Papers by Larissa G . Tokunaga
RIDPHE_R Revista Iberoamericana do Patrimônio Histórico-Educativo
Ao esboroar a dicotomia individualismo-coletivismo, a anarquista Emma Goldman vislumbra um tipo d... more Ao esboroar a dicotomia individualismo-coletivismo, a anarquista Emma Goldman vislumbra um tipo de insurgência contra a iniquidade que prescinde das armas e confere azo à palavra. O escopo deste ensaio é analisar como Emma Goldman alinha proletários e intelectuais em uma urdidura orgânica, resgatando elementos da literatura romântica e realista para ser intérprete internacionalista da emancipação de uma individualidade humana. A literatura radical ocuparia, assim, um papel de intérprete entre o gesto de singularização da pessoa artista, lume para sensibilizar a maioria trabalhadora, e a solidariedade proletária que seria fagulha para a revolução.
Revista Estudos Libertários
A anarquista Emma Goldman tecia relações de militância a partir da perspectiva da individualidade... more A anarquista Emma Goldman tecia relações de militância a partir da perspectiva da individualidade refratária ao pensamento massificado, adotando um posicionamento que Michel Foucault designaria como parresiasta a partir da leitura de contracondutas da Grécia Antiga. Este artigo propõe, então, um questionamento: a filosofia política em ação propugnada por Goldman teria ecos de um cinismo que principiava na subjetividade insurgente e reverberava em um afeto coletivo? Como ocorreria esse processo de cuidado-de-si/relações com o outro? A partir de um breve cotejo com a obra de Foucault, tem-se como escopo descortinar como a anarquista defendia uma emancipação que começava no esculpir de uma vida colocada em risco diante dos poderes uniformizantes.
O título talvez seja enganador porque, num sentido técnico, não estou sem país. Legalmente, sou u... more O título talvez seja enganador porque, num sentido técnico, não estou sem país. Legalmente, sou uma "súdita de Sua Majestade Britânica". Mas num sentido espiritual mais profundo, sou de fato uma mulher sem pátria, como tentarei deixar claro no decorrer deste artigo. Ter um país implica, antes de tudo, a posse de uma certa garantia de segurança, a certeza de ter um lugar que você pode chamar de seu e do qual ninguém pode alienar você. Esse é o significado essencial da ideia de país, de cidadania. Despojando-se desse ideal, resta a pura zombaria. Até a Guerra Mundial, a cidadania representava efetivamente essa garantia. Salvo uma eventual exceção nos países europeus mais atrasados, o cidadão nativo ou naturalizado tinha a certeza de que em algum lugar desse globo ele estava em casa, em seu próprio país, e que nenhuma reviravolta na fortuna pessoal poderia privá-lo de seu direito inerente de estar ali. Além disso, ele tinha liberdade para visitar outras terras e, onde quer que estivesse, sabia que gozava da proteção de sua cidadania. Mas a guerra mudou completamente a situação. Juntamente com inúmeras vidas, ela também destruiu o direito fundamental de ser, de existir em um determinado lugar com algum grau de segurança. Essa condição peculiar e desastrosa de coisas foi provocada por uma usurpação de autoridade que é absolutamente assustadora, nada menos que uma arbitrariedade. Todo governo agora se arroga o poder de determinar que pessoa pode ou não continuar a viver dentro de seus limites, o que faz com que milhares, até mesmo centenas de milhares, sejam literalmente expatriados. Obrigados a deixar o país em que vivem no momento, eles são deixados à deriva no mundo, com seu destino à mercê de algum burocrata investido de autoridade para decidir se podem entrar em "sua" terra. Muitos homens e mulheres, até mesmo crianças, foram forçados pela guerra a essa terrível situação. Caçados de um lugar para outro, levados de um canto para outro em sua busca por um local onde possam respirar, eles nunca têm certeza se não podem receber a qualquer 1 Tradução de Larissa Tokunaga a partir do original "A Woman Without a Country", publicado pela Cienfuegos Press. A versão em inglês pode ser acessada aqui: https://archive.org/details/AWomanWithoutACountryByEmmaGoldman/mode/2up?view=theater Nota da tradutora: O texto foi redigido por Goldman em 1937, época em que se encontrava exilada na Inglaterra. Após ser expatriada dos EUA em 1919, acusada de conspirar contra o alistamento militar obrigatório na Primeira Guerra, e abandonar a Rússia em 1921, tendo presenciado o autoritarismo bolchevique, Emma Goldman passou o ocaso de sua vida transitando entre Inglaterra, França, Canadá e Espanha. Foi um período de desencantamento muito denso em relação aos horizontes revolucionários, uma vez que o contexto estava crivado pela ascensão de regimes autoritários e iminência da Segunda Guerra Mundial. Desalojada e no entrelugar, Emma redige sua autobiografia Vivendo Minha Vida e oferece suporte às mulheres da Revolução Espanhola, nunca cessando de levar a cabo sua militância antipatriótica e refletindo sobre a ilusória narrativa de democracia estadunidense.
Cadernos de Ética e Filosofia Política, 2021
O feminismo antipredicativo de Emma Goldman incita ao cotejo de seu prisma anarquista com o de um... more O feminismo antipredicativo de Emma Goldman incita ao cotejo de seu prisma anarquista com o de uma filosofia de ontologia radical, uma transversalidade que resgata a matriz do ideário anarquista, a saber: o indivíduo. A partir do presente artigo, pretende-se realizar um diálogo entre o conceito de “individualidade humana” propugnado por Goldman e os ideários de Max Stirner e Henrik Ibsen, leituras de cabeceira da autora. A filosofia stirneriana, ao rechaçar as mediações externas, contribuiria para a valorização do “eu” enquanto bastião da revolta contra as instituições hegemônicas, ao passo que o teatro social moderno ibseniano estimularia a anarquista a entrever na arte um instrumento de consciência voltada à autonomia da mulher, a qual passaria a questionar sua objetificação e a se autogovernar enquanto ser humano. O devir, que imprimiria a marca de incongruência em relação a quaisquer modelos programáticos de insurgência, se consubstanciaria em um feminismo antipredicativo crivad...
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