Madrigal: diferenças entre revisões
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Há três hipóteses para sua etimologia: ''matricale'', canto popular materno; ''materialis'', como componente poético profano e ''matricalis'', canto polifônico de igrejas.<ref>Moisés, Massaud. ''Dicionário de termos literários''. São Paulo, Cultrix, 1995, p.317</ref> |
Há três hipóteses para sua etimologia: ''matricale'', canto popular materno; ''materialis'', como componente poético profano e ''matricalis'', canto polifônico de igrejas.<ref>Moisés, Massaud. ''Dicionário de termos literários''. São Paulo, Cultrix, 1995, p.317</ref> |
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== Origens e influências na música do [[séc. XVI]] == |
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Os madrigais começaram a ser cantados na Itália nos finais do [[séc. XIII]] (exemplos de [[Giovanni da Caccia]] e de [[Jacopo da Bologna]]) e difundem-se pela Europa no [[séc. XVI]], influenciando a maioria das invenções musicais da época<ref>Moisés, Massaud. Op.Cit., idem</ref> [[Jacob Arcadelt]], [[Philippe Verdelot ]] e [[Adrian Willaert]] retomaram-nos no séc. XVI de uma maneira diferente. No [[séc. XVII]] foram substituídos pela [[Cantata]]. |
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== Características, inovações == |
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Os madrigalistas da segunda metade do [[séc. XVI]] foram particularmente engenhosos com os chamados "madrigalismos" — passagens nas quais a música aplicada a uma determinada palavra expressa o seu sentido, por exemplo, atribuindo à palavra "riso" uma passagem com notas rápidas como numa gargalhada, ou à palavra "suspiro" uma nota que recai na nota inferior; construindo efeitos de eco e contraponto; fazendo corresponder a palavras monossilábicas italianas como sol, mi, fa, re, as notas musicais homônimas; utilizando as semínimas (ou, ao contrário, as mínimas), para exprimir sentimentos de tristeza ou alegria; compondo uma melodia ascendente para corresponder à palavra "céu" e fazendo-a descer para corresponder à palavra "profundo". Essa técnica é também chamada de "pintura musical" ou "música visual" e pode ser encontrada não apenas em madrigais, mas em outras músicas vocais desse período. |
Os madrigalistas da segunda metade do [[séc. XVI]] foram particularmente engenhosos com os chamados "madrigalismos" — passagens nas quais a música aplicada a uma determinada palavra expressa o seu sentido, por exemplo, atribuindo à palavra "riso" uma passagem com notas rápidas como numa gargalhada, ou à palavra "suspiro" uma nota que recai na nota inferior; construindo efeitos de eco e contraponto; fazendo corresponder a palavras monossilábicas italianas como sol, mi, fa, re, as notas musicais homônimas; utilizando as semínimas (ou, ao contrário, as mínimas), para exprimir sentimentos de tristeza ou alegria; compondo uma melodia ascendente para corresponder à palavra "céu" e fazendo-a descer para corresponder à palavra "profundo". Essa técnica é também chamada de "pintura musical" ou "música visual" e pode ser encontrada não apenas em madrigais, mas em outras músicas vocais desse período. |
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== Compositores == |
== Compositores musicais == |
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Dentre os madrigalistas italianos mais rigorosos estão o flamengo [[Orlando di Lasso]], [[Giovanni Pierluigi da Palestrina]], autores de madrigais profanos e sacros, o veneziano [[Andrea Gabrieli]], que adota o recitativo coral e o diálogo, seu neto [[Giovanni Gabrieli]] e [[Luca Marenzio]], [[Carlo Gesualdo]], e [[Cláudio Monteverdi]], que introduziu em [[1605]] o [[baixo contínuo]] na forma e, mais tarde, compôs o livro ''Madrigali guerrieri et amorosi'' ([[1638]]) (Madrigais de Guerra e Amor), que é, no entanto, um exemplo de '''madrigal''' [[Barroco]]; algumas das composições desse livro carregam uma pequena relação com os madrigais ''a cappella'' do século anterior. Na ária de soprano "Blute nur" da [[Paixão segundo São Mateus]], [[Bach]] compôs melodias sinuosas para fazer corresponder à palavra "serpente". |
Dentre os madrigalistas italianos mais rigorosos estão o flamengo [[Orlando di Lasso]], [[Giovanni Pierluigi da Palestrina]], autores de madrigais profanos e sacros, o veneziano [[Andrea Gabrieli]], que adota o recitativo coral e o diálogo, seu neto [[Giovanni Gabrieli]] e [[Luca Marenzio]], [[Carlo Gesualdo]], e [[Cláudio Monteverdi]], que introduziu em [[1605]] o [[baixo contínuo]] na forma e, mais tarde, compôs o livro ''Madrigali guerrieri et amorosi'' ([[1638]]) (Madrigais de Guerra e Amor), que é, no entanto, um exemplo de '''madrigal''' [[Barroco]]; algumas das composições desse livro carregam uma pequena relação com os madrigais ''a cappella'' do século anterior. Na ária de soprano "Blute nur" da [[Paixão segundo São Mateus]], [[Bach]] compôs melodias sinuosas para fazer corresponder à palavra "serpente". |
