Papers by Gabriel Holliver
Mana, 2023
Baseado em um engajamento etnográfico desde 2015, o presente artigo pretende oferecer uma descriç... more Baseado em um engajamento etnográfico desde 2015, o presente artigo pretende oferecer uma descrição do cultivo de alguns vegetais presentes no sistema agrícola tradicional do semiárido paraibano. Dividido em quatro partes, no primeiro momento descrevo a história e contextualizo a paisagem local e esses agricultores que se autodenominam como “agricultores experimentadores”, aqui, a noção nativa de “experiência” é central para a compreensão de suas práticas. Em seguida me concentro nos roçados sazonais de milho e feijão, momento em que ressalto a diversidade de variedades presentes nessas culturas. Posteriormente, quando descrevo o cultivo de arroz-vermelho, trago à superfície sua história e as relações multiespecíficas presentes no cultivo desta planta. Por fim, abordo de maneira mais ampla as chamadas “sementes da paixão”; quando enfatizo este gênero de conhecimento tradicional, abordo as relações de parentesco, vizinhança e outras parcerias por meio do cultivo e da circulaçã...
Anuário Antropológico, 2020
O presente ensaio busca tecer alguns comentários acerca dos artigos presentes no livro Viver nas ... more O presente ensaio busca tecer alguns comentários acerca dos artigos presentes no livro Viver nas ruínas: paisagens multiespécies no Antropoceno (2019), de Anna Tsing. Ao oferecer um panorama dos principais conceitos e linhas de força que atravessam o pensamento da autora, por meio de um percurso entre fungos, relações multiespecíficas e plantations, discuto as principais contribuições de sua obra para a teoria antropológica bem como a importância dos conceitos de paisagem, assembleia e coordenação para as técnicas de descrição etnográfica no Antropoceno. Em paralelo, apresento algumas críticas de Tsing à reificação do excepcionalismo humano na antropologia e esboço possíveis diálogos entre suas reflexões e a teoria social contemporânea.
Revista Ilha de Antropologia, 2019
O presente artigo, baseado em um engajamento etnográfico junto a famílias de agricultores campone... more O presente artigo, baseado em um engajamento etnográfico junto a famílias de agricultores camponeses do Médio Sertão da Paraíba, realizado desde 2015, se propõe a narrar a ascensão e o declínio das plantations de algodão no semiárido da Paraíba. No centro da narrativa, se encontra o bicudo (Anthonomus grandis), um inseto nunca antes visto na região, que surgiu em meio às plantações no início da década de 1980 e gerou uma inflexão histórica, desmantelando o então vigente sistema agrícola de monocultura que impedia a prática da agricultura tradicional local. Com ação de magnitude revolucionária, o bicudo terminou por promover uma difusa descentralização fundiária, permitindo a atualização de práticas agrícolas tradicionais até então submersas. Assim, por meio de uma narrativa diacrônica, realizo o contraste entre dois sistemas agrícolas, a agrobiodiversidade neles presentes, seus modos de se relacionar com a terra e os efeitos práticos promovidos por tais atividades na textura da paisagem.
Thesis Chapters by Gabriel Holliver
A presente dissertação se baseia em um trabalho etnográfico realizado junto a seis famílias de a... more A presente dissertação se baseia em um trabalho etnográfico realizado junto a seis famílias de agricultores camponeses habitantes do Médio Sertão da Paraíba. Autodenominados por “agricultores experimentadores”, habitando um mundo desmantelado, em um contexto de desertificação, êxodo rural e diminuição da atividade agrícola como modo de vida, essas pessoas continuam a praticar e atualizar um conhecimento tradicional local preservado por séculos a partir de contínuas experiências desenvolvidas em seus respectivos sítios. Especialistas em um modo de convivência simbiótico com o bioma semiárido e sua característica sazonalidade climática, eles recompõem a paisagem trazendo de volta a vida que foge de condições pouco favoráveis para sua existência. Paralelo a descrição do cotidiano da vida rural que com eles partilhei, retratando como cuidam de suas plantações, de seus animais e tomam conhecimento dos movimentos do mundo, abordo como se engajam e emaranham-se em relações multiespecíficas, tanto no que tange as espécies de companhia quanto as espécies companheiras. Assim como a partir da comparação entre dois sistemas agrícolas, o das plantations de algodão no passado e o atual sistema agrícola tradicional que me deparei no presente, evidencio as relações e os conflitos entre os conhecimentos tradicionais e conhecimentos científicos nesta região.
A possibilidade de habitar o semiárido brasileiro e enfrentar os períodos de seca sempre pareceu ... more A possibilidade de habitar o semiárido brasileiro e enfrentar os períodos de seca sempre pareceu um desafio colossal ao projeto civilizador. A característica peculiar do bioma da caatinga tem servido muitas vezes como arma para a difusão do mito da escassez que constitui a ideia do combate à seca. Mas seca não se combate, se convive com ela. Em meio a um cenário de desertificação em processo de entropia a partir principalmente do corte de lenha para cerâmica e da pecuária extensiva e o cultivo do algodão no passado agricultores experimentadores resistem aos modelos hegemônicos capitalistas criando, testando e aplicando tecnologias sociais próprias. Com somente três meses de chuva por ano, captam e estocam água suficiente para uso doméstico e agrícola por todo ano. Diante dessa sazonalidade rigorosa, a chuva dita os movimentos e ritmos de todos os agentes locais, os habitantes dali desenvolveram tanto uma ontologia particular conferindo um valor especial a chuva, quanto um conhecimento meteorológico tradicional sobre a mesma, aliado a uma economia política da natureza singular, voltada para os recursos hídricos.
Teaching Documents by Gabriel Holliver
O presente curso pretende oferecer uma introdução ao crescente campo de pesquisa na antropologia ... more O presente curso pretende oferecer uma introdução ao crescente campo de pesquisa na antropologia contemporânea conhecido como "estudos multiespécies". Partindo tanto das críticas a oposição constitutiva da disciplina entre natureza e cultura, bem como as críticas pós-coloniais formuladas no final do século XX, pretendemos traçar um percurso para compreensão de todo um corpo de conhecimento acumulado que possibilitou a emergência de um novo campo de pesquisa na antropologia. Em seguida, considerando o problema de praticar antropologia em um momento limítrofe para sobrevivência da espécie humana no planeta Terra, onde se proliferam extinções e eventos climáticos extremos, e que geólogos afirmam a existência de um nova época geológica nomeada por Antropoceno, serão exploradas algumas das principais contribuições teóricas desta literatura a partir de trabalhos etnográficos engajados nas relações sociais mais que humanas. Espera-se ao fim do curso que estudantes desenvolvam a sensibilidade de cultivar artes da atenção que permitam perceber socialidades de múltiplos seres na paisagem.
O presente curso tem por objetivo fornecer as ferramentas metodológicas necessárias para realizaç... more O presente curso tem por objetivo fornecer as ferramentas metodológicas necessárias para realização de pesquisas de cunho etnográfico. Para isso, será apresentada a tradição de trabalho de campo na antropologia assim como diversas estratégias metodológicas utilizadas na construção de pesquisas antropológicas. Ao tratar da etnografia, pretende-se abordar este dispositivo combinando tanto reflexões empíricas sobre técnicas e práticas do fazer etnográfico como sua dimensão teórica. Buscaremos, com isso, compreender as possibilidades e os limites deste modo de conhecimento. Dado que as estratégias metodológicas no campo da antropologia estão imbricadas com a história da disciplina, serão analisadas transformações e permanências nas metodologias de investigação, nos objetos da pesquisa e nas relações estabelecidas com os mesmos, assim como as dimensões éticas e politicas implicadas na prática etnográfica. Ao final do curso, espera-se que estudantes possuam um panorama amplo da história e dos métodos de trabalho de campo em antropologia e desenvolvam a sensibilidade necessária para a realização de uma descrição etnográfica.
Considerando as recentes reflexões em torno da questão da plantation e suas implicações para os d... more Considerando as recentes reflexões em torno da questão da plantation e suas implicações para os debates na teoria antropológica contemporânea, o presente curso tem por objetivo oferecer uma introdução aos estudos sobre a plantation. Tendo como ponto de partida a questão dos modos de ocupação da terra, os usos e manejos do solo, e respectivamente a economia política da natureza implicada nestas relações, a bibliografia do curso combina a literatura clássica deste campo de estudos com análises contemporâneas, buscando articular perspectivas etnográficas com teoria antropológica. Ao longo das sessões, a plantation será examinada por diferentes perspectivas, pretende-se investigar a associação entre este sistema agrícola com a escravidão moderna, o desenvolvimento do capitalismo e a atual catástrofe ecológica em curso que tem sido nomeada também, entre outros mil nomes, de “Plantationoceno”. Se em parte o curso se debruça para o corte de relações, a simplificação ecológica e os efeitos não intencionais na paisagem como atributos elementares da monocultura, ele aponta também para as linhas de fuga e os movimentos de resistência, contra e nas brechas da plantation.
O presente curso pretende oferecer uma introdução ao crescente campo de pesquisa na antropologia
... more O presente curso pretende oferecer uma introdução ao crescente campo de pesquisa na antropologia
contemporânea que vem sendo chamado “estudos multiespécies”. Partindo tanto das críticas a
oposição constitutiva da disciplina entre natureza e cultura, bem como as críticas pós-coloniais
formuladas no final do século XX, pretendemos traçar uma linha (arbitrária) que possibilite a
compreensão de todo um corpo de conhecimento acumulado que possibilitaram a emergência e
abertura de um novo campo de estudos na antropologia. Em seguida, a luz do problema de praticar
antropologia na nova época geológica caracterizada pelos geólogos de Antropoceno e do que
Isabelle Stengers chama de intrusão de Gaia (entre mil outros nomes possíveis), serão exploradas as
principais contribuições teóricas desta literatura a luz de trabalhos etnográficos engajados nas
relações sociais mais que humanas. Espera-se ao fim do curso que estudantes desenvolvam a
sensibilidade de cultivar artes da atenção que permitam perceber socialidades de múltiplos seres na
paisagem.
Este curso pretende oferecer um panorama geral da antropologia no intuito de introduzir estudante... more Este curso pretende oferecer um panorama geral da antropologia no intuito de introduzir estudantes ao pensamento da disciplina. Serão apresentadas noções e conceitos fundamentais que norteiam a antropologia, tais como etnocentrismo, relativismo, etnografia e as concepções de natureza, cultura e sociedade. A partir de um ponto de vista crítico no que se refere a origem colonial da antropologia, espera-se oferecer uma imagem que revele a potência criativa da disciplina. Esta imagem se interessa em oferecer outras perspectivas acerca do humano, como alternativa a noção hegemônica do Homem ocidental. Como se trata de uma disciplina oferecida ao curso de História, serão apresentadas questões pertinentes e em intersecção a historiografia, bem como, alguns dos principais problemas que ocupam hoje a agenda de pesquisa da ciência antropológica.
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Thesis Chapters by Gabriel Holliver
Teaching Documents by Gabriel Holliver
contemporânea que vem sendo chamado “estudos multiespécies”. Partindo tanto das críticas a
oposição constitutiva da disciplina entre natureza e cultura, bem como as críticas pós-coloniais
formuladas no final do século XX, pretendemos traçar uma linha (arbitrária) que possibilite a
compreensão de todo um corpo de conhecimento acumulado que possibilitaram a emergência e
abertura de um novo campo de estudos na antropologia. Em seguida, a luz do problema de praticar
antropologia na nova época geológica caracterizada pelos geólogos de Antropoceno e do que
Isabelle Stengers chama de intrusão de Gaia (entre mil outros nomes possíveis), serão exploradas as
principais contribuições teóricas desta literatura a luz de trabalhos etnográficos engajados nas
relações sociais mais que humanas. Espera-se ao fim do curso que estudantes desenvolvam a
sensibilidade de cultivar artes da atenção que permitam perceber socialidades de múltiplos seres na
paisagem.
contemporânea que vem sendo chamado “estudos multiespécies”. Partindo tanto das críticas a
oposição constitutiva da disciplina entre natureza e cultura, bem como as críticas pós-coloniais
formuladas no final do século XX, pretendemos traçar uma linha (arbitrária) que possibilite a
compreensão de todo um corpo de conhecimento acumulado que possibilitaram a emergência e
abertura de um novo campo de estudos na antropologia. Em seguida, a luz do problema de praticar
antropologia na nova época geológica caracterizada pelos geólogos de Antropoceno e do que
Isabelle Stengers chama de intrusão de Gaia (entre mil outros nomes possíveis), serão exploradas as
principais contribuições teóricas desta literatura a luz de trabalhos etnográficos engajados nas
relações sociais mais que humanas. Espera-se ao fim do curso que estudantes desenvolvam a
sensibilidade de cultivar artes da atenção que permitam perceber socialidades de múltiplos seres na
paisagem.