Lago de Atitlán
Lago de Atitlán | |
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Lago de Atitlán visto desde o vaivém espacial. O vulcão San Pedro encontra-se na parte superior da imagem. O norte fica à direita da imagem. | |
Localização | |
Localização | Sololá |
País | Guatemala |
Características | |
Tipo | Lago endorreico |
Área * | 126 km² |
Profundidade máxima | 340 m |
* Os valores do perímetro, área e volume podem ser imprecisos devido às estimativas envolvidas, podendo não estar normalizadas. |
O lago de Atitlán (pronúncia espanhola: [atiˈtlan]) é um grande lago endorreico situado nas terras altas da Guatemala, no departamento de Sololá. Apesar de ser considerado o mais profundo dos lagos da América Central, o seu fundo não foi ainda completamente estudado e estima-se que a sua profundidade máxima seja de 340 metros. Cobre uma área total de 126 km², encontrando-se rodeado por escarpas altas e por três vulcões. Caracteriza-se também pelas vilas e aldeias maias situadas nas suas margens.
O lago tem origem vulcânica, enchendo uma enorme caldeira formada após uma erupção ocorrida há 84 mil anos. É famoso por ser considerado um dos mais belos lagos do mundo, tendo Aldous Huxley escrito sobre ele o seguinte: "O lago de Como, parece-me, toca os limites do pitoresco, mas o Atitlán é o Como com os embelezamentos adicionais de vários grandes vulcões. É realmente demasiado de uma coisa boa."
A bacia lacustre suporta extensas plantações de café e uma variedade de culturas agrícolas, sobretudo milho. O lago em si mesmo é rico em vida animal que constitui uma fonte de alimento significativa para as populações ribeirinhas.
História geológica
[editar | editar código-fonte]A actividade vulcânica nesta região terá tido início há cerca de 11 milhões de anos, e desde então ocorreram quatro episódios separados de crescimento vulcânico e colapso da caldeira, com o mais recente a ter início há 1,8 milhões de anos culminando na formação da actual caldeira.
A erupção que formou a caldeira é conhecida como Los Chocoyos, durante a qual foram ejectados até 300 km³ de piroclastos, e cujas cinzas dispersaram-se por uma área de aproximadamente 6 milhões de km²; foram detectados os seus vestígios desde a Flórida até ao Equador, podendo ser utilizada como marcador estratigráfico quer no Oceano Pacífico quer no Oceano Atlântico. Um chocoyo é um tipo de ave muitas observado nidificando em camadas de cinzas macias.
Desde o final de Los Chocoyos, o vulcanismo continuado fez surgir três novos vulcões na caldeira. O vulcão Atitlán situa-se na orla norte da caldeira, enquanto o vulcão San Pedro e o vulcão Tolimán se encontram no seu interior. O San Pedro é o mais antigo dos três e parece ter cessado a sua actividade há 40 000 anos. O Tolimán iniciou o seu crescimento após a cessação da actividade do San Pedro, sendo provavelmente activo, apesar de não ter eruptado em tempos históricos. O Atitlán desenvolveu-se na sua quase totalidade nos últimos 10 000 anos, permanecendo activo, tendo a sua erupção mais recente ocorrido em 1853.
Em 4 de Fevereiro de 1976 a Guatemala foi sacudida por um forte terramoto de magnitude 7.5 que provocou a morte a 23 mil pessoas.[1] O terramoto fracturou o leito do lago, fazendo com que parte do volume de água deste fosse drenado para a subsuperfície, causando um abaixamento do nível da água no lago de aproximadamente dois metros durante um mês.
História ecológica
[editar | editar código-fonte]Em 1955 a área circundante ao lago de Atitlán foi classificada como parque nacional. Por essa mesma altura o lago era praticamente desconhecido no resto do mundo e a Guatemala buscava formas de atrair turistas e impulsionar a economia local. Foi sugerido pela Pan American World Airways que o povoamento do lago com uma espécie de peixe apreciada pelos pescadores poderia ter o efeito pretendido. Assim, em 1958, procedeu-se à introdução de achigãs no lago. Os achigãs rapidamente se adaptaram à sua nova casa e começaram a comer os habitantes nativos do lago, provocando a eliminação de mais de dois terços das espécies de peixes nativas, contribuindo para a extinção do mergulhão-de-Atitlán, uma ave rara que vivia apenas na região em redor do lago Atitlán.[2]
Cultura
[editar | editar código-fonte]O lago encontra-se rodeado por numerosas aldeias, nas quais a cultura maia ainda prevalece e os trajes tradicionais ainda são usados. Os maias de Atitlán são predominantemente tsutuiles e caqchiqueles. Durante a conquista espanhola das Américas, os caqchiqueles inicialmente aliaram-se aos invasores numa tentativa de derrotar os seus inimigos históricos, os tsutuiles e os quichés, mas foram eles mesmos derrotados e submetidos quando recusaram pagar tributo aos espanhóis.