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== Poesia == |
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Em Portugal, é cultivado até o [[séc. XVIII]], em especial pelo seiscentista [[Faria e Sousa]] e o neoclássico [[Filinto Elísio]] e, no Brasil, pelo árcade [[Silva Alvarenga]], praticamente desaparecendo no [[séc. XIX]] e sendo retomado no [[séc. XX]] com o [[Modernismo]]. [[Manuel Bandeira]] compõe o ''Madrigal Melancólico''.<ref>Moisés, Massaud. Op. Cit., ibidem</ref> |
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Enquanto forma poética, Massaud Moisés refere que "vingou, (…), a tendência para se resumir numa única estrofe de cerca de dez versos, em que se alternam o [[Verso decassílabo|decassílabo]] e o hexassílabo."<ref name="Não_nomeado-x_T--1">{{Citar livro|url=https://books.google.pt/books?redir_esc=y&hl=pt-br&id=0Pn4qAZ-QyoC&q=madrigal#v=snippet&q=madrigal&f=false|título=Dicionário de termos literários|ultimo=Moisés|primeiro=Massaud|data=1997|editora=Editora Cultrix|lingua=pt|isbn=9788531601309}}</ref> Teve o seu apogeu no [[Barroco]], cultivada por [[Manuel de Faria e Sousa|Faria e Sousa]],<ref name="Não_nomeado-x_T--1"/> [[Francisco Manuel de Melo]] e [[Manuel Botelho de Oliveira]],<ref>{{Citar web|url=https://purl.pt/14315|titulo=Musica do Parnasso dividida em quatro coros de rimas portuguesas, castelhanas, italianas & latinas, Lisboa, 1705 - Biblioteca Nacional Digital|acessodata=2018-02-11|obra=purl.pt|lingua=pt-pt}}</ref> na língua portuguesa, e [[Francisco de Quevedo]]<ref>{{Citar web|url=https://www.los-poetas.com/f/quev2.htm#MADRIGAL|titulo=Romances de Quevedo|acessodata=2018-02-11|obra=www.los-poetas.com}}</ref> e [[Luis de Góngora y Argote|Góngora]]<ref>{{Citar web|url=https://www.los-poetas.com/h/gongo1.htm|titulo=Poemas de Luis de G�ngora y Argote|acessodata=2018-02-11|obra=www.los-poetas.com}}</ref>, na língua espanhola. {{Referências|Notas e referências}} |
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* [[Poesia de Portugal]] |
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* [[Soneto]] |
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* [[Estância (poesia)]] |
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== Bibliografia == |
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* Moisés, Massaud. ''Dicionário de termos literários''. São Paulo, Cultrix, 1995. |
* Moisés, Massaud. ''Dicionário de termos literários''. São Paulo, Cultrix, 1995. |
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* ''Dicionário Grove de Música''.Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1994. |
* ''Dicionário Grove de Música''.Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1994. |
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* ''Obras de Filinto Elysio''. - Nova ed. - Lisboa : Typ. Rollandiana, 1836-1840. - 22 v., Tomo I. |
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* James Haar, Anthony Newcomb, Glenn Watkins, Nigel Fortune, Joseph Kerman, Jerome Roche: "Madrigal", em''[[The New Grove Dictionary of Music and Musicians]]'', ed. [[Stanley Sadie]]. 20 vol. London, Macmillan Publishers Ltd., 1980. {{ISBN|1561591742}} |
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* [[Gustave Reese]], ''Music in the Renaissance''. New York, W. W. Norton & Co., 1954. {{ISBN|0393095304}} |
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* [[Alfred Einstein]], ''The Italian Madrigal.'' 3 volumes. Princeton, New Jersey, Princeton University Press, 1949. {{ISBN|0-691-09112-9}} |
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* Allan W. Atlas, ''Renaissance Music: Music in Western Europe, 1400–1600.'' New York, W. W. Norton & Co., 1998. {{ISBN|0-393-97169-4}} |
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* Howard Mayer Brown, ''Music in the Renaissance''. Prentice Hall History of Music Series. Englewood Cliffs, New Jersey; Prentice-Hall, Inc., 1976. {{ISBN|0-13-608497-4}} |
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Edição atual tal como às 18h31min de 20 de fevereiro de 2023
Madrigal é um gênero musical secular ou a sua composição poética, que surgiu entre os séculos XIII e XVI.
Há três hipóteses para sua etimologia: matricale, canto popular materno; materialis, como componente poético profano e matricalis, canto polifônico de igrejas.[1] Madrigal pode referir-se tanto à forma poética e musical que ocorre na Itália no séc. XIV quanto a partituras sobre versos seculares, nos séc. XVI ou séc. XVII.[2]
O madrigal aborda assuntos heróicos, pastoris, e até libertinos. Por sua flexibilidade, que nenhuma outra forma musical havia até então oferecido aos músicos, assim como pela variedade dos textos sobre os quais se constrói, ele favorece a imaginação criadora e o lirismo de expressão.
Juntamente com outras formas musicais que utilizavam o canto, o madrigal leva à origem da ópera.
Origens e influências na música do séc. XVI
[editar | editar código-fonte]Os madrigais começaram a ser cantados na Itália nos finais do séc. XIII (exemplos de Giovanni da Caccia e de Jacopo da Bologna) e difundem-se pela Europa no séc. XVI, influenciando a maioria das invenções musicais da época[3] Jacob Arcadelt, Philippe Verdelot e Adrian Willaert retomaram-nos no séc. XVI de uma maneira diferente. No séc. XVII foram substituídos pela Cantata.
Características, inovações
[editar | editar código-fonte]Os madrigalistas da segunda metade do séc. XVI foram particularmente engenhosos com os chamados "madrigalismos" — passagens nas quais a música aplicada a uma determinada palavra expressa o seu sentido, por exemplo, atribuindo à palavra "riso" uma passagem com notas rápidas como numa gargalhada, ou à palavra "suspiro" uma nota que recai na nota inferior; construindo efeitos de eco e contraponto; fazendo corresponder a palavras monossilábicas italianas como sol, mi, fa, re, as notas musicais homônimas; utilizando as semínimas (ou, ao contrário, as mínimas), para exprimir sentimentos de tristeza ou alegria; compondo uma melodia ascendente para corresponder à palavra "céu" e fazendo-a descer para corresponder à palavra "profundo". Essa técnica é também chamada de "pintura musical" ou "música visual" e pode ser encontrada não apenas em madrigais, mas em outras músicas vocais desse período.
Compositores musicais
[editar | editar código-fonte]Dentre os madrigalistas italianos mais rigorosos estão o flamengo Orlando di Lasso, Giovanni Pierluigi da Palestrina, autores de madrigais profanos e sacros, o veneziano Andrea Gabrieli, que adota o recitativo coral e o diálogo, seu neto Giovanni Gabrieli e Luca Marenzio, Carlo Gesualdo, e Cláudio Monteverdi, que introduziu em 1605 o baixo contínuo na forma e, mais tarde, compôs o livro Madrigali guerrieri et amorosi (1638) (Madrigais de Guerra e Amor), que é, no entanto, um exemplo de madrigal Barroco; algumas das composições desse livro carregam uma pequena relação com os madrigais a cappella do século anterior. Na ária de soprano "Blute nur" da Paixão segundo São Mateus, Bach compôs melodias sinuosas para fazer corresponder à palavra "serpente".
Poesia
[editar | editar código-fonte]Enquanto forma poética, Massaud Moisés refere que "vingou, (…), a tendência para se resumir numa única estrofe de cerca de dez versos, em que se alternam o decassílabo e o hexassílabo."[4] Teve o seu apogeu no Barroco, cultivada por Faria e Sousa,[4] Francisco Manuel de Melo e Manuel Botelho de Oliveira,[5] na língua portuguesa, e Francisco de Quevedo[6] e Góngora[7], na língua espanhola.
Notas e referências
- ↑ Moisés, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo, Cultrix, 1995, p.317
- ↑ Dicionário Grove de Música.Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1994, p.563
- ↑ Moisés, Massaud. Op.Cit., idem
- ↑ a b Moisés, Massaud (1997). Dicionário de termos literários. [S.l.]: Editora Cultrix. ISBN 9788531601309
- ↑ «Musica do Parnasso dividida em quatro coros de rimas portuguesas, castelhanas, italianas & latinas, Lisboa, 1705 - Biblioteca Nacional Digital». purl.pt. Consultado em 11 de fevereiro de 2018
- ↑ «Romances de Quevedo». www.los-poetas.com. Consultado em 11 de fevereiro de 2018
- ↑ [https://www.los-poetas.com/h/gongo1.htm «Poemas de Luis de G�ngora y Argote»]. www.los-poetas.com. Consultado em 11 de fevereiro de 2018 replacement character character in
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Ver também
[editar | editar código-fonte]Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Moisés, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo, Cultrix, 1995.
- Dicionário Grove de Música.Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1994.
- Obras de Filinto Elysio. - Nova ed. - Lisboa : Typ. Rollandiana, 1836-1840. - 22 v., Tomo I.
- James Haar, Anthony Newcomb, Glenn Watkins, Nigel Fortune, Joseph Kerman, Jerome Roche: "Madrigal", emThe New Grove Dictionary of Music and Musicians, ed. Stanley Sadie. 20 vol. London, Macmillan Publishers Ltd., 1980. ISBN 1561591742
- Gustave Reese, Music in the Renaissance. New York, W. W. Norton & Co., 1954. ISBN 0393095304
- Alfred Einstein, The Italian Madrigal. 3 volumes. Princeton, New Jersey, Princeton University Press, 1949. ISBN 0-691-09112-9
- Allan W. Atlas, Renaissance Music: Music in Western Europe, 1400–1600. New York, W. W. Norton & Co., 1998. ISBN 0-393-97169-4
- Howard Mayer Brown, Music in the Renaissance. Prentice Hall History of Music Series. Englewood Cliffs, New Jersey; Prentice-Hall, Inc., 1976. ISBN 0-13-608497-4