Papers by Victor Cruzeiro
Revista Nordestina de História do Brasil
GOMES, David F. L. A constituição de 1824 e o problema da modernidade: O conceito moderno de cons... more GOMES, David F. L. A constituição de 1824 e o problema da modernidade: O conceito moderno de constituição, a história constitucional Brasileira e a teoria da constituição no Brasil. Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2019. 324 p.
18º ENCONTRO DA SBPJOR, Sep 21, 2020
Brazilian Journalism Research, 2018
This article seeks to situate Literary Journalism as a discipline of complex and transdisciplinar... more This article seeks to situate Literary Journalism as a discipline of complex and transdisciplinary knowledge, necessary for the training of every journalist. It seeks to understand and integrate the practice of narration to the problems of the levels of reality. The concepts of Literature of Complexity and Transdisciplinarity serve as a basis for our reflection. With the short story “Com o vaqueiro Mariano”, we bring the literature of João Guimarães Rosa and his relations with journalistic knowledge, from the notion of interview, through the system of production and circulation of information to the techniques of verification that the author used. Finally, we conclude that Literary Journalism allows not only to situate journalism in the communication circuit, but also, and in an extended way, broaden the communication circuit to its cultural dimension, exercising such a pedagogical role relevant to any area of knowledge.Este artigo busca situar o jornalismo literário enquanto discip...
A investigacao dos registros intimos, ja carregada de sentidos multiplos, torna-se ainda mais ric... more A investigacao dos registros intimos, ja carregada de sentidos multiplos, torna-se ainda mais rica quando se depara com relatos das dores de seus autores. Seja fisica seja emocional, a dor carrega consigo um carater indizivel e, conforme lembra a pesquisadora estadunidense da dor Elaine Scarry (1987), de destruicao da linguagem. A traducao da dor no papel realiza-se por meio de palavras ou imagens, que sao insuficientes, mas buscam aproximar-se ao maximo do sentimento original, mas deixam para tras uma carga afetiva ilegivel. Entendendo a limitacao de toda linguagem, nao so no que tange a dor, e compreendendo o ilegivel como algo que complementa a compreensao do texto, como lembra Jacques Derrida (1986), este trabalho pretende analisar brevemente dois diarios, a saber, o do critico Roland Barthes (1915-1980) e o da pintora mexicana Frida Kahlo (1907- 1954), ambos lidam, respectivamente, com o luto da perda da mae e as dores cronicas de todo uma vida.
Em seu último livro, Numero Zero (2015), Umberto Eco afirma que “quanto mais coisas uma pessoa sa... more Em seu último livro, Numero Zero (2015), Umberto Eco afirma que “quanto mais coisas uma pessoa sabe, menos coisas deram certo para ele”. Este narrador se aproxima muito daquele de O Pêndulo de Foucault (1988), que se envolve em uma trama perigosa graças a uma busca obsessiva por conhecimento. Tais personagens se assemelham ao Dom Quixote, o cavaleiro andante que sai em busca de aventuras, ensandecido, após tanto ler, são também sempre acompanhados de parceiros, à guisa de escudeiros. Dentro dos romances de Eco, portanto, traça-se um caminho da obsessão pelo conhecimento e, consequentemente, pelo arquivamento do saber, que tão agressivamente molda e marca o Ocidente, sendo tema da discussão de Jacques Derrida em Mal de Arquivo (2001).
“Arquivar a própria vida é se pôr no espelho, é contrapor à imagem social a imagem íntima de si p... more “Arquivar a própria vida é se pôr no espelho, é contrapor à imagem social a imagem íntima de si próprio, e nesse sentido o arquivamento do eu é uma prática de construção de si mesmo e de resistência” (ARTIÈRES, 1998, p. 11). Com esta frase, o historiador francês Philippe Artières define uma das grandes problemáticas do estudo de narrativas biográficas. O estudo dos diários, mais especificamente, carrega em si a questão de um arquivamento compulsivo, que escapa aos refinamentos das autobiografias e à própria limitação do tempo. No diário, sucedem-se imagens de situações ditas banais e desimportantes para o desenrolar de um grande enredo, que Roland Barthes chama “biografemas extraordinários”. Por outro lado, autobiografias categorizam e ordenam “biografemas fatais”, responsáveis pela construção de uma imagem linear e ascendente de uma grande figura. Em ambos os casos, trabalha-se com uma acumulação constante de momentos, que diferem no fim a que se pretendem, e encontram-se na circunscrição que o tempo de uma vida lhes impõe. O objetivo deste capítulo será, então, a partir de exemplos de narrativas biográficas – principalmente diários – analisar esse desejo de acumular memórias, de arquivar vidas, que permeia não só a construção dessas narrativas, mas de todo o conhecimento Ocidental. Norteado por ideias como a de Arquivo de Jacques Derrida, e de tempo, de Phillipe Lejeune, buscaremos compreender o diário e a autobiografia como partes de um mesmo sistema de arquivamento obsessivo, com suas devidas particularidades quanto ao que é selecionado. O ponto de partida é de que não há narrativa que seja completamente exaustiva (ARTIÈRES, 1998, p. 10), e mesmo diários imensos, como os de Claude Mauriac e Henri-Frédéric Amiel, contém em si uma seleção – subjetiva – e um patente desejo de arquivamento compulsivo, que reflete um ethos próprio da tradição judaico-cristã.
A investigação dos registros íntimos, já carregada de sentidos múltiplos, torna-se ainda mais ric... more A investigação dos registros íntimos, já carregada de sentidos múltiplos, torna-se ainda mais rica quando se depara com relatos das dores de seus autores. Seja física seja emocional, a dor carrega consigo um caráter indizível e, conforme lembra a pesquisadora estadunidense da dor Elaine Scarry (1987), de destruição da linguagem. A tradução da dor no papel realiza-se por meio de palavras ou imagens, que são insuficientes, mas buscam aproximar-se ao máximo do sentimento original, mas deixam para trás uma carga afetiva ilegível. Entendendo a limitação de toda linguagem, não só no que tange à dor, e compreendendo o ilegível como algo que complementa a compreensão do texto, como lembra Jacques Derrida (1986), este trabalho pretende analisar brevemente dois diários, a saber, o do crítico Roland Barthes (1915-1980) e o da pintora mexicana Frida Kahlo (1907- 1954), ambos lidam, respectivamente, com o luto da perda da mãe e as dores crônicas de todo uma vida.
Este artigo pretende analisar o diário da pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954) sob o prisma d... more Este artigo pretende analisar o diário da pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954) sob o prisma da sua caligrafia, como detentora de um pathos próprio. Associado ao conceito de tempo, e de forte inspiração warburgiana, o pathos aqui surge como um componente fundamental da caligrafia que, por sua vez, confere subjetividade ao diário, ainda que seja frequentemente esquecida ou escondida sob tipos padronizados. Ao estudar imagens da escrita manual do diarista, portanto, encontra-se a possibilidade de realizar uma investigação estética mais profunda do diário, ao imaginar e tentar reconstituir as sensações que atingiram o autor no momento mesmo da escrita. No caso do diário de Frida Kahlo, as imagens escolhidas foram algumas versões da palavra Diego, nome do companheiro da pintora durante toda a sua vida.
Palavras-Chave: Diário. Frida Kahlo. Pathos.
This article intends to analyze the diary of the mexican painter Frida Kahlo (1907-1954) from the perspective of her handwriting, as the possessor of a particular pathos. Associated with the concept of time, and strongly driven by Aby Warburg, the pathos rises here as a fundamental component of handwriting that in turn grants subjectivity to the diary. Nevertheless, handwriting is frequently forgotten or hidden under standardized printing. Thus, when analyzing images of the diarist's handwriting, one gets the possibility of pursuing a deeper aesthetical exam of the diary, by imagining and trying to reconstitute the sensations that struck the author in the very moment of the writing. As in the case of Frida Kahlo's diary, the images chosen were some versions of the word Diego, the name of the painter's companion through her entire life.
Keywords: Diary. Frida Kahlo. Pathos.
Roland Barthes (1989) diz que o biografema está para a biografia como a fotografia está para a hi... more Roland Barthes (1989) diz que o biografema está para a biografia como a fotografia está para a história. É uma forma de utilizar o factual da vida do outro, revisitando e refabulando, para estabelecer uma nova ordem (ou olhar) para o que se sabe sobre o biografado (BARTZ, 2014, p. 118), imprimindo novos significados ao texto. No entanto, como revisitar e refabular a dor física? Elaine Scarry (1985) diz que “sentir dor é ter certeza; ouvir sobre a dor do outro é ter dúvida” (p. 7). Uma biografia repleta de dor, como a da pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954), torna-se, portanto, imbiografemável. Este trabalho parte do relato do acidente de ônibus que Frida sofreu aos 18 anos, em quatro biografias romanceadas sobre ela, buscando identificar e compreender os artifícios escolhidos pelos autores para fugir da intraduzibilidade desse fato tão íntimo, que não só resiste à linguagem, como a destrói (SCARRY, 1989, p. 4).
Palavras-chave: Frida Kahlo; biografia; jornalismo literário; biografema; dor.
A prática da escrita em diários é muito comum entre artistas, mas é frequentemente eclipsada pela... more A prática da escrita em diários é muito comum entre artistas, mas é frequentemente eclipsada pela importância da sua obra dita magna. O registro íntimo perde-se na banalidade e no não literário. É a partir das visões de abertura de Umberto Eco, e da sobrevivência das imagens de Aby Warburg e Georges Didi-Huberman, que se construirá uma leitura não histórica ou literária do diário, mas ontológica, em primeiro plano. O objetivo é dar voz ao diarista-artista na construção das narrativas biográficas, deixando-a ecoar e trazer à tona trechos de uma vida imperfeita, porque humana, e não apenas fadada ao sucesso, porque genial.
Palavras-chave: diário; abertura; sobrevivência; ontologia; narrativa biográfica
Thesis Chapters by Victor Cruzeiro
RESUMO
A investigação dos registros íntimos, já carregada de sentidos múltiplos, torna-se ainda ... more RESUMO
A investigação dos registros íntimos, já carregada de sentidos múltiplos, torna-se ainda mais rica quando se depara com relatos das dores de seus autores. Seja física seja emocional, a dor carrega consigo um caráter indizível e, conforme lembra a pesquisadora estadunidense da dor Elaine Scarry (1987), de destruição da linguagem. A partir de um estudo genealógico do meio do diário e das estruturas sociais e culturais que o formaram, o trabalho pretende encontrar, no cerne dessa forma de expressão, o termo romântico alemão Erlebnis, ou vivência. É realizada também uma análise da escrita, vista como uma atividade solitária, mas que se completa no encontro com o outro, como diz Vilém Flusser (2010). A dor em si é descrita a partir da literatura médica que buscou compreendê-la e expressá-la, ainda de maneira incipiente. Percebe-se que a dor persiste numa mescla de presença e ausência, cuja tradução no papel realiza-se por meio de palavras ou imagens, insuficientes, mas buscam se aproximam ao máximo do sentimento original e único, referente àquela experiência irrepetível. Essas expressões, finalmente, são encontradas e recortadas de dois diários, o do crítico Roland Barthes (1915-1980) e o da pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954), ambos lidam, respectivamente, com o luto da perda da mãe e as dores crônicas de todo uma vida. Neles, foram encontradas imagens que traduzem a presença-ausência da dor, comprovam o caráter limitado da língua e, mais ainda, mostram que o diário é, ainda que não de maneira totalizante, um excelente campo para as fulguras das vivências dolorosas.
Palavras-chave: Diário; Dor; Estética; Frida Kahlo; Roland Barthes.
ABSTRACT
The research on personal records is full of meanings but becomes even richer when presented with descriptions of the author's pains. Whether it presents itself as physical or emotional, pain carries a feature of unutterability within and – as reminded by the American researcher of pain Elaine Scarry (1987) – of language destruction as well. From a genealogical study of the diary. From a genealogical study of the diary and the social and cultural structures from which it emerged, this work aims to find the German romantic term Erlebnis [experience] within the kernel of this form of expression. It also analyzes writing, which is seen as a lonely activity that fulfills itself when meeting the other - as Vilém Flusser (2010) said. The description of pain comes from the medical literature that tried to comprehend and express it, though incipiently. It is perceived that pain lies in a compound of presence and absence translated by insufficient words and images, which intend to be as close as possible to the original and singular feeling related to that unrepeatable experience. Finally, those expressions are found and taken from two diaries, namely, the one written by the French literary critic Roland Barthes (1915-1980), which depicts the loss of his mother, and the one possessed by the Mexican painter Frida Kahlo (1907-1945), which portrays a chronicle pain that lasted a lifetime. In them were found images that translate the presence-absence of pain, prove the limited power of language and further show that the diary is an excellent setting for the blazes of painful experiences.
Keywords: Diary; Pain; Aesthetics; Frida Kahlo; Roland Barthes.
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Papers by Victor Cruzeiro
Palavras-Chave: Diário. Frida Kahlo. Pathos.
This article intends to analyze the diary of the mexican painter Frida Kahlo (1907-1954) from the perspective of her handwriting, as the possessor of a particular pathos. Associated with the concept of time, and strongly driven by Aby Warburg, the pathos rises here as a fundamental component of handwriting that in turn grants subjectivity to the diary. Nevertheless, handwriting is frequently forgotten or hidden under standardized printing. Thus, when analyzing images of the diarist's handwriting, one gets the possibility of pursuing a deeper aesthetical exam of the diary, by imagining and trying to reconstitute the sensations that struck the author in the very moment of the writing. As in the case of Frida Kahlo's diary, the images chosen were some versions of the word Diego, the name of the painter's companion through her entire life.
Keywords: Diary. Frida Kahlo. Pathos.
Palavras-chave: Frida Kahlo; biografia; jornalismo literário; biografema; dor.
Palavras-chave: diário; abertura; sobrevivência; ontologia; narrativa biográfica
Thesis Chapters by Victor Cruzeiro
A investigação dos registros íntimos, já carregada de sentidos múltiplos, torna-se ainda mais rica quando se depara com relatos das dores de seus autores. Seja física seja emocional, a dor carrega consigo um caráter indizível e, conforme lembra a pesquisadora estadunidense da dor Elaine Scarry (1987), de destruição da linguagem. A partir de um estudo genealógico do meio do diário e das estruturas sociais e culturais que o formaram, o trabalho pretende encontrar, no cerne dessa forma de expressão, o termo romântico alemão Erlebnis, ou vivência. É realizada também uma análise da escrita, vista como uma atividade solitária, mas que se completa no encontro com o outro, como diz Vilém Flusser (2010). A dor em si é descrita a partir da literatura médica que buscou compreendê-la e expressá-la, ainda de maneira incipiente. Percebe-se que a dor persiste numa mescla de presença e ausência, cuja tradução no papel realiza-se por meio de palavras ou imagens, insuficientes, mas buscam se aproximam ao máximo do sentimento original e único, referente àquela experiência irrepetível. Essas expressões, finalmente, são encontradas e recortadas de dois diários, o do crítico Roland Barthes (1915-1980) e o da pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954), ambos lidam, respectivamente, com o luto da perda da mãe e as dores crônicas de todo uma vida. Neles, foram encontradas imagens que traduzem a presença-ausência da dor, comprovam o caráter limitado da língua e, mais ainda, mostram que o diário é, ainda que não de maneira totalizante, um excelente campo para as fulguras das vivências dolorosas.
Palavras-chave: Diário; Dor; Estética; Frida Kahlo; Roland Barthes.
ABSTRACT
The research on personal records is full of meanings but becomes even richer when presented with descriptions of the author's pains. Whether it presents itself as physical or emotional, pain carries a feature of unutterability within and – as reminded by the American researcher of pain Elaine Scarry (1987) – of language destruction as well. From a genealogical study of the diary. From a genealogical study of the diary and the social and cultural structures from which it emerged, this work aims to find the German romantic term Erlebnis [experience] within the kernel of this form of expression. It also analyzes writing, which is seen as a lonely activity that fulfills itself when meeting the other - as Vilém Flusser (2010) said. The description of pain comes from the medical literature that tried to comprehend and express it, though incipiently. It is perceived that pain lies in a compound of presence and absence translated by insufficient words and images, which intend to be as close as possible to the original and singular feeling related to that unrepeatable experience. Finally, those expressions are found and taken from two diaries, namely, the one written by the French literary critic Roland Barthes (1915-1980), which depicts the loss of his mother, and the one possessed by the Mexican painter Frida Kahlo (1907-1945), which portrays a chronicle pain that lasted a lifetime. In them were found images that translate the presence-absence of pain, prove the limited power of language and further show that the diary is an excellent setting for the blazes of painful experiences.
Keywords: Diary; Pain; Aesthetics; Frida Kahlo; Roland Barthes.
Palavras-Chave: Diário. Frida Kahlo. Pathos.
This article intends to analyze the diary of the mexican painter Frida Kahlo (1907-1954) from the perspective of her handwriting, as the possessor of a particular pathos. Associated with the concept of time, and strongly driven by Aby Warburg, the pathos rises here as a fundamental component of handwriting that in turn grants subjectivity to the diary. Nevertheless, handwriting is frequently forgotten or hidden under standardized printing. Thus, when analyzing images of the diarist's handwriting, one gets the possibility of pursuing a deeper aesthetical exam of the diary, by imagining and trying to reconstitute the sensations that struck the author in the very moment of the writing. As in the case of Frida Kahlo's diary, the images chosen were some versions of the word Diego, the name of the painter's companion through her entire life.
Keywords: Diary. Frida Kahlo. Pathos.
Palavras-chave: Frida Kahlo; biografia; jornalismo literário; biografema; dor.
Palavras-chave: diário; abertura; sobrevivência; ontologia; narrativa biográfica
A investigação dos registros íntimos, já carregada de sentidos múltiplos, torna-se ainda mais rica quando se depara com relatos das dores de seus autores. Seja física seja emocional, a dor carrega consigo um caráter indizível e, conforme lembra a pesquisadora estadunidense da dor Elaine Scarry (1987), de destruição da linguagem. A partir de um estudo genealógico do meio do diário e das estruturas sociais e culturais que o formaram, o trabalho pretende encontrar, no cerne dessa forma de expressão, o termo romântico alemão Erlebnis, ou vivência. É realizada também uma análise da escrita, vista como uma atividade solitária, mas que se completa no encontro com o outro, como diz Vilém Flusser (2010). A dor em si é descrita a partir da literatura médica que buscou compreendê-la e expressá-la, ainda de maneira incipiente. Percebe-se que a dor persiste numa mescla de presença e ausência, cuja tradução no papel realiza-se por meio de palavras ou imagens, insuficientes, mas buscam se aproximam ao máximo do sentimento original e único, referente àquela experiência irrepetível. Essas expressões, finalmente, são encontradas e recortadas de dois diários, o do crítico Roland Barthes (1915-1980) e o da pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954), ambos lidam, respectivamente, com o luto da perda da mãe e as dores crônicas de todo uma vida. Neles, foram encontradas imagens que traduzem a presença-ausência da dor, comprovam o caráter limitado da língua e, mais ainda, mostram que o diário é, ainda que não de maneira totalizante, um excelente campo para as fulguras das vivências dolorosas.
Palavras-chave: Diário; Dor; Estética; Frida Kahlo; Roland Barthes.
ABSTRACT
The research on personal records is full of meanings but becomes even richer when presented with descriptions of the author's pains. Whether it presents itself as physical or emotional, pain carries a feature of unutterability within and – as reminded by the American researcher of pain Elaine Scarry (1987) – of language destruction as well. From a genealogical study of the diary. From a genealogical study of the diary and the social and cultural structures from which it emerged, this work aims to find the German romantic term Erlebnis [experience] within the kernel of this form of expression. It also analyzes writing, which is seen as a lonely activity that fulfills itself when meeting the other - as Vilém Flusser (2010) said. The description of pain comes from the medical literature that tried to comprehend and express it, though incipiently. It is perceived that pain lies in a compound of presence and absence translated by insufficient words and images, which intend to be as close as possible to the original and singular feeling related to that unrepeatable experience. Finally, those expressions are found and taken from two diaries, namely, the one written by the French literary critic Roland Barthes (1915-1980), which depicts the loss of his mother, and the one possessed by the Mexican painter Frida Kahlo (1907-1945), which portrays a chronicle pain that lasted a lifetime. In them were found images that translate the presence-absence of pain, prove the limited power of language and further show that the diary is an excellent setting for the blazes of painful experiences.
Keywords: Diary; Pain; Aesthetics; Frida Kahlo; Roland Barthes.