Santiago Atitlán é a maior das comunidades situadas à beira do lago, e é conhecida pelo seu culto a Moximón, um ídolo formado por fusão de deidades maias, santos católicos e lendas de conquistadores. A efígie de Maximón encontra-se sob a custódia de uma irmandade religiosa local e reside em várias casas de membros da irmandade ao longo do ano, sendo deslocada de forma cerimonial numa grande procissão durante a Semana Santa. Várias localidades da Guatemala possuem cultos similares, como o culto de San Simón em Zunil.
Apesar da predominância da cultura maia na maioria das comunidades à beira do lago, a maior delas, Panajachel, tem sido inundada por turistas ao longo dos anos. Atraíu muitos hippies na década de 1960, e ainda que a guerra tenha levado muitos estrangeiros a sair, o final do conflito em 1996 levou ao aumento do número de visitantes, e a economia local é quase inteiramente dependente do turismo.
Foram encontrados vários sítios arqueológicos maias no lago. Sambaj, que se encontra actualmente a cerca de 20 metros de profundidade, parece datar do período pré-clássico.[3] Existem ruínas de vários grupos de construções, incluindo um em particular, composto de construções de maior dimensão que se crê terem constituído o centro da cidade.[4]
Um segundo sítio, Chiutinamit, onde foram encontrados vestígios de uma cidade, foi descoberto por pescadores locais que "repararam no que parecia ser uma cidade submersa".[5] Durante investigações posteriores foram encontrados por mergulhadores fragmentos de cerâmica, os quais permitiram datar o síto como sendo do final do período pré-clássico.[6]
Guerra Civil da Guatemala
[editar | editar código-fonte]Durante a Guerra Civil da Guatemala, a região do lago de Atitlán foi palco de numerosos abusos de direitos humanos, consequência da política de terra queimada conduzida pelo governo. Considerava-se que os povos indígenas eram universalmente apoiantes da guerrilha que combatia as tropas governamentais, e por isso foram alvo de brutais represálias. Pelo menos 300 maias de Santiago de Atitlán terão desaparecido durante o conflito. Em 1990, uma marcha de protesto espontânea que se dirigia à base militar à saída desta mesma localidade foi recebida a tiro, tendo sido mortos 13 civis desarmados. A pressão internacional forçou o governo guatemalteco a encerrar a base e a declarar Santiago Atitlán zona desmilitarizada.
Furacão Stan
[editar | editar código-fonte]No início de Outubro de 2005, chuvas intensas produzidas pelo furacão Stan provocaram grandes danos por toda a Guatemala, em especial em redor do lago de Atitlán. Um grande deslizamento de terra soterrou a povoação de Panabaj, provocando a morte a cerca de 1 400 pessoas e cerca de 5 000 desalojados.[7]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ «Cópia arquivada». Consultado em 5 de fevereiro de 2008. Arquivado do original em 12 de março de 2014
- ↑ Coop, Dwight Wayne. «Bad-Ass Bass Rain from the Sky – Revue Magazine» (em inglês). Consultado em 11 de junho de 2020
- ↑ Henry Benítez and Roberto Samayoa, "Samabaj y la arqueología subacuática en el Lago de Atitlán," in XIII Simposio de Investigaciones Arqueológicas en Guatemalad, 1999 (Guatemala: Museo Nacional de Arqueología y Etnología, 2000), 2:849-54.
- ↑ Sorenson, John L. (2002). The Submergence of the City of Jerusalem in the Land of Nephi, Provo, Utah: Maxwell Institute, 2002. P. N/A. [S.l.: s.n.]
- ↑ Lund, John L. (2007). Mesoamerica and the Book of Mormon: Is this the Place. [S.l.: s.n.] p. 61
- ↑ Allen, Joseph (2003). Sacred Sites. [S.l.: s.n.] p. 34
- ↑ Thomas, Kedron. Hurricane Stan and Social Suffering in Guatemala (em inglês). [S.l.: s.n.]
- Vallance J.W., Calvert A.T. (2003), Volcanism during the past 84 ka at Atitlan caldera, Guatemala, American Geophysical Union, Fall Meeting 2003
- Guatemala Volcanoes and Volcanics (United States Geological Survey)
- Kingery, Dennis (2003), Improving on Nature?, National Center for Case Study Teaching in Science
- Morgan Szybist, Richard (2004), The Lake Atitlan Reference Guide:The Definitive Eco-Cultural Guidebook on Lake Atitlan, Adventures in Education, Inc.