAMINHO DAS ÁRVORES, CEP: 41.820-570, SALVADOR/BA, FALE COM A REDAÇÃO: (71)3340-8800, (71)3340-8500, FAX: (71)3340-8712 OU 3340-8713, DE SEGUNDA A SEXTA-FEIRA DAS 6:30 À MEIA-NOITE. SÁBADOS, DOMINGOS E FERIADOS: DAS 9:00 ÀS 21 HORAS; SUGESTÃO DE PAUTA: [email protected], (71)3340-.8991. CLASSIFICADOS POPULARES: (71)3533-0855; CIRCULAÇÃO: (71)3340-8603; CENTRAL DE ASSINATURA: (71)3533-0850